Tópicos | José Dias Neto

São quase 60 anos de Hóquei sobre Patins em Recife. Em tanto tempo de disputa, os times da capital pernambucana somam nada menos que 11 títulos nacionais e um Sul-Americano no masculino, além de vários outros troféus de grande porte pelo feminino. Algo que, por si só, já seria motivo suficiente para que o esporte estivesse na mira de investidores. Porém, a realidade atual está longe disso. Com apenas dois filiados, a Federação Pernambucana de Patinagem lamenta a falta de investimento nas categorias de base por parte dos clubes e luta para manter os clubes do Estado em um mínimo de competitividade.

História vencedora

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Fotos: Divulgação/Clubes

Maiores campeões estaduais, o Sport Club do Recife e o Clube Português são os representantes mais fortes da modalidade em Pernambuco. Somadas, as equipes conquistaram o Campeonato Brasileiro masculino adulto 11 vezes. O Leão em 1993, 1997, 2010, 2013 e 2014, e os lusos em 1966, 1967, 1980, 1981, 1998 e 2000. Inclusive, apenas o Náutico conseguiu evitar que a taça do Estadual terminasse na sala de troféus de um dos clubes. São 29 títulos para os rubro-negros, contra 25 do Português, restando apenas dois para o Timbu em 2003 e 2004.

Isso sem falar do grande histórico de atletas convocados para a seleção brasileira, com importantes participações em mundiais de Hóquei sobre Patins. E, o feito do Sport em 2012, campeão Sul-Americano ao derrotar o favorito Huracán, em Buenos Aires-ARG.

Cenário não é o ideal

Tradicionalmente, o Hóquei de Pernambuco mantém dois ou três times no adulto. Entretanto, feminino, mirim e demais categorias acabaram escanteadas pelos clubes e a Federação Pernambucana de Patinagem tenta convencer os times para renová-las. O Náutico, por exemplo, está fora das disputas e da federação desde 2015, algo que o atual presidente, Mário Guedes, lamenta bastante.

"Temos dois filiados, o Sport e Português. Isso porque o Náutico nos deixou há dois anos. A diretoria gostava muito do Hóquei e aconteceu algo lá dentro que deu errado. Deixaram acabar a categoria no clube e essa é uma de nossas lutas, reativar", contou ao LeiaJa.com.

O Campeonato Pernambucano precisou da participação do Pernambuco Hóquei Público para ter início nwm julho, time formado com jogadores que estavam parados e ex-atletas que nutrem carinho pela modalidade. Mesmo assim, é possível identificar um ponto positivo: o Estadual voltou a contar com algumas categorias de base, além do feminino. "Hoje começamos o Campeonato Pernambucano nas categorias pré-mirim, mirim, infantil, feminino e adulto. Em comparação ao ano que passou, já são duas a mais. É uma evolução grande", disse Mário. 

É unânime entre clubes e jogadores que beira ao impossível sobreviver como atleta profissional no Brasil.  Algo que é ainda mais explícito no Estado. "É muito difícil aqui no Brasil. Tem quem viva, são casos raros, com ajuda de custo. Não dá para viver bem. Todos os atletas de Pernambuco trabalham e até quem recebe algo melhor, também tem outros empregos. Na Europa é extremamente difundido, inclusive temos exemplos de gente que saiu do Estado para viver de hóquei em Portugal e outros países", explicou um dos diretores do hóquei no Português, Leopoldo Barbosa.

Entrave comum: falta dinheiro


Quem pratica sabe, não é fácil bancar os equipamentos do hóquei. Alguns dos itens, inclusive, sequer são vendidos no Brasil, o que torna o esporte bastante custoso. Sem falar que, são poucos os patrocinadores presentes nas equipes, o que só reforça a dificuldade para manter os times funcionando. "O hóquei é um esporte caro. O incentivo conta muito, até quando existe no próprio clube, é preciso de apoio. O Sport nos dá um apoio grande. Tudo é caro, o material se compra apenas fora do país. Precisamos de patrocínios, a própria federação também precisa buscar incentivos para os clubes investirem nas categorias de base", aponta o diretor da modalidade no Sport, José Dias Neto.

No caso do Clube Português do Recife, é do orçamento do próprio clube e de patrocinadores que se sustenta a modalidade. Não é fácil, porém os responsáveis pelo departamento enaltecem a retomada dos últimos anos, quando o esporte quase foi extinto no Português.

"Na época que o Português quase fechou, o Náutico existia, agora é o contrário. Tudo desorganizou, incluindo o feminino que tem menos atletas. A gente conta com o clube e patrocinadores, é um esporte de pouco retorno. A Voador nos dá padrão todo ano, mas é uma luta. Esse ano ficamos em terceiro no Brasileiro e o governo irá nos apoiar, vamos começar a receber o bolsa-atleta e isso ajuda demais para contratar profissionais e no próprio material. Um kit para o goleiro, por exemplo, custa cerca de R$ 4 mil. Fica difícil bancar", contou Leopoldo Barbosa.

A categoria de base e a divulgação como soluções


Para quem faz o Hóquei em Pernambuco, é consenso que investir nas divisões de base faz toda a diferença na manutenção do esporte. É uma tecla que o presidente da FPP bate repetidamente. "É uma questão de diretoria, quem está a frente focou no masculino e acabou com as categorias de base. Não pode acontecer isso, você acaba com a modalidade. Qualquer esporte acaba sem base. Os clubes são responsáveis por suas escolinhas. Nós damos o apoio e organizamos os torneios", afirmou Mário.

Claro que tudo passa pelo dinheiro, entretanto, os clubes prezam pela renovação dos atletas, o que é fundamental vir também da iniciativa pública. Por não ser um esporte olímpico, o Hóquei sobre Patins acaba ficando de lado. "Sobre as bases, é importantíssimo ter essas categorias, quem sabe alguns colégios possam oferecer a modalidade para seus alunos. O apoio é fundamental, e não só da iniciativa privada, da pública também. A federação e os clubes devem enviar projetos da base como é feito no sul e sudeste do país. É o que pode segurar o hóquei por vários anos", declarou José Dias Neto, do Sport.

Por último, a divulgação é o ponto que os profissionais apontam como outro fator determinante para a retomada do hóquei. "Acho que precisamos fazer o esporte mais visto, isso atrai patrocínio. Estou falando do cenário geral. Enquanto que nos países europeus temos 3,4 mil pessoas acompanhando uma partida oficial. O que queremos é resgatar aquele cenário de 10, 12 anos atrás. Tínhamos times em todas as categorias, incluindo no feminino, com grandes jogos, vários atletas na seleção brasileira e uma rivalidade saudável. Eu cresci acompanhando vários jogos na mesma semana, com grandes torcidas nas arquibancadas para acompanhar Sport, Português e Náutico. Não é uma meta final, mas já seria extremamente gratificante", finalizou Leopoldo.

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