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O ex-presidente Jair Bolsonaro disse nesta terça-feira, 24, que tem esperança de o deputado federal e seu ex-ministro Ricardo Salles (PL-SP) "ter sucesso" em São Paulo. Salles é pré-candidato a prefeito da capital paulista. Segundo Bolsonaro, esse é seu desejo. A negociação partidária estaria em andamento por meio do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

Bolsonaro falou no lançamento da Frente Parlamentar Invasão Zero. Disse que, no seu governo, Salles, então ministro do Meio Ambiente, e Tereza Cristina, então ministra da Agricultura, trabalhavam bem juntos. Então, deu a seguinte declaração: "Apesar de o temperamento do Salles ser um pouquinho exaltado de vez em quando. Ainda tenho esperança de que ele terá sucesso em São Paulo".

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Bolsonaro tem uma relação com altos e baixos com o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes, que tentará a reeleição. Será um revés para Nunes se Bolsonaro não apoiá-lo e lançar um candidato de seu grupo político na capital paulista.

Na última sexta-feira, 20, em entrevista ao Estadão e à rádio Eldorado, o prefeito reforçou que gostaria de contar com o ex-presidente em sua campanha. "Eu gostaria, porque a gente tem que fazer uma ação aqui de união do centro e da direita, que é o perfil do grande eleitor aqui da cidade", afirmou. Na ocasião, ele também enfatizou que o PL, partido de Bolsonaro, terá muito peso na escolha do vice, em razão de seu tamanho.

Ricardo Salles, por sua vez, disse, no início do mês, que pretende se candidatar à Prefeitura de São Paulo mesmo que não tenha apoio do PL, sua atual legenda. O parlamentar afirmou ao Estadão que está em conversas c com outras siglas e que, hoje, seria candidato de toda forma. "Estou conversando com outros partidos e com o próprio PL, mas nada definido", disse ele, após publicar nas redes sociais que está de volta o jogo. Questionado diretamente se diria hoje que é candidato de toda forma, seja o PL ou em outro partido, ele reafirmou: "Sim. Essa é a ideia".

Depois de recuar e desistir do recuo, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) pretende ser candidato a Prefeitura de São Paulo mesmo que não tenha o apoio do PL, sua atual legenda. O parlamentar confirmou ao Estadão que está em conversas com outras siglas e que, hoje, seria candidato de toda forma. "Estou conversando com outros partidos e com o próprio PL, mas nada definido", disse ele, após publicar nas redes sociais que está de volta o jogo. Questionado diretamente se diria hoje que é candidato de toda forma, seja o PL ou em outro partido, ele reafirmou: "Sim. Essa é a ideia".

De acordo com a Coluna do Estadão, Ricardo Salles se encontrou nesta quarta, 4, com Jair Bolsonaro e ouviu do presidente um pedido para que continue no partido, com o argumento de que ainda falta muito para a definição da legenda sobre candidatura em São Paulo.

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Ricardo Salles havia abandonado as pretensões de disputar a Prefeitura após a aproximação entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) se tornar mais forte. O ex-chefe do Executivo tem sido aconselhado por integrantes do PL, incluindo o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, de que só tem chance de ver uma candidatura vitoriosa na capital se preferir um nome mais ao centro, já que a cidade de São Paulo costuma ter um comportamento um pouco mais à esquerda que o restante do Estado.

Apesar dessa avaliação, a reticência de Ricardo Nunes de colocar-se em defesa de Bolsonaro e admitir a proximidade em público incomodou integrantes do núcleo bolsonarista. O próprio ex-presidente afirmou que precisava resolver problemas em São Paulo em razão disso. O prefeito tem oscilado em suas declarações, ora exaltando Bolsonaro, ora driblando essa vinculação. O pior momento foi a fala de Nunes em uma palestra a estudantes dizendo que não era nem Lula nem Bolsonaro.

No episódio da greve dos funcionários do metrô, da CPTM e da Alesp, como mostrou a colunista Monica Gugliano, integrantes do PL ficaram incomodados com a reação de Ricardo Nunes, considerada pálida. Coube ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), fazer o enfrentamento mais direto com o PSOL, partido ao qual a presidente do sindicato, Camila Lisboa, era filiada, e ao deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), hoje principal nome da esquerda na disputa municipal. Foi exatamente neste contexto que Salles se colocou de volta ao jogo nas redes sociais.

Em uma coletiva de imprensa na tarde desta quarta-feira (27), a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) comemorou o fim da Comissão Processante de Inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A CPI se encerrou sem que o relatório final, elaborado pelo deputado bolsonarista Ricardo Salles (PL-SP), fosse submetido à votação.

A psolista, usando um boné do MST, definiu o encerramento da Comissão como "favorável". "Essa CPI teve um movimento que eles [opositores dos governistas] não esperavam que é popularizar o MST ainda mais, torná-lo ainda mais conhecido".

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Através de suas redes sociais, Sâmia afirmou que os parlamentares governistas desempenharam um bom trabalho na Comissão.

"Sem nenhum relatório aprovado, a CPI do MST terminou completamente desmoralizada e o movimento saiu ainda mais forte. Temos muito orgulho da nossa luta e atuação nesses meses de batalha. Agradeço a todos os que acompanharam e lutaram conosco e vamos em frente, ainda mais fortes, para as próximas tarefas", escreveu.

Pelas redes sociais, o deputado federal Lindberg Farias também comemorou o desfecho da CPI. "ACABOU A FARSA! Derrotamos mais uma tentativa de criminalização do MST e da luta digna por reforma agrária no Brasil. Viva o @movimentosemterra. Viva a luta do povo brasileiro por direitos e dignidade!", celebrou. 

 

Um pedido de vista coletivo adiou a votação do relatório do deputado Ricardo Salles (PL-SP) na Comissão Parlamentar de Inquérito do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST). A discussão e votação do parecer ficou para terça-feira (26).

Após a leitura do relatório e o pedido de vista, o presidente do colegiado, tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS), rapidamente encerrou a sessão, sem que houvesse tempo para os deputados se manifestarem.

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Na reunião desta quinta-feira (21), Salles apresentou um resumo do relatório no qual acusa o movimento, que reivindica a reforma agrária e é favorável à agricultura familiar, de uma série de irregularidades, como práticas de abusos contra assentados e privilégios de dirigentes. Além disso, o relator acusa o MST de se apropriar de recursos públicos. 

O relator também afirma não haver a necessidade de, ao menos nesse momento, se aumentar as áreas destinadas à reforma agrária. Na avaliação de Salles, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) “é o maior latifundiário improdutivo do país”.

O deputado prometeu apresentar anexos ao relatório detalhando o que, na sua visão, seriam crimes praticados por integrantes do movimento.

Salles pede ainda o indiciamento de 11 pessoas. Entre elas, o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias e José Rainha, líder da Frente de Luta Campo e Cidade.

O deputado sugeriu ainda que o presidente do  Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral), Jaime Messias Silva, seja indiciado.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) se reunirá nesta quinta-feira (21) para discutir e votar o relatório do deputado Ricardo Salles (PL-SP).

A reunião está marcada para as 8 horas no plenário 5.

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A CPI foi instalada em maio para investigar invasões do MST. O prazo de funcionamento do colegiado termina no próximo dia 26, e não haverá prorrogação. 

*Da Agência Câmara de Notícias

O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados abriu, nesta terça-feira (30), sete processos para apurar representações de quebra de decoro parlamentar. Os requerimentos são contra os deputados Carla Zambelli (PL-SP), Márcio Jerry (PCdoB-MA), Nikolas Ferreira (PL-MG), José Medeiros (PL-MT), Juliana Cardoso (PT-SP), Talíria Petrone (Psol-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP).   

Os relatores dos processos foram sorteados pelo presidente do colegiado, deputado Leur Lomanto Júnior (União-BA). De acordo com o regimento, três nomes são sorteados, mas devem ser excluídos os parlamentares que representam o mesmo estado, bloco ou partido do representado ou da representação. 

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O relator tem 10 dias para elaborar um parecer favorável ao prosseguimento ou arquivamento da ação. Os deputados condenados por quebra de decoro podem ter punições que vão desde a censura oral até a perda do mandato.  

