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A pandemia do novo coronavírus complicou a vida de todos nós em quase todos os sentidos. Como se não bastasse o temor pela própria saúde e a dos seus, o risco de morte e o luto por tantas vidas ceifadas e direitos perdidos, a dificuldade em seguir trabalhando e produzindo, sobretudo para os profissionais da área da arte, abateu-se de forma significante.

No entanto, vários foram os artistas que transformaram as dificuldades dos momentos atuais em criatividade e, a despeito das limitações impostas pelo contexto, continuaram criando e fazendo arte. Em Pernambuco, os lançamentos musicais não param, muitos deles auxiliados pela lei federal emergencial Aldir Blanc.

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LUCAS TORRES

Natural de Goiana (PE), o cantor e compositor LGBTQIA+ Lucas Torres, lançou, no final de março, o EP "Corpóreo. Com produção assinada por Sam Silva, o álbum traz cinco faixas trabalhadas no pop eletrônico mas com grandes doses de experimentalismo. As canções são poemas de Lucas, baseados em experiências pessoais enquanto artista LGBTQIA+. Esse é o segundo trabalho de estúdio do pernambucano, que já circulava desde 2018 com o seu primeiro disco Signoser. 

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JOANA TERRA

A cantora e compositora Joana Terra é  da Chapada Diamantina - Bahia, mas desenvolveu forte relação musical com Pernambuco em 2017, após uma temporada no Estado. Entre visitas e residências em terras pernambucanas, trabalhou com artistas locais como PC Silva, Ezter Liu e Lucas Torres. No início de abril, a artista lançou seu segundo disco, Feito Raio, produzido pelo pernambucano Juliano Holanda e com participações e Almério e Ceumar. O álbum já está disponível nas principais plataformas digitais. 

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NELSON BREDERODE

O cavaquista de Igarassu Nelson Brederode transformou seus 18 anos de pesquisa musical no EP A Charada Sincopada. Com produção de Samico, a obra traz cinco faixas passeiam por uma mistura de ritmos que coloca o cavaquinho longe de leituras populares.

SAM SILVA

Sam Silva lança o projeto Iso.Lados, nesta sexta (30). Além do EP, a artista produziu  um álbum visual,  uma espécie de curta-metragem, com imagens de interações afetivas e artísticas vivenciadas na sua cidade natal, Goiana (PE). As quatro faixas da obra versam sobre as emoções provenientes do isolamento. 

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Em uma sala na Rua Madre de Deus, Pedro Vilela, Giordano Castro e Lucas Torres, três dos oito integrantes do Magiluth – grupo de teatro recifense que vem arrebatando a crítica e os prêmios por onde passa –, receberam a equipe do LeiaJá para uma entrevista exclusiva. O local é onde eles ensaiam, pesquisam e passam oito horas por dia trabalhando em seus espetáculos.

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Formado a nove anos por estudantes do curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Pernambuco, o grupo atua desde 2004 no circuito universitário. A estreia profissional veio em 2007 com o espetáculo Corra, que os tornou conhecidos no circuito teatral da capital pernambucana, conta Pedro Vilela. Mas foi com a segunda montagem, denominada Atos, que eles conseguiram visibilidade nacional e puderam circular por diversas capitais brasileiras.

Atos é o espetáculo com o qual a gente consegue fazer com que o grupo apareça para o Brasil”, diz Giordano Castro. “E nesse circular é que a gente foi encontrando outros grupos de teatro e que começamos a criar redes de contato, firmar laços e trocas” completa. Foi através dessa rede de contatos e participação de festivais que o Magiluth ganhou força. Em 2012 eles participaram de um edital promovido pelo Itaú Cultural, como explica Vilela. “O projeto visualizava o intercâmbio de dois grupos teatrais de diferentes regiões do país. Naquela ocasião fizemos nossa pesquisa com o grupo de Brasília, Teatro do Concreto, a pesquisa foi desenvolvida em duas janelas, uma de gestão e outra de criação, onde trocávamos imagens dessas cidades para poder criar cenas e a partir dessas cenas foi que fizemos o espetáculo Aquilo Que Meu Olhar Guardou Para Você”.

E, se para alguns, 2012 não foi um ano muito proveitoso, para o grupo foi o grande divisor de águas. Além de se consolidar nacionalmente, eles ainda aprovaram dois processos de montagens para as peças Viúva Porém Honesta, de Nelson Rodrigues, e a homenagem a Luiz Gonzaga, Luiz Lua Gonzaga. Eles Ainda estrearam espetáculo fora de casa – Viúva foi primeiro apresentado no teatro carioca Dulcina – e fizeram duas temporadas na capital paulista.

