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Nem todos os homens de confiança dos governos do PT incomodam o presidente Jair Bolsonaro. Funcionários públicos que estiveram no círculo de poder de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff hoje recebem afagos de Bolsonaro. Pelo menos 71 dos 180 integrantes (39%) do primeiro e do segundo escalão, a cúpula da administração federal, estiveram em postos importantes das gestões petistas.

Entre os que sobreviveram ao discurso de "despetizar" o Brasil estão servidores muito próximos de Bolsonaro, como os ministros Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), Gustavo Canuto (Desenvolvimento Regional) e Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União).

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A resistência de Bolsonaro aos quadros petistas ficou evidente no mês passado, quando avisou ao então presidente do BNDES, Joaquim Levy, que o subordinado estava com a cabeça a prêmio caso não demitisse o então diretor de Mercado de Capitais do banco, Marcos Barbosa Pinto. Tanto Levy quanto Pinto ocuparam cargos influentes nos mandatos dos petistas. "Levy já vem há algum tempo não sendo leal a aquilo que foi combinado, ele está com a cabeça a prêmio já há algum tempo", disse Bolsonaro. No dia seguinte, o ex-ministro da Fazenda de Dilma anunciou sua demissão.

Um "ex-petista" é um dos ministros mais prestigiados por Bolsonaro. Tarcísio de Freitas, que comanda a pasta da Infraestrutura, foi diretor executivo e diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) durante o primeiro mandato de Dilma. Freitas ganhou destaque pelo avanço com as concessões e tem sido elogiado inclusive por líderes do Congresso. Ao seu lado, a secretária de Fomento, Planejamento e Parcerias, Natália Marcassa, é outra sobrevivente de gestões anteriores. Um dos principais nomes à frente dos planos de concessão, Natália foi secretária executiva no Ministério dos Transportes no governo Dilma.

"Isso é absolutamente normal e desejável. A linha de governo muda, a diretriz também, mas tem gente que sabe lidar com a máquina, sabe a história dos Poderes. As pessoas têm condição de operar isso e promover mudanças. (Cortar todos os servidores técnicos que passaram por outros governos) Não funciona. Não existe (isso), não teria a menor possibilidade de ser assim", disse o ministro Freitas.

Ele afirmou que seu ministério, que tem quatro secretários que atuaram em cargos de confiança em gestões petistas, é formado por profissionais técnicos que estão fazendo "um excelente papel" e que estão alinhados com a pauta do governo.

"Não tem isso de 'esse cara trabalhou em outro governo e isso está contaminando'. Passei quatro anos no Dnit no governo Dilma e depois passei mais dois anos no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) no governo Temer estruturando projetos que estou tocando hoje. Conheço todo o programa do PPI porque eu estava lá. Essa continuidade é boa, saudável e importante", declarou.

De acordo com Freitas, Bolsonaro não questionou sua passagem pelo governo Dilma quando o convidou. "Ele (Bolsonaro) tinha a percepção dos problemas de infraestrutura do País. Complementei com a minha visão. Debatemos sobre isso e eu coloquei um plano de ação na mesa. O presidente não fez nenhum questionamento sobre trabalhar no governo do PT."

Itamaraty

Com seis nomes, o Ministério das Relações Exteriores, comandado por Ernesto Araújo, considerado da ala ideológica do governo, está entre os que mais abrigam comissionados influentes nos governos do PT. É o mesmo número da Controladoria-Geral da União e do Ministério do Desenvolvimento Regional. Neste último, o próprio ministro, Gustavo Canuto, tem um longo currículo de serviços prestados a governos petistas. Ele foi chefe de gabinete de ministro da Secretaria de Aviação Civil da Presidência na segunda metade do governo Dilma e, antes, foi assessor no Gabinete da Secretaria de Aviação Civil da Presidência.

Número dois de Canuto, o secretário executivo Antonio Carlos Paiva Futuro também tem um histórico em gestões petistas. Wagner Rosário, ministro da Controladoria-Geral da União, foi secretário executivo da pasta no governo Dilma.

A lista inclui ainda grupo de secretários executivos, o segundo cargo mais importante no organograma dos ministérios. É o caso do Ministério da Economia, com Marcelo Guaranys, número dois de Paulo Guedes, e o da Educação, com Antonio Paulo Vogel de Medeiros. Guaranys foi coordenador-geral de Serviços Públicos e Infraestrutura da Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda no primeiro mandato do governo Lula.

