Tópicos | um ano de Temer

Com o discurso de alavancar a retomada do crescimento econômico do país, o presidente Michel Temer completa nesta sexta-feira (12) um ano à frente do Executivo Federal - inicialmente como interino e posteriormente como efetivo após o impeachment de sua antecessora, Dilma Rousseff. Conhecido pela sua capacidade de articulação, nesses primeiros 12 meses de gestão, o peemedebista consolidou uma base aliada no Congresso e, embora com discordâncias, têm conseguido avanços em relação ao pacote de reformas encaminhado ao Parlamento.

Em um momento de turbulência política e econômica, Temer lançou mão do diálogo com deputados e senadores para levar à frente uma política para acalmar os ânimos do mercado financeiro e voltar a atrair os investimentos da classe empresarial. Os ministros, inclusive, fizeram uma frente para articular as aprovações. Em vários momentos do seu governo, por exemplo, ele realizou jantares com os parlamentares para garantir que suas propostas tivessem o voto favorável da maioria. Não foram poucas, ainda, as audiências com a base para negociar pontos polêmicos dos projetos. Essa abertura para conversas com o Congresso é uma das marcas de seu governo, em contraste a Dilma, que era conhecida por manter o distanciamento e falta de diálogo com as bancadas.

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“A diferença fundamental ente os dois é que Michel Temer é um presidente parlamentarista, mas a Dilma Rousseff não era. O presidente Temer, mesmo entre assuntos polêmicos, tem conseguido agregar base parlamentar em torno do seu governo. A presidente Dilma, mesmo com a ausência de temas polêmicos inicialmente e depois com temas polêmicos na área da economia como a reforma da previdência, não conseguiu agregar uma base em torno de sua administração”, compara o cientista político Adriano Oliveira.

Com a base alinhada à sua proposta de governo, Temer conseguiu aprovações em temas polêmicos, como a reformulação do ensino médio (já sancionada), o limite para os gastos primários nos próximos 20 anos (já promulgada) e a reforma trabalhista (aprovada na Câmara e em tramitação no Senado); e agora trabalha para emplacar a reforma da previdência, lançando mão de agrados à base aliada, além de melhorar a estratégia de comunicação, com a veiculação de vídeos explicando a proposta na televisão e redes sociais.

Para o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ernani Carvalho, Temer deve manter a forma de governar em benefício dos setores empresariais, já que seu governo está ancorado nesse segmento, mesmo com a oposição de sindicatos e servidores públicos. “Essas ações [as propostas enviadas ao Congresso] repercutiram positivamente nos setores empresariais e econômicos, já que sua agenda é de liberalização econômica e passa pelas reformas trabalhista e previdenciária”, frisa.

Sem o apoio de grande parcela da população, a estratégia de governar junto com o Congresso e o mercado terá continuidade até quando permanecer no poder. “[A agenda de reformas] é muito difícil para um governo que não tem a sustentação das urnas, mas que vem conseguindo arregimentar apoios significativos do Congresso. Apesar de não ter a legitimidade das urnas, ele consegue trazer para o Congresso uma pauta passiva de discussão e aprovação, mostrando certa habilidade desse governo na execução de sua plataforma”, avalia.

Ernani Carvalho acredita que, embora tenha enfrentado um momento de crise política e econômica quando assumiu a Presidência da República, Temer vem de um contexto que deu a ele mais liberdade para governar. “O início do segundo governo Dilma foi bastante turbulento. Ela foi obrigada a fazer uma mudança radical nas diretrizes da sua política econômica, inclusive colocando várias agendas que estavam sendo sustentadas pelo seu opositor Aécio Neves. Uma presidente que tinha dois terços da população contra o seu governo e perdeu totalmente o controle de agenda com o Congresso Nacional, ficou totalmente isolada e não conseguiu implementar o seu programa de governo”.