Viúva Porém Honesta arrebatou três prêmios no Janeiro de Grandes Espetáculos de 2013 (diretor, ator e espetáculo), com texto de Nelson Rodrigues, a peça foi dirigida por Pedro Vilela  e conta a história de uma viúva que desde que seu marido se foi, decide não sentar mais.

“A proposta de Viúva apareceu no começo do ano, quando estávamos com uma crise financeira devido aos gastos em 2011. Em meio a essa crise, abre o edital da Funarte dos 100 anos do anjo pornográfico, com a proposta da montagem ou remontagem de uma das dezessete peças de Nelson Rodrigues. Pedro conhecia o texto e falou que ele tinha a pegada das coisas que o grupo tem feito, e isso deu o aval, apostamos nele e fomos contemplados. A montagem se deu com dois meses e meio para a estreia, nós voltamos para Recife para preparar tudo e, como estávamos em temporada em São Paulo, tivemos que voltar para lá e montamos em dois meses bem intensos, todos os dias trabalhamos mas gostamos demais de fazê-lo”, conta Giordano

O ator conta também que foi muito feliz todo o processo criativo do espetáculo de Nelson e a estreia só provou o quanto a aposta que o grupo fez no texto foi fantástica. Vilela complementa: “Nesse espetáculo tem um quê de cumplicidade que só acontece em um grupo, o tempo de montagem foi muito curto e estávamos na loucura, fora de casa, em São Paulo, dividindo apartamento, todo mundo junto, fazendo temporada no (Teatro) Repertório. Mas as condições eram as melhores também, nós ficávamos com um teatro só para a gente, de segunda a segunda, fazíamos o que queríamos nele. Tínhamos tudo disponível, luz, equipamentos e não nos preocupávamos com nada para pagar, a cidade ainda estava com um frio horroroso que a gente não conseguia por um pé para fora de casa”.

E foi assim, com dois meses de trabalho intensos, mergulhados dentro do teatro, que o Magiluth concluiu o espetáculo. Mas, será que se o grupo não estivesse precisando de dinheiro eles teriam montado Viúva? Quem nos respondeu foi Vilela:

“A gente sempre teve um pé atrás com a dramaturgia de autores clássicos, referenciais. Sempre preferimos investir em dramaturgia própria ou de dramaturgos não muito conhecidos. Mas talvez montaríamos por que para qualquer artista brasileiro existe a vontade de um dia montar Nelson. Talvez não seria nesse momento, então eu acredito que as circunstâncias nos levaram a Viúva agora, mas acredito que um dia nós faríamos”.

Ainda sobre Viúva, perguntamos sobre a coincidência entre o tempo de criação do espetáculo por Nelson Rodrigues e o de montagem da peça pelo Magiluth: ambos tiveram duração de dois meses. Eles não sabiam desse fato até o dia da estreia do espetáculo, revela Giordano. “Quando chegamos no Rio para estrear, estava ocorrendo uma exposição sobre a obra dele (Nelson Rodrigues) e nós vimos as datas do Perdoa-me por te Traíres e do Viúva Porém Honesta. Percebemos que as datas eram uma em cima da outra e fomos ler o que estava escrito e vimos que era muito a história da gente”.

“E foram dois meses aleatoriamente” completa Pedro. “Era uma mostra com duração de um mês e eles fizeram o favor de colocar a gente na primeira semana, e nós ainda íamos montar e estrear. Alguns espetáculos já estavam prontos e eles poderiam colocar na primeira semana para dar mais tempo para a gente. E, inclusive, questionamos muito isso, o tempo necessário para o processo.”

Durante a entrevista, o grupo falou de um jogo de cena, que é usado por eles para trazer a plateia até o espetáculo, tirá-los da posição passiva, onde "o público contempla a arte e apenas isso".

“É interessante que o público consiga entender esse jogo de cena, que ele jogue com a gente. Que seja um plateia ativa, que vê o que para ela é ou não é real, e passe a ser um membro do grupo a partir do momento em que ela tenta se relacionar com aquilo”. informa Torres. “Temos visto cada vez mais experiências no teatro em que parece que se esqueceram que tem alguém assistindo a você, se você se relaciona comigo, ok, se não, tudo bem, no final você me aplaude e vai embora. Isso não nos interessa muito, necessitamos dessa comunicação direta (com o público)", completa Vilela.

