O Bairro do Recife, região onde a capital pernambucana nasceu em meados do século XVI, é sem dúvida uma das regiões mais ricas da cidade quando o assunto é cultura. Além de toda a aura histórica e arquitetônica que o bairro possui em espaços como a primeira Sinagoga das Américas, o Chanteclair, o Paço Alfândega, e os Armazéns do Porto do Recife, há no chamado Recife Antigo uma concentração de equipamentos culturais não vivenciada em outros cantos do Recife.
É que nos cerca de 100 hectares da ilha onde o Recife nasceu estão fixados, de uma ponta a outra, espaços como o Centro Apolo-Hermilo, Centro Cultural Correios, Centro Cultural Caixa, Cais do Sertão, Torre Malakoff, Paço do Frevo, Centro de Artesanato e futuramente o Festival Center, formado pelos Armazéns 12, 13 e 14 do Porto do Recife, ainda em reforma.
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Relação entre os equipamentos culturais
Estes espaços culturais - públicos e privados - estão vivendo o início de uma relação de cooperação entre si, no sentido de fomentar uma rede informal voltada ao turista e ao visitante. “A Secretaria de Turismo da Prefeitura do Recife quer fazer um passaporte voltado ao turista e ao morador, com a proposta de que a pessoa visite vários espaços pagando um custo menor”, adianta Fátima Bulcão, gestora da Torre Malakoff. “A gente tem que pensar em ações conjuntas. O turismo no Bairro do Recife é um ponto forte da cidade e muitas vezes você quer fazer as coisas, mas não consegue dar continuidade. Acho que com a Prefeitura do Recife norteando este processo, dá pra se fazer algo mais em conjunto”, opina Fátima Bulcão.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Turismo da Prefeitura do Recife confirmou que de fato existe o projeto citado por Fátima, cujo objetivo é criar um passaporte que dê benefícios àqueles que forem visitar mais de um equipamento cultural no Bairro do Recife. No entanto, detalhes sobre a iniciativa não foram revelados porque o projeto ainda está em formulação. Por outro lado, enquanto a ideia não é colocada em prática, o jeito é apelar para o bom e velho contato informal.
Para Carlos Carvalho, gestor do Centro de Formação e Pesquisa das Artes Cênicas Apolo-Hermilo, há entre os equipamentos culturais deste bairro uma relação bastante efetiva. “Ano passado realizamos oficinas e palestras no Centro Cultural dos Correios. Além disso, temos uma relação próxima com o Bairro do Recife. A gente sempre convida os alunos da Escola Municipal do Pilar, por exemplo, para assistir às sessões que oferecemos”, comenta.
Em paralelo, Paulo Braz, gestor do Paço do Frevo, que foi inaugurado há menos de seis meses e já teve mais de 50 mil visitantes, acredita que ainda não existe uma relação mais próxima entre os espaços culturais do Bairro do Recife, mas ressalta um fato novo que surgiu com a chegada de equipamentos como o Museu Cais do Sertão e o próprio Paço do Frevo. “Até então os turistas permaneciam apenas um curto período no Bairro do Recife e depois seguiam para Olinda. Aproveitando a chegada destes novos espaços culturais, estamos tratando com as agências de turismo para que elas permaneçam por aqui pelo menos durante metade de um dia”, revela Paulo.
De acordo com Tereza Miranda, gestora da Caixa Cultural Recife, os demais espaços que estão no Bairro do Recife vivem entre si uma forte interação com o apoio da própria prefeitura. “A gente se esforça porque um se apoia no outro. Se a pessoa for à portaria da Caixa Cultural vai encontrar material de divulgação de outros espaços culturais do Bairro do Recife. Além disso, os meus monitores e atendentes fazem visitas para trocar experiências, e há um intercâmbio de atividades muito bom. A gente fazia muito isso com o Santander Cultural, que fechou”, comenta Tereza.
Teatros do Apolo e Hermilo
Inaugurado no ano de 2000, o Centro de Formação e Pesquisa das Artes Cênicas Apolo-Hermilo é formado por dois importantes e antigos teatros do Recife. O Teatro Apolo foi inaugurado em 1842, e é considerado o primeiro teatro do Recife. Após funcionar por 18 anos, foi desativado e o prédio transformado em um armazém de açúcar, retomando a vocação para as artes cênicas apenas em 1981. Já o Teatro Hermilo Borba Filho foi inaugurado em 1988. Mas inicialmente os dois equipamentos não estavam geminados com a proposta de ser um centro cultural único.
De acordo com Carlos Carvalho, a relação do equipamento com o Bairro do Recife não é tão forte como a que o espaço tem com o Recife em si. “Mas em 2015 queremos implantar um processo de mais atividades diurnas, com o objetivo de alcançar essa população flutuante do bairro que trabalha nas empresas de TI. Neste sentido, já tivemos algumas conversas com o Porto Digital para pensar em parcerias”, revela o gestor do espaço.
Por se tratar de dois teatros municipais instalados em prédios históricos, a manutenção e reformas são constantes necessárias. Desde o ano passado foram realizadas no local pequenas obras, mas de importância fundamental, como uma reforma nos camarins e banheiros, a retirada do mofo, pintura da parte interna, compra de equipamentos de luz e de som, entre outras coisas. Para o ano que vem estão previstas obras mais estruturadoras. “Em 2015 iremos colocar em prática obras como o restauro de paredes, ajeitar as infiltrações, troca dos telhados, tudo em parceria com a URB (Empresa de Urbanização do Recife). Para o Hermilo, já temos uma licitação para criação dos projetos de serviço e até junho do ano que vem o espaço já deve estar em obras. No caso do Apolo ainda será iniciada a licitação”, explica Carlos Carvalho.
