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Fabson Lemos, apelidado de 'Cebola', foi ovacionado no campeonato de futebol do Presídio de Igarassu. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens

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É contraditório respirar liberdade dentro do sistema prisional. Por todos os lados, grades, cadeados e muros determinam o limite exato entre o universo carcerário e o mundo que há além da contenção. Porém, por alguns instantes, Fabson Lemos, 39, sentiu-se liberto, mesmo dentro da cadeia. Correu, sorriu, vibrou. Abraçou amigos. Recebeu uma leve brisa no corpo. Ouviu seu nome sendo exaltado em gritos de outros detentos, o colocando em um patamar de estrela. A democracia do futebol permitiu que homens encarcerados se vissem livres.

Fabson está privado de liberdade há oito anos. Cumpre pena no Presídio de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, onde vivenciou uma experiência para carregar na memória, nessa quarta-feira (11). O reeducando disputou a final do campeonato de futebol da unidade prisional, que neste ano chega a sua terceira edição. Barro vermelho, laterais estreitas. Terra batida, traves franzinas. O campo acanhado foi o palco da disputa cujo objetivo, literalmente, não foram as medalhas e troféus. De acordo com os detentos, o simples fato de correrem atrás de uma bola vale mais que uma premiação; na cadeia, qualquer distração é bem vinda.

“O futebol é primordial em termos de ressocialização. Fico lisonjeado em sentir o calor dessa massa. O campeão hoje é um só: o Presídio de Igarassu. O coração fica a mais de mil, desde ontem ninguém dorme. A cadeia parou para assistir esta final. Os detentos não falam outra coisa: comentam a decisão, falam do futebol limpo. Essa cadeia é um exemplo”, relata Lemos ao LeiaJá, momentos antes de jogar a partida decisiva da competição. Ele é integrante da Juventus, do Pavilhão H do PIG, que encarou o time do Real Madrid, formado por detentos do Pavilhão G.

Ligeiro no campo e nas palavras. Jeferson Santos Pereira, de 22 anos, discursa rapidamente antes de a bola rolar. Habilidoso nas quatro linhas, o reeducando herdou o talento dos tempos de liberdade, época em que passou por categorias de base de diferentes times de Pernambuco. Na cadeia, contudo, ele é apenas mais um detento, uma vez que sua capacidade futebolística não o faz superior em relação aos demais homens. Prevalece o respeito aos companheiros de cadeia. “Minha vida lá fora era complicada, mas, com fé em Deus, estava vencendo. Quando vim para Recife sofri influência, minha cabeça também não estava boa. Hoje estou preso. Este futebol aqui representa muitas coisas. Só eu sei o que passei no Cotel, tive muitos apertos, desgosto da vida. Graças a Deus, vim para Igarassu e a situação começou a ficar um pouco melhor”, desabafa o jovem.

Rivalidades do mundo do crime são descartadas no momento da partida. Entre os próprios presidiários havia o entendimento de que a ordem precisava ser preservada para que novos eventos esportivos sejam realizados na cadeia. “Já é a terceira liga e nós estamos acostumados. O respeito é mútuo e se tiver inimigo é na rua. Aqui, a magia do futebol transforma isso: o retorno é a tranquilidade. A rivalidade é no futebol”, afirma o diretor do PIG, Charles Belarmino.

Charles Belarmino, diretor do PIG, argumenta que o futebol é um instrumentos de recuperação social. Fotos: Júlio Gomes/LeiaJáImagens

A competição teve início em julho deste ano e seguiu com o formato de pontos corridos. Ao todo, 12 times, de diferentes pavilhões, entraram na disputa, cada um com dez jogadores. Até a decisão, 74 partidas foram disputadas.

O PIG tem capacidade para 426 homens. No entanto, assim como em outros presídios, existe lotação: a unidade possui mais de 4 mil reeducandos. “Todos estão aptos a jogar, independente de habilidade. Cada representante dos pavilhões faz sua equipe e coloca os times para jogar”, explica o supervisor de segurança do Presídio de Igarassu, Eronildo Santos.

Ao final da partida, a Juventus venceu o Real Madrid por 4x1. O placar, porém, não foi o mais importante. A cadeia comemorou o futebol e reviveu, mesmo que por alguns instantes, o que a liberdade pode oferecer. Com o apito derradeiro, a arbitragem apontou o campeão; cabe agora ao juiz decidir quem seguirá trancado ou retornará ao convívio social.

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Detentos do sistema carcerário de Pernambuco poderão participar de um campeonato de futebol. A informação foi revelada ao LeiaJá, nesta quarta-feira (11), pelo diretor do Presídio de Igarassu (PIG), na Região Metropolitana do Recife, Charles Belarmino.

A proposta está sendo estudada pela Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres), do Governo de Pernambuco. Segundo o diretor do PIG, reeducandos de diferentes presídios poderão se enfrentar na competição, em jogos que deverão ser realizados no campo do próprio Presídio de Igarassu. Além disso, times de várzea formados por pessoas em liberdade poderão disputar o campeonato.

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“Quem vai organizar é o Presídio de Igarassu”, afirmou o diretor da unidade. Sobre como serão realizados os transportes dos detentos de um presídio para outro, Charles Belarmino revelou que o procedimento já está em fase de estudo. “Tudo isso está sendo estudado e, se Deus quiser, vai dar certo. Vai ser um sucesso”, disse ao LeiaJá.

Ainda de acordo com o diretor do PIG, caso seja aprovado, o campeonato entre presídios deve ser iniciado em julho do próximo ano. “É o tempo que estará pronta a nossa arena. Pretendemos fazer um society. Com o apoio da Secretaria e do Governo do Estado a gente vai conseguir”, declarou. O investimento para a construção do campo e realização da competição ainda não foi definido.

No que diz respeito aos presídios que deverão disputar o campeonato, alguns já estão em pauta. “Cotel, a PAI (Penitenciária Agrícola de Itamaracá) está interessada, Barreto Campelo também”, relatou Belarmino.

O diretor do PIG também informou à reportagem que triagens deverão ser feitas para definir quais detentos poderão participar do campeonato. Boa conduta é um dos principais critérios para a escolha dos participantes.

O secretário executivo da Seres, Cícero Rodrigues, também confirmou ao LeiaJá a intenção de promover o campeonato de futebol entre presidiários. Confira no vídeo:

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