A interação com a plateia é experimentada por eles em diferentes aspectos, chegando inclusive a por em risco o andamento da peça apresentada “Em Aquilo Que Meu Olhar Guardou Para Você o público é chamado para a cena e poder agir de fato conosco em determinados momentos. Essas cenas só acontecem se o público participar de fato, se não o espetáculo atravanca”.

E parece que eles não tem medo do espetáculo desandar por conta dessa participação, de entrar nessa zona de risco. Pois como mostra Vilela, o importante para eles é vivenciar toda a ação. “Pode dar certo e pode dar errado também, por que a partir do momento que a plateia não participa, não entra no jogo a peça pode desandar, mas que desande e que seja um momento especial, um momento único que as pessoas viveram conosco”.

Mas e o contato do Magiluth com outros grupos de teatro no Recife? Como é? “Gostaríamos de aprofundar muito mais o compartilhamento de ideias, mas percebemos que isso é algo para ser construído ainda na cidade, percebemos que ainda existe uma dificuldade, de maneira geral, da gente compartilhar e discutir esteticamente o trabalho de um e de outro sem achar que estamos querendo destruir o trabalho de um e do outro”, responde Vilela.

Ainda nessa questão, o diretor de Viúva Porém Honesta afirmou que falta um sentimento de classe no teatro e cita uma frase de Eduardo Moreira, do Grupo Galpão. “O teatro talvez seja uma das únicas funções que se entrar em greve não faça diferença”. Por isso ele acredita que o que resta para os atores é construir esse sentimento de classe. “Nós podemos ter divergências estéticas, mas acima de qualquer coisa estamos no mesmo barco e precisamos olhar para o mesmo ponto. Por que quando a gente fica sem uma lei de incentivo, sem nada, isso nos impede de ter uma linha de pesquisa, e nós notamos que tem uma grande quantidade de grupos nesta situação e falta uma organização para dizer vamos juntos discutir e tentar sanar isso”, completa ele.

E, de olho na efetivação desse diálogo, o grupo abre as portas de sua sede para outros mais jovens ocuparem o espaço. “Parece uma besteira, mas é muito importante para quem está iniciando. Quando nós não tínhamos dinheiro, a gente sofreu isso na pele. Por isso a gente tem três grupos diferentes usando a sala. É uma iniciativa pequena, mas nós também temos uma ideia de fazer um oficinão, trazer grupos aqui pra dentro também e, quem sabe, trabalhar como colaboradores das ideias deles” explica Lucas.

Outra ação protagonizada por eles é o TREMA que, segundo palavras de Vilela, visa o bem coletivo do teatro de grupo em Recife. “Abrimos a discussão e a reflexão sobre uma causa (teatro de grupo) e aí as pessoas se agregam ou não” diz ele. A primeira edição do festival recebeu quatro grupos diferentes e promoveu espetáculos, ações formativas e a exibição do documentário Evoé – Retrato de um Antropofágico, até então inédito no Recife.

Para encerrar a entrevista, perguntamos sobre os prêmios recebidos pelo grupo e se essas estatuetas mexiam com o ego deles. Tentando mostrar uma certa humildade eles discorrem defendendo que apesar de funcionarem como reconhecimento do trabalho deles e ajudar na hora de se estabelecer um contrato, as premiações de fato não mudam em nada sua rotina.

Giordano é o primeiro a se manifestar e responde: “a gente vê que não é uma coisa que acrescente tanto assim”, diz ele. Vilela rebate. “É inegável que para o currículo do grupo é interessante especialmente na hora de negociar o espetáculo no eixo Rio-São Paulo”. Mas, segundo o primeiro na cena local não é tão relevante e que preferia que houvesse uma troca de experiências entre os grupos locais.

“Eu trocaria esse prêmio por três editais que possibilitassem a gente estar aqui trancados trabalhando” fala Vilela. “Não entramos no festival para ganhar o prêmio. Nós queremos criar outras redes e criar outras parcerias para poder termos trabalho, por que é isso que nos mantém”, finaliza ele.

E é assim que eles vão montando espetáculo por espetáculo, participando de um festival e usando o dinheiro ganho neste para a montagem de um novo, explicou Torres. Para este ano o Magiluth já conta com uma agenda cheia e começa a preparar as comemorações de dez anos do grupo. São quatro editais já confirmados, com montagens que circularão o Brasil e o interior de Pernambuco. Além de outros projetos que vão movimentar a cena teatral pernambucana, ficando apenas com novembro e dezembro livre, por enquanto.

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