Em 2010, o vestibular da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) passou por algumas mudanças, entre elas, a de que a redação, feita pela Comissão do Vestibular (Covest), passaria a ser substituída pela redação do Enem e corrigida por corretores do Ministério da Educação (MEC). Depois de receberem as notas, os feras passaram a achar que os critérios seguidos na correção não eram tão coerentes assim.
A estudante Anaís Araújo, de 18 anos, se sentiu prejudicada na avaliação feita pelo MEC. “No primeiro ano de mudança, eu ainda não tinha concluído o ensino médio e fiz o Enem apenas por experiência. Quando comecei a redação, o tempo estava acabando, fiz às pressas, escrevendo qualquer coisa que vinha na minha cabeça. A surpresa veio quando vi que tinha tirado nota 920. Já em 2011, passei o ano todo fazendo disciplinas isoladas, e estudando bastante para passar, acabei obtendo 540 pontos e fiquei sem entender a nota”, completa.
##RECOMENDA##Sérgio Ricardo, 19, também ficou surpreso com sua nota. “Como estudava muito, estava me confiando em uma nota alta na redação, mas quando vi que tinha tirado 400, não me conformei. Levei, na época, meu texto a uma professora de redação que analisou e disse que ele deveria ter atingido uns 700”, disse o estudante. O resultado foi que Sérgio não conseguiu ingressar na universidade pública.
Escutando diversas reclamações do tipo dos alunos e professores, o professor Marcello Menezes decidiu criar um grupo no facebook para poder discutir e reivindicar mudanças. Em pouco mais de uma semana, o grupo chegou ao número de 35 mil membros. “O que me deu mais força para continuar na luta foi o bom resultado do grupo, porque podemos perceber que a insatisfação é compartilhada por muitos alunos e que essa realidade tem que ser mudada”, afirma o professor.
“Assim que vi o grupo criado no facebook me veio a esperança de que as coisas mudassem. Estou me dedicando muito para passar no vestibular, e tenho medo de ser injustiçado na redação de novo”, completa Anaís.
A professora de redação Cris Monteiro também se mostrou à favor das reclamações. “Estou apoiando o movimento, porque assim que passou a valer a redação do Enem, eu percebo que meus alunos, que durante todas as aulas se deram bem, acabam não alcançando uma nota boa pela comissão de correção do MEC”.
De acordo com a professora, os critérios dados em sala de aula acabam não significando nada, em relação aos critérios abordados pelo MEC. “A correção da redação do Enem apenas valoriza a ideia principal do aluno. Já a correção que era feita pela Covest tinha os critérios corretos para se avaliar uma redação, que são conectar a ideia do aluno à gramática correta da língua portuguesa e suas argumentações", explica. A professora também acrescenta que o Enem considera apenas 7 linhas como texto, o que diferencia das 15 exigidas nas aulas de redação.
De acordo com Marcello Menezes, a Reitoria da UFPE deve se pronunciar sobre o assunto na próxima semana, já que um documento oficial feito por ele foi entregue ao Reitor da Universidade, à Pré-reitora e à Covest.
Desde que passou a constituir a primeira fase do vestibular das universidades federais do país, o Enem vem causando polêmicas todos os anos. Para quem não lembra, a prova já foi adiada por vazamento de informação, além de ter cadernos com impressões erradas. No começo deste ano, quando as notas foram divulgadas, um estudante mineiro obteve nota 0 na redação, recorreu ao MEC para buscar explicações e teve sua nota alterada de zero para 440 pontos. A justificativa foi o erro no número do RG do aluno que estava impresso na prova.