Quando chega o mês de novembro, um trecho da Avenida Caxangá fica aglomerado de pessoas atravessando a pista, veículos diminuindo a velocidade e os ambulantes com suas barraquinhas de comida itinerantes. No bairro do Cordeiro, na Zona Oeste do Recife, é dia da tradicional Exposição de Animais e o cheiro do campo atrai milhares de recifenses que buscam fugir por algumas horas do cenário urbano e envolto das modernidades. No número 2.220 da Caxangá fica localizado o Parque Professor Antônio Coelho, conhecido como Exposição de Animais do Cordeiro.
Ao lado de uma das mais movimentadas vias da Região Metropolitana do Recife, o parque transborda a sensação do avesso à cidade. É calmo e parece mesmo uma grande fazenda de vários hectares iguais aos pedaços de terra do interior de Pernambuco. Logo na entrada do local, o piso de paralepípedo, as árvores bem verdes e as baias dos animais anunciam que por algumas horas de passeio o público vai se sentir no campo, distante da poluição sonora e visual dos grandes centros urbanos.
##RECOMENDA##Nos altos falantes, espalhados por vários postes do parque, o forró é quase onipresente, mas divide espaço com a tradicional voz do locutor, que anuncia leilões de animais e a programação completa do evento rural. Divididos por áreas, os animais são postos cada um em seus respectivos locais. Há os bois e as vacas nas tradicionais baias laterais, os hamsters e suas gaiolas atrativas, os cachorros e as galinhas. Os cuidadores dos animais também instalam redes para dormir nas proximidades do local e dar suporte aos bichos durante a noite.
Ainda no início da Exposição, muitos apaixonados por betas aproveitam os viveiros para levar um peixinho para casa em pequenos sacos plásticos. O público é diversos e vai desde bebês, crianças até idosos. O traje chama atenção porque muitas pessoas aproveitam o evento anual para utilizar as vestimentas tradicionais do interior, como botas e chapéus de vaqueiro. Nas laterais do parque, nas duas calçadas, os vendedores montam seus comércios. Existem grandes estandes ou pequenas barraquinhas para comercializar artigos como brinquedos, sandálias e artesanatos, além dos famosos chapéus de couro de várias cores.
O parque foi fundado em 1941 e em 2017 completa o 76º ano de atividade. Por lá, se reúnem os criadores de bovinos, equinos, caprinos, ovinos e suínos de Pernambuco que se dividem entre os pecuaristas, empresários e profissionais ligados à agropecuária. Mas, quem marca presença mesmo é o público que vai aproveitar o evento e ter contato, pelo menos uma vez por ano, com o cenário rural.
As atrações são dispostas nas laterais do parque e seguindo em frente as pessoas vão desfrutando de uma série de atividades. Há leilão de animais, passeio de pôneis para as crianças e o famoso contato direto com os bichos do campo. As placas de “não toque” são facilmente ignoradas. Ninguém se contenta em apenas olhar os animais e aproveitam o momento para fazer carinho nos bichos e registrar as cenas em fotografias.
Sorvetes por R$ 2, vendedores escrevendo nomes em copos de metal ou em artesanatos de madeira, geralmente em forma de coração, acarajé, pastel, espetinho e comidas típicas do Nordeste. Parece até uma quermesse fora de época. As opções gastronômicas são muitas e para todos os bolsos. Há quem visite o parque para olhar o bichos, para aproveitar um dia diferente em contato com o ambiente rural ou matar as saudades da infância, quando frequentava o local com os pais.
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A iluminação do local também é nostálgica e faz com que o público se sinta ainda mais acolhido como se estivesse na zona rural. São várias lâmpadas incandescentes enfileiradas nas laterais da pista que leva ao fim do parque. A última etapa do local é composta por uma espécie de praça de alimentação com direito a música ao vivo.
Para as crianças, talvez o mais esperado seja o parquinho de diversões. É a última etapa da Exposição e são dezenas de brinquedos, desde os carrinhos de bate-bate, carrossel, cama elástica, carrinhos motorizados, o samba, o mini kamikaze e antigamente a famosa “Monga”, que em 2017 não foi instalada no local. A mulher macaco também já atraiu muitos adolescentes para conferir a transformação através dos espelhos.
“Para mim, a exposição é total nostalgia. Cresci indo com meu pai e minha mãe e ainda hoje gosto de ir. Depois de todo esse tempo, mais velha, faço questão de ir todos os anos, tomar caldo de cana com pastel e comprar peixes. Também pretendo levar os meus filhos pra manter essa cultura”, diz a estudante de Medicina Synthia Barros.
Jéssica Gonçalves veio com a família de Jaboatão dos Guararapes conferir a abertura do evento, no último sábado (4), pela primeira vez. “Eu já tinha ouvido falar em outros momentos, mas por se distante de onde eu moro, sempre desistia. Esse ano decidi vir e achei o ambiente muito bom. Familiar e cheio de atrações para as crianças”, conta.
A exposição de animais é considerada a maior do norte nordeste no segmento que oferece. Dura uma semana e em 2017 segue até 12 de novembro. Os valores dos ingressos variam entre R$ 5 e R$ 12. De acordo com a organização do evento, são esperados 200 mil visitantes; 4 mil animais estão expostos e a previsão de movimentação financeira com vendas de bichos passa de R$ 30 milhões.