Na sessão desta quarta-feira (30), o colegiado também decidiu, por 13 votos a zero, arquivar uma representação do PT contra o deputado José Medeiros (PL-MT). O partido argumentava que o deputado quebrou o decoro ao tentar intimidar a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) durante uma sessão do plenário da Câmara. 

Os sete processos 

Carla Zambelli

Segundo a representação do PSB, ela teria quebrado o decoro parlamentar por xingar e constranger o deputado Duarte (PSB-MA) durante audiência com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. O partido pede a deputada perca o mandato. A lista tríplice sorteada é composta por Ricardo Maia (MDB-BA), João Leão (PP-BA) e Washington Quaquá (PT-RJ).  

Márcio Jerry

O deputado foi representado pelo PL por quebra de decoro parlamentar. O partido acusa o deputado de importunação sexual contra a deputada Julia Zanatta (PL-SC) também durante audiência com Flávio Dino. O momento foi flagrado em câmera. A lista tríplice sorteada é composta por Alexandre Leite (União-SP), Ricardo Maia (MDB-BA) e Emanuel Pinheiro Neto (MDB-MT).  

Nikolas Ferreira

As bancadas do PSOL, PT, PDT, PCdoB e PSB protocolaram pedido de cassação do mandato do deputado federal por quebra de decoro parlamentar após fazer discurso considerado transfóbico. A lista tríplice é composta por Bruno Ganem (Pode-SP), Ricardo Maia (MDB-BA) e Alexandre Leite (União-SP).  

José Medeiros

O processo foi apresentado pelo PT também por quebra de decoro durante a sessão que comemorava o Dia da Mulher. A lista tríplice inclui os deputados Albuquerque (Republicanos-RR), Ricardo Ayres (Republicanos-TO) e Gutembergue Reis (MDB-RJ).  

Juliana Cardoso

A deputada é acusada pelo PP por quebra de decoro após ter chamado de "assassinos" deputados que votaram a favor da urgência para o projeto do marco temporal na demarcação de terras indígenas (PL 490/07).  

Talíria Petrone

O processo foi apresentado pelo PL (Representação 6/23) por quebra de decoro durante reunião da CPI do MST. Talíria acusou o relator do colegiado, deputado Ricardo Salles (PL-SP), de fraudar mapas e ter relação com o garimpo. "O senhor é acusado. E olha que eu nem chamei de bandido, nem de marginal", disse a deputada na reunião. A lista tríplice é composta por Rafael Simões (União-MG), Sidney Leite (PSD-AM) e Gabriel Mota (Republicanos-RR).  

Eduardo Bolsonaro

O PT acusa o deputado de quebra de decoro por ter intimidado o deputado Marcon (PT-RS) durante reunião da Comissão de Trabalho. Após Marcon ter questionado a facada desferida contra o ex-presidente Jair Bolsonaro em 2018, Eduardo Bolsonaro se levantou, xingou e ameaçou o petista. Compõem a lista tríplice os deputados Albuquerque (Republicanos-RR), Gutembergue Reis (MDB-RJ) e Josenildo (PDT-AP). 

 

Durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), realizada nesta terça-feira (29), a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) chamou Ricardo Salles (PL-SP) de "réulator" - trocadilho que junta as palavras réu com relator - em referência à denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal contra o ex-ministro do Meio Ambiente da gestão Bolsonaro.

Através de placas, a parlamentar listou os crimes pelos quais Salles é acusado: corrupção passiva e ativa, prevaricação, advocacia administrativa, facilitação de contrabando, desacato, crime contra a administração ambiental, obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do poder público, falsidade ideológica, violação de sigilo funcional e organização criminosa.

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“Foi escolhido por essa comissão um 'relator', e, desde o ínicio [da CPI], a escolha deste relator tinha muito questionamento. Tendo em visto, seus interesses diretos em desmobilizar a reforma agrária neste país. Mas, os últimos acontecimentos tornam ainda mais grave a presença deste sujeito [Salles] na relatoria desta CPI porque ele não é mais um relator, é um réulator”, disse a deputada.

Denúncia do MPF

A denúncia contra o deputado da extrema direita, recebida pela Justiça Federal do Pará, atinge outras pessoas, entre elas o ex-presidente do Ibama, Eduardo Bim.







O bolsonarista, relator da CPI do MST, foi denunciado no processo que apura a exportação ilegal da madeira extraída de árvores da floresta amazônica para os Estados Unidos. Salles é acusado de criar no Ibama confições favoráveis para a defesa de interesses privados contra o interesse público.

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado







De acordo com a Polícia Federal (PF), as cúpulas do Ministério do Meio Ambiente do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do instituto também manipularam pareceres e documentos.

Reações

Em suas redes sociais, Sâmia Bomfim publicou o vídeo da sua apresentação durante a sessão da CPI desta terça-feira (29). Vários de seus apoiadores agradeceram a postura da parlamentar contra o bolsonarista.

"Obrigada Sâmia", escreveu a seguidora Taciana Nascimento. "Enfim o 'Menino da Porteira' vira réu por contrabando de madeira e formação de quadrilha. Se tudo der certo ele não irá mais 'passar a boiada' e sim passar um bom tempo trancado com a gadaiada", ironizou outro seguidor.

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Durante sessão desta terça-feira (15) da Comissão Parlamentar de inquérito (CPI) do MST, o relator, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), perguntou ao fundador, e principal liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, João Pedro Stédile, se na China existe algum grupo parecido com o MST do Brasil.

A pergunta feita pelo ex-ministro do Meio Ambiente da gestão Bolsonaro (PL) relembra a viagem de Stédile com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a China em abril deste ano, após tensões provocadas pelas invasões feitas pelo MST dias antes da viagem. Na época, a presença de Stédile na comitiva presidencial foi vista como uma polêmica pela oposição.

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Rebatendo a pergunta do bolsonarista, o líder do movimento disse que não existe grupos parecidos com o MST no país asiático, pois em 1949 foi feita uma reforma agrária na China.

“Vocês que querem tanto derrotar o MST, a fórmula é simples: façam reforma agrária que no outro dia desaparece o MST. Na China, eles fizeram uma reforma agrária em 1949 a 1952. Foi muito drástico, eles distribuíram terra para todo mundo, e hoje a média das terras lá na China é 0,7 hectares por família”, respondeu Stédile.

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O economista João Pedro Stedile, fundador e dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), criticou o agronegócio brasileiro depois que deputado Ricardo Salles (PL-SP), relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST, saiu em defesa do modelo de produção, nesta terça-feira (15).

Antes mesmo de ser ministro do Meio Ambiente no governo de Jair Bolsonaro (PL), Salles advogou a exploração da Amazônia seguindo princípios "capitalistas". Ele sustenta a regularização de áreas previamente invadidas, inclusive na região amazônica, visando favorecer o agronegócio, a mineração ilegal, garimpo e a invasão de territórios indígenas.

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Em maio de 2020, Ricardo Salles proferiu uma das suas declarações mais notáveis em relação ao meio ambiente: que o governo "passasse a boiada" em normas que desmontassem o sistema de proteção ambiental brasileiro.

"Eu gostaria de ouvir a sua opinião sobre o agro. Se o agro presta do ponto de vista de receitas ao país, desenvolvido, tecnologia, emprego, todos esses indicadores ao país. Se o senhor entende que esses país são suficientemente relevantes para reconhecer que o agronegócio cumpre um papel relevante no país", disse Salles na CPI.

Em resposta, Stedile reconheceu que o agronegócio produz muita riqueza, mas que não distribui equitativamente entre a população.

"No Mato Grosso, que é o paraíso do agronegócio, se a riqueza fosse distribuída para toda a população, haveria uma renda de R$ 54 mil por pessoa. O Mato Grosso seria o país mais desenvolvimento do mundo. Mas para onde vai a riqueza? Vai para multinacional e banco", afirmou Stedile.

"São grandes propriedades, usam as técnicas mais avançadas e agrotóxico, e produzem muita riqueza, mas produzem commodities para exportação, portanto repete o modelo agroexportador colonial, que não necessariamente representa distribuição de riqueza para a nossa sociedade."

Stedile ainda afirmou que tais "grandes propriedades" não são as mesmas que sofrem com a ausência de infraestrutura e apoio estatal. Ele citou uma pesquisa feita pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que aponta para falta de estrutura em 61% das fazendas para armazenar a produção de grãos do país.

