Tópicos | Sidney Rocha

A Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE), por meio da Coordenadoria de Literatura, vai realizar uma edição do curso Escrita e Leitura Literárias, mediado pelo premiado escritor Sidney Rocha. O curso é gratuito e as aulas serão realizadas no Cineteatro Bianor Mendonça Monteiro, em Camaragibe, nos dias 3, 4, 5, 6, 7, 10, 11, 13 e 14 de outubro, das 18h às 21h, e no dia 15, das 9h às 12h. As pessoas interessadas em participar devem enviar um e-mail. Ao todo, serão disponibilizadas 20 vagas para pessoas com mais de 18 anos.

O curso Escrita e Leitura Literárias tem como objetivo apresentar técnicas para a criação de histórias envolventes e personagens inesquecíveis, e está dividida em dois módulos: Estruturas Narrativas e Laboratório do Personagem.

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A dinâmica é baseada no comprometimento de cada participante, centrada em cada pessoa. Nas aulas será exigido ao participante a consciência de suas próprias capacidades, limitações, crenças, descrenças e descobertas individuais. Uma experiência do conhecimento, do intelecto, mas, sobretudo, da sensibilidade.

*Da assessoria

Em sua 12° edição, a Bienal Internacional do Livro de Pernambuco vem com o tema "Histórias para Resistir". A produção do evento literário anunciou ainda nesta quinta-feira (12), em coletiva para a imprensa, que a edição de 2019 homenageará o poeta e ativista pernambucano Solano Trindade (em memória), pioneiro na literatura afro-brasileira e responsável por fundar grupos de valorização da cultura negra e combate ao racismo. O segundo homenageado é Sidney Rocha, editor de mais de 300 títulos.

Entre os convidados estão Ana Maria Gonçalves, o filósofo francês Grégoire Chamayou, a escritora Clarice Freire, o diretor e roteirista André Vianco e a romancista Malu Simões.

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A maior feira literária do Nordeste promete cativar o público com novos ambientes, grandes nomes da literatura, mais de 120 horas de atividade e com mais de 100 expositores confirmados. 

Serviço

XII Bienal Internacional do Livro de Pernambuco - Ano 2019

4 a 13 de outubro | 10h

Centro de Convenções de Pernambuco

R$ 10 inteira, R$ 5 meia, R$ 7 social (1kg de alimento ou 1 livro não didático usado)

Sim, o escritor Sidney Rocha lançará seu romance “Fernanflor”. Evento marcado para dia 7 de outubro próximo. Tomo cuidado de passar logo recado que importa, para caso de o resto da crônica afugentar os leitores. Na infância, fui candidato a coroinha (reprovado logo na primeira missa) e aprendi com Padre João a “passar a caixinha antes de o sermão botar gente para correr” (pois, de fato, algumas senhoras sempre resmungavam e saíam quando o sacerdote condenava fofoca, avareza ou ociosidade). Não que eu vá censurar pecados ou pessoas, mas...

Digamos que tive dois irmãos-de-sangue: um eu descobri com bocado de atraso (porque mentiam ser primo), outro me foi roubado com brutal antecipação (justo por aqueles que deveriam nos proteger de perdas tão dramáticas). Nem todo gosto pela vida caseira e pela franqueza de opinião, entretanto, impediram-me de juntar também irmãos-de-vida. E não assino aquele lugar-comum, onde eles aparecem como “a família que escolhemos”. Suspeito que tais amores não são assim, tão submissos à razão, não estão prontamente sujeitos a escolhas ou contingências – eles costumam até ignorar uma má primeira impressão, resistir às agruras de segunda hora, e fazer pouco caso das pedras que rolam na esquina da velhice.

Desses irmãos-de-vida, eu raramente vejo o padrinho e diplomata. Espero, contudo, que ele continue longe, que nenhuma demanda sirva de desculpa para sua declarada simpatia pelo Recife e por profissões de fome-e-má-fama! Nem o ISIS fungando em seu pescoço me causa mais pânico do que sua tendência para ver romantismo no dia-a-dia dos amigos que andam pendurados nos ônibus e no fiado da padaria.

Tem outro irmão, que sempre faz doce, que adora ser paparicado ou ofendido pelos amigos, antes de comparecer às reuniões de sempre, nos bares de sempre, nos quais narramos as histórias de sempre, mas de onde colhemos ressacas cada vez mais constrangedoras. Ele é justo o contrário do irmão à beira do psicótico, desse terceiro querido, que mora tantinho longe e que sempre avisa que vai faltar, e que falta mesmo, e ameaça mesmo, sinceramente disposto a largar mão em quem tentar paparicá-lo ou censurá-lo – nenhuma onda politicamente correta o impede de repetir: “Tomem jeito de homem”!

