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A Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que o jovem baleado na noite de sexta-feira durante uma blitz na Rocinha, zona sul do Rio, não estava armado nem portava drogas. A informação contradiz a nota do comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, que dizia que os policiais "foram ameaçados por dois homens armados, que estavam a bordo de uma motocicleta".

Adson da Conceição Figueiredo estava na garupa de uma mototáxi quando o piloto furou o bloqueio policial, o que despertou a ação dos PMs. Ele foi atingido na nádega e continua internado no Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea. O piloto disse não ter parado porque estava em alta velocidade e acabou fugindo já que não possui carteira de habilitação.

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Os agentes da Civil apreenderam as armas dos policiais militares para perícia. Ontem, a mãe do jovem, Jaciene dos Santos Conceição, de 46 anos, já havia contestado a versão da PM. Ela afirmou à reportagem do jornal O Globo que o filho estava desarmado e não tem envolvimento com o tráfico de drogas.

O episódio gerou revolta entre os moradores, que protestaram em frente à Rocinha e bloquearam os túneis Zuzu Angel e Rafael Mascarenhas, na ligação entre Gávea e São Conrado. A manifestação começou por volta de 22h30 de sexta e terminou à 1h30 de sábado.

O piloto da moto apresentou-se à polícia e já foi ouvido pelos agentes da 11ª Delegacia de Polícia (Rocinha), que investiga o caso. Um inquérito foi instaurado para apurar as circunstância. Familiares do rapaz ferido e os PMs envolvidos também prestaram depoimento.

A unidade agora aguarda a alta médica de Figueiredo para que ele seja ouvido pela polícia. A Polícia Civil também está atrás de imagens de câmeras de segurança e outras informações que ajudem nas investigações.

Na tarde de sexta, outro jovem já havia sido encontrado baleado em uma trilha que liga as comunidades Chácara do Céu e Rocinha. Em nota, o comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Vidigal informou que o rapaz, não identificado, "estava na região com amigos quando foi encontrado pelos policiais, que checavam denúncias de tráfico de drogas na área de mata". Ele foi atingido no braço e está internado no Hospital Municipal Miguel Couto.

O comando determinou a abertura de uma sindicância "para apurar a conduta de um policial da unidade". A ocorrência foi registrada na 15ª Delegacia de Polícia (Gávea).

A imagem do filho sendo baleado durante um assalto é recorrente na memória da dona de casa Juraci de Osti, de 51 anos, mãe de Thiago de Osti, morto aos 28 anos quando voltava da degustação de pratos do seu casamento, em outubro do ano passado. Para Juraci, a redução da maioridade penal pode evitar que jovens que cometeram atos infracionais se tornem adultos envolvidos com a criminalidade. "Muitos passam para a maioridade matando, mas se fossem coibidos, a sociedade teria como salvar vítimas. O rapaz que matou meu filho tinha 33 anos, mas, quando puxaram a ficha dele, era imensa. Ele já tinha passagem por homicídio, receptação, desde quando era menor de idade."

Além de Thiago, a dona de casa teve outros dois filhos. Um deles tem 16 anos e isso não a impede de defender a proposta."São menores infratores, não estamos falando de crianças que passam por necessidade e não vão para o mundo do crime. Quantos que a gente vê que têm estudo e fizeram o mal? Eu posso falar que sou favorável, tenho um filho assassinado e um de 16 anos. Não tenho medo."

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A noite da morte do jovem que pagou a própria faculdade e que começou a trabalhar aos 17 anos não parecia que teria um desfecho trágico. "Estava chegando em casa com o meu filho, umas 22h50. Ele foi abrir o portão e tentou me dar uma garrafinha de água, mas ela caiu no chão. Eu pensei que era uma brincadeira, mas foi muito rápido. Vi depois que meu filho estava parado e havia dois rapazes com ele e outro parado no meio da rua."

Juraci diz que não se perdoa até hoje por ter ido em direção ao homem que estava longe de seu filho e segurado o seu braço em um momento de desespero. "Meu filho não reagiu, estava com as duas mãos para cima. Eu que fui e segurei o braço (do assaltante). Falei alto: 'por favor, vá embora'. Ele achou que foi reação. Ele tinha que ter dado o tiro em mim, mas foi em direção ao meu filho, chegou perto dele, que entregou a chave do carro. Ele colocou a arma na cintura do meu filho e deu um tiro", relembra.

A dona de casa conta que acreditou que Osti se salvaria, pois chegou falando ao hospital e até pediu para os seguranças cuidarem dela. Mas ele não resistiu ao ferimento. "O que atirou era maior, mas começou a vida no crime quando era menor de idade. Não sei os outros dois. Talvez eu teria uma chance. Por isso, eu luto contra a impunidade."

Movimento

Após o crime, ela criou o Movimento Thiago Vivo, que reúne outras vítimas de casos de violência urbana, e passou a acompanhar de perto ações para reforçar a segurança pública e a questão da redução da maioridade penal. "Eu luto também pelas pessoas que são contra. Infelizmente, qualquer um pode ser vítima. Não adianta jogar culpa na sociedade. Ninguém me contou, meus olhos me contaram. Eu vi a crueldade deles e rezo para que nunca aconteça com as pessoas que são contra a redução da maioridade penal", afirma Juraci.

Ela também diz ser uma defensora da educação como ferramenta para transformar o futuro dos jovens, mas afirma que a redução é uma resposta para os casos de violência e que a sociedade já espera há muitos anos por isso.

"Sempre briguei por educação, mas a PEC é de 1993 e a gente só escuta promessas e não vê nada melhorar na educação. A gente não pode esperar mais. É um tema muito mais amplo, mas quem tem boa índole não parte para o mundo do crime", conclui.

Juraci declara ainda que a questão da redução da maioridade penal não tem relação com raça nem classes sociais. "Não tem relação com condição social, raça ou credo. Nosso País tem uma população com uma renda baixa e vemos crianças sofrendo que não partem para o mundo do crime."

Ela diz que a proposta aprovada pela Câmara não tem como objetivo prejudicar os jovens. "Serão criadas instituições específicas. Vão gastar mais dinheiro para tentar ressocializá-los e que poderia ser usado para as crianças que estão na rua. "As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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