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A Receita Federal apreendeu, nesta quinta-feira (2), no Centro de Distribuição dos Correios, drogas enviadas para cidades de Pernambuco e também Maceió, em Alagoas. A cadela Ursa farejou cerca de 2kg de substâncias ilícitas, entre cocaína, essência de cannabis e ketamina, anestésico para cavalos que é usado como entorpecente.

As encomendas continham as substâncias análogas a 2kg de cocaína, em frascos de xampú, essência de cannabis, em frascos de 90ml e 120ml, além de 500mg de ketamina, anestésico para cavalos, utilizado para recreação e aplicação do golpe do “boa noite cinderela”.

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A ação faz parte do trabalho contínuo da Equipe K9 da Divisão de Repressão ao Contrabando e Descaminho (Direp04) no Centro de Distribuição dos Correios em Recife/PE. A cadela Ursa, da raça Pastor Belga Malinois, indicou a presença dos entorpecentes durante a operação.

Usada oficialmente no País como tranquilizante anestésico para animais de grande porte, como cavalos, a cetamina (ou ketamina) tem crescido como droga popular para uso recreativo e aplicação de golpes do tipo "boa noite, Cinderela", em que criminosos drogam a vítima para praticar roubos e outros delitos. O Estado de São Paulo teve alta de 78,94% nos exames toxicológicos que detectaram a substância entre 2019 e 2021, segundo dados da Polícia Técnico-Científica obtidos pelo Estadão via Lei de Acesso à Informação. Em abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) elevou o grau de risco do produto.

Em 2013, apenas cinco exames feitos pela Polícia Técnico-Científica apontaram ketamina. Já em 2022 foram 34 de janeiro a abril. O aumento no uso e nas apreensões tem sido gradual e atingiu o pico no ano passado, com 102 testes positivos para a droga, só entre casos oficialmente registrados. Em 2019, haviam sido 57. Os números são referentes a provas coletadas em investigações da polícia e enviadas aos institutos de Criminalística e Médico-Legal. Na prática, significa o aumento de apreensões de material do tráfico e de exames das vítimas de abuso.

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Em abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) atualizou o status da ketamina e da escetamina na lista de substâncias controladas. Com isso, ela "subiu" um degrau na classificação de perigo e saiu da C1, de "substâncias sujeitas a controle especial", para a B1, de "psicotrópicas" e "sujeitas à notificação de receita 'B'". O órgão disse que a mudança foi motivada "pela necessidade de maior controle" e para "possibilitar o aperfeiçoamento de medidas de combate ao seu uso irregular/recreativo como droga de abuso".

A diferença entre uma lista e outra também é vista no tipo de receita necessária para adquirir o produto. A nova versão exige, além de dados básicos do comprador, fornecedor e emitente, especificações sobre quantidade, forma farmacêutica, dose e posologia indicadas. Essas distinções entre o "tamanho" da dose e a forma da substância são, além do óbvio consentimento, o que diferencia o uso da ketamina para fins recreativos ou para golpes de abuso. No primeiro caso, a quantidade é menor e em pó branco ou colorido, a depender da presença de um corante; no segundo, a dosagem é maior e costuma ser na forma líquida, de fácil dissolução em drinques e bebidas.

"O usuário de forma recreativa utiliza menos, se prepara e fica em ambiente protegido com os amigos. No uso criminoso, a quantidade é maior e a vítima está despreparada, o que faz ela confundir os sintomas com passar mal. O criminoso já atua ao lado para fingir que presta apoio", diz Alexandre Lehart, perito criminal do Núcleo de Análise Instrumental da Polícia Técnico-Científica. "Em qualquer contexto, a ketamina apresenta sérios riscos e é perigosa, por isso tem de ser controlada."

SUBNOTIFICAÇÃO

Em agosto de 2020, a Polícia Civil de São Paulo deflagrou as primeiras fases da Operação Hypnos. Batizada em alusão ao deus grego do sono, a investigação identificou e prendeu membros de uma quadrilha conhecida por agir em bares, baladas e restaurantes aplicando o golpe do "boa noite, Cinderela" com a ajuda da ketamina. Roberto Monteiro, delegado da 1.ª Seccional Centro, diz que a região sofreu simultaneamente aumento e mudança na forma dos crimes com a pandemia.

"Com a restrição de circulação, tornaram-se comuns os encontros dentro de casa. Sem a possibilidade de ir a locais públicos, muitos acabaram se relacionando por redes sociais e aplicativos, convidando os autores de crime para dentro das suas residências", afirma ele.

Segundo Monteiro, "houve bastante apreensão de ketamina" na pandemia, o que pode significar aumento no tráfico e desvio da droga. "Isso facilitou para o marginal. Também tivemos muitos casos envolvendo pessoas da comunidade LGBTI+, que são mais vulneráveis nesse sentido." Em uma ocorrência, conta, a vítima perdeu mais de R$ 150 mil via Pix e o roubo de TV, notebook e até roupas de grife. É comum que casos de "boa noite, Cinderela", com ou sem ketamina, sejam subnotificados. O caráter noturno e/ou sexual do golpe é agravante de culpabilização da vítima, que fica desconfortável para denunciar, por medo de ser desacreditada.

Álvaro Pulchinelli, toxicologista do laboratório Fleury Medicina e Saúde, conta que isso dificulta ainda mais os diagnósticos. "Às vezes a pessoa fica na dúvida se teve contato com a substância, mesmo sem prestar queixas. Chega confusa e constrangida, porque é uma violência", diz, acrescentando notar "aumento de substâncias como a ketamina". A "vida útil" para ela ser identificada em exames é curta. Entre 2 e 6 horas após entrar no organismo, não está mais no sangue. Costuma durar mais na urina, mas não ultrapassa três dias, a depender do tanto ingerido e do metabolismo.

Delegados ouvidos pelo Estadão dizem que a ketamina vem de outros países, mas usuários e peritos relataram que há a compra direta em lojas de produtos veterinários e agrários, com desvios de receita ou da própria substância. Em nota, a Polícia Federal disse não ter encontrado a substância em nenhum exame toxicológico feito pela instituição.

Já a Anvisa afirma que "não foi localizado registro legal e válido de medicamento contendo a substância" no Brasil. Acrescenta que, com a inclusão na lista B1, a numeração dos receituários - que têm modelo oficial - é concedida pelo órgão sanitário local, o que facilita o monitoramento.

'ILUSÃO'

Apesar de não ser exclusiva desses espaços, a ketamina é popular nas baladas de música eletrônica por São Paulo, onde é conhecida como "keta", "key", "keyla" ou, se misturada com cocaína, como "c.k." ou "calvin klein". Assim Yan (nome fictício), de 52 anos, foi apresentado à droga. "Já conhece a keyla?", indagou um amigo em uma balada na Lapa, zona oeste paulistana.

A primeira droga que tomou foi a "balinha" (ecstasy), mas ele conta que depois de um tempo não sentia mais efeito. Aí resolveu provar a ketamina. "No início, o efeito das luzes e do som era maravilhoso. Mas é tudo uma ilusão, né?", conta.

Na última década, foram três overdoses por cocaína. "Não sei como sobrevivi." Ele conta só escapar do vício de ketamina quando não está em São Paulo, onde o acesso à droga é mais fácil. "Às vezes tenho esses 'starts' de jogar fora (vidros de ketamina). Alguns amigos até falam 'louco, desperdiçando dinheiro!'" Ele diz pagar de R$ 250 a R$ 350 em um vidro com 50 ml do produto no estado líquido, que ele transforma em pó. Nas baladas, um pacote de 1g da droga já solidificada e pulverizada chega a R$ 100. É possível encontrá-la em cores diferentes, com adição de corantes.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Departamento de Repressão ao Narcotráfico divulgou, nesta terça-feira (27), a prisão de um homem que portava comprimidos alucinógenos. O médico veterinário Alberto da Costa Campos Neto (foto), de 44 anos, foi detido no estacionamento de uma lanchonete, localizada na Avenida Rosa e Silva, na Zona Norte do Recife.

Segundo o delegado Leonardo Freire, na última sexta-feira (23) a polícia recebeu denúncias sobre o possível repasse da droga na mesma região. O suspeito foi visualizado e abordado por volta das 19h, sem mostrar resistência. Ele portava 424 comprimidos vermelhos e confessou se tratar de ecstasy.

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“Levamos uma amostra para o laboratório e descobrimos que não era ecstasy, mas sim ketamina. É uma droga feita com anestésico veterinário, utilizado em cirurgias de animais de grande porte. Por ser uma substância de venda controlada, só pode ser comercializada com a apresentação da receita”, explicou o delegado.

De acordo com o perito Adenaule Geber, diferente do ecstasy - que causa excitação, a ketamina depois de consumida provoca depressão, podendo levar ao coma ou a uma parada respiratória. “Além disso, essa substância causa alucinações auditivas, táteis e visuais”, afirmou. 

Na Europa, a droga é consumida em pó ou diluída na água. No Recife, dependendo do mercado consumidor, o comprimido é vendido entre R$ 30 e R$ 100. “O suspeito preferiu não falar durante o interrogatório, mas acreditamos que a ketamina seria vendida durante o Carnaval, nos camarotes e nas festas raves”, adiantou Freire.

Essa é a primeira apreensão da droga em forma de comprimido pelo Denarc-PE; o departamento já havia encontrado a substância líquida. Alberto da Costa foi autuado pro tráfico e seguiu para o Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima.

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