"Perguntaram a eles [fazendeiros] quais são os principais problemas. Primeiro, preço dos insumos que as multinacionais vendem para nós, porque nós não temos controle nenhum. Segundo, nós não encontramos mais mão de obra para explorar. E terceiro, as mudanças climáticas estão afetando a produtividade da nossa agricultura. São fazendeiros espertos. Estão se dando conta do problema", afirmou Stedile.

"O latifúndio não se interessa em produzir. Ele quer apropriar os bens da natureza para acumular a riqueza. Então ele se apropria de terra pública, madeira, minérios, água, biodiversidade e acumula riqueza. Mas qual é o benefício para a sociedade desse modelo? Nenhum. Qual é a contradição deles? Não têm futuro. A sociedade não aceita mais o latifúndio como forma de explorar a natureza."

Por Caroline Oliveira, para o Brasil de Fato

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ouviu nesta terça-feira (1º) o depoimento do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias.  

A convocação de Dias foi um pedido do relator da CPI, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP).  

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No depoimento, Dias informou não ter recebido, no período em que ficou à frente do GSI, de 2 de janeiro a 1º de março de 2023, relatórios de monitoramento, de forma oficial ou informal, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), então subordinada ao gabinete, sobre o MST.  

“Neste período, eu não recebi, através do correio Sisbin [Sistema Brasileiro de Inteligência], que é o órgão de trâmite de documento, nenhum relatório concernente ao assunto em epígrafe”, disse aos parlamentares o general, que depôs na condição de testemunha. 

Segundo o Gonçalves Dias, a Abin passava por uma reestruturação, com troca de gestores, no período.

Invasões  

O relator Ricardo Salles insistiu diversas vezes no questionamento, citando que o “MST realizou 29 invasões de janeiro a fevereiro deste ano”. Para o relator, não é plausível o ex-ministro desconhecer as atividades do movimento, já que uma das competências do GSI é acompanhar ameaças à ordem constitucional. Salles argumentou que as invasões de terra são inconstitucionais e ameaçam as propriedades privadas.

O ex-GSI reforçou não ter conhecimento de tal informação e soube apenas de uma ação do movimento, via reportagens da imprensa, em uma área da empresa Suzano.  Em março, os sem-terra ocuparam área da produtora de papel e celulose no sul da Bahia em protesto pelo cumprimento de acordo que previa assentamento para 750 famílias na região, firmado com a multinacional em 2011. 

Gonçalves Dias disse ainda não ter tratado de ações do MST em reuniões com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enquanto estava no GSI.  

“Não tratei, porque não tinha conhecimento. Se tivesse conhecimento, tinha levado ao presidente. É uma resposta lógica”, afirmou. 

Ditadura

No início da sessão, Salles questionou o general se o golpe militar de 1964 foi positivo ou negativo para o Brasil. Dias disse que não iria emitir opinião acerca do tema, por não ser objeto de investigação da CPI. "Entrar nessa situação se foi bom ou ruim o movimento de 64 é polêmico. E não gostaria de entrar nessa seara". 

A pergunta provocou tumulto na comissão e bate-boca entre parlamentares aliados ao governo e oposicionistas. 

Dias tinha direito de ficar em silêncio, caso julgasse que as respostas poderiam incriminá-lo, situação garantida em decisão concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça. Em alguns momentos, o general usou o direito de não responder a questionamentos dos parlamentares.  

Antes do depoimento, os parlamentares da CPI aprovaram convocação do ministro da Casa Civil, Rui Costa.

O deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) fez ataques diretos a Tarcísio de Freitas (Republicanos) durante a reunião em que o governador de São Paulo foi criticado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e hostilizado por aliados após apoiar a proposta de reforma tributária do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em tom estridente, Salles disse que o governador não representa a direita brasileira e faz uma gestão em São Paulo que não segue os princípios deste espectro político. "Ser de direita não é um discurso, é uma conduta. Se tem um lugar no Brasil que não tem um governo de direita, é o governo de São Paulo", atacou Salles na reunião, sem a presença do governador, conforme vídeo do discurso obtido pela reportagem.

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"Não vem aqui dizer, colocar faixa de representante da direita, porque não é. Temos nossas próprias convicções, próprios princípios. Nós não queremos e não seremos representados por alguém que se diz de direita e depois, na hora de governar o Estado para o qual foi designado pelo presidente, não governa como alguém de direita. Acabou essa brincadeira", criticou o deputado, arrancando aplausos de participantes da reunião.

Salles ironizou a passagem de Tarcísio como ministro da Infraestrutura do governo Bolsonaro e disse que a atuação dele não serviu para "combater a esquerda". "Dos seus ministros, um dos que mais apanhou no seu governo fui eu, porque estava em um dos ministérios cujo objetivo é enfrentar a esquerda. É muito mais fácil fazer estrada, ponte, ferrovia do que combater a esquerda."

O deputado também questionou a relação de Tarcísio com o ex-presidente, seu padrinho político e principal cabo eleitoral da vitoriosa candidatura ao governo de São Paulo em 2022. "Muitos de nós aqui temos ao presidente Bolsonaro uma lealdade verdadeira", afirmou, em referência a pessoas que estavam no encontro.

Em mais um indicativo da insatisfação de bolsonaristas com a posição de Tarcísio a favor da reforma, o deputado disse que o governador não foi autorizado a atuar como interlocutor do PL nas negociações para votação do texto. Afirmou ainda que ele entende pouco de reforma tributária. "Ao contrário do que foi dito aqui, o Luiz Phillipe de Orleans e Bragança entende muito mais de reforma tributária que o Tarcísio. Se tem alguém para nos representar nessa discussão com o relator, é o Luiz Phillipe. Ele vai nos dar sinal se estamos de acordo com cada um dos critérios."

Trinca na relação

As críticas de Salles, um dos representantes mais proeminentes da extrema-direita brasileira, mostram o estremecimento nas relações entre o bolsonarismo e Tarcísio. Como narrou o Broadcast Político, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o governador e Bolsonaro tiveram uma conversa dura sobre a reforma tributária na manhã desta quinta-feira, 6, na sede do PL em Brasília.

O ex-presidente e seu grupo político mais próximo estão irritados. O chefe do governo paulista deu entrevista nesta quarta, 5, ao lado do ministro da Fazenda, o petista Fernando Haddad. Também gravou um vídeo com políticos do Republicanos em apoio à reforma, enquanto Bolsonaro é contrário.

Na reunião do PL, Tarcísio afirmou que a direita não pode perder a narrativa da reforma e deve se posicionar favoravelmente, para colocar os frutos da aprovação depois. Deputados bolsonaristas pressionaram Tarcísio aos gritos por seu apoio ao projeto. Bolsonaro interrompeu o governador e deixou claro que discordava de Tarcísio, mas também tentou apaziguar, ainda que à sua maneira: disse que o afiliado era um neófito na política.

Uma comitiva bolsonarista capitaneada pelo relator da CPI do MST, o deputado Ricardo Salles (PL), invadiu casas de integrantes da Frente Nacional de Luta (FNL), no assentamento do Pontal do Paranapanema, em São Paulo. Após intimidar os assentados, o ex-ministro afirmou que os barracos não são casas. 

Os vídeos são do dia 29 de maio, mas foram publicados pelo Metrópoles nesta terça-feira (13). No acampamento onde moram cerca de 2.500 famílias, Salles e assessores puxam as lonas e invadem as residências sem autorização para fotografar a intimidade e objetos pessoais em seu interior.  

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A clara cena de abuso de autoridade, que atenta contra a privacidade dos moradores, é acompanhada por policiais militares, pelo presidente da CPI do MST, o tenente coronel Zucco (Republicanos), e pelos deputados Rodolfo Nogueira (PL), Capitão Alden (PL), Caroline De Toni (PL), Magda Molfatto (PL) e Messias Donato (Republicanos-ES). Todos alinhados à pauta bolsonarista na Câmara. 

O presidente da CPI aponta que a batida no assentamento seria uma “instrução processual” competente a Ricardo Salles, como relator da comissão. Contra as reclamação do deputado Nilto Tatto (PT), o ex-ministro de Bolsonaro desconsiderou os barracos como moradia: 'aqui não é casa. Não tem uma cama', disse. 

