Tópicos | Samba carioca

O samba, um dos mais brasileiros dos ritmos - senão o maior deles -, é consagrado por várias honrarias. Como se já não bastasse o reconhecimento popular do gênero como símbolo tácito da cultura nacional, o samba também é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, título concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); e tem um dia próprio no calendário para ser celebrado: 2 de dezembro.

Mas, apesar de ser legitimamente tão brasileiro, sendo parte expressiva da identidade nacional em seus mais diversos tipos e manifestações, o samba ainda não tem registrado em sua certidão de nascimento um lugar, neste país de dimensões continentais, para chamar de berço primeiro. Pesquisadores vêm se debruçando, e, sobretudo, divergindo sobre o tema há tempos. Como dizia  o poeta, "desde que o samba é samba".

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A teoria mais difundida, e por que não dizer, mais aceita, é a de que o ritmo teria nascido no Rio de Janeiro, na virada do século 20, através da influência de outras manifestações trazidas pelos negros escravizados no país, uma dança chamada lundu vinda da África. Estes negros, quando trazidos da Bahia para o Estado fluminense, teriam levado consigo um jeito próprio de tocar e dançar que acabou esbarrando em outras expressões vindas da Europa, como a polca, dando origem ao maxixe, marchinhas e afins.

Conta-se ainda que o primeiro samba registrado, Pelo Telefone, de Donga, teria sido criado na casa de Tia Ciata, simpática moradora da Rua Visconde de Itaúna, no Rio, que abria sua residência aos músicos da época. Hoje, já se sabe, que muitas outras canções vieram antes, mas esta foi a que mais sucesso alcançou tendo sido alçada ao posto de 'mito fundador' do samba.

Porém, como diz o escritor Lira Neto, em seu livro Uma História do Samba, tal explicação seria bem aplicada no que diz respeito ao que ele chama de "samba urbano". Este teria, espalhados pelos quatro cantos do país, vários "primos", nem sempre reconhecidos como samba. Já para outros pesquisadores, o samba teria uma origem bem diferente, ele seria uma expressão originária da cultura indígena e vinda do Nordeste.

É o que pensa o jornalista cultural, fotógrafo e cineasta Fabio Gomes. Ao ler o livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, Fabio encontrou no texto várias menções ao samba. "Considerando o que dizia Euclides, não era possível considerar que o samba teria nascido no Rio de Janeiro, já no século 20, tendo em vista ele ser de conhecimento geral da população baiana em fins do século 19", disse o jornalista em entrevista ao LeiaJá.

Em seguida, Fabio encontrou um outro pesquisador do tema, Bernardo Alves, autor do livro 'A Pré-História do Samba'. Nele, Bernardo defende que o gênero seria originário das comunidades indígenas Kariri, que viveram em vários pontos do território nordestino. Este conhecimento teria sido conservado pelos descendentes dessas populações, os caboclos, e assim, teria sido levado a outros lugares do país. Fabio explica o processo: "Eu acredito que foi no ambiente dos quilombos, onde índios, caboclos e negros podiam conviver em liberdade, fora da repressão do colonizador português, que se deu o contato maior dos negros com o samba", diz o jornalista assinalando que "o início do samba carioca está sempre ligado a alguma comunidade de imigrantes nordestinos, baianos em geral, pernambucanos por vezes".  

Durante 20 anos de pesquisas, Bernardo Alves, falecido em 2004, levantou dados que o levaram a construir sua tese. Ele encontrou a presença da palavra samba em escritos do século 17, na Arte de Grammatica da Língua Brasílica da Nação Kiriri, escrita pelo padre Luiz Vincêncio Mamiani, que vivia no alto sertão nordestino. A descoberta o fez seguir na pesquisa que encontrou adeptos como Fabio, e até mesmo o músico Gilberto Gil: "No final de 2006, o então ministro da Cultura Gilberto Gil tomou conhecimento disso (das pesquisas) e entrou em contato comigo. A pedido dele, eu palestrei em dois eventos na Bahia em 2007, abordando a hipótese da origem indígena do samba, com base nos escritos de Bernardo Alves e alguns outros autores, como Décio Freitas", conta o jornalista. Em tempo, o Samba de Roda do Recôncavo Baiano é tombado como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, pelo Iphan.

