A organização não-governamental Greenpeace exortou importadores de madeira de países como a França e a Bélgica a suspenderem as compras de matérias-primas provenientes da Amazônia. O grupo ambientalista acusa os produtores de madeira do Brasil de fraudar documentos que garantem a legalidade do abate de árvores. As autorizações são um pré-requisito para o ingresso da madeira na Europa.
De acordo com o relatório divulgado pela ONG nesta quinta-feira (15), em Paris e no Rio, madeireiras brasileiras manipulam planos de manejo com o objetivo de "lavar" a origem ilegal do produto, extraído de reservas ambientais que deveriam ser conservadas. Os desmatadores mentiriam sobre número de espécies raras e da altura das árvores em áreas de preservação, fraudando os inventários florestais. Com os documentos em mãos, é possível exportar madeira para a Europa obedecendo o novo quadro regulamentar do bloco econômico, que desde março de 2013 exige a traçabilidade da madeira. Na prática, 78% da madeira exportada entre agosto de 2011 e julho de 2012 teria origem ilegal.
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"A investigação que fizemos prova que os importadores não fizeram o que a legislação europeia exige, o Deal Diligence. Os documentos podem corresponder a madeira ilegal", disse ao jornal "O Estado de S. Paulo" Jérôme Frignet, coordenador da campanha Florestas do Greenpeace na França, que reclamou da inação do poder público no Brasil e na Europa. "A legislação europeia considera que o Brasil não é um país de risco. Mas a documentação que em teoria legaliza a madeira importada pode facilmente ser burlada."
O Greenpeace anunciou ter protocolado uma denúncia no Ministério Público do Pará, na Secretaria de Meio Ambiente do mesmo Estado e no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Além disso, a ONG exortou os governos da França e da Bélgica, os dois maiores importadores europeus de madeira do Brasil, a aprimorar os mecanismos de controle sobre a madeira extraída da Amazônia.
"A indústria da madeira colocou em prática muitas técnicas para transportar e vender madeira abatida ilegalmente graças a documentos oficiais. A partir de então os importadores não podem ter certeza sobre a legalidade da madeira que eles compram", afirmou à agência de notícias belga Jonas Hulsens, responsável pela campanha no Greenpeace da Bélgica.
A divulgação do relatório, realizado a partir de dois anos de investigação, segundo a ONG, veio acompanhada do lançamento de uma campanha "Chega de madeira ilegal", contra o tráfico na Amazônia.