Já são dez anos longe de casa para 224 famílias que moravam no residencial Eldorado, no bairro do Arruda, Zona Norte do Recife. Na manhã de 24 de maio de 2013, o sonho conquistado ao longo de uma vida de trabalho rapidamente se transformou em um adeus abafado por um estalo. O som que assustou os moradores do bloco A1 foi causado por uma rachadura, que rasgou o prédio-caixão de cima a baixo.
O conjunto residencial de 14 blocos foi erguido na Rua da Regeneração em 1996, apenas 17 anos antes da sua desocupação. Naquela manhã, os moradores carregaram apenas os documentos na mão para deixar os apartamentos às pressas. Em minutos, o bloco A1 estava vazio e a rua repleta de pessoas que, agora, não tinham mais onde morar.
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A rachadura que cortava a laje e chegava ao térreo dava indícios de falhas graves na construção. Na mesma semana, uma inspeção feita por representantes da Secretaria Executiva de Defesa Civil concluiu que o colapso na estrutura foi causado pelo uso de materiais de baixa qualidade.
Na época, a gerência de risco da pasta informou que um laudo publicado em 2007 já havia alertado que os tijolos da base do prédio não suportariam o peso da construção. Os moradores alegam que não foram informados.
Uma análise feita pelo Instituto Tecnológico de Pernambuco (Itep) apontou que todos os blocos tinham risco de desabar. A ordem de desocupação de todos os pavimentos foi expedida e selou o fim do que era o Conjunto Residencial Eldorado. Atualmente, só vigilantes e animais se revezam entre as ruínas do conjunto.
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Uma década se passou e as famílias ainda brigam na Justiça pelo direito à indenização e por danos morais. Elas processam as seguradoras Caixa e SulAmérica e já tiveram sentenças favoráveis no Tribunal de Justiça de Pernambuco. Contudo, desde 2019, os processos no Brasil referentes a apólices securitárias foram suspensos e encaminhados para julgamento no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Sem perder a esperança
Ainda sem definição sobre a restituição do patrimônio, os antigos moradores do Eldorado recebem das empresas um auxílio-aluguel, que não é reajustado há dois anos.
Hélio Venceslau morava com a esposa e os dois filhos no bloco C2. Sem indenização e sem seu apartamento, ele acompanha diariamente o imóvel deteriorar da sua varanda alugada em frente ao que restou do Eldorado.
Hélio encara todos os dias o que um dia já foi o lar da sua família. Júlio Gomes/LeiaJá
"A gente tem um sacrifício porque todo mês é aquele lenga-lenga, as vezes [o auxílio] não é depositado na data e a gente fica nervoso porque a gente depende desse dinheiro. A gente tem esperança que finalize com esse sofrimento que a gente tanto espera", afirmou.
Como resposta ao esquecimento do caso no Judiciário e cobrar celeridade, um ato marcado às 9h desta sexta-feira (26) vai reunir os proprietários em frente ao condomínio.