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O novo diretor artístico do Masp Adriano Pedrosa anunciou, em entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira, 9, a volta dos cavaletes de vidro projetados pela arquiteta Lina Bo Bardi para a exposição do acervo permanente do museu. Projetados há 46 anos, os cavaletes estavam sem uso há pelo menos 15.

Os objetos devem estar de volta em meados de 2015. O diretor presidente do museu, Heitor Martins, também anunciou a retomada do vão livre do Masp para a realização de exposições. Ele está em negociações com a Prefeitura. É provável que a Feira de Antiguidades semanal seja retirada do local.

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Os diretores ainda não anunciaram nenhuma exposição internacional, mas afirmaram estar em conversas com entidades estrangeiros. Uma delas é Metropolitan Museum, de NY, para o qual o Masp vai emprestar um quadro de Cézanne.

Quanto ao prédio anexo, Martins revelou que as conversas com a Vivo, proprietária do prédio cedido ao Museu, estão bem adiantadas, mas não falou sobre valores que o Masp pretende investir na reforma do prédio.

Pelo menos nove exposições devem marcar aqui e fora do Brasil (Alemanha, Estados Unidos, Itália e Suíça) o centenário de nascimento da arquiteta modernista italiana, naturalizada brasileira, Lina Bo Bardi (1914-1992). Duas delas serão inauguradas em São Paulo na quarta-feira, justamente no Sesc Pompeia, lugar onde deixou sua marca mais forte: a de uma arquitetura pensada para o exercício da cidadania e o convívio interclassista. Por isso mesmo, a primeira das mostras chama-se A Arquitetura Política de Lina Bo Bardi, cuja curadoria é assinada por dois de seus assistentes, Marcelo Ferraz e André Vainer, colaboradores no desenvolvimento do projeto e obra do Sesc Pompeia, uma antiga fábrica de tambores transformada em centro de lazer, cultural e desportivo no bairro da zona oeste, em maio de 1982.

A outra mostra, Lina Gráfica, organizada por João Bandeira e Ana Avelar, destaca o lado menos conhecido da artista visual, que começou a desenhar ainda em Roma, influenciada pelos metafísicos italianos (De Chirico, em particular), tornou-se ilustradora no Brasil, criou a revista Habitat no começo dos anos 1950 e desenhou cartazes para filmes e peças que adotaram como referência imagens do cordel brasileiro, isso quando arte erudita e popular não se misturavam.

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Além delas, duas outras exposições seguem em cartaz em São Paulo. O Museu da Casa Brasileira abriga até novembro a mostra Maneiras de Expor, com curadoria de Giancarlo Latorraca, sobre a arquitetura expositiva de Lina. A arquiteta organizou mostras históricas (Caipiras, capiaus: pau-a-pique, Bahia no Ibirapuera), que promoveram a arte popular brasileira. Mais do que isso, levou-a para o interior do Masp, seu projeto mais conhecido que, na verdade, foi originalmente desenhado para São Vicente.

O público pode ver numa das salas do Museu da Casa Brasileira o embrião do Masp, na sede dos Diários Associados. Em outra, o visitante lembra (ou descobre) como era o Masp ao ser inaugurado, em 1968, na Paulista. Nessa sala, estão seis dos cavaletes de vidro que sustentavam as obras do acervo (um deles na foto maior desta página, com a reprodução da tela de Van Gogh). A outra mostra citada reúne o mobiliário de Lina na Casa de Vidro, no Morumbi, onde ela morou com o marido Pietro Maria Bardi, que formou a coleção e foi o primeiro diretor do Masp.

O Masp já é tombado pelo Iphan e este ano sai o tombamento do Sesc Pompeia. Marcelo Ferraz e André Vainer marcam o centenário com um totem instalado no fim da rua que liga a antiga fábrica ao conjunto esportivo do Sesc Pompeia. Outra novidade: o artista popular Edmar de Almeida fez outra tapeçaria para as paredes do restaurante, onde as mesas são coletivas, justamente para facilitar o convívio.