“Já o governo Temer é completamente diferente. Primeiro porque não é um governo ungido nas urnas, mas é um governo constitucional, um governo tampão, que assume ali o papel que está estabelecido na Constituição, dado o afastamento da titular. E obviamente por não ser um governo que tenha criado um caminho eleitoral claro - não teve que fazer acordos nem negociações na pré-campanha -, ele tem um pouco mais de liberdade e adotou uma agenda política vinculada com o que ele está chamando de modernização da economia e do estado brasileiro”, ressalta.

Popularidade

Embora tenha conquistado vitórias no campo político, o Palácio do Planalto ainda não conseguiu melhorar a imagem de Michel Temer diante da opinião pública. A avaliação geral do governo é negativa para 55% da população. Na última pesquisa Ibope encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), 73% dos entrevistados disseram desaprovar a maneira de Temer governar. Entre os pernambucanos, o cenário é ainda pior: 91% de reprovação.

Para o professor da UFPE, Ernani Carvalho, a demora na melhora dos índices econômicos do país influencia a avaliação negativa do governo. “No início, Temer contava que nesse segundo semestre de 2017 a economia voltasse a crescer, mas os dados mostram que isso não vai acontecer. Embora a inflação esteja controlada, não tem havido o estímulo na classe empresarial para o aumento dos investimentos. Alguns indicadores começam a apontar certa melhora, mas ainda não é o suficiente”, explica. “A retomada do crescimento só virá em 2018, quiçá no segundo semestre. Ou seja, já uma leitura muito mais conservadora sobre a economia do que se tinha antes”.

O cientista político Adriano Oliveira acredita que diante do cenário do Brasil neste momento, qualquer que fosse o nome no comando do executivo nacional, inclusive Dilma Rousseff, teria que lidar com uma baixa popularidade. “Qualquer presidente não estaria bem avaliado neste momento se tivesse proposto reformas essas que são reprovadas pela população - 71% dos eleitores reprovam a reforma da previdência e 60% dos eleitores dizem que a reforma trabalhista só beneficia empresários. Soma-se a isso a crise econômica em que o Brasil está, com cerca de 13 milhões de desempregados, sem crescimento econômico, e é um momento em que custa a sair de uma grande recessão”, salienta.

“Qualquer presidente teria o mesmo problema. Você tem escândalo de corrupção, recessão, demora em recuperar o crescimento econômico e as reformas impopulares. No entanto, a impopularidade externa não está afetando a popularidade interna, no Congresso”, frisa ele, lembrando que a bancada governista ainda é maioria, mesmo diante de pressões. “Inclusive o Lula estaria certamente hoje com baixa popularidade. Não como a do presidente Temer, mas teria”, aponta.

Nas ruas, o movimento Fora Temer não tem conseguido a mesma expressão que o Fora Dilma. Oliveira minimiza a ausência da população nas manifestações. “Um segmento da população – as classes A e B – tiveram maior disponibilidade de sair às ruas contra o governo Dilma, ao contrário da ausência de disponibilidade das classes C e D para sair às ruas contrárias ao governo Temer”. Segundo ele, não é possível dizer, diante disso, que Temer é menos impopular que Dilma antes do impeachment. “Nós tivemos uma manifestação mais nítida contra o governo Dilma. Isso é fato. Mas não podemos desprezar os dados de opinião pública, que 71% declaram ser contra a reforma da previdência ou a reprovação do governo Temer. Nós não podemos dizer que as pessoas estão satisfeitas com o governo Temer porque não estão nas ruas”, conclui.

Mesmo que consiga melhorar sua imagem no decorrer dos próximos meses, Michel Temer já adiantou que não pretende ser candidato à reeleição nas eleições do próximo ano e, inclusive deixará a vida política. "Aposentar-me nunca, jamais, mas eu não tenho intenção de continuar a atividade política, já cumpri meu papel", afirmou em entrevista recente à Rede TV. "Só espero que as reformas deem certo e que não haja necessidade de pedirem para eu continuar", disse.

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