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No último dia 17, na Globo, foi ao ar o último capítulo de Mar do Sertão. Escrita por Mário Teixeira, a novela deixou os telespectadores vidrados com histórias que reverberaram ao longo de sua exibição. Reunindo diálogos e interpretações impressionantes, a trama das seis também marcou o público de casa com a perspicácia do elenco. Para a pernambucana Clarissa Pinheiro, que deu vida à doce e sábia Tereza, ter participado da obra foi uma experiência muito especial.

"Vivendo a Tereza, eu via um pouquinho de cada mulher que eu admiro nesse lugar de estar representando essa humildade, gratidão e valorização pelo que se tem, porque mesmo a Tereza ficando rica, ela sempre deu valor ao que tinha, que eram os filhos, o bem-estar das pessoas próximas", declarou a atriz, em entrevista ao LeiaJá.

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Clarissa frisou que a personagem foi uma mulher que nunca deixou de lutar pelos seus desejos pessoais: "Essa é uma das mulheres mais incríveis que eu pude representar na televisão". Natural do Recife, a também diretora de cinema e jornalista vive no Rio de Janeiro há dez anos, cidade que a fez mergulhar com seriedade e satisfação na arte. À reportagem, Clarissa Pinheiro abriu o coração sobre a carreira, representatividade feminina e projetos futuros.

Tereza, sua personagem em Mar do Sertão, trouxe diversas reflexões ao público de casa. Dá para ter uma dimensão do que foi esse seu papel na vida das mulheres?

Olha, pelo feedback que eu tive nas minhas redes sociais e nas ruas, de tantas mulheres que se identificaram com a Tereza, seja por se sentirem iguais ou por conhecerem pessoas tão inspiradora quanto ela, digo que a importância de se sentir representado foi o que mais me chamou atenção. Tereza é sofrida, mas é guerreira. É feminista sem saber e luta com o coração.

A força da mulher sertaneja, sobretudo brasileira, que enfrenta as intempéries sem esmorecer e sem perder a empatia pelo próximo. A generosidade de Tereza é inspiradora. Não acho que foi à toa que tanta gente se apaixonou pelos Timbós. Não importa o pouco ou muito que a gente tenha, mas a empatia pelo outro é que nos aproxima e promove a cura.

A personagem da Tereza é um verdadeiro chamado à todas as Terezas (e as que se inspiram nelas) para olharem para si com carinho, valorização e potência. Sem perder a doçura no coração.

Débora Bloch, Isadora Cruz, Suzy Lopes, Eli Ferreira, Sara Vidal, Heloísa Jorge, Giovana Cordeiro... Essas foram algumas das atrizes com quem você contracenou. O que você leva dessa experiência com elas?

O encontro dessas mulheres diversas, em diferentes fases da carreira, foi muito rico e divertido! Acho que vivemos um momento de muita parceria entre as mulheres, em busca de sororidade, empatia e apoio. Débora é uma pessoa que sempre admirei, seja na comédia ou no drama. Sempre foi uma atriz que me tocou. Já nos encontramos em outros projetos, então reencontrá-la foi o mesmo prazer de sempre! Adoro!

Suzy Lopes é uma figura que não tem igual! A gente se diverte dentro e fora de cena! Isadora e seus encantos! O afeto que Tereza tem por Candoca se assemelha ao que eu tenho por essa criatura! Eli Ferreira, assim que entrou pra primeira leitura do roteiro me chamou atenção com sua voz e imponência! Que mulher! Me identifiquei imediatamente com esse contralto! Já conviver com Heloísa Jorge e a pastora Dagmar foram momentos de diversão e reflexões. Levo pra vida!

Giovana Cordeiro, minha Xaviera praticamente adotada pelos Timbós, carrego num lugar de admiração que nem uma mãe quando vê que seu filho, tão dedicado, colheu os frutos de sua determinação. Admiro demais! Sara Vidal foi uma parceira incrível. Nossa troca de mãe e filha talvez eu não consiga nem saber separar na vida! Eu amo essa menina e quero o bem dela que nem o de uma mãe por sua filha. Sem falar em todas as outras mulheres incríveis que encontrei e reencontrei nessa novela. Todas em suas buscas, encontros, trajetórias e angústias foram parceiras. Nossas trocas levo para a vida.

A sintonia entre você e o Enrique Diaz foi extremamente visceral. Timbó e Tereza promoveram encontros engraçados e emocionantes. Como é trabalhar com ele?

Eu e o Kike [Enrique] já tínhamos feito par romântico na série Justiça, de Manuela Dias, em 2016. Interpretamos a Irene e o Douglas. Guardo com muito carinho esse primeiro encontro, em que desde o princípio teve troca, escuta, parceira e diversão. Quando soube que eu e ele interpretaríamos Timbó e Tereza, senti um lugar familiar e de muito conforto. Fora que ele é um artista, uma pessoa, um ser humano que é impossível não se sentir bem em conviver. Nossas trocas foram incríveis e eu só posso dizer que reencontrá-lo em cena será, sempre, o maior prazer.

Mar do Sertão reuniu um elenco recheado de nordestinos. Como foi para você, uma artista pernambucana, de Recife, representar uma região tão rica em cultura?