O deputado Ricardo Salles (PL-SP) reagiu neste sábado (3) à aproximação do ex-presidente Jair Bolsonaro com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e fez críticas à cúpula do PL. Bolsonaro e Nunes se reuniram duas vezes em menos de um mês. Salles quer ser candidato à Prefeitura em 2024 e disputa o apoio de Bolsonaro no campo da direita, enquanto Nunes se movimenta para concorrer à reeleição.

Um dia depois de Bolsonaro ter almoçado em São Paulo com Nunes e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, Salles partiu para o ataque. "Quem com os porcos anda, farelo come", afirmou o deputado no Twitter. Ex-ministro do Meio Ambiente, Salles percebeu que está sendo rifado dentro do próprio partido e, horas depois de fazer a primeira postagem, fez críticas à cúpula do PL, que respingaram até mesmo no ex-presidente.

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O deputado apontou relações entre o PL, presidido por Valdemar, e o PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Disse, por exemplo, que o deputado Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP), ex-ministro dos Transportes no governo Dilma Rousseff, é o elo entre os dois partidos.

"A Prefeitura, de Nunes e Marta (Suplicy), está cheia de petistas. Enfim, para o Centrão é tudo business. Não são conservadores, nem liberais e nem direita. Muito menos oposição. Jamais serão. Serão sempre governo. Não foi para isso que passamos 4 anos lutando contra a esquerda. Vergonha", escreveu Salles.

Até o mês passado, Salles tinha confiança de que seria o candidato de Bolsonaro à Prefeitura de São Paulo, em 2024. Bolsonaro e Valdemar, porém, têm pesquisas mostrando que um nome de extrema-direita não ganha a eleição em São Paulo e se movem para apoiar um candidato de centro. Agora, tentam atrair o prefeito, que é do MDB, para o PL.

Outros aliados de Bolsonaro também preferem Nunes como candidato no campo da direita. Entre eles está o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PP-CI), um dos líderes do Centrão. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro é amiga da mulher do prefeito, Regina Nunes.

A presença de Bolsonaro e de Nunes em um mesmo evento foi lida como um movimento para rifar Salles e sinalizar que a cúpula do PL está disposta a apoiar o prefeito na disputa pela reeleição. O PL tenta fazer um acordo com Nunes sob o argumento de que a divisão na direita pode favorecer o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP), pré-candidato da esquerda na disputa.

Caso as negociações não vinguem, o outro nome que vem sendo citado para representar o bolsonarismo na eleição para a Prefeitura de São Paulo é o do senador Marcos Pontes (PL-SP), conhecido como "Astronauta".

Também nas redes sociais, Salles postou mais um ataque neste sábado, tirando o trecho de uma live no dia anterior em que ele defende uma separação entre os políticos "sérios e os picaretas" dentro da esquerda e da direita. "Tão relevante quanto as escolhas ideológicas, a degradação da política brasileira nos impõe, antes de tudo, separar os sérios dos picaretas. Essa história de pragmatismo virou desculpa para justificar apoiar ladrão e vagabundo", afirmou.

O ex-mandatário Jair Bolsonaro (PL) foi confirmado em um seminário organizado pela empresa Geofloretas, para falar sobre meio ambiente e sustentabilidade. O evento ocorrerá no dia 30 deste mês, no estado da Flórida, nos Estados Unidos.

"Venha participar do seminário sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade com a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro", diz convite para o evento.

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Durante o seu mandato, Bolsonaro foi questionado sobre suas ações relacionadas ao meio ambiente, principalmente por ter ignorado os registros dos avanços de destruição e por dificultar ações contra desmatadores.

Segundo o Prodes/Inpe, em 2021, a Amazônia teve o pior nível de desmatamento desde o ano de 2006. Foram 13.235 km² desmatados no bioma, o equivalente a quase nove vezes o município de São Paulo ou onze vezes a cidade do Rio de Janeiro.

Se comparar a média do desmatamento da Amazônia dos três primeiros anos da gestão Bolsonaro (média de 11.405 km² entre 2019 e 2021) em relação à média dos três anos anteriores (média de 7.458 km² entre 2016 e 2018), a área desmatada na Amazônia teve um aumento de 52,9%.

Em 2022, último ano de sua gestão, mais de 10 mil km² de florestas foram derrubados na Amazônia, a pior marca desde 2016.

Bolsonaro ainda recebeu críticas de ambientalistas por desarticular órgãos como o ICMBio e o IBAMA, e pela ampliação da liberação de mineração dentro dos territórios indígenas.

O ex-ministro da pasta, Ricardo Salles, foi exonerado do cargo em 2021, em meio à polêmicas, quando se tornou alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) pela suspeita de ter exportado madeira ilegal aos Estados Unidos e à Europa.

Vale lembrar que o ex-mandatário confirmou na última segunda-feira (16) que retornaria ao Brasil no dia 29 de março, porém curiosamente, o evento com sua presença está marcado para o dia seguinte.

Bolsonaro também foi convidado pela South Florida Bible College & Theological Seminary, uma faculdade particular cristã na cidade de Deerfield Beach, para um simpósio de negócios e liderança, marcado para o dia 22 de março.

Anna Beatriz Anjos

 

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Em reunião do Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL), o então ministro do Meio Ambiente e hoje deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) atacou, sem provas, a teoria do tipping point, ou ponto de não retorno, da Amazônia, considerada referência no mundo todo e trabalhada há mais de 30 anos sobretudo pelo climatologista brasileiro Carlos Nobre. As falas de Salles constam nas atas dos encontros do colegiado, obtidas via Lei de Acesso à Informação (LAI) e divulgadas hoje na íntegra pela Agência Pública.

“A teoria do Tipping Point do Carlos Nobre, a savanização da Amazônia, [é] balela”, disse o ex-ministro na reunião do dia 10 de fevereiro de 2021, a primeira daquele ano. Mais adiante em sua fala, no entanto, ele assumiu não ter como apontar que os estudos de Nobre estão equivocados. “Quando o Carlos Nobre e não sei mais quem levantar a teoria do ‘Tipping point’, você fala: ‘negativo, saíram 16% de vegetação primária, mas teve 8, teve 9, teve 4, teve alguma coisa de recobrimento’. Mas não temos dados, então não podemos dizer”, admitiu. 

As pesquisas de Nobre, referência internacional nos estudos sobre a Amazônia, indicam que, quando o desmatamento e a degradação da floresta atingirem um patamar entre 20% e 25%, ela deve chegar ao seu ponto de não retorno, ou seja, perder irreversivelmente suas características de floresta tropical úmida – o chamado processo de “savanização” – e a capacidade de prestar serviços ecossistêmicos cruciais, como a regulação do regime de chuvas. Não há um consenso sobre em que estágio a Amazônia se encontra agora, mas a comunidade científica entende que estamos caminhando a passos largos na direção do ponto de não retorno e que algumas áreas do bioma já podem tê-lo atingido. O falecido biólogo norte-americano Thomas Lovejoy, criador do conceito de “biodiversidade”, foi companheiro de Nobre nas pesquisas sobre o tema. 

O trabalho de Nobre é respeitado em todo o mundo. Ele é pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP), autor de relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) e, em 2022, foi eleito membro da Royal Society, a mais antiga academia de ciências em atividade no mundo, que seleciona estudiosos por suas “excelentes contribuições à ciência”. O único brasileiro a alcançar o feito antes dele havia sido o imperador Dom Pedro II, em 1871.

Salles defendeu que o projeto do governo federal TerraClass, executado por uma parceria da Embrapa com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – não vinculado, portanto, ao Ministério do Meio Ambiente –, poderia fornecer dados condizentes à sua narrativa. O projeto mapeia os diferentes tipos de uso da terra na Amazônia, investiga as razões do desmatamento no bioma e rastreia a regeneração de áreas desflorestadas. O TerraClass começou a funcionar em 2010, foi descontinuado por falta de recursos em 2016 e retomado no fim de 2020 a partir de um acordo com o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) para atualização da série histórica. O ex-ministro já havia falado em reativar a iniciativa em novembro de 2019, quando foi divulgada a taxa de desmatamento na Amazônia medida pelo Inpe para aquele ano, que revelou um aumento de 29,5% em comparação ao período anterior, a terceira maior alta até então – a situação ainda se agravaria em 2020 e 2021. 

