Quatro presos morreram em um incêndio ocorrido na noite de sábado (15) na prisão de Evin, em Teerã - anunciou a autoridade judiciária da República Islâmica, abalada há um mês por um amplo movimento de protesto causado pela morte da jovem Mahsa Amini.
De acordo com o portal Mizan Online, "quatro presos morreram por causa da inalação da fumaça provocada pelo incêndio, e 61 ficaram feridos". No total, "apenas 10 feridos foram hospitalizados", e quatro deles se encontram em estado grave.
O incidente na prisão "não tem nada a ver" com as manifestações em diferentes partes do país pela morte de Mahsa Amini, afirma a agência oficial.
Na prisão de Evin, há várias pessoas detidas durante os protestos e, em geral, presos políticos e de consciência, além de estrangeiros, ou binacionais, como a pesquisadora franco-iraniano Fariba Adelkhah e o americano Siamak Namazi.
A onda de manifestações pela morte de Amini entrou em sua quinta semana, apesar da repressão imposta pelas forças de segurança. Até agora, denuncia a ONG Iran Human Rights (IHR), o balanço é de 108 mortos.
Em imagens divulgadas pela imprensa local na noite de ontem, podia-se ver grandes chamas e uma espessa nuvem de fumaça saindo da prisão, localizada no norte da capital iraniana.
Apesar do fechamento das estradas para Evin, os manifestantes se deslocaram a pé até o centro e, em vídeos publicados nas redes sociais pelo veículo on-line 1500tasvir, ouve-se gritos de "Morte ao ditador" - um dos principais slogans do protesto.
- Detidos estrangeiros em segurança -
Após o incêndio, várias ONGs e o governo americano expressaram sua preocupação com os detentos.
"Os prisioneiros, incluindo os presos políticos, estão completamente indefesos" em Evin, relatou Hadi Ghaemi, diretor do Centro para os Direitos Humanos no Irã (CHRI), com sede em Nova York.
Familiares e grupos de apoio a presos como Fariba Adelkhah, Siamak Namazi e os austríacos Kamran Ghaderi e Massoud Mossaheb garantiram, no entanto, que eles estavam a salvo, embora este último tenha inalado fumaça.
A australiana Kylie-Moore, também detida nesse centro penitenciário, afirmou que parentes das presas políticas disseram que todas estão bem. Outros, como a irmã de um preso americano, o empresário Emad Shargi, disseram no Twitter que sua família estava "morta de preocupação".
- Protestos continuam -
Em solidariedade aos presos de Evin, várias manifestações foram realizadas na noite de sábado, segundo várias ONGs, após um dia de protestos pela morte de Mahsa Amini com o slogan "O começo do fim!" do regime dos aiatolás.
Amini teria sido presa por infringir o rígido código de vestimenta para as mulheres imposto no país, o qual prevê o uso obrigatório de véu.
Os protestos continuam a se espalhar, apesar dos cortes das redes sociais mais populares, e são liderados por mulheres jovens, que queimam seus véus e não hesitam em enfrentar a polícia.
"Os mulás devem ir embora!", gritou um grupo de alunas, sem véu, na Escola Profissional e Técnica Shariati de Teerã, no sábado, de acordo com um vídeo publicado on-line.
Também houve marchas em Ardabil (noroeste) e protestos universitários em Teerã, Isfahan (sul) e Kermanshah (noroeste), conforme outros vídeos que circularam nas redes.
Os líderes iranianos acusam os Estados Unidos de desestabilizar o país. No domingo (16), a diplomacia iraniana voltou a criticar a "ingerência" do presidente americano, Joe Biden.
"O Irã é forte demais para que sua vontade possa se ver abalada pelas ingerências de um político cansado depois de anos de fracassos", declarou no Instagram o porta-voz do Ministério iraniano das Relações Exteriores, Nasser Kanani.
"Defenderemos a independência do Irã e, com certeza, se somará outro fracasso a seus fracassos anteriores", acrescentou o porta-voz, referindo-se a Biden.
O atual protesto se tornou a maior onda de manifestações e violência no Irã desde os protestos de 2019 contra o aumento dos preços da gasolina neste país petrolífero.
Mas "muitas outras manifestações e sanções" por parte dos países ocidentais seriam necessárias para derrubar o regime iraniano, avalia Cornelius Adebahr, analista do "think tank" Carnegie Europe.