Pela primeira vez na história, o Banco Central vai abrir ao público em uma única exposição, com duração de dois anos, um dos mais ricos e completos acervos artísticos de instituições públicas do País. Todas as 554 obras, de 62 artistas, que foram classificadas como de grande relevância artística serão exposta ao longo desse período na sede da instituição em Brasília.
A maioria dessas obras foi recebida pelo BC como pagamento de dívida de bancos que quebraram durante os anos 1970. Hoje, a instituição não recebe quadros nem outros bens como forma de pagamento. Em 2011, profissionais conceituados no mercado de arte brasileiro foram contratados pela instituição para reclassificar e reavaliar as obras. Das 2.351 peças, 554 foram classificadas como o grande tesouro artístico do BC, 1.621 estão sendo usadas para decorar espaços de trabalho e o restante foi leiloado ou doado.
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Batizada de A Persistência da Memória, título de uma das obras de Salvador Dalí, a mostra será exibida no oitavo andar do edifício-sede, ao lado do Salão Nobre do BC, onde os diretores e o presidente da instituição, Alexandre Tombini, decidem, entre os assuntos, os rumos da taxa básica de juros, a Selic. Aos sábados, quando a alta cúpula da instituição não utiliza a sala, os visitantes poderão entrar no Salão Nobre, onde se encontra o grande painel O Descobrimento do Brasil, de Cândido Portinari, feito sob encomenda do antigo Banco Português do Brasil. Do local, também se tem uma visão privilegiada da capital federal.
Grande parte dos quadros será exibida em um ambiente que lembra o local em que essas peças são guardadas quando não estão em exibição. Os quadros são armazenados em mapotecas e trainéis (equipamentos para guarda das peças) em aço, equipamentos que estarão na exposição. É como se o visitante tivesse acesso a um dos lugares com mais segurança no BC: o último andar, localizado no sexto subsolo, com temperatura constante de 22ºC e umidade de 50%.
É nesse espaço, chamado de reserva técnica, que a instituição guarda o seu tesouro artístico, ao lado do cofre em que fica todo valor que chega ao edifício-sede, antes de ser distribuído para a rede bancária. A área da plataforma para baixo do prédio é maior que a da plataforma para cima. Os seis subsolos ocupam a projeção total do terreno, de cerca de 10 mil m². Os 21 andares superiores têm área construída em torno de 1,8 mil m² cada um.
Até mesmo os funcionários do Museu de Valores do BC precisam passar por um forte esquema de segurança para chegar a esse andar: é necessário passar por sete portas, com identificação, com a companhia de um funcionário do Meio Circulante e agentes de segurança.
A cada quatro meses, a maior parte da exposição será renovada para que todas as 554 obras sejam expostas. Os seis módulos curatoriais darão um panorama do contexto político, econômico e cultural do Brasil no século 20. Três módulos são cronológicos e três, conceituais. O primeiro módulo, intitulado Brasil Brasileiro, com forte referência à identidade nacional, será inaugurado nesta terça-feira, às vésperas da Copa do Mundo. "Aceleramos ao máximo o ritmo para pegarmos o fluxo de turistas que vêm para o Mundial", afirma Elvira Cruvinel Ferreira, chefe do Departamento de Educação Financeira do BC.
Entre as principais obras do primeiro módulo estão Composição, Bandeira Brasil, de Alfredo Volpi; Samba, de Cândido Portinari, Cena de Rua Com Mulher, de Emílio Di Cavalcanti; Galo, de Aldemir Martins; Nordeste, de Antônio Bandeira; Festa Caipira, de Fulvio Pennacchi; Trabalhadores, de Tarsila do Amaral; a escultura Cavalo Ferido, de Vasco Prado, e O Macaco, de Vicente do Rêgo Monteiro.
Apenas Di Cavalcanti, Portinari, Tarsila e Vicente do Rego Monteiro fizeram parte, de fato, da primeira geração moderna, a mais radical no nacionalismo, mas Gisel Garriconde Azevedo, curadora da exposição, colocou no mesmo módulo Alfredo Volpi, Aldemir Martins, Antônio Bandeira, Fulvio Pennacchi e Vasco Prado, pertencentes à segunda e à terceira geração, por encontrar ecos, mais ou menos fortes, desse sentimento.
Por questões de segurança, o BC não divulga qual o valor estimado do acervo, mas entre as obras de valor inestimável estão 12 quadros temáticos de Cândido Portinari, que pertenciam à extinta revista O Cruzeiro. As obras que foram restauradas recentemente passaram às mãos do BC depois da liquidação extrajudicial do Grupo Halles.
A exposição fechará com os fundamentos do movimento surrealista, com um paralelo entre o movimento no mundo e no Brasil. Ilustrarão esse módulo obras que nunca foram expostas do espanhol Salvador Dalí. Ismael Nery, Emiliano Di Cavalcanti, Cícero Dias e Vasco Prado também farão companhia ao pintor na última etapa da exposição.
Horário de funcionamento: De terça a sexta, de 10 às 18 horas. A galeria abrirá dois sábados do mês de junho, 14/6 e 21/6, de 14 horas às 18 horas. A partir de agosto, a galeria abrirá no primeiro sábado do mês, de 14 horas às 18 horas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.