Caixa Cultural Recife
Ao todo, existem sete Caixas Culturais espalhadas pelo país, em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Recife e Fortaleza, inauguradas exatamente nesta ordem. No caso do Recife, a unidade foi inaugurada em maio de 2012, onde anteriormente funcionou a Bolsa de Valores Pernambuco-Paraíba, um prédio centenário de arquitetura eclética. A reforma durou cerca de quatro anos, mas manteve as características arquitetônicas do imóvel. “Inclusive durante as obras a gente fez um convênio com a Escola de Restauro, para que estudantes de lá trabalhassem na obra. Tivemos também acompanhamento de arqueólogos, e a reforma foi aberta para visitas de universidades e do Instituto de Arquitetos de Pernambuco (IAB-PE)”, revela Tereza Miranda.
Segundo a gestora do equipamento, a Caixa Cultural foi eleita o segundo melhor lugar pra ir de graça pela Revista Veja. “É um espaço que já entrou na vida cultural da cidade, e é gratuito. Quando tem um espetáculo que é pago, é a preço popular. O espetáculo mais caro que uma pessoa vai pagar aqui custa R$ 20”, comenta Tereza. Com pouco mais de dois anos de atuação, a Caixa Cultural ainda está tentando identificar o seu público, mas segundo Tereza Miranda, há no local um bom interesse em música e artes visuais por parte do público.
“A gente tem também programas de arte e educação, como o Gente Arteira, que aqui ainda não foi instalado porque a gente depende de uma licitação”, comenta a gestora. No que diz respeito às licitações, há também uma proposta de implantação de um café na Caixa Cultural, mas que seja um espaço que dialogue com as atividades propostas pelo centro. “Estamos montando uma licitação para o café do centro cultural, mas estamos analisando a melhor proposta para implantar aqui porque não queremos um espaço pra se tomar café apenas. Queremos que o local tenha uma preocupação maior com a Caixa Cultural e que interaja com o programa Gente Arteira, por exemplo”, explica Tereza Miranda, que não sabe precisar quando esta licitação será lançada.
Torre Malakoff da 'arte e ciência'
O Governo do Estado, através da Secretaria de Cultura, administra dois espaços culturais no Bairro do Recife. Um de menor porte, que é uma galeria de artes visuais dentro do Centro de Artesanato, e a Torre Malakoff, localizada em frente à Praça do Arsenal.
Segundo Fátima Bulcão, gestora do equipamento, o espaço conta com uma programação contínua. “Nos últimos quatro anos, que é o período que eu estou lá, a programação só foi interrompida durante a reforma ou quando o Governo do Estado faz algum uso específico, como agora recentemente a Secretaria da Copa fez. Fora isso é uma grade intensa, principalmente no que diz respeito às exposições. É entrando uma e saindo outra, e essas exposições chegam à Torre Malakoff normalmente pelo Funcultura. A comunidade artística tem um carinho especial por aquele espaço”, opina Fátima. “Tem também a questão do observatório astronômico, que surgiu com a construção da torre e é muito importante e requerido. Dia de domingo, quando o espaço está aberto à visitação, normalmente tem uma fila enorme. A gente diz que a Torre Malakoff é arte e ciência”, explica a gestora.
A Torre Malakoff é um equipamento voltado para todas as artes, sem ter um único segmento. Neste sentido, o espaço abriga artes visuais, música, literatura e outras linguagens. “A gente inclusive brincou entre si por causa da exposição sobre Paulo Leminski que teve por lá, a Múltiplo Leminski. Aquela foi uma exposição que tinha tudo a ver com o conceito do equipamento”, comenta Fátima. Segundo ela, nos três primeiros meses do ano já se tem a pauta anual definida.
No que diz respeito à estrutura do prédio, em 2012 houve uma reforma no local, mas as condições ainda não estão boas, como fala a gestora: “É um prédio que fica na beira-mar e a questão da maresia interfere muito. Vai diminuir um pouco porque estão construindo o Museu Cais do Sertão ali na frente. Mas é algo que prejudica até os nossos computadores. A manutenção que esses prédios tombados exigem, que devia ser anual, mas só acontece de três em três anos, é muito difícil pro Estado”.
Mesmo com os problemas, Fátima Bulcão acredita na importância da Torre Malakoff no nesta nova configuração do Bairro do Recife que está para surgir. “A Torre está no centro do mapa dos equipamentos culturais, e o próprio prédio em si desperta a curiosidade dos visitantes. Acho que ele é um ponto central e cobiçado pelos pensadores da cultura por conta da sua função estratégica“, defende.
Equipamentos do Bairro do Recife em reforma
Em relação ao Museu Cais do Sertão, que teve parte do seu projeto inaugurado no começo deste ano, a segunda parte da obra, conhecida como Módulo 2, está instalada numa área de 5,5 mil m2 e corresponde ao centro cultural com auditório para 280 lugares, salas para oficinas, restaurante-escola, café e espaços de ambientação, convivência e exposições. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, responsável pela construção do prédio, as obras físicas estão em fase de execução com previsão de inauguração no final de 2014.
Já a assessoria de imprensa do edifício Chanteclair, uma lenda viva do Bairro do Recife, informa que ainda estão sendo executadas obras de reforma na fachada e que os planos futuros do espaço não estão definidos. Outros equipamentos culturais que passam por reformas são os armazéns 12, 13 e 14, este último mais conhecido por ter sediados vários shows e espetáculos teatrais. Estes armazéns fazem parte do projeto Porto Novo Recife e representam o Festival Center, espaço de lazer, cultura e gastronomia com mais de 13 mil m².