Existem dois irmãos que devo ao mesmo ventre: Dona Marta os colocou no mundo, criou, educou, só não conseguiu lhes evitar as péssimas amizades e esses tais ofícios de fome-e-má-fama! Um deles me fez tio, e tio dos mais safados, porque a menina logo chegará à idade de tirar carteira de motorista e descolar emprego melhor que os nossos, e eu ainda não a visitei!

Quem já tem profissão melhor falada (e nesguinha de mais bem paga) é o irmão professor da UFRRJ, que a vida trouxe, mas manteve distante uns 1.800 km. Finalmente nos encontraremos, em outubro, durante conversa sobre crítica literária (que não poderia faltar nesta crônica que tanto insinua ocupações de baixa credibilidade). Ele está com tempo mais livre, porque esse povo de universidade pública são uns folgados – não aceitam trabalhar se não tiverem higiene, sala de aula e alunos!

E tem, enfim, Sidney Rocha; o romancista que lançará “Fernanflor” no dia 7 de outubro (caso algum leitor tenha perdido começo desta homilia, ou se desorientado entre um irmão e outro). Ele diz que me conheceu na TV Universitária, na qual eu fui produtor, apresentador, diretor e, algumas vezes, até remunerado. Perceba que seguimos na órbita das profissões pouco recomendáveis, daí que sequer me lembro de topar com ele naqueles estúdios (fiz questão de reprimir aquela fase da vida e, até agora, esse recalque só me fez bem. Amém)!

Reencontrei Sidney numa noite qualquer de 2010, não muitas horas antes da certeza: seria irmão-de-vida! De lá para cá, o Brasil perdeu duas copas; o Governo perdeu 80% de sua popularidade; o helicóptero de Aécio, 450 quilos de cocaína; eu, a saúde do fígado; Sidney quase perdeu a vida (protestando contra um figurão que acha luxuoso fechar ruas quando chega ou sai de casa); nós dois só não desperdiçamos chance de café e de botar assunto em dia.

Assunto que não tem sido outro: Fernanflor senta à mesa, junto com o romancista, e não vai embora quando Sidney se despede. Por onde passa seu criador/criatura, ou qualquer dos seus privilegiados leitores pré-lançamento, ele consegue lugar cativo e não adormecido, apropria-se dos cômodos ainda reservados aos verdadeiros “grifos convertidos em animais domésticos”, como diria Cortázar.   

Personagem pouco confiável e nada confiante em nossas bobagens, este Fernanflor cancelou nossas piadas, fez-nos esquecer das mesquinharias que de vez em pouco testemunhamos no meio literário, desdenhou de nossas próprias vaidades e expectativas, e jamais precisou nos vender o peixe – quando livro foi realmente terminado, seu protagonista ganhou carne e força que independem de qualquer pai, irmão, chancela ou contexto. Se ele não for lido ou reconhecido, pior para nós todos, que não Jeroni Fernanflor!

Apesar de depender da boa ou da má vontade de ninguém, Fernanflor leu os rascunhos desta minha crônica. Compadecido com minhas limitações (olhe que ele não é de se apiedar tão fácil), sugeriu que eu refizesse pelo menos o finalzinho, que eu aliviasse minha barra e usasse trecho do posfácio que Gonçalo M. Tavares lhe dedicou. Ele tem razão, como sempre! E, sem mais,

“O ponto final é, por vezes, um ponto, mas ponto-bala em plena testa. Nem sempre, pois, a história acaba bem; por vezes sentimos que seremos infelizes para sempre, e não há nada mais humano que esse destino que espera todas as coisas pesadas que estão em sítio alto. (...) Se só olhares para a parte clara pensarás que é tudo claro. Mas não: no mundo e nos livros, na arte, na casa, e em Sidney Rocha e neste fortíssimo livro, o claro-escuro, sempre. E é isso que nos fascina”.

Sidney e Jeroni não dividem comigo sobrenome, tampouco me deram qualquer escolha. E o irmão torto, que nem liga, resta é todo besta de orgulho!

No programa NOTA PE 04 você vai conferir uma conversa com o escritor Sidney Rocha. 

E fique ligado, toda quinta-feira tem NOTA PE no portal LeiaJá. A apresentação é de Cristiano Ramos e a realização é uma parceria do Portal com o blog Nota PE.

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Agora, nas quartas-feiras, a coluna Redor da Prosa trará entrevistas com escritores, críticos e pesquisadores. A estreia é com o romancista e contista Sidney Rocha, que recentemente lançouO Destino das Metáforas (Iluminuras, 114p.). Em breve, o portalLeiaJávai veicular também o programa NotaPE com este autor cheio de ideias e provocações – como todos bem poderiam ser.