Na reunião do CNAL, o agora deputado federal explicou que o TerraClass seria importante para calcular dados de recuperação de áreas degradadas na Amazônia e “deduzir da conta do desmatamento aquilo que regenerou”, provavelmente com a intenção de fazer frente à teoria do ponto de não retorno, que ele insistia, sem provas, estar incorreta. “Isso é nosso, é para nosso favor. É nosso benefício fazer o ‘TerraClass’ funcionar”, apontou. O TerraClass ainda não publicou novos dados sobre a Amazônia Legal: os mais recentes se referem a 2014, mas, segundo a Embrapa, o mapeamento relativo a 2020 deve ser apresentado ainda neste ano, seguido pelos de 2022, 2018 e 2016. Para o Cerrado, já estão disponíveis números sobre 2018 e 2020.

Enquanto esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente, de janeiro de 2019 a junho de 2021, Salles participou de quatro encontros do Conselho. Em junho de 2021, renunciou ao cargo e foi exonerado depois que dois inquéritos da Polícia Federal foram instaurados contra ele, um por suspeita de ligações com um esquema de exportação ilegal de madeira e outra por atrapalhar ação de fiscalização da própria PF em um caso que envolvia atuação ilegal de madeireiros. Ele foi substituído pelo ruralista Joaquim Leite, então secretário da Amazônia e Serviços Ambientais da pasta, que ocupou o posto até o fim do governo de Jair Bolsonaro.

O CNAL foi retirado da estrutura do Ministério do Meio Ambiente e colocado por Bolsonaro sob a alçada da Vice-Presidência da República em 11 de fevereiro de 2020. O general da reserva Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice-presidente e atual senador, assumiu o comando do colegiado com a tarefa de “coordenar e integrar os esforços federais pela preservação, proteção, desenvolvimento da Amazônia brasileira e cooperação Amazônica”. Também com base nos registros acessados por LAI, a Pública revelou que, em reunião do CNAL de 30 de agosto de 2022, Mourão admitiu que garimpeiros seguiam “invadindo a área Yanomami” e que, por esse motivo, havia a “necessidade de ser deflagrada uma operação de grande envergadura” no território, algo que só ocorreu após Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumir a presidência. 

Em reunião do Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL), o então ministro do Meio Ambiente e hoje deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) atacou, sem provas, a teoria do tipping point, ou ponto de não retorno, da Amazônia, considerada referência no mundo todo e trabalhada há mais de 30 anos sobretudo pelo climatologista brasileiro Carlos Nobre. As falas de Salles constam nas atas dos encontros do colegiado, obtidas via Lei de Acesso à Informação (LAI) e divulgadas hoje na íntegra pela Agência Pública.

“A teoria do Tipping Point do Carlos Nobre, a savanização da Amazônia, [é] balela”, disse o ex-ministro na reunião do dia 10 de fevereiro de 2021, a primeira daquele ano. Mais adiante em sua fala, no entanto, ele assumiu não ter como apontar que os estudos de Nobre estão equivocados. “Quando o Carlos Nobre e não sei mais quem levantar a teoria do ‘Tipping point’, você fala: ‘negativo, saíram 16% de vegetação primária, mas teve 8, teve 9, teve 4, teve alguma coisa de recobrimento’. Mas não temos dados, então não podemos dizer”, admitiu. 

As pesquisas de Nobre, referência internacional nos estudos sobre a Amazônia, indicam que, quando o desmatamento e a degradação da floresta atingirem um patamar entre 20% e 25%, ela deve chegar ao seu ponto de não retorno, ou seja, perder irreversivelmente suas características de floresta tropical úmida – o chamado processo de “savanização” – e a capacidade de prestar serviços ecossistêmicos cruciais, como a regulação do regime de chuvas. Não há um consenso sobre em que estágio a Amazônia se encontra agora, mas a comunidade científica entende que estamos caminhando a passos largos na direção do ponto de não retorno e que algumas áreas do bioma já podem tê-lo atingido. O falecido biólogo norte-americano Thomas Lovejoy, criador do conceito de “biodiversidade”, foi companheiro de Nobre nas pesquisas sobre o tema. 

O trabalho de Nobre é respeitado em todo o mundo. Ele é pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP), autor de relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) e, em 2022, foi eleito membro da Royal Society, a mais antiga academia de ciências em atividade no mundo, que seleciona estudiosos por suas “excelentes contribuições à ciência”. O único brasileiro a alcançar o feito antes dele havia sido o imperador Dom Pedro II, em 1871.

Salles defendeu que o projeto do governo federal TerraClass, executado por uma parceria da Embrapa com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – não vinculado, portanto, ao Ministério do Meio Ambiente –, poderia fornecer dados condizentes à sua narrativa. O projeto mapeia os diferentes tipos de uso da terra na Amazônia, investiga as razões do desmatamento no bioma e rastreia a regeneração de áreas desflorestadas. O TerraClass começou a funcionar em 2010, foi descontinuado por falta de recursos em 2016 e retomado no fim de 2020 a partir de um acordo com o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) para atualização da série histórica. O ex-ministro já havia falado em reativar a iniciativa em novembro de 2019, quando foi divulgada a taxa de desmatamento na Amazônia medida pelo Inpe para aquele ano, que revelou um aumento de 29,5% em comparação ao período anterior, a terceira maior alta até então – a situação ainda se agravaria em 2020 e 2021. 

Na reunião do CNAL, o agora deputado federal explicou que o TerraClass seria importante para calcular dados de recuperação de áreas degradadas na Amazônia e “deduzir da conta do desmatamento aquilo que regenerou”, provavelmente com a intenção de fazer frente à teoria do ponto de não retorno, que ele insistia, sem provas, estar incorreta. “Isso é nosso, é para nosso favor. É nosso benefício fazer o ‘TerraClass’ funcionar”, apontou. O TerraClass ainda não publicou novos dados sobre a Amazônia Legal: os mais recentes se referem a 2014, mas, segundo a Embrapa, o mapeamento relativo a 2020 deve ser apresentado ainda neste ano, seguido pelos de 2022, 2018 e 2016. Para o Cerrado, já estão disponíveis números sobre 2018 e 2020.

Enquanto esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente, de janeiro de 2019 a junho de 2021, Salles participou de quatro encontros do Conselho. Em junho de 2021, renunciou ao cargo e foi exonerado depois que dois inquéritos da Polícia Federal foram instaurados contra ele, um por suspeita de ligações com um esquema de exportação ilegal de madeira e outra por atrapalhar ação de fiscalização da própria PF em um caso que envolvia atuação ilegal de madeireiros. Ele foi substituído pelo ruralista Joaquim Leite, então secretário da Amazônia e Serviços Ambientais da pasta, que ocupou o posto até o fim do governo de Jair Bolsonaro.

O CNAL foi retirado da estrutura do Ministério do Meio Ambiente e colocado por Bolsonaro sob a alçada da Vice-Presidência da República em 11 de fevereiro de 2020. O general da reserva Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice-presidente e atual senador, assumiu o comando do colegiado com a tarefa de “coordenar e integrar os esforços federais pela preservação, proteção, desenvolvimento da Amazônia brasileira e cooperação Amazônica”. Também com base nos registros acessados por LAI, a Pública revelou que, em reunião do CNAL de 30 de agosto de 2022, Mourão admitiu que garimpeiros seguiam “invadindo a área Yanomami” e que, por esse motivo, havia a “necessidade de ser deflagrada uma operação de grande envergadura” no território, algo que só ocorreu após Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumir a presidência. 

Na prática, a principal ação do Conselho foi a viabilização de três Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GOLs) na Amazônia – Verde Brasil I e II e Samaúma –, criticadas pela inserção das Forças Armadas no combate a crimes ambientais e pela incapacidade de frear a alta do desmatamento na floresta, apesar de terem consumido R$550 milhões dos cofres públicos. A 16 dias do fim da gestão Bolsonaro, em sua última reunião, o CNAL apresentou o Plano Nossa Amazônia, com medidas para o bioma que o próprio governo descumpriu e atacou durante seus quatro anos de duração, como “fortalecer órgãos de fiscalização e de combate aos ilícitos ambientais e fundiários” e “restabelecimento da governança Fundo Amazônia”, paralisado logo no início da presidência de Bolsonaro. 