'Meritocracia'

O argumento de Jair Bolsonaro para manter ou demitir pessoas do governo havia sido exposto pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ainda no período da transição, quando ele prometeu que o governo iria "despetizar o Brasil". Onyx argumentou que o governo não poderia manter servidores petistas ou de ideologias que não se identificam com o projeto "de centro-direita".

Porém, mesmo na pasta de Onyx há um cenário parecido. José Vicente Santini, hoje o segundo na hierarquia da Casa Civil, foi coordenador na Secretaria de Aviação Civil do Ministério da Defesa entre 2007 e 2010, período em que Lula era presidente.

Os ministérios do governo com quadros ligados à gestão petista afirmam que todos os servidores têm perfil técnico e estão na administração por "meritocracia". A assessoria do Ministério da Infraestrutura argumentou que o ministro Tarcísio Freitas e os secretários não têm vinculação partidária. "Todos são servidores concursados, têm vasto currículo e experiência no setor." Por sua vez, a Secretaria de Governo afirmou que os servidores citados pela reportagem integram carreiras típicas de Estado. "Atividades essenciais do Estado devem ser executadas por profissionais especializados." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O economista Paulo de Tarso Venceslau estava nesta quinta-feira, 11, em uma padaria da Rua Aracaju, em Higienópolis, no centro de São Paulo, ao lado do professor de história da Universidade Federal Fluminense Daniel Aarão Reis. Ambos dividem um passado comum na resistência à ditadura e na militância petista. Vinte anos depois de detonar o primeiro escândalo - era maio de 1997 - que envolveu Luiz Inácio Lula da Silva em uma rede de favores e fraudes, que tinha seu compadre e advogado, Roberto Teixeira, como principal acusado, Venceslau viu mais uma vez o ex-presidente dizer que não sabia de nada do que acontecia ao seu redor. "É mentira. E ela é tão grande que, agora, ele chega a dizer que não tem influência no PT. Isso diz tudo. É a prática que eu conheço."

Venceslau militou na Ação Libertadora Nacional (ALN) e participou do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, em 1969, libertado em troca da soltura de 15 presos políticos, entre eles o ex-ministro José Dirceu (PT). Aarão Reis era da direção do MR-8, que participou da ação com a ALN. Presos e torturados, ambos se reencontraram nos anos 1980 no PT. Quem primeiro deixou a legenda foi Venceslau. "Fui ao Lula e mostrei documentos e o que aconteceu? Ele chamou o Okamotto (Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula) e me mandou conversar com o Teixeira."

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Os documentos citados por Venceslau mostravam que a empresa CPEM teria sido beneficiada com contratos em administrações municipais petistas em troca de dinheiro para campanhas eleitorais. Teixeira teria apresentado a empresa a petistas e era o dono do imóvel no qual Lula morava de graça. Venceslau acabou expulso do partido e Lula inocentado por uma comissão interna do PT.

Ele e Aarão Reis assistiram ao interrogatório de Lula. "O Lula jogou tudo nas costas da Marisa. Coitada, já não está para se defender (Marisa, mulher de Lula, morreu em razão de um aneurisma em fevereiro). O Lula revelou-se Lula. Só não vê quem não quer", diz Venceslau.

Caráter

Aarão Reis, seu amigo, deixou o PT em 2005 em meio a outra crise que também teve Lula no olho do furacão: o mensalão. "O triste dessa história do Lula e do PT é que Lula se recusa a assumir responsabilidade e joga tudo nos ombros de seus camaradas. Os de caráter mais firme se recusam a delatar, mas outros começam a falar."

Aarão Reis militara ali desde 1982. "O Lula é o responsável político maior. Nada importante no PT é empreendido pelas suas costas. É sabendo disso que interlocutores conversam com os Vacarris e Paloccis. Ele tem de assumir a responsabilidade política e ética. O registro jurídico eu deixo para a polícia e para a Justiça. Lula pode alegar que não há prova e, se não houver, ser absolvido. Mas deve assumir as coisas negativas de seu governo não só as positivas."

Aarão Reis veio do Rio para encontrar Venceslau para acompanhar o amigo, que será operado nesta sexta-feira. O Instituto Lula informou que não comentaria as declarações deles. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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