As ganhadoras do Prêmio Nobel até o momento - o de física, na terça, e o de química, nesta quarta-feira - desejam que sua premiação inspire outras mulheres a embarcar em pesquisas científicas, cujas distinções permanecem, sobretudo, atribuídas aos homens.
Nesta quarta-feira, a geneticista francesa Emmanuelle Charpentier, distinguida com sua colega americana Jennifer Doudna pelo desenvolvimento da "tesoura molecular", disse esperar que o prêmio traga "uma mensagem muito forte" às jovens pesquisadoras.
"As mulheres cientistas também podem ter um impacto nas pesquisas que realizam", disse a pesquisadora, cuja idade, 51, também contrasta com a geralmente canônica dos laureados.
Jennifer Doudna destacou, por sua vez, "o sentimento de muitas mulheres de que, independentemente do que façam, seu trabalho nunca será considerado como seria se fossem homens", durante uma entrevista via Zoom. Ela considerou seu prêmio "um passo na direção certa".
"Estou muito satisfeita por poder servir de modelo para mulheres jovens que planejam entrar neste campo", disse Andrea Ghez, pioneira na pesquisa de buracos negros e coganhadora do Nobel de Física, à AFP na terça-feira.
A questão é que, especialmente nas categorias de ciências exatas, como Física e Química, as mulheres permanecem singularmente sub-representadas.
"Momento histórico"
"Este é um momento histórico na história do Prêmio Nobel, porque nunca foi atribuído antes a duas mulheres (ao mesmo tempo) em Química, Física, ou Medicina", sublinhou Pernilla Wittung Stafsheden, integrante da Real Academia Sueca de Ciências.
Os números são, no entanto, teimosos. Desde a atribuição dos primeiros Prêmios Nobel em 1901, o de Física distinguiu apenas quatro laureadas de um total de 216 (1,9% de mulheres) e apenas sete de 186 (3,8%) para a Química. Medicina (5,4%) e Economia (2,4%) não vão muito melhor.
Para alguns, a explicação está na composição dos comitês do Nobel, que elaboram uma lista inicial de potenciais laureados. As mulheres representam menos de um quarto dos membros do comitê em 2020, considerando-se todas as disciplinas combinadas. Algumas disciplinas estão ainda mais distantes da paridade, como Física, com apenas uma mulher, Eva Ollson, entre seus sete integrantes.
Ela garantiu à AFP que "o trabalho dentro da comissão não é afetado" por esse desequilíbrio. Para o secretário-geral da Real Academia Sueca de Ciências, Göran Hansson, cuja instituição fornece a maioria dos membros dos comitês de Física, Química e Economia, o problema está em outro lugar.
"Perseverar, perseverar"
Já em 2017, ele negou a existência de qualquer "chauvinismo masculino substancial nos comitês de seleção do Nobel". No mês passado, disse à AFP que a prioridade era "melhorar as condições, as oportunidades para as mulheres (...) de estudar ciências e fazer carreira".
Para participar desse esforço, sua organização nomeou mais mulheres acadêmicas e tem o cuidado de não deixar de fora candidatas valiosas. Quanto aos prêmios, nada pode "mudar o fato de que ainda há muito menos mulheres do que homens na ciência".
Na França, uma pesquisadora que atua na mesma disciplina de Emmanuelle Charpentier, aclamou o merecido prêmio, vendo-o também como uma prova de um "esforço" para reconhecer o lugar da mulher na ciência.
A diretora de Pesquisa do CNRS no Laboratório de Estrutura e Instabilidade dos Genomas, Carine Giovannangeli, observa, porém, "que nos laboratórios vemos que as mulheres são muito menos consideradas do que os homens", disse à AFP.
Ela também coloca essa situação em um contexto mais amplo, o do "teto de vidro" ainda existente para mulheres em muitos ofícios. "Quando você olha para os critérios de visibilidade, ou responsabilidade, há muito menos mulheres, mas não é só a pesquisa que precisa ser mudada", sustenta. Recentemente premiada com a medalha de ouro do CNRS, a astrofísica Françoise Combes passou sua mensagem às jovens pesquisadoras: "perseverar, perseverar".