Volta do Fundo Amazônia foi cogitada, mas não aconteceu

Nas duas primeiras reuniões do CNAL, em 25 de março e 15 de julho de 2020, foi discutida a possibilidade de retomada do Fundo Amazônia, um mecanismo de financiamento criado em 2008 para ações de combate ao desmatamento da floresta cujos recursos eram empregados também na manutenção dos órgãos ambientais, como o Ibama.

Em março, o então ministro da Casa Civil, general da reserva Walter Braga Netto, trouxe o assunto à tona lembrando que o Comitê Orientador do Fundo Amazônia (COFA) teria de ser recriado até 27 de março (dali a dois dias, portanto) para que fosse possível a reativação do mecanismo. 

O COFA foi extinto pelo governo Bolsonaro em 28 de junho de 2019. Responsável por definir critérios para a utilização das verbas do fundo, era composto por representantes da sociedade civil, de órgãos do governo federal e de governos dos estados da Amazônia Legal – sem ele, o Fundo Amazônia foi paralisado. No mês anterior, em uma coletiva de imprensa, Ricardo Salles anunciou, sem apresentar provas, que seu ministério havia analisado 103 projetos de ONGs apoiados pelo fundo e encontrado por volta de 30 contratos com algum grau de “inconsistência”. Diante da situação, em agosto daquele ano, Noruega e Alemanha, os principais doadores, suspenderam repasses milionários à iniciativa. Desde sua inativação, permaneceram “encalhadas” no fundo R$ 3,4 bilhões em doações feitas anteriormente pelos dois países.

Além de Braga Netto, o à época ministro da Justiça e Segurança Pública e hoje senador Sergio Moro (União-PR) também abordou o assunto: disse que as ações sugeridas naquela reunião “demandavam recursos não previstos e consultou sobre a possibilidade de utilização de financiamento do Fundo Amazônia”. Mourão respondeu que “no campo da ‘preservação’, o governo poderia lançar mão dos recursos do Fundo”. Quando assumiu a palavra, Salles declarou que havia um “imperativo de reestruturação do formato” do COFA, já que “em sua configuração original, o processo decisório não atendia ao avanço de projetos de interesse do governo federal”.

No início da reunião seguinte, em julho, Mourão elencou as iniciativas estratégicas prioritárias para o semestre que viria, entre as quais estavam a “utilização do Fundo Amazônia e novas fontes de financiamento”. De acordo com o registro, o “Ministério da Economia foi chamado a apresentar soluções de maneira a permitir os recursos do FA [Fundo Amazônia] e outras fontes, tendo em vista seu caráter de doações, para além dos limites impostos pelo ‘teto de gastos'”. Segundo o texto, na sequência, o então ministro da Economia, Paulo Guedes, apenas reafirmou “o empenho de sua pasta na obtenção dos recursos necessários para atender as atividades previstas no planejamento estratégico do CNAL”.

A falta de dinheiro para as ações na Amazônia foi tema dos encontros seguintes do colegiado em outras ocasiões, mas o Fundo Amazônia não foi retomado por Bolsonaro. Em novembro de 2022, o Supremo Tribunal Federal determinou que o governo reativasse o mecanismo em 60 dias, o que só ocorreu em 1º de janeiro deste ano, no dia da posse de Lula.

Tereza Cristina: empresas não podem “impor legislação” ambiental

Na reunião de 10 de fevereiro de 2021, a então ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Tereza Cristina (PP-MS), eleita senadora no ano passado, defendeu, como outras autoridades, que o governo precisava desmistificar a “propaganda contra o que de fato fazemos, o que lá fora é colocado e aqui dentro”. De acordo com ela, a comunidade internacional seria municiada “com informações incorretas e inverdades sobre o que nós fazemos”

Pouco depois, a ex-ministra disse que um “ponto fundamental” para o governo seria não se curvar ao que chamou de “imposições” de empresas que “assinaram aquela carta contra o que o Brasil tem feito no meio ambiente”. Provavelmente, ela se referiu a um documento com seis propostas “para a queda rápida do desmatamento na Amazônia” elaborado pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura – grupo que reúne o setor empresarial e organizações da sociedade civil – e enviado ao alto escalão do governo federal em setembro de 2020, quando ocorria a crise dos incêndios no Pantanal e na Amazônia. 

Segundo a Coalizão, a carta chegou a Bolsonaro, Mourão, lideranças da Câmara e Senado, embaixadas de países europeus do Brasil e Parlamento Europeu. A União Europeia tem adotado medidas para evitar a importação de produtos ligados à destruição ambiental, como a lei antidesmatamento aprovada em dezembro, que abrange commodities cruciais para o agronegócio brasileiro, como soja e carne bovina.

“O Congresso Nacional aprovou o Código Florestal Brasileiro; querer desmatamento zero a partir do ano que vem, moratória da soja, da Amazônia, acho que isso não podemos permitir”, pontuou Tereza Cristina. “Acho que o cumprimento da lei brasileira é o que estamos fazendo, temos que exigir e é o que temos que mostrar. Essa imposição não podemos aceitar de jeito nenhum.”

“Perdendo a narrativa” em relação à Amazônia

Assim como Tereza Cristina, outros integrantes do governo expressaram preocupação com o fato de o governo estar perdendo a disputa de narrativa em relação à Amazônia, meio ambiente e combate à crise climática.

Mourão abriu a reunião de 10 de fevereiro de 2021 exatamente com essa questão. Disse que “o tema sustentabilidade virou alvo da linha de frente do Século XXI” e que “todos olham para o Brasil, com uma posição de buscar se opor a forma como trabalhamos aqui no nosso país” em relação à Amazônia. A ideia de que essa pauta representa um flanco para interferência externa na soberania nacional, difundida nos meios militares, fica evidente em outras falas de Mourão: mais adiante em 2021, no dia 24 de agosto, durante o sexto encontro do CNAL, ele afirmou que “neste século 21, a questão da sustentabilidade é um dos fatores que influencia a soberania”. “Desta forma, a questão do desenvolvimento da Amazônia, onde diversos atores não estatais limitam a nossa soberania, é algo que tem que ser abraçado pela Nação como um todo, tornando-se uma política permanente de Estado, sob pena de em curto prazo o País sofrer severas consequências”, salientou.

Voltando a 10 de fevereiro, ele destacou que o Itamaraty, então comandado por Ernesto Araújo, um notório negacionista da ciência em várias áreas, teria papel fundamental em rechaçar a imagem imputada ao Brasil. “Aí [é] uma questão política que vem sendo muito bem rebatida pelo nosso Ministério das Relações Exteriores – MRE, e a gente não pode se calar, em nenhum momento, a esse respeito. Temos que ter este discurso comum”, apontou. 

O agora senador também declarou que “barreiras não tarifárias em relação à nossa agricultura” – provavelmente, referia-se às regulações para evitar importações de produtos ligados ao desmatamento que estavam sendo debatidas pela União Europeia – seriam resultado de “inveja” em relação ao agronegócio brasileiro. “Existe também um preconceito, que se aproveita para barreiras não tarifárias em relação a nossa agricultura, porque, realmente, um país que tem a extensão de terras que temos, sol, água, com tecnologia e gente capacitada, e detém uma enorme produção agrícola, que hoje alimenta 1/7 da população da terra. É muita gente. Mas isso suscita a cobiça, a inveja ou a contraposição a essa nossa pujança”, destacou. A versão de que o agronegócio brasileiro alimenta 1 bilhão de pessoas no mundo todo – ou cerca de 1/7 da população global –, citada também por Jair Bolsonaro, é questionada por especialistas, de acordo com reportagem do site O Joio e O Trigo: eles apontam que o cálculo do número não leva em conta “a destinação dos grãos, os desperdícios na cadeia produtiva, desigualdades de consumo e dados sobre insegurança alimentar”.

O general da reserva criticou ainda a “crença” de que “o mundo vai acabar agora” supostamente sustentada pelos ambientalistas, que chamou de “sinceros porém radicais”. “E obviamente existe aquilo que chamo de bolsões sinceros, porém radicais, que são os ambientalistas, que acreditam firmemente que o mundo vai acabar agora. É obvio que temos a consciência plena de que temos que preservar nosso planeta, de modo que as próximas gerações possam fazer uso dos bens aqui existentes, mas não é na forma como vem sendo colocada muitas vezes”, considerou. 

