"Pernambuco é um celeiro de qualidade no handebol nacional, falta andar com o que é possível fazer para transformar isso em rendimento". A fala é do diretor da modalidade no Sport Club do Recife, Márcio Ferreira. Provavelmente apoiado nos bons resultados que o Clube Português/AESO e o próprio rubro-negro, em parceria com o Jaguar, tem obtido nos últimos anos para o Estado. Marcando presença na seleção feminina adulta e nas categorias inferiores para o masculino, os nomes mais fortes do pernambucanos vêem o Handebol com o seu potencial limitado. Principalmente pelas dificuldades em angariar recursos e gerir projetos.
O rombo nos cofres limita a federação
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Assim como todo esporte amador, não é de se espantar que os clubes investam o mínimo possível no Handebol. Com exceção do Português/AESO e o Sport/Jaguar, as demais equipes do Estado sequer participam dos torneios nacionais, muito em função do alto custo que reside na logística de cada viagem. De onde se espera sair o apoio para que outros possam trilhar os mesmos caminhos, falta verba. Nem mesmo com os valores arrecadados com os clubes e competições, a Federação Pernambucana de Handebol tem sido capaz de investir diretamente nos associados. É o que diz o presidente Francisco Leite.
"A gente trabalha com muita dedicação, através de um livro-caixa estamos conseguindo uma receita com transferências e inscrições para campeonatos. Os clubes associados também contribuem com pagamentos mensais e anuais para a gente manter tudo funcionando. Basicamente, todo esse recurso vai para a arbitragem nos torneios. Mediante todo esse esforço, os clubes buscam patrocinadores privados para conseguir transporte, alimentação. Quando há interesse, o poder público também participa. É como estamos tentando manter a tradição do esporte no Estado", garante.
O dirigente destaca que gestões anteriores deixaram por herança, uma dívida de quase meio milhão de reais na federação. Além de limitar os movimentos com o que é arrecadado, o rombo deixado impede, por exemplo, que os Correios possam se tornar patrocinadores como ocorre nas demais entidades pelo país. "Temos uma dívida de muitos anos, deixada nas gestões das décadas de 1980 e 1990. Houve alguns negócios que não foram resolvidos juridicamente e a gente amarga essa dívida. Não há verba pública direta, apenas transporte, pagamento de arbitragem dos campeonatos e os materiais. Recursos em conta corrente param em bloqueios judiciais no CNPJ da federação", conta Francisco.
Clubes mais fortes têm dificuldades diferentes
Os resultados expressivos representando Pernambuco e a hegemonia no toneio estadual, fazem do Português/AESO e o Sport/Jaguar os principais exponentes do handebol local. Cada um tem a sua maneira própria de fomentar o esporte, e obstáculos que impedem os times de ir ainda mais longe. Orgulhosos pelo passado recente no feminino, os Lusos apoiam-se em parcerias para manter a chama acesa. Seja dentro do próprio clube, ou fora dele, que é o caso das Faculdades Integradas Barros Melo.
"A gente tem um clube que exerce sua função esportiva. Tem um centro de alto rendimento, isso é um grande suporte. Temos equipe multidisciplinar, que nos dá uma retaguarda boa. Temos parceiros, mas muito dessa verba vem dos familiares dos atletas. Levantamos na base do voluntarismo. O Governo tem o programa Bolsa Atleta para equipes com bons resultados nacionais, subindo ao pódio. Além do Time PE e Passaporte Esportivo que são para atletas de maior destaque", revela o técnico do time masculino adulto, Felipe Rocha Neto.
Para quem pôde ver de perto a evolução da goleira da seleção brasileira, Samira Rocha, que viria a se tornar campeã mundial, apostar na categoria é um investimento quem tem dado certo. "No feminino temos um trabalho de excelência, no último ciclo olímpico tivemos três atletas participando. E o técnico Cristiano Rocha, que é o auxiliar da seleção olímpica, além de treinador da seleção juvenil. Somos exportadores de atletas, mês passado nossa goleira foi para a Espanha e temos outras seguindo o mesmo caminho, é a cereja do bolo", completou Felipe.
