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Uma nova análise abrangente de estudos sobre carne e proteínas lançada na quarta (6) revela que as “proteínas alternativas,” como a carne cultivada em laboratório e os novos substitutos à base de plantas, não são tão sustentáveis como seus defensores afirmam – e arriscam fortalecer o domínio dos sistemas alimentares por grandes empresas agro-industriais, dietas padronizadas de alimentos processados e cadeias de abastecimento industrial que prejudicam as pessoas e o planeta.

Seguindo a evidência apresentada pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) sobre a necessidade de alterações fundamentais nos sistemas alimentares para o combate às mudanças climáticas, o relatório do IPES-Food (Painel Internacional de Especialistas em Sistemas Alimentares Sustentáveis) alerta para os riscos de se cair numa armadilha de soluções tecnológicas. Tecnologias como a carne cultivada em laboratório, substitutos à base de plantas e pecuária e piscicultura de precisão prometem reduzir os danos ambientais; no entanto, as evidências para estas alegações são limitadas e especulativas, diz o IPES-Food. Elas podem causar mais danos do que benefícios – resultando em alimentos ultraprocessados, dependência de energia de combustíveis fósseis e perda de meios de subsistência para pequenos agricultores no Sul Global.

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As chamadas proteínas alternativas atraíram apoiadores como Bill Gates, Sergey Brin, e Richard Branson; e o apoio dos governos dos Estados Unidos, China e Europa. Mas o mercado também viu investimentos e aquisições significativas no setor por parte das grandes empresas mundiais de processamento de carne, incluindo a JBS, Cargill e Tyson. O mercado de proteínas alternativas é agora caracterizado por grandes empresas que combinam tanto a produção industrial de carne como um número crescente de alternativas, criando monopólios proteicos.

Para Philip Howard, membro do IPES-Food e autor principal do relatório, “é fácil perceber a razão pela qual as pessoas seriam atraídas pelo marketing e pela propaganda – mas substituir a carne por proteínas ‘alternativas’ não vai salvar o planeta. Em muitos casos, a mudança para as proteínas ‘alternativas’ agravará os problemas do nosso sistema alimentar industrial, como a dependência de combustíveis fósseis, monoculturas industriais, poluição, más condições de trabalho, dietas pouco saudáveis e controle por gigantescas corporações”.

O relatório critica as alegações  que dominam e polarizam a discussão pública sobre carne e proteínas – descobrindo que existe uma “obsessão por proteínas”, um foco restrito nos gases de efeito estufa, que exclui preocupações de sustentabilidade mais amplas, e uma falha em dar conta das diferenças significativas entre os sistemas de produção de carne nas diferentes regiões do mundo. Em vez disso, o painel de especialistas exige um maior foco em sistemas alimentares como um todo e políticas alimentares abrangentes que sejam capazes de medir não apenas os gases de efeito estufa, mas também adotar amplas métricas de sustentabilidade dentro de contextos territoriais/regionais e redirecionar recursos públicos e privados de grandes “empresas de proteínas” para o bem público.

“Algumas pessoas dizem que mais proteínas são necessárias para impedir a fome, como desculpa para adotar soluções tecnológicas como as ‘proteínas alternativas’. Mas a realidade é que existe um excesso de produção de proteínas a nível global. Estas soluções tecnológicas têm pouco ou nada a oferecer às pessoas em condições de insegurança alimentar”, afirma Cecília Rocha, pesquisadora brasileira membro do IPES-Food e professora da Universidade Ryerson, no Canadá. “A propaganda simplista sobre a carne ignora completamente a vivência das pessoas do Sul Global para quem a carne e o peixe são sim fontes sustentáveis de nutrientes e meios de subsistência”, complementa.

Fonte: Agência Bori

Carne vegetal, ou "celular", patê à base de plantas, leite, ou caviar de algas: as "proteínas alternativas" aos produtos de origem animal são cada vez mais procuradas, e os investidores estão cientes disso, segundo especialistas reunidos na feira South by Southwest, no Texas.

"Em 2018, dezenas de empresas foram criadas neste setor em plena expansão", diz Olivia Fox Cabane, fundadora do empreendimento Kind Earth e líder da Aliança Internacional para as Proteínas Alternativas.

Ela tenta registrar com bastante precisão todos os recém-chegados e diz que é forçada a atualizar seu gráfico a cada duas semanas. Segundo ela, este filão da indústria agroalimentar é mais bem-sucedido do que as redes sociais em seu apogeu.

"Para todas as empresas que buscam financiamento, há dois ou três investidores. Nunca vi nada parecido no Vale do Silício", acrescentou Fox.

Além da Califórnia, os principais líderes do setor estão na Holanda, onde se inventou essas alternativas para carne e outros produtos de origem animal, assim como em Israel, aponta.

Por que tal avidez econômica por essas novas formas de alimentação? "Os consumidores querem", respondem em coro os participantes da conferência South by Southwest, um festival fundado em 1987 que está na vanguarda da inovação e de novas tendências, tanto socioculturais quanto tecnológicas.

E as novas tecnologias são, agora, capazes de satisfazer o público em geral, insiste Dan Altschuler Malek, membro do fundo de investimento New Crop Capital.

"A comida vegana apareceu décadas atrás, no final dos anos 1960, e era inicialmente destinada a consumidores 'éticos' que estavam dispostos a fazer sacrifícios. Mas foi apenas a partir da década de 1990 que se tornou mais apetitosa", explica.

"Agora estamos na terceira geração, e o consumidor não precisa mais renunciar ao sabor: as pessoas gostam porque é bom, não só porque é vegetal", diz.

Também para os investidores, "o gosto é o critério mais importante, o custo só vem em segundo lugar", garante Dan Altschuler Malek.

- Norma em 5 anos? -

Para evitar ficar de fora, a maioria dos grandes grupos agroalimentares também investe nessas novas proteínas.

Até mesmo a Tyson Foods, segunda maior produtora de carne dos Estados Unidos e maior exportadora mundial de carne bovina americana, entrou no negócio.

De acordo com a Fox, esta empresa é "a principal investidora em empresas que produzem 'carne celular'", a "verdadeira" carne produzida em laboratório com base em células musculares e adiposas.

Ainda há alguns avanços a serem feitos, em particular para avançar na produção em grande escala e oferecer substitutos para os produtos de consumo do dia-a-dia.

Altschuler Malek, por exemplo, gostaria de poder oferecer "costeletas de porco" vegetais. Mas já existe um substituto para o atum vermelho feito de tomates que, segundo ele, tem a aparência, textura e sabor do peixe cru usado na culinária japonesa.

Para o restante, é uma questão de tempo. "Em cinco anos, vejo um mundo onde essas proteínas alternativas não serão mais alternativas: elas se tornarão a norma, e vamos encontrá-las em todos os restaurantes, ou lojas", estima.

Os principais ingredientes destas proteínas alternativas são soja, feijão, grão-de-bico e glúten de trigo, mas outros estão ganhando terreno, como algas ou cogumelos, que parecem promissores.

Os investidores presentes em Austin não acreditam, no entanto, no entusiasmo por insetos que algumas empresas emergentes mostraram.

Além dos problemas de regulação sanitária que poderia representar, mais uma vez destacam o gosto dos clientes.

As proteínas baseadas em insetos "podem ter aceitação em algumas regiões, mas eu não vejo o consumidor médio saltando sobre esse tipo de produto", diz o CEO da Bid Idea Ventures, Andrew Ive.

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