Tópicos | Orkestra Rumpilezz

O país das cantoras também é afortunado pelo enorme elenco de bons instrumentistas, mas a canção prevalece maciçamente. A música instrumental brasileira sempre ficou estigmatizada como algo hermético, para poucos, apesar da popularização de gêneros como o choro e o samba-jazz. Porém, como o metropolitano que se diz cosmopolita, mas não conversa com o vizinho, músicos tradicionais tendem a menosprezar colegas e bandas de estilos mais pop e festivos.

Pois esses que vêm quebrando preconceitos de músico que toca para impressionar outro músico, nem por isso fazem trabalhos menos elaborados. Com shows e discos de perfil mais dançante e menos "cabeça", bandas como Bixiga 70, Orquestra Brasileira de Música Jamaicana, Macaco Bong, Abayomy Afrobeat Orquestra, Orkestra Rumpilezz e músicos como Guilherme Kastrup, Thiago França e Webster Santos fogem do padrão choro-baião-jazz-samba, sem negar as influências das tradições brasileiras.

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As ações do programa mineiro Conexão, que atua pela primeira vez em São Paulo, com shows de encerramento dessa etapa do projeto neste e no próximo fim de semana (inaugurando a ocupação cultural do Largo da Batata), refletem essa tendência. "A ideia dessa programação é mesmo fugir do rótulo de que música instrumental é só pra músicos ou iniciados", diz Alysson Brenner, curador da Conexão SP. "Por isso trouxemos grupos que têm comunicação maior com o público e quebram um pouco esse estigma. Essa foi a proposta para encerrar o evento e tem também esse clima de celebração, quer dizer, a música instrumental também combina com esses momentos."

Mauricio Fleury, produtor, tecladista e guitarrista da superbanda Bixiga 70, acredita que hoje o público tem mais acesso à música em geral (incluindo instrumental), está mais interessado em ouvir sons diferentes, atentar para detalhes, e com isso "a abordagem mudou". "No nosso caso, acho que também o que faz a história rolar é que é um som instrumental dançante. Sempre foi nossa intenção fazer uma coisa que carregasse a informação da música instrumental, elaborada, mas que fosse também divertida, pra festejar, celebrar", diz o músico.

O Bixiga 70 lançou recentemente o segundo e ótimo álbum, que leva apenas o nome da banda, em que vai além do estilo afrobeat do primeiro, incorporando ritmos afro-latinos e afro-brasileiros. "Evidentemente passa pela nossa formação a tradição musical brasileira como o choro. A gente sempre se empolgou com o som de Hermeto Pascoal e de Frank Zappa, que também tem várias músicas instrumentais maravilhosas", conta Fleury. "Tem vários diálogos musicais dentro da banda, com afrobeat, com dub, que não é necessariamente aquela guerra dos improvisos. Tem um pouco de influência do jazz e do funk, mas a gente tenta fazer um negócio com uma cara diferente."

O percussionista, baterista e produtor Guilherme Kastrup, em conversa com músicos do Bixiga 70, "ao ver um show deles lotado de gente jovem se divertindo", lembrou-se da época de sua iniciação musical. "A canção no Brasil é soberana, mas, quando eu era adolescente, nos meados dos anos 80, artistas como Hermeto, Aquarela Carioca, Paulo Moura, Egberto Gismonte e Naná Vasconcelos lotavam lugares grandes como Circo Voador, Parque Lage e Parque da Catacumba. A música instrumental tinha muito público", lembra.

Na década de 1990, ele viu esse público se perder e a impressão que ficou foi a de que "a busca excessiva pelo virtuosismo foi tornando a música instrumental brasileira mais hermética, as pessoas foram se cansando de tanta nota, velocidades extremas e harmonias cada vez mais complexas". "Agora, sinto que existe uma renovação de anseios de quem faz música instrumental. Uma busca por novas estéticas, novas fontes de inspiração, e uma procura por restabelecer o contato com o público", diz Kastrup.

