De volta com sua veia dramática, Woody Allen traça em Blue Jasmine o retrato absurdo e trágico de uma mulher mergulhada na loucura, e traz a australiana Cate Blanchett a seu panteão de heroínas tão neuróticas quanto apaixonantes. A nova epopeia do mestre de Nova York também marca seu retorno aos Estados Unidos, depois de uma longa passagem pela Europa, onde filmou sete de seus últimos oito filmes, incluindo Meia noite em Paris (2011), seu maior sucesso comercial.
Blue Jasmine estreou na sexta-feira em seis cinemas de Nova York e Los Angeles, e vai expandir sua exibição semana após semana, chegando ao Brasil em 11 outubro. O filme, rodado em Nova York e São Francisco, apoia-se quase inteiramente nos ombros da atriz australiana Cate Blanchett, que tinha "abandonado qualquer ideia de trabalhar com Allen". "Achei que ele não estava interessado", declarou em uma recente coletiva de imprensa em Beverly Hills.
##RECOMENDA##
Ela interpreta Jasmine, esposa de um rico investidor financeiro, Bernard Madoff (Alec Baldwin), que perde sua fortuna e seu lugar na alta sociedade de Nova York, quando o marido é preso por fraude. Completamente desestabilizada e psicologicamente frágil, decide reconstruir sua vida em São Francisco e vai morar com sua irmã (Sally Hawkins), com quem ela não tem nada em comum.
"É um privilégio fazer o papel principal em um filme de Woody Allen. Ele influenciou a cultura pop de uma forma que nós não temos ideia", declarou a atriz, que ganhou um Oscar em 2005 por "O Aviador".
"No momento em que li o roteiro, achei fantástico. Foi perfeitamente construído, é absurdo e trágico ao mesmo tempo", acrescenta ela. "Eu acho que (Woody Allen) despreza Jasmine tanto quanto adora. Ela o fascina."
"Quando pensamos em todos os retratos extraordinários de mulheres que ele criou, com tantas atrizes maravilhosas, vemos que ele ama e é fascinado por mulheres, por sua exuberância, sua inteligência, seus medos e fobias", disse ela.
Cate Blanchett incarna maravilhosamente a instabilidade crônica de Jasmine, sua fuga desesperada e obsessão de encontrar o seu lugar e um conforto ilusório, entre vodka e anti-depressivos. Ela não precisou amar Jasmine para encarná-la, mas sentiu por ela uma espécie de compaixão. "Eu não acho que você precisa amar (seu personagem). Isso abre a porta para o sentimentalismo. Especialmente com alguém como Jasmine, que faz um monte de coisas desagradáveis ", afirmou.
"Mas se você entender por que um personagem faz o que faz, por que ele age de uma certa maneira, então o seu trabalho é mostrá-lo", explica. A atriz, que pode ser vista na trilogia O Senhor dos Anéis, O Curioso Caso de Benjamin Button e Robin Hood, também recebeu algumas indicações de Woody Allen, quando costuma ser alérgica a discussões.
"Ele respondia quando achava as questões interessantes. Caso contrário, ele me ignorava e voltava para o seu Blackberry", brincou.
Para a atriz, o destino de Jasmine é uma triste realidade para muitas pessoas. "Isso acontece em todos os lugares. Quando a autoconsciência está relacionada a um relacionamento romântico, a uma situação financeira, grupo social, e quando estes se tornam indisponíveis, podemos nos encontrar em frente ao espelho, muitas vezes na metade de sua existência, e perguntar: 'Deus, quem sou eu?", disse ela. "E se você não tem segurança financeira, uma estrutura para apoiá-lo, então a loucura pode se instalar muito rapidamente".