Tópicos | Jia Zhang-ke

Numa recente visita ao Brasil, homenageado pelo Instituto Moreira Salles, no Rio, Jia Zhang-ke saiu para jantar com amigos e terminou fazendo uma confissão.

O grande diretor chinês - crítico ácido das transformações capitalistas que transformaram a China em fiel da balança da economia do mundo - será homenageado pela 38.ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo com o lançamento de um livro e do documentário que sobre ele fez Walter Salles.

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A confissão de Jia: foi voto vencido no recente Festival de Cannes, em maio. Integrante do júri presidido por Jane Campion, ele gostaria de ter visto a japonesa Naomi Kawase ganhar a Palma de Ouro por seu deslumbrante Still the Water, que vai passar na Mostra como O Segredo das Águas.

Naomi pode ter sido derrotada pela própria... soberba? Repetidas vezes ela disse, em Cannes, que O Segredo das Águas era uma obra-prima e merecia a Palma. O filme é uma obra-prima, mas ela não levou... Por que? É uma possibilidade que a presidente do júri tenha solapado a vitória de Naomi para continuar sendo a única mulher a vencer o prêmio - por O Piano, em 1993.

São meras suposições, mas, quando foi entrevistada pelo Estado, Naomi estava cheia de entusiasmo e esperança. A entrevista, a bem da verdade, quase foi cancelada, a poucas horas da premiação. Naomi estava com problemas de coluna.

Sentia dores terríveis. O marido, e massagista, colou-se atrás dela e tentava relaxá-la, enquanto falava. Havia algo de erótico na cena. Ela fazia cara de dor. Suspirava e em alguns momentos, como se sentisse prazer, jogava-se para trás, sobre ele. Naomi não tem limites. Filmou o próprio parto, o que levou mais de um crítico a chamá-la de exibicionista.

O Segredo das Águas é uma das atrações da Mostra que começa nesta quarta-feira, 15, para convidados, sob o signo do humor, com Relatos Selvagens, do argentino Demián Szafrón. Nesta quinta-feira, 16, o evento começa para o público em geral, com 345 bons motivos - o número total de filmes - para que o cinéfilo se sinta estimulado a celebrar sua paixão pelas imagens em movimento.

Renata de Almeida, a sra. Mostra, vive dizendo que gostaria de reduzir o número. Mesmo com 200 títulos, seria humanamente impossível para uma pessoa assistir a todos. Mas há quase 40 anos a Mostra é essa maratona. Ter de escolher entre tanta oferta faz parte do show. Só não perca Still the Water/O Segredo das Águas. O filme passa-se numa ilha assolada por ventos e ondas gigantescas. Logo no começo, um jovem descobre um cadáver na praia. Com a amiga, também jovem, vai tentar descobrir o que houve. E sua mãe está morrendo.

"Descobri minhas origens nessa ilha quando lá estive pela primeira vez, há oito anos. Minha bisavó era uma xamã e até por conta disso, quando decidi fazer o filme, senti que ele era especial para mim, mas também teria de ser especial para os outros. Minha bisavó era depositária de mistérios ancestrais. A ilha mantém vivas tradições milenares. Sou adotada, você sabe, e isso pode ser doloroso. Por mais amor que receba, você é produto de uma rejeição inicial. Na ilha, mais que em qualquer outro lugar, compreendi que vida e morte fazem parte do mesmo movimento e que o sofrimento pode ser um estímulo para a superação. A natureza, o mar que provêm o sustento da ilha, também a ameaça. É como uma metáfora do tempo e do turbilhão interior que pode nos tragar."

O homem moderno, diz a diretora, perdeu seu vínculo com a morte. "Tentamos negá-la o tempo todo, vivendo freneticamente. De que adianta? Desde que nascemos, estamos destinados a morrer. O importante é superar a atitude negativa em relação a isso e viver serenamente."

Naomi começou fazendo documentários. "O cinema possui essa capacidade única de captar e expressar a realidade. Você liga a câmera e já tem o mundo ao redor.

Queria mostrar personagens verdadeiros, ancorados no sentido da realidade. E também mostrar como a natureza que nos assusta é bela. É o meu filme mais acabado. Sei que pareço competitiva, e nós, japoneses, somos estimulados a competir. Mas para que o filme seja usufruído como gostaria, o público, e você que vem de tão longe, do Brasil, tem de fazer do meu filme uma coisa sua. Só assim ele serás grande, como espero. Começa com o mar bravio e termina com ele calmo. Se há um mistério, é esse. Precisamos viver em paz conosco e com o mundo ao redor." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Tudo quase pronto para que, na quarta-feira (15), Cannes estenda o tapete vermelho e inicie a maratona do seu 66º festival. Existem grandes eventos de cinema no mundo, mas festival maior que o de Cannes, não há. Desde que a seleção foi anunciada, no mês passado, têm proliferado críticas ao diretor artístico Thierry Frémaux. Quais são seus critérios? O que faz com que o Brasil - e a América Latina - estejam tão parcamente representados? O Brasil não tem nenhum longa, em nenhuma mostra. Frémaux fala em qualidade, no equilíbrio entre novos talentos e veteranos, mas a competição, em princípio, parece menos interessante que a seção Un Certain Regard (Um Certo Olhar), que traz novos filmes de autores de ponta.

Um Certo Olhar, que também é uma mostra competitiva, embora não outorgue nem a Palma de Ouro nem a Caméra d'Or (para novos diretores até o segundo filme), terá uma jurada brasileira, a diretora do Festival do Rio, Ilda Santiago, e isso - além de alguns curtas -, é o máximo que o Brasil terá em Cannes. Pode ser recalque de excluído, mas só para citar um exemplo, o Faroeste Caboclo, de René Sampaio, já concluído (e que estreia dia 30), não faria feio em nenhuma mostra. Até poderia deixar a Croisette aureolado como cult.

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Atrações não vão faltar. O júri da Palma de Ouro, o principal, será presidido por Steven Spielberg. Durante os 12 dias do evento, pouco importa quem está no Eliseu - o Palácio do Planalto deles. M. le Président, neste período e com toda pompa e circunstância, é sempre o presidente do júri de Cannes. As próprias críticas à mostra competitiva precisam ser relativizadas. Afinal, grandes nomes estarão na disputa da Palma. Confira na lista - Arnaud Desplechin, Asghar Farhadi, James Gray, Jia Zhang-ke, Hirokazu Kore-eda, Takashi Miike, Paolo Sorrentino, Roman Polanski, Abdellatif Kechiche, Nicolas Winding Refn, os irmãos Coen. Na mostra Un Certain Regard, Claire Denis, Sofia Coppola, Hany Abu-Assad.

A curiosidade é que, nas mostras que compõem a seleção oficial, Cannes vai mostrar filmes de atrizes que estão estreando (Valeria Golino) ou perseveram na direção (Valeria Bruni-Tedeschi). Haverá uma homenagem a Jerry Lewis, outra a Stanley Kubrick, seguida da master class do ator Malcolm McDowell, de A Laranja Mecânica. Como todo ano, Cannes Classics exibe versões restauradas de filmes clássicos. A lista de 2013 inclui a Cleópatra de Joseph L. Mankiewicz; Hiroshima, Meu Amor, de Alain Resnais; Os Guarda-Chuvas do Amor, de Jacques Démy; Charulata, de Satyajit Ray; Tarde de Outono, de Yasujiro Ozu; O Deserto dos Tártaros, de Valerio Zurlini; Lucky Luciano, de Francesco Rosi; Um Corpo Que Cai, de Alfred Hitchcock; e O Grande Vigarista, de Ted Kotcheff.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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