Enfim, sem menosprezar a tradição, trabalhos como o de Kastrup, do Bixiga 70, a fusão de jazz com toques do candomblé da Rumpilezz e o rock do Macaco Bong, entre outros, vão abrindo caminhos para recuperar um certo público de música instrumental que se distanciou do gênero. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

PROGRAMAÇÃO

SEXTA

Orquestra Brasileira de Música Jamaicana, Banda Black Rio, Batuque Manouche e DJ Beto Chuquer no Estúdio (Rua Pedroso de Morais, 1.036, tel. 3814-7383). R$ 5

SÁBADO

Banda Mantiqueira, Daniel Mã, Areia de Grupo de Música Aberta, Aláfia e DJ Samuca no Centro Cultural Rio Verde (Rua Belmiro Braga, 119, tel. 3034-5703). R$ 5

DOMINGO

Macaco Bong, Orkestra Rumpilezz e Bixiga 70 no Largo da Batata. Grátis

CONEXÃO SP

Estúdio (Avenida Pedroso de Morais, 1.036, Pinheiros, tel. 3814-7383). Sexta, 20 h.

R$ 5.

A Mostra Internacional de Música de Olinda – MIMO 2012 foi encerrada com muita brasilidade e refinamento. O maestro Letieres Leite e a Orkestra Rumpilezz se apresentaram no Carmo, em Olinda, para a despedida desta edição da mostra, após dez dias de apresentações musicais, festival de cinema e ações formativas e quatro cidades.

Continuando o processo de expansão iniciado em 2009, quando passou a acontecer no Recife e em João Pessoa, além da cidade-mãe do evento, Olinda, a MIMO foi à cidade histórica de Ouro Preto, em Minas Gerais, pela primeira vez, de 30 de agosto a 2 de setembro. A Partir do dia 3, a MIMO iniciou a etapa Olinda-Recife-João Pessoa, trazendo artistas como a dupla Richard Bona & Sylvain Luc – que também tocou em Ouro Preto com a participação de Marcos Suzano –, o cubano Chucho Valdez, Egberto Gismonti, Arnaldo Baptista, Cyro Batista, Arismar do Espírito Santo e os portugueses Maria João e Mário Laginha. A MIMO teve também show de lançamento do novo CD da Orquestra Contemporânea de Olinda.

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“Quando se pensa na programação, se pensa em construir uma textura sonora para a mostra”, explica Lu Araújo, idealizadora da MIMO. Ela destaca a diversidade de atrações, e comenta a expansão da programação para outras cidades: “Para um festival que busca ressignificar o uso do patrimônio histórico estar em Olinda e agora Ouro Preto é estar nas duas cidades mais importantes do país”, avalia Lu.

Abaixo da recém restaurada Igreja do Carmo, o maestro baiano Letieres Leite deu uma aula de musicalidade brasileira com sua Orkestra Rumpilezz. Demonstrou diferentes ritmos de matriz africana de forma didática, explicou diferentes aspectos dessa musicalidade, como a religiosidade e a relação com os diferentes povos africanos importados como escravos ao Brasil. E ainda afirmou: “O samba nasceu na Bahia!”.

A Orkestra contagiou o público presente, arrancando aplausos em diversos momentos. Com um coração rítmico composto por cinco instrumentistas e 16 instrumentistas de sopro, o grupo regido por Letieres faz música moderna e refinada usando como elemento primordial a riqueza rítmica e percussiva da música de matriz africana. “É uma honra e um prazer estar neste Estado de uma música tão linda e rica”, disse o maestro no palco. Ao LeiaJá, Letieres contou que tentava vir com a Orkestra a Pernambuco há quase quatro anos.

A espera foi compensada por um ótimo show, com direito até a bis e final apoteótico. Para Gutie, produtor do festival Rec-Beat, que veio conferir o encerramento da MIMO: “É um evento de altíssimo nível, fico feliz de tê-lo em Pernambuco. É um dos grandes festivais do Brasil e do mundo”. Lu Araújo afirma já estar pensando na próxima edição da MIMO, que marca uma década da mostra, e planeja acontecimentos especiais para 2013.

Filmes

Atração à parte foi o Festival de Cinema da MIMO, que selecionou 25 filmes usando a música como fio condutor. Obras como Tom Zé em A lavagem das calcinhas, Di Melo – O Imorrível, Siba – nos balés da tormenta, Futuro do Pretérito: Tropicalismo now!, Marcelo Yuka no caminho das setas e Kaosnavial dialogaram muito bem com a atmosfera musical da MIMO.

 

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