Percorrendo os seus 1,6 km de extensão, um dos maiores corredores de circulação de pessoas do centro do Recife, a Avenida Conde da Boa Vista conta com shopping, faculdades, comércio de produtos e centenas de ambulantes que competem por espaço com pedestres nas calçada. Com as problemáticas em torno da cidade, que incluem a falta de mobilidade, estrutura e poluição visual, a avenida se torna um reflexo onde grandes empresas também sofrem com os problemas econômicos e acabam fechando as portas.
Com cenário de crise no mercado brasileiro, o alto índice de desempregados e demissões impõem a busca por estratégias para driblar as dificuldades e conquistar uma fonte de renda mensal. De acordo com o último levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tinha cerca de 12,5 milhões de desempregados. Surgindo como uma oposição a esse movimento, as ideias criativas desenvolvidas por empreendedores têm encontrado nesse momento uma chance para abrir pequenos negócios e marcar presença nas principais vias da cidade, antes ocupadas por altos investimentos.
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No Brasil, o número de empreendedores cresceu 22%, entre 2001 e 2014, passando de 20,4 milhões para 24,9 milhões de pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um outro estudo realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) aponta os segmentos com maiores chances de manter bons números em 2018. Os setores de alimentos e bebidas, vestuário e calçados e construção devem ganhar a atenção, mas, principalmente, aqueles direcionados a produtos e serviços mais baratos.
Estabelecer o modelo de negócio certo para sua localização é primeiro passo para visar um empreendimento de sucesso, como destaca a analista do Sebrae, Conceição Maria. Graças a grande movimentação, o coração do Recife se torna um espaço desejado para a abertura de novos empreendimentos. Com mais de 70 linhas de ônibus que circulam diariamente pela via, a Conde da Boa Vista aparece como um dos locais com maior potencial de retorno para alguns negócios criativos, observando o público que percorre a via.
De acordo com Conceição, os empreendimentos localizados na região central do Recife oferecem características similares. “Em sua maioria são de comércio popular, direcionadas a um perfil de pessoas que trabalham e estudam no centro e optam por produtos com um custo benefício. As empresas tentam se ajustar a essa tendência”, pontua. Essa é a oportunidade de analisar as deficiências e colocar em prática novas soluções de mercado que pretendam atingir uma boa parte da população.
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Visando esse público, em sua maioria estudantil e que preferem produtos a baixo custo, o empresário Edielson Adriano resolveu começar com uma ideia criativa: a venda de salgados por o preço de um real. A “Somas Salgados” fica localizada entre duas grandes marcas do mercado: Mcdonalds e Farmácia Pague Menos. Buscando espaço entre as já com renome, o empresário escolheu o ponto apertado e iniciou a venda dos produtos. Natural de São Mamede, na Paraíba, Edielson conta que a ideia surgiu graças a produção de salgados ser muito comum em sua cidade.
“Resolvi trazer para o Recife essa ideia. Não tinha visto ainda na cidade. Comecei com a loja na Avenida Conde da Boa Vista, o movimento é muito bom. As pessoas compram por causa do preço barato e qualidade. Mesmo sendo acessível, não é um produto sem gosto”, explica. A sua lanchonete recebe mais de 1.500 pessoas diariamente. “É baratinho. Quase não pesa no bolso e ainda consumo um lanche barato e bem gostoso”, conta a consumidora Alexandra Lorenço, 22 anos.
O preço barato é uma estratégia de retorno financeiro que deve ser bem estudada. No caso da venda de lanches a um real, o lucro é revertido de acordo com a quantidade grande de venda, como pontua Edielson. “É muito comum diante da crise as empresas baratear seus produtos. No caso da venda de salgados a esse preço, entender esse sucesso é devido a atingir um público muito característico do centro da cidade aqueles que prezam por produtos baratos. O consumo acaba sendo no impulso, sem muito peso na consciência”, ressalta a analista.
Diante do sucesso conquistado, a expansão dos negócios já está em vista. Com uma loja no centro, onde também funciona a cozinha e distribuição dos produtos, o empresário já abriu um segundo estabelecimento e o terceiro está em reforma para a inauguração - todas no centro da cidade. Ainda durante a Conde da Boa Vista existem outras três lojas do mesmo segmento. “Uma ideia criativa traz esse tipo de concorrência, mas cabe ao idealizador buscar métodos para fidelizar seu nome no mercado e se diferenciar dos concorrentes”, aconselha Conceição.
Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens
Seguindo as ideias criativas, Henrique Amaral, 27 anos, resolveu fazer um investimento de 1.700 reais na compra de uma carrocinha de cachorro quente. Fugindo do comum, o empresário comercializa uma versão de 30 cm do lanche. Tentando fugir da crise e ganhar um dinheiro, há dois meses o “Dogão del Rico” tem ocupado uma das calçadas da Avenida Conde da Boa Vista, próximo ao shopping. “Iniciamos vendendo 3 pães em um dia só. Hoje, já temos a saída de 80 pães”, diz Henrique. Recheado com salsicha, molhos, milho, ervilha e verduras, o hot dog é comercializado por R$ 5. “É muito grande pelo preço que é cobrado. É barato e muito gostoso. Você normalmente paga esse preço por um de tamanho normal”, conta o estudante Luiz Venâncio, 18 anos, que estuda nas imediações.
Surgindo como uma demanda de contorno dos problemas financeiros no país, investir em ideias criativas se torna uma opção inteligente para faturar uma renda mensal. “Antes de começar qualquer empreendimento é importante pensar nas variáveis. O centro do Recife sempre foi uma opção para comércio popular. Mas entender o preço do aluguel, custos de manutenção e produção devem ter atenção”, lembra Conceição. Ainda é importante pensar em estudos de público e mercado.