Mas, afinal de contas, de onde mesmo é que vem o samba? Para Fábio, é fácil responder: "Após ler os estudos de Bernardo Alves e vários outros autores que se debruçaram sobre o tema, eu acredito que o samba teria surgido no Nordeste em algum momento dos últimos 12 mil anos". Tempo suficiente para ter ganho magnitude tal que não nos possibilita confinar essa expressão cultural tão brasileira, de construção coletiva e - importante pontuar -, de transmissão oral, a um único espaço no mapa do país. É como cantava o lendário sambista Sinhô, do século 20: “o samba é como um passarinho, é de quem pegar primeiro”.

*Fotos: Instagram Sambando Produções

Neste próximo domingo (29) a Rua da Moeda, no Bairro do Recife, vai receber mais uma edição do Clube do Samba do Recife, com um pocket show da sambista Dorina. Em seguida, Karynna Spinelli comandará uma grande roda de samba com vários convidados, como Jorge Riba, Mira Maya (PB), Cris Galvão, Romero Ferro e Sérgio Andrade. O evento é aberto ao público e terá início às 15h.

Nascida no Rio de Janeiro e criada em rodas de samba no subúrbio de Irajá, Dorina já se firmou no cenário musical brasileiro. Para sua apresentação são aguardados sucessos de grandes sambistas do país, além das canções dos seus discos e último DVD, intitulado Samba de Fé.

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Clube do Samba do Recife

O evento é realizado mensalmente no último domingo de cada mês, há cerca de cinco anos. A iniciativa teve início no Morro da Conceição, com público médio de quatro mil pessoas, e já passou por diversos espaços culturais da cidade. A plateia é convidada a levar dois quilos de alimentos não perecíveis, que serão doados a projetos sociais.

Serviço

Clube do Samba do Recife, com show de Dorina

Domingo (29) | 15h

Rua da Moeda - Bairro do Recife

Gratuito

O cantor e compositor Diogo Nogueira estará de volta ao Recife no próximo dia 18 de outubro para apresentar o seu quinto disco, intitulado “Mais Amor”. O show, que vai acontecer no Baile Perfumado (Rua Carlos Gomes, 390, Prado), a partir das 22h, faz parte da série Clássicos da MPB e será uma oportunidade do músico apresentar ao público pernambucano seu novo trabalho.

As entradas custam R$ 100 (inteira), R$ 50 (meia-entrada), R$ 600 (mesa Mezanino com quatro lugares) e R$ 800 (mesa Pista com quatro lugares), e estão à venda em todas as lojas Nagem e na Passa Disco, no Parnamirim. Quem quiser pode também comprar pela internet, através do site www.classicosdampb.com.br, ou pedir entrega em domicílio, pelo telefone (81) 3082 2830.

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O DJ 440 vai fazer a abertura da noite, que também terá show de encerramento da banda Pouca Chinfra. Uma marca dessa turnê é que a apresentação de Diogo Nogueira conta com dançarinos da Cia. de Dança Carlinhos de Jesus, diretor de coreografia do espetáculo. 

Além de composições próprias de Diogo Nogueira, o “Mais Amor” conta com faixas criadas com exclusividade por importantes sambistas da atualidade, como Jorge Aragão, Arlindo Cruz, Xande de Pilares, Serginho Meriti e Flavinho Silva. Já o projeto Clássicos da MPB é comandado pelos empresários pernambucanos Wellington Lima e Paulo de Castro e envolve a nova geração de nomes da música brasileira.


Serviço

Diogo Nogueira – Turnê Mais Amor

18 de outubro | 22h

Baile Perfumado (Rua Carlos Gomes, 390, Prado)

R$ 100 (inteira), R$ 50 (meia-entrada), R$ 600 (mesa Mezanino com quatro lugares) e R$ 800 (mesa Pista com quatro lugares)

(81) 3082 2830

 

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