Sidney, você já me disse que literatura tem que causar espanto, tirar o leitor do lugar. Entre os escritores vivos, alguém o espanta? E por quê?

Shakespeare está vivo ou está morto? Como Cervantes morreu, se falamos nele agorinha mesmo? O tempo é também uma territorialização (já que você anda interessado no assunto). E Bolaño, já pode se considerar um autor morto? Lógico, não se trata de um devaneio meu. Não vou abandonar a literatura pela física quântica. Ontem eu estava lendo Graciliano Ramos, Vidas secas, e estava, de novo, espantado. Mas, dando grande distância do século XIX, começando a contabilizar agora, poucos são os autores espantosos. Bolaño, que já citamos, e Don Delillo, só pra ficar nos livros mais recentes desses dois. A forma como Delillo encara o tempo, e resolve o problema emPonto Ômega, pra mim, é espantoso. Mas ninguém lerá nem um nem outro.

E o escritor Sidney Rocha, que caminhos escolheu para causar no leitor esse assombro?

Vou repetir o que disse na semana passada na bienal de Pernambuco: não estou ligado a movimentos literários, mas a movimentos peristálticos. Busco que o leitor se assombre consigo mesmo no meu texto. Deixo ali as lacunas para ele cair no abismo, que é quando a viagem parece mais interessante. E, quando o estômago revirar um pouco, é só um sinal de que ele está vivo. Dê graças! E desça mais!

Ao lermos orelhas e apresentações, impressão que fica é que praticamente todos os autores espantam e inovam...

O c(ego) que passa a mão na orelha do elefante terá uma ideia distinta daquele c(ego) que pega no rabo. Vamos ter paciência. Orelha de livro é medida gráfica. Quase nunca tem a ver com literatura. Aliás, há um conto meu, chamado “Texto de orelha”, neste livro novo, O destino das metáforas, que dá melhor ideia do que acho disso. Peça que seus leitores o leiam. Se você quer combater texto de orelhas, convença os gráficos a deceparem com todas, antes do livro chegar às livrarias. Mao faria assim, e mal não faria. Não tem orelha no Livro Vermelho. Nem nos livros da Bíblia. Mas, neste caso, acho que pelo menos Genesis e Apocalipse precisavam.

Conversamos algumas vezes sobre os clichês e fórmulas feitas da crítica. Hoje, qual o maior desafio da crítica: saber o que dizer, ou como dizer?

A crítica corre um sério risco hoje em dia, que é se estabelecer como verdade. Parece que a crítica precisa mais de ideologia, ou de injeção de novas ideologias, mais que a literatura e que outras técnicas. Mas onde há um marxismo tão bom como era aquele, o nosso? Onde a crítica vai encontrar algo pra colocar no lugar desses fundamentalismos? É preciso alguém derrubar também as torres gêmeas de marfim e recriar um novo modo de pensar. Ou seja: é preciso criar um pensamento. Muitos estão esperando na boca da toca pra o primeiro apontar o caminho. No meio da fumaça, escritores escrevem.

Os teóricos e críticos literários realmente conhecem os leitores sobre os quais tanto discutem?

Não precisam. Precisam conhecer o que leem. Críticos não são animais diagnosticadores. Não são a polícia forense da literatura, o CSI da produção contemporânea. Ajuda se encararmos que a crítica é produto autoral, muitas vezes idiossincrático como a própria ficção que construímos.  Gosto da crítica de uma resenha, por exemplo, que prescinde do livro que resenha naquela hora. Li umas resenhas tuas que têm disso. Resenha que aponta todos os caminhos. Entre o médico e o açougueiro, prefiro o de avental mais sujo. Não quero que juntem e costurem pra mim. Quero que retalhem os pedaços maiores. Eu junto como eu quiser.

Com aumento das festas, bienais e demais eventos literários, o debate em redor das relações entre arte e mercado tomou fôlego novo. O que você acha disso? Existem mesmo lugares onde não cabe a literatura?

É preciso cada vez menos literatura. Quando escrevo tenho isso em mente: “Sidney, lembre-se: ponha menos literatura nisso, menos, menos”. Então, se na literatura que se escreve é preferível menos literatura, imagine o que se pode dizer das feiras e etecetera. Elas têm outra função, mas dispensemos o romantismo disto também. É uma função mercadológica, de vendas. Agora, estas questões de arte/mercado é assunto também antigo e vencido desde os anos 60. Ou vencido de antes, desde a arte moderna. Esse Rexona sem fim. Ao invés de nos limitarmos à pergunta burguesa do “Será arte?”, que encaremos a sério a pergunta “Será mercado?”. É preciso que nos apropriemos dos meios de legitimar isto e entendermos essa merda, ao invés de ficarmos na mão de meia-dúzia de bienalistas, e três ou quatro lobistas do Nobel. Aí, sim, veremos a literatura, o cinema e a poesia nacional darem saltos mais significativos.

Conversamos sobre Fuentes e o Geografia do Romance. E você falou sobre a importância do tema. Qual seria a geografia do escritor Sidney Rocha?

Sim, gosto do tema porque nos leva para o assunto “geografia” sem essa preocupação risível dos territórios, das regiões, dos países. Recentemente falei sobre isto numa mesa sobre “Nova estética”. Eu disse que a minha geografia era a da imaginação e da memória. Isso o Fuentes diz também. É a “fronteira de cristal” – para lembrar outro livro dele – que nada tem a ver com o tema. Imaginação e palavra. Eu prefiro a memória como ponto geográfico. Mas o tema para mim se espicha quando leio o Franco Moretti, em A literatura vista de longe. A minha edição é de 2008. Ali, você encontra com muito mais humor essas aproximações. O assunto (o lugar, a geografia) é uma das bases e lastros do meu romance novo, Geronimo.

Você gosta de ratificar que não cria romances e contos, mas uma obra. Que todos os seus livros são momentos de algo que vai além de cada trabalho. Onde você acredita estar, nesta altura da jornada?

Na beira do abismo. No mesmo ponto onde comecei. Você vai me encontrar amanhã, aqui mesmo.

 

 

Sidney Rocha lançará, na próxima quarta-feira, seu novo livro, O destino das metáforas (ver informações abaixo). São dezessete bons contos, que combinam experimentalismo, velocidade e poesia, como afirma Cristhiano Aguiar. Mas, ao contrário do que o posfácio defende, tais elementos não são trabalhados “com precisão”. Porque não existem narrativas precisas ou perfeitas – caso existissem, não sobreviveriam ao tempo.

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Elementos combinados com, ou textos que resultam em precisão, seriam aqueles cujos destinos não dependem dos leitores. Se o leitor-modelo – seguindo a denominação proposta por Umberto Eco – “tem o dever de recuperar, com a máxima aproximação possível, os códigos do eminente”, pressupomos que ele cumpre apenas parcialmente o ideal de interpretação desejado pelo autor. Inversamente, uma obra “precisa” receberia de nós exatamente a leitura imaginada pelo criador, desde que estivéssemos capacitados para realizar seu projeto. Em outras palavras: todos os leitores que estivessem à altura de tal livro guardariam dele exatamente os mesmos significados.

Isso lembra a reflexão de Borges sobre a “página de perfeição”, em que nenhuma palavra pode ser alterada sem prejuízo; para o escritor argentino, “a página que tem vocação para imortalidade pode atravessar o fogo das erratas, das versões aproximativas, das leituras distraídas, das incompreensões, sem deixar a alma na prova” (em Discussão, de 1932).

Uma das características sempre listada quando se discute valores, obras-primas, clássicos e tópicos afins, é a capacidade de um texto manter seu fascínio e, ao mesmo tempo, continuar atual, universal. Ora, uma página perfeita não deixaria aquelas brechas que nem comprometem a obra e são as lacunas a serem preenchidas pelo leitor-modelo, de maneira que seja reinterpretada, atualizada – que ela continue seu eterno nascimento.

Foi irresistível o impulso de pensar nessas questões a partir de um livro intitulado O destino das metáforas. Que são as grandes metáforas, senão chaves mágicas? Através de particularíssimas imprecisões, suas imagens nos tomam com mais força do que qualquer descrição que se pretenda objetiva.

Sejamos justos, no entanto, com o crítico Cristhiano Aguiar, que sabe bem tudo isso. Quando utiliza termos como “precisão”, ele espera que entendamos como uma ênfase. Tanto assim, ele ressalta como o narrador de O destino das metáforas cria “representações desnaturalizadas”, em um “real inesgotável”, contrapondo-se às tentativas de um “mundo verdadeiro”, da “vida como ela é”. Ele se refere ao livro, ainda, como uma literatura contrabandista, que provoca o leitor a desconfiar de qualquer interpretação que se cristalize ao redor de um texto.

De uma “imprecisa” definição usada por Aguiar, podemos ter esses raciocínios que, decerto, em um posfácio “preciso”, fechado em si, não encontraríamos. Assim como saímos de O destino das metáforas, de suas brechas, atingidos por dramas cotidianos que, em relatos “perfeitos”, não teriam a mesma intensidade – até porque fracassariam duplamente, não sendo o “real”, tampouco literatura.

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