Ernesto Araújo, também presente naquele encontro, fez coro a Mourão e chamou de “alarmismo” os alertas dos cientistas e sociedade civil sobre as mudanças climáticas. “O Itamaraty participa também das negociações climáticas para justamente mostrar que queremos contribuir com o clima, mas o alarmismo em torno disso, que muitas vezes escapa do senso de realidade, é usado para dizer, olha, o mundo vai acabar amanhã, se não se acabar com o desmatamento”, disse. A ciência, porém, contradiz consistentemente as declarações de Mourão e Araújo. Um exemplo dessas evidências é o último relatório do IPCC, publicado em abril de 2022, que adverte que as emissões mundiais de gases de efeito estufa precisam atingir seu pico em 2025 e depois cair 43% até 2030 para que não seja ultrapassado o limite de 1,5°C de aquecimento médio da temperatura global em relação aos níveis pré-industriais – uma das metas do Acordo de Paris, ratificado por quase 200 países, inclusive o Brasil. 

O ex-chanceler defendeu ainda que as pautas de meio ambiente e democracia seriam utilizadas para colocar o Brasil “no campo dos maus”. “Eu acho que essas correntes que são contra nossos projetos querem que o Brasil apareça no campo dos maus nos dois eixos. Contra o meio ambiente e contra a democracia. É um absurdo se dizer que esse momento que estamos vivendo é um momento de ameaça de democracia no Brasil, como se existisse autoritarismo ou qualquer coisa assim”, apontou. No mês seguinte àquela reunião, em março de 2021, o Instituto Variações da Democracia (V-Dem), da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, divulgou um relatório indicando que o Brasil foi o quarto país que mais se afastou da democracia em 2020 em um ranking de 202 países analisados. O estudo apontou que o Brasil vinha sofrendo um processo de “autocratização“, ou seja, pilares de sua democracia estavam sendo erodidos, como administração imparcial, responsabilização e liberdade de imprensa.

Embora desconsiderasse que a imagem do governo Bolsonaro em relação à Amazônia fosse motivada pelas taxas crescentes de desmatamento no bioma e pelo desmonte dos órgãos de fiscalização ambiental, que àquela altura ocorria a todo vapor, Araújo confessou que isso “tem prejudicado a nossa inserção internacional, tem prejudicado os nossos acordos comerciais e pode prejudicar a capacitação de investimentos”.

No entanto, em um dos trechos do registro da reunião, Mourão mostrou ter consciência das principais ações a serem tomadas para reverter a “perda de narrativa” que era alvo da discussão. “Lembrar então o que se espera do Brasil? Uma redução imediata dos desmatamentos e das queimadas, que mostremos empenho e efetividade nas ações ambientais, o cumprimento das metas que colocamos no Acordo de Paris”, elencou. Em outros momentos dos encontros do CNAL, o general da reserva apontou claramente o combate ao desmatamento e queimadas como prioridade. Mas o governo de Jair Bolsonaro não adotou efetivamente nenhuma dessas medidas, atingindo resultados contrários ao que o então presidente do Conselho colocava genericamente como objetivos. 

Ainda em 10 de fevereiro de 2021, Tereza Cristina avaliou ainda que a “guerra” de narrativa já estava perdida e que, para tentar transformar o cenário, eram necessárias ações práticas, principalmente porque elas seriam “muito importantes para a imagem do Brasil e dentro do Brasil, para sociedade brasileira, que também é mal informada e acredita [sic] e demoniza o meio ambiente hoje”. “Acho que essa guerra não devemos nem mais discutir, devemos mostrar números e ação Ministro Ricardo [Salles], porque essa guerra já perdemos. Agora temos que reverter isso com ações e acho que temos condições de fazer. Precisamos ter um pouco de recursos. Quando o Ministro Braga nos dá esse recado na primeira fala aqui do Conselho é preocupante, mas acho que temos que priorizar essas ações porque elas serão muito importantes para a imagem do Brasil e dentro do Brasil”, assinalou. 

Com “recado” do “ministro Braga”, Tereza Cristina se referiu à fala do então ministro da Casa Civil, o general da reserva Walter Braga Netto, no início da reunião, em que ele aconselhou que os ministérios ali presentes se preparassem para um contingenciamento de recursos que viria. De acordo com ele, seria um ano “muito difícil” e todas as pastas deveriam criar planos de contingência. De fato, o contingenciamento foi anunciado em abril, mas em julho o governo desbloqueou o orçamento e liberou os recursos. Ainda assim, naquele ano, menos da metade do orçamento autorizado para controle e fiscalização ambiental foi executado pela administração federal, segundo estudo da ONG Inesc.

 

No dia 13 de fevereiro de 2019 dois ministros do então governo Bolsonaro estiveram presentes na festa da colheita da Terra Indígena Utiariti, a 397 quilômetros de Cuiabá, Mato Grosso. A reportagem do portal The Intercept Brasil apurou que o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e a ex-ministra da agricultura, Tereza Cristina, foram convidados para participarem da celebração. No entanto, tanto a festa quanto a colheita realizada na região foram feitas de forma ilegal.

De acordo com a reportagem, também foram convidados o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, e o então diretor de Proteção Ambiental do Ibama, major Olivaldi Azevedo. A celebração contou ainda com a presença de indígenas de 70 aldeias, vindos das cinco regiões do país.

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Ainda em 2018, algumas regiões indígenas das etnias Pareci, Manoki e Nambikwara haviam sido interditadas pelo Ibama. O órgão multou os grupos por desmatamento sem licenciamento ambiental, plantio de soja transgênica na área indígena e arrendamento de terras para não-indígenas. Foi também aplicada uma multa de R$ 2,7 milhões contra produtores rurais e associações indígenas. Portanto, a festa da colheita de fevereiro do ano seguinte foi realizada em uma região interditada, para celebrar a colheita de uma plantação que nem deveria ter sido feita.

De acordo com o artigo 79 do decreto 6.514, que dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, o descumprimento de embargo pode acarretar em uma multa que varia de R$ 10 mil a R$ 1 milhão . Os ex-ministros ainda podem ser autuados por prevaricação, quando um servidor público deixa de cumprir o seu papel corretamente.

Área embargada

Em 2019 a superintendente do Ibama no Mato Grosso, Lívia Karina Passos Martins chegou a ser convidada pelo governador para participar da festa da colheita. No entanto, ao invés de aceitar, Martins detectou que a área estava embargada e que não poderia ser utilizada para o evento. “Os grãos a serem colhidos neste 1º encontro teriam sido produzidos sobre área objeto de embargo, infringindo o Decreto 6.514/2008 por descumprimento”, disse em ofício endereçado à presidência do Ibama e à Diretoria de Proteção Ambiental, o Dipro.

Sete meses depois, a região, junto com outras que estavam listadas no embargo, foi desembargada. Dois meses após o desembargo, indígenas das três etnias tiveram a permissão para produção agrícola, sem a participação de não-indígenas e sem transgênicos, depois de assinarem um Termo de Ajustamento de Conduta com o Ibama, a Funai e o Ministério Público Federal (MPF).

Procurado pela reportagem, com o intuito de saber sobre a fiscalização das áreas desembargadas, o Ibama respondeu que “não consta na base de dados a realização de novas ações fiscalizatórias nas referidas áreas após o desembargo.”. Portanto, além de não haver informações sobre as fiscalizações realizadas na época, tampouco é possível saber o destino da soja produzida ainda durante o embargo. Também não constam informações oficiais sobre a presença de Olivaldi Azevedo na festa da colheita.

O deputado federal e ex-ministro do Governo Bolsonaro Ricardo Salles (PL-SP) relembrou a expressão “passar a boiada”, utilizada por ele em 2020, e lamentou que o verdadeiro significado dela não teria sido veiculado à época, assim como a realização do que ele queria dizer. Alegando ter sido tirado de contexto, o parlamentar, em nova entrevista ao UOL, disse que o trecho sobre “passar boiada” se referia a uma mudança nos termos burocráticos dos ministérios, a fim de dar maior celeridade e foco às demandas. 

“Infelizmente, não. [...] Minha fala na reunião ministerial, embora seja, por alguns, propositalmente manipulada, eu falei que todos os ministérios [...] do Brasil precisam, e já passou da hora, de fazer um esforço muito grande de desburocratizar. [...] Isso que quis dizer com passar boiada, e se tivesse acontecido, Brasil estaria em situação muito melhor. Não tem nada a ver com a situação da Amazônia, é outra história, outro contexto”, disse o deputado. 

