Tópicos | Albert Uderzo

O guerreiro gaulês Asterix, personagem-título da HQ francesa criada por René Goscinny (1926-1977) e Albert Uderzo (1927-2020), ganhará uma minissérie na Netflix em 2023. De acordo com informações divulgadas pela plataforma de streaming, a aventura será uma animação em 3D.

A série terá como inspiração a HQ "Asterix – O Combate dos Chefes" (1964), que narra a batalha dos guerreiros gauleses contra os romanos, em uma disputa por liderança de território. Diante deste cenário, os heróis Asterix e Obelix precisarão lidar com o desaparecimento do druida da aldeia, Panoramix, responsável por fabricar as poções mágicas de super força.

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O novo programa da Netflix será dirigido por Alain Chabat, que trabalhou em 2002 no live-action "Asterix e Obelix: Missão Cleópatra", e produzido por Alain Goldman, responsável por "Missão Babilônia" (2008), "Amor e Ódio" (2010) e "O Oficial e o Espião" (2019).

As histórias de Asterix são uma paródia da cultura francesa e foram publicadas pela primeira vez em 1959, na primeira edição da revista em quadrinhos Pilote. Após a morte de Goscinny, Uderzo prosseguiu com as publicações até 2010, quando anunciou aposentadoria. As aventuras do herói colecionam mais de 380 milhões de vendas pelo mundo, e já foram publicadas em mais de 80 línguas. Além disso, a franquia também conta com mais de dez filmes em animação e quatro live-actions.

Desenhista de traço genial, Albert Uderzo faleceu nesta terça-feira (24) com a certeza de que Asterix e seus amigos gauleses, que ele criou em 1959 com René Goscinny, símbolo da cultura francesa conhecido internacionalmente, sobreviverão por um longo tempo.

"Eu não sou reconhecido nas ruas. Os personagens podem se tornar mitos, mas nós não, seus pais", dizia Uderzo.

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Carregando o peso dos anos com equilíbrio e desapego, Albert Uderzo continuou sendo um homem pouco conhecido, de caráter reservado e comportamento tranquilo, preferindo falar sobre seu trabalho do que sobre si mesmo.

Grande entusiasta da Ferrari (quase 20 carros da marca passaram por sua garagem), filho de um casal de imigrantes italianos, morava em uma mansão em Neuilly-sur-Seine.

Era rico graças aos cerca de 370 milhões de quadrinhos vendidos em todo o mundo (traduzidos para 111 idiomas ou dialetos), 15 filmes (animação e cinema), um parque temático, videogames e produtos derivados às centenas.

A morte em 1977, aos 51 anos, do grande roteirista René Goscinny, durante um teste de estresse realizado para um exame de saúde, o afetou bastante. Juntos lançaram 24 álbuns. Graças a eles, os quadrinhos conquistaram o público em geral.

Uderzo então deixou a Dargaud, sua editora histórica, para fundar sua própria casa, as edições Albert-René, e assumiu sozinho a publicação das histórias de Asterix.

"Não me fizeram nenhum presente. Sim, é claro, eu sofro de um complexo 'Goscinny', mas eles também o criam para mim", disse ele em referência à imprensa, que considerava suas histórias inferiores às da dupla, mas que, no entanto, fizeram sucesso com o público.

Como Hergé com Tintim, Uderzo não queria um novo Asterix após sua morte. Ele finalmente mudou de ideia. Em 2011, sofrendo de artrite reumatoide na mão direita, passou o bastão (em acordo com Anne Goscinny, detentora exclusiva dos direitos de seu pai) a autores mais jovens, enquanto acompanhava de perto o trabalho deles, mais uma vez coroado de sucesso.

"Minha mão não foi feita para este trabalho", dizia. "Olhe para as patacas que eu tenho! São mãos de açougueiro, tenho ossos grandes, como meu pai. Pintei todos os meus desenhos com pincel, o que exige muita habilidade. Prejudiquei minha mão trabalhando assim".

Conflito com a filha

Nascido em 25 de abril de 1927 em Fismes (nordeste), Albert nasceu com 12 dedos. A anomalia foi corrigida em uma operação. Seu pai era um luthier. A infância em Paris foi modesta, mas feliz.

O jovem, que era daltônico, descobriu o desenho na editora Société, onde publicou "Les pieds nickelés". Após a guerra, lançou heróis como "Belloy, l'invulnérable", "Flamberge", "Clopinard" ou "Arys Buck".

Era um período difícil: "viver dos quadrinhos era muito difícil na época, e eu tinha que desenhar uma quantidade astronômica para pagar as contas no final do mês".

Em 1951, conheceu Goscinny, o início de uma colaboração fraterna de 26 anos. Criaram "Jeahn pistolet" o corsário, depois "Oumpah Pah" pele vermelha.

Em 1959, em Bobigny, nos subúrbios de Paris, onde Uderzo vivia, entre cigarros e álcool, inventaram um novo universo todo em "ix", com um bando de armoricanos obstinados. A ideia veio das estadias na Bretanha.

Anti-arquétipo do gaulês viril, Astérix apareceu na primeira edição da revista "Pilote", em outubro de 1959, na página 20. Nesse mesmo ano, Uderzo criou, com o roteirista Jean-Michel Charlier, "Les aventures de Tanguy et Laverdure", um sucesso (foi o irmão mais novo de Albert, Marcel, que cuidou de parte das cores).

Em 1961, foi lançado "Asterix o gaulês", o primeiro álbum de uma longa série. Rapidamente, o desenhista com traços expressivos passou a se dedicar apenas às aventuras do gaulês de nariz grande e seus amigos, arquétipos dos franceses.

Em 2008, "La zizanie", título do 15º álbum, resumiu o conflito entre Albert Uderzo e sua única filha, Sylvie. Eles brigaram a respeito da aquisição pela Hachette Livre de 60% da editora Albert-René, da qual Sylvie é proprietária dos 40% restantes.

Após sete anos de guerra aberta e processos legