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A Índia foi palco nesta sexta-feira de novas manifestações contra a lei sobre cidadania, consideradas antimuçulmana, enquanto as autoridades cortaram o acesso à Internet em vários lugares e mobilizaram milhares de policiais de choque.

Centenas de pessoas começaram a se reunir em frente à grande mesquita de Nova Délhi após a oração de sexta-feira na cidade velha, cheia de forças de segurança. A polícia de choque e os paramilitares ergueram barricadas nas ruas que levam à mesquita, onde confrontos violentos eclodiram em manifestações anteriores.

Os manifestantes declararam-se determinados a continuar seus protestos, enquanto o governo nacionalista hindu de Narendra Modi não retirar sua lei controversa, que prevê dar a nacionalidade indiana a refugiados do Afeganistão, Paquistão e Bangladesh, desde que não sejam de confissão muçulmana.

"Eles querem expulsar os pobres, os muçulmanos e aqueles que discordam deles", declarou à AFP um manifestante, Muntazir Bashir.

Pelo menos 27 pessoas morreram em duas semanas de confrontos com a polícia.

Essa lei gerou o maior movimento de protesto na Índia desde a chegada a poder dos nacionalistas hindus em 2014.

Em Mumbai, capital econômica, centenas de policiais também foram destacados e controles foram estabelecidos. Uma contra-manifestação de 200 pessoas, apoiadoras da lei, ocorreu nesta cidade.

O texto controverso, descrito por seus detratores como inconstitucional e antimuçulmano, foi votado em 11 de dezembro.

Antecipando novas manifestações nesta sexta-feira, dia da grande oração muçulmana, as autoridades de Uttar Pradesh (norte) suspenderam a Internet móvel e os SMS em 21 dos 75 distritos, inclusive na capital regional, Lucknow. Esta região de 220 milhões de habitantes possui 20% de muçulmanos.

Bloquear o acesso à Internet para limitar protestos é uma prática comum entre as autoridades da Índia, um país líder mundial em cortes intencionais da rede. Em 2019 foram cerca de 100 interrupções, de acordo com o site internetshutdown.in.

Antes da oração semanal, milhares de policiais armados patrulhavam os distritos de maioria muçulmana de Uttar Pradesh. Cinco mil pessoas foram presas preventivamente e mais de mil já foram presas em conexão com os protestos.

Vários pontos na Índia foram novamente cenário nesta sexta-feira (20) de confrontos entre policiais e manifestantes durante protestos contra uma nova lei de cidadania, considerada discriminatória para com os muçulmanos e cuja adoção já causou um total de nove mortes no país.

Essas são as manifestações mais importantes desde a chegada ao poder do governo nacionalista hindu do primeiro-ministro Narendra Modi em 2014.

Nesta sexta-feira, os confrontos ocorreram em Lucknow, capital do estado de Uttar Pradesh (norte), onde várias centenas de pessoas foram presas quando se manifestavam, disse um jornalista da AFP.

Em muitos lugares neste país de 1,3 bilhão de habitantes, a proibição de manifestação é mantida e, em alguns casos, as autoridades cortaram o acesso à Internet.

A polícia instalou dispositivos de segurança em frente a inúmeras mesquitas por medo de incidentes nesta sexta, quando é realizada a tradicional oração muçulmana semanal.

A lei que desencadeou os protestos concede cidadania aos refugiados do Afeganistão, Paquistão e Bangladesh, mas apenas se eles não forem muçulmanos.

Seus críticos consideram isso discriminatório e contrário à Constituição indiana.

A nova lei não afeta diretamente os indianos da confissão muçulmana, mas eles temem discriminação após cinco anos de governo de Modi.

Em Nova Delhi, a capital, a situação era tensa no bairro de maioria muçulmana de Old Delhi, de acordo com jornalistas da AFP no local.

Apesar da proibição de manifestação, cerca de 5.000 pessoas se reuniram na saída da oração na grande mesquita Jama Masjid, sob obsrvação de numerosos policiais.

Alguns manifestantes carregavam uma enorme bandeira indiana de 30 metros de comprimento e gritavam "Liberdade, liberdade!".

Na quinta-feira, um manifestante foi morto por ferimentos a bala em Lucknow, disse à AFP um médico que não quis se identificar.

A polícia negou os disparos, mas o pai da vítima disse ao jornal Times of India que seu filho foi baleado ao passar pelo meio de uma manifestação quando fazia compras.

Além disso, 16 policiais ficaram feridos na cidade.

As forças de segurança também dispararam na quinta-feira contra a multidão em Mangalore (sul) para dispersar uma manifestação de cerca de 200 pessoas e mataram dois manifestantes, disse à AFP o porta-voz da polícia Qadir Shah.

Quatro outros manifestantes foram hospitalizados por ferimentos a bala.

Em um editorial muito crítico ao governo, o jornal The Indian Express pediu nesta sexta que tudo seja feito para preservar a paz em um país onde os muçulmanos representam 14% da população.

"A maior democracia do mundo não parece capaz de aceitar jovens que discordam do poder. A Índia corre um alto risco se começar a ser vista como um lugar onde os dissidentes sentem medo", afirmou o jornal.

A ONG Anistia Internacional (AI) pediu na quinta-feira às autoridades indianas que "cessem a repressão contra manifestantes pacíficos que protestam contra uma lei discriminatória".

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