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Durante a reunião ministerial do dia 22 de abril de 2020, o então ministro do Meio Ambiente alertou os ministros sobre o que considerava ser uma oportunidade trazida pela pandemia da Covid-19, de aproveitar o foco da sociedade e dos governos nos assuntos sobre a pandemia e mudar regras dentro das atividades ministeriais, ainda que isso pudesse um conflito no Judiciário. 

“Então pra isso precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de COVID e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De IPHAN, de ministério da Agricultura, de ministério de Meio Ambiente, de ministério disso, de ministério daquilo. Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação, é de regulatório que nós precisamos, em todos os aspectos”, disse, à época. 

Crise Yanomami 

Ao UOL, Ricardo Salles também disse que o problema dos indígenas yanomamis é "muito antigo" e que a responsabilidade pela crise humanitária é da "sociedade". Salles foi ministro do Meio Ambiente do governo Jair Bolsonaro até ser exonerado em junho de 2021 por suspeitas de facilitar a exportação ilegal de madeira do Brasil aos EUA e à Europa. 

"O problema dos yanomamis é muito antigo, o território tem muita influência do tráfico de drogas, a fronteira é difícil. Há muitas décadas a região sofre com uma série de fragilidades que resultaram nessa situação muito triste", afirmou Salles. 

Ele também minimizou a responsabilidade do governo Bolsonaro sobre a crise humanitária na Terra Yanomami. Salles negou que tenha facilitado o garimpo ilegal na região durante seu período como ministro. 

 

O nome do deputado federal e ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro Ricardo Salles tem sido defendido pelo Partido Liberal para comandar a Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados. A indicação foi alvo de críticas por parlamentares e militantes do meio ambiente.  

Salles foi exonerado do Ministério em 2021 depois de ser alvo de uma operação da Polícia Federal, que investiga a facilitação à exportação ilegal de madeira do Brasil para os Estados Unidos e Europa. 

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A deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) relembrou que Ricardo Salles responde na Justiça por crimes como a exportação ilegal de madeira. Para ela, a problemática dele comandar a comissão não é pela divergência ideológica, mas sim pela gravidade do que ele fez enquanto ministro. “Eu tive, no ano passado, com o presidente de Meio Ambiente que tinha um pensamento diferente do meu e a gente dialogou. O que me parece grave é a gente ter alguém que destruiu o meio ambiente, órgãos de controle foram desmontados e tudo. Meio ambiente não é brincadeira. Querer que o mundo nos olhe com seriedade, que o Brasil volte a ser protagonista na pauta ambiental com Ricardo Salles, presidindo a comissão de Meio Ambiente”, expressou. 

O deputado federal Renildo Calheiros (PCdoB-PE) também criticou a indicação. “Veja se tem sentido: quando era ministro, ele disse que tinha que aproveitar que todas as atenções estavam voltadas para a Covid e tentar passar a boiada e desregulamentar toda a proteção de meio ambiente que o Brasil tinha até então. Agora, há uma movimentação para levá-lo à presidência da comissão de Meio Ambiente da Câmara de Deputados, é o mesmo que amarrar cachorro com linguiça. Isso precisa ser evitado”, pontuou. 

Por sua vez, Salles garantiu que não pretende presidir a pasta por ter acabado de entrar na Casa e não conhecer os trâmites. “Presidir a comissão, na minha opinião, é uma função muito importante para quem já tem alguma experiência parlamentar. Pelo menos no primeiro ano, quem acabou de entrar, devia se abster de presidir a comissão. Não quero a do Meio Ambiente e nenhuma outra”, disse à imprensa ainda na terça-feira (7). 

Por sua vez, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), defendeu o nome do ex-ministro à presidência do colegiado e ressaltou a qualificação do mesmo. “É claro que ele tem qualificação. Se depender do PL, ele vai ter meu apoio. Ele não quer, mas a gente quer”.  

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Abaixo assinado 

A atriz Laila Zaid e militante do meio ambiente publicou, nas redes sociais, um link de um abaixo assinado na tentativa de impedir que Salles presida a comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados

“Sabe a sensação de ser feita de otária? É o que a gente devia estar sentindo nesse momento, enquanto o PL está querendo colocar Ricardo Salles como presidente da comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados. Sim, aquele cara que aproveitou a pandemia para ‘passar a boiada’. O cara é um militante do desmatamento. Só que a gente não é otário. Pelo menos não sem lutar”, disse a atriz, antes de informar sobre o link do abaixo assinado.

A nova ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, colocou fim a um dos atos do ex-ministro da pasta, Ricardo Salles, que instituía um processo de "conciliação de multas" ambientais entre infratores e o Ibama. Na prática, as regras que estavam em vigor, em vez de solucionarem o problema do enorme passivo de autuações aplicadas pelo órgão, produziram uma crise administrativa interna, ao retirar uma série de atribuições técnicas dos fiscais, paralisando todo o trabalho em andamento no País.

Um novo decreto estabeleceu qual será, a partir de agora, o processo administrativo federal para apuração destas infrações. Uma das mudanças estabelece que os autos de infração e seus polígonos da área embargada deverão ser públicos e disponibilizados à população pela internet. Os órgãos responsáveis pela autuação deverão manter uma base de dados pública, com todas as multas emitidas.

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Durante o governo Jair Bolsonaro (PL), ocorreram diversas tentativas de impedir o acesso a essas informações. Reformulações de sites tiraram o banco de dados de multa do ar, mas ainda era possível encontrar essas informações em um sistema antigo.

Pelas regras, 50% dos valores arrecadados em pagamento de multas deverão ser revertidos para o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), voltado a viabilizar políticas públicas do setor.

O autuado poderá, no prazo de 20 dias contados da data da autuação, oferecer defesa ou impugnação contra a infração. Haverá ainda um desconto de 30% sobre o valor, caso o infrator opte pelo pagamento da multa à vista.

A solução dos casos passa por três caminhos: pagamento da multa com desconto; parcelamento da multa; ou conversão da multa em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente. A autoridade ambiental poderá conceder, ao aprovar o pedido de conversão, um desconto de até 60% no valor total da multa, conforme a defesa apresentada pelo infrator.

As estimativas apontam que o Ibama aplica cerca de 10 mil multas por ano. Até 2024, mais de 40 mil multas podem expirar. Há um ano, pesquisadores da Climate Policy Initiative, ligados à Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), em parceria com o WWF-Brasil, fizeram levantamento sobre o destino dado aos 1.154 autos de infração ambiental lavrados após 8 de outubro de 2019, quando o Salles mudou as regras do processo sancionador. Do total, 98% dos casos ficaram paralisados, como mostrou o Estadão.

O ex-ministro do Meio Ambiente do Governo Bolsonaro, Ricardo Salles, foi flagrado atropelando um motociclista entregador de aplicativo, no momento em que deixava uma faculdade privada em São Paulo, na noite da quinta-feira (1º). Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver um veículo vermelho, que pertence à equipe de Salles, fazendo uma curva rápida e colidindo com a moto do trabalhador, que antecipa a colisão e pula do veículo antes de ser atingido. Pelas imagens, o motoboy não se feriu. 

As imagens foram captadas do lado de fora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), na Zona Sul paulistana, onde o ex-ministro realizava uma palestra. Salles sofreu represália dos estudantes, que protestaram contra a sua presença na instituição. Ele também alegou que foi hostilizado e agredido, junto à sua equipe, pelos opositores no local. 

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O vídeo logo viralizou na internet e chamou atenção porque Salles e sua equipe não prestaram socorro ao motoboy de imediato. É possível ver, nas imagens, que o carro do governista passa por cima de uma parte da motocicleta, que já está caída no chão. Confira: 

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Nas redes sociais, Salles se defendeu. "Horda de bárbaros atacou nossa comitiva ontem. Jogaram pedras, chutaram carro e quebraram pára-brisa. Na confusão, um dos carros derrubou uma moto quase parada. Falamos mais à frente com o rapaz, que nada sofreu. E a moto, nada de grave". 

Em nota, a assessoria de Salles informou que "não houve atropelamento nenhum". "O carro esbarrou na moto quase parada. Paramos mais adiante, conversamos com o motociclista e ele mesmo relatou que não sofreu nada. Apenas a moto sofreu arranhões, que já foram indenizados”. 

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