A novela reuniu um elenco que veio de vários estados do Nordeste, um encontro da nossa cultura em suas semelhanças e em suas diferenças. Nessa novela, houve espaço para todas as gírias, trejeitos e características típicas de nosso povo. Dessa troca, só fortaleci o meu entendimento e a minha força nordestina porque, assim como o público, me senti representada. Sinto muito orgulho de ter feito parte de um projeto que deu voz ao Nordeste, buscando respeitar sua cultura. Somos diversos e essa é a nossa beleza.

Você coleciona no currículo grandes trabalhos no teatro, cinema e televisão. Em Amor de Mãe, de Manuela Dias, os telespectadores se deliciaram com a tua entrega na interpretação de Penha. Na TV, por exemplo, você tem o costume de colocar improvisos ou é de seguir à risca o que vem no roteiro?

Sou bem cartesiana com relação aos textos que recebo. Parto do princípio que o autor daquelas palavras também fez a sua própria imersão para trazer aqueles pensamentos à tona. No entanto, em meus estudos, procuro buscar expressões, cacos e formas de colocar aquela determinada frase dentro de um contexto que faça sentido para minha personagem.

Existem autores mais fiéis às palavras escritas. Procuro me adaptar a cada um deles. Se o desafio é reproduzir cada uma daquelas palavras, sem qualquer modificação, eu encaro como uma oportunidade de experimentar nossas possibilidades. E quando é possível acrescentar algo, eu jogo junto. Gosto mesmo é de mergulhar naquela psiquê da personagem e pensar suas formas de agir diante dos milhares de embates emocionais a que somos submetidos.

Com o fim de Mar do Sertão, o que está reservado de projeto para você? Já tem algo que você possa revelar?

Esse ano, provavelmente, serão lançados três filmes que participei, coincidentemente os três foram dirigidos por mulheres. Em Sereias, com nome provisório, interpreto Marli, mãe de uma adolescente. É um filme da Valentina Homem e Fernanda Bonde que trata do universo feminino e as batalhas cotidianas das mulheres. O segundo filme é o Senhoritas, que  retrata aemancipação feminina. Já em Pedágio, interpreto Joelta, uma 'perua' que interage com a protagonista interpretada peor Maevis Jinkings.

Também estou com uma boa expectativa em retomar a peça Isso Que Você Chama de Lugar, com direção do Daniel Herz. Além disso, estou fazendo lendo um novo roteiro e estou com mais algumas outras possibilidades, mas por enquanto não posso revelar!

O que posso dizer é que 2023, se der tudo certo, será de diversas expressões artísticas. Teatro, cinema, TV, séries e tantas outras formas de comunicar estarão, sempre, na minha manifestação existencial. E o público pode acompanhar ainda alguns dos meus trabalhos que estão no GloboPlay.

Qual o recado que você deixa para as meninas, mulheres, que querem seguir a mesma profissão que te projetou nacionalmente?

Diria que ser artista é um chamado, mas não é fácil. E como qualquer outra profissão, exige disciplina, estudo, entrega, resiliência, entre outros tantos atributos para que possamos seguir entregando o nosso melhor.

A arte, no entanto, exige um entrega para além do material. É uma entrega de alma. E quando falo de arte é inerente à fama. Estou falando de arte visceral. De expressar suas emoções genuínas e transformar os próprios sentimentos em vetores que conectam as pessoas. Se colocar à disposição da arte, das emoções e dos sentimentos que estão naquela história.

Se você encontrasse com Clarissa Pinheiro de dez anos atrás, que conselho você daria para ela?

Menina, eu te entendo profundamente e sei que as inseguranças e medos são, muitas vezes, paralisantes. Mas siga fazendo, como você sempre fez, mesmo com medo e sem ter uma certeza das coisas, porque a construção é diária e o resultado acontece. Você é capaz e o tempo vai te dizer isso. Não deixe de se cobrar para entregar sempre o melhor, mas se liberte um pouco da autocobrança. Tenha calma, paciência e amor por você mesma.

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A atriz pernambucana Clarissa Pinheiro participa nesta quarta (29) da estreia do filme Casa Grande pelo qual ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Festival de Paulínia, em julho deste ano. Clarissa desbancou grandes nomes como Fernanda Montenegro (indicada ao Oscar em 1999) e Sandra Corveloni (vencedora da Palma de Ouro no Festival). Casa Grande será exibido no Cinema São Luís às 19h, dentro da programação do 7º Festival Janela Internacional de Cinema.  

Clarissa Pinheiro pega a contramão no caminho de artistas pernambucanos que despontam para o cenário nacional. Ela ganhou notoriedade antes mesmo de participar de alguma produção local, como ocorre geralmente. A atriz retorna à terra natal ansiosa pela repercussão do filme entre o público do Festival e afirma ser o sonho de qualquer artista audivisual ver seu trabalho exibido no Cine São Luiz. 

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O longa Casa Grande, do diretor carioca Fellipe Barbosa, vem fazendo bonito nos festivais de cinema pelo país e fora. A produção já levou os prêmios de melhor roteiro, melhor ator coadjuvante - para Marcello Novaes - e o prêmio especial do júri para o diretor, no Festival de Paulínia. No Festival de Palmares, na França, Casa Grande conquistou os prêmios de público, crítica internacional e da crítica francesa. E, no Festival do Rio 2014, ficou com melhor filme pelo júri popular. Neste mesmo festival, Clarissa Pinheiro foi finalista na disputa de melhor atriz. 


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