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O caso do Sport é diferente. Além do apoio do próprio clube, a parceria com a UNINASSAU e a dedicação da direção para encontrar outros patrocinadores dá força ao elenco. Não à toa, em pouco mais de dois anos, o departamento que estava fechado agora está entre os mais fortes de todo o Nordeste. Então são os custos de permanecer ligado à federação que dificultam a vida do Leão.
"Temos projetos aprovados pelo Estado, patrocinadores como a UNINASSAU que nos dá 46 bolsas de estudos. Nossos técnicos são da universidade. Até o fim do ano, iremos anunciar mais duas empresas que vão entrar com dinheiro pela marca estampada no uniforme. O Estado e a prefeitura são grandes parceiros. Estamos vivendo bem, apesar dos custos para permanecer na federação, além de transferências e inscrições de atletas", afirma o diretor do clube, Márcio Ferreira.
Enxergando possíveis melhoras na gestão da entidade, o dirigente acredita que é possível alavancar o nível do desporto em todo o Estado. Nesse caso, é muito mais do que apenas beneficiar o clube que tenta se filiar há duas temporadas. É por meio de um acordo com o Jaguar, este sim filiado, que os rubro-negros conseguem disputar os torneios nacionais. E, mesmo assim, os resultados estão aparecendo.
"É um conjunto de ações, a gente cobra demais de órgãos públicos, mas cabe a gente também. A gente entende as dificuldades da federação, mas ela precisa pensar a modalidade, planejar melhor. Desde um calendário, até capacitações. Isso voltado para o todo. Pernambuco é um celeiro de qualidade no handebol nacional, falta andar com o que é possível fazer para transformar isso em rendimento", diz.
No interior, alguns preferem nem participar do Pernambucano
Tal contexto tem repercussões maiores além da Região Metropolitana. A maioria das cidades do Agreste e Sertão contam com equipes em todas as categorias, porém, é difícil se associar e as regras para participar dos torneios só complica ainda mais para quem está a frente dos times. Fácil observar isso quando o principal clube de Petrolina prefere disputar o Campeonato Baiano e representar o Estado vizinho em torneios nacionais.
"Tentamos a filiação, mas as regras são complicadas. O valor de mensalidade, anuidade e carteirinha (registro dos atletas) é maior e não temos o direito de participar das competições. Na Bahia, nós temos o Grêmio Vale do São Francisco para disputar pela federação baiana. Somos o atual campeão estadual. Da última vez que participamos ficou estabelecido que todos os jogos seriam realizados em Recife. É um esforço financeiro muito grande bancar a viagem de todas as categorias e mesmo assim bancamos para conseguir entrar, e as regras foram alteradas", lamentou o técnico do Clube Petrolina de Handebol, Rogério Granja.
Para quem já precisou tirar dinheiro do próprio bolso em diversas ocasiões, a Federação poderia estar conquistando mais equipes do interior. Afinal, não é uma exclusividade da cidade vizinha a Juazeiro-BA preferir torneios fora de Pernambuco.
"Todas as cidades têm um time. Como é possível um torneio na Bahia contar com cinco equipes pernambucanas e estas não jogarem o seu próprio estadual? É o sinal de que algo está errado. A imensa maioria funciona com uma pessoa a frente, investindo dinheiro do próprio bolso pelo amor que tem ao handebol. Eu já tive que pagar mais de mil reais em carro alugado para levar o time aos jogos. Ex-jogadora já nos deu dinheiro para bancar gasolina e os próprios atletas bancam alimentação. Um dos jogadores morou em minha casa por três meses, tudo é assim, na dedicação", explicou Rogério.
Atualmente 12 clubes estão federados, porém apenas cinco são associados que contribuem financeiramente com a FPH. Dentre eles, só Português e Sport conseguem bancar as viagens e disputam os campeonatos nacionais. O Grêmio VSF (Petrolina), atual campeão baiano, optou por não disputar a liga nacional por estar passando em uma reformulação no elenco. No último dia 22, o Português conquistou o título estadual ao vencer os dois turnos da competição.