"Ela falava que arquitetura era isso, um velhinho, ou uma criança, atravessando elegantemente o espaço do restaurante, à procura de um lugar numa mesa coletiva", lembra Marcelo Ferraz. Numa era marcada pelo monumental (Frank Gehry e companhia), observa, "Lina é uma resposta ao formalismo vazio", mostrando que forma e função ainda podem caminhar juntas. André Vainer, que trabalhou 15 anos com Lina e Ferraz, diz que o ideário político da arquiteta fez a dupla optar na exposição por três obras, de tempos distintos, que confirmam seu compromisso ideológico.

Nela, o Solar do Unhão, em Salvador, que restaurou, é o marco zero do projeto de Lina Bo Bardi, de trabalhar com a cultura do País, justamente no momento embrionário da bossa nova e o Cinema Novo (Glauber Rocha foi seu colaborador). O Masp, já no fim dos anos 1960, inseriu o Brasil no circuito internacional dos museus. Lina queria que o acesso ao acervo do museu fosse democrático - daí a exposição da coleção sem hierarquia de escolas e períodos, com os cavaletes de vidro. Finalmente, no Sesc Pompeia, em 1982, ela concretizou o sonho de unir a fábrica a um centro irradiador da cultura, que não é só a popular ou a erudita, mas a soma de todas as culturas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992) tinha uma maneira direta de dizer o que pensava. Em 1964, já vivendo no Brasil havia quase duas décadas, ela foi convidada a apresentar na Itália o projeto do Museu do Mármore para a Toscana, perto da região de Carrara. Não pôde ir por conta do conturbado contexto do golpe militar brasileiro. "Aqui a situação é complicada e tenho grandes responsabilidades no Nordeste. Fiz esboços em Milão, rapidamente", escreveu, naquele ano, a arquiteta a um dos comissários do projeto.

Lina acreditava fielmente que os italianos não entenderiam seu esboço de moderno museu e jardim selvagem sem que ela própria pudesse explicá-lo a seus conterrâneos. "Uma discussão baseada nas minhas anotações resultaria numa interpretação errada, especialmente em um país como a Itália, ainda acostumado a julgar arquitetonicamente em termos formais e não de conteúdos."

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A carta da arquiteta, escrita em italiano, está entre os mais de 6 mil documentos e cerca de 17 mil fotografias que formam o Arquivo Documental Lina Bo Bardi, uma preciosidade para pesquisadores que até então estava abrigada em caixas, sem nenhum tipo de organização. "São arquivos complexos, de uma época em que não existia computador.

Portanto, as pessoas usavam telegramas, quando absolutamente necessário, e cartas. E Lina estava acostumada a anotar. Anotava tantas coisas, até seus pensamentos, por isso é interessante", diz Anna Carboncini Masini, uma das diretoras do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi.

Foi um ano e meio de trabalho intenso para catalogar e fotografar os documentos e imagens referentes ao arquivo pessoal e de trabalho da arquiteta, projeto realizado com cerca de R$ 250 mil cedidos ao Instituto Lina Bo e P.M. Bardi pela Petrobrás. Por meio, ainda, de um edital da Fapesp, foi possível colocar todo o material em móveis e mapotecas especiais agora abrigadas em dois quartos de serviço da Casa de Vidro no bairro do Morumbi, patrimônio tombado de arquitetura, local que Lina projetou e construiu para viver com seu marido, o historiador Pietro Maria Bardi, ex-diretor do Masp.

Primeiramente, o Arquivo Documental Lina Bo Bardi já está disponível, a partir deste mês, para pesquisadores que poderão consultá-lo na Casa de Vidro mediante agendamento por meio do e-mail pesquisa@institutobardi.com.br. O programa da Petrobrás permitiu ainda que um guia com todo o material disponível, dividido por projetos arquitetônicos e períodos, possa ser acessado através do site www.institutobardi.com.br (exemplares impressos também serão distribuídos a instituições e bibliotecas), dando uma ideia precisa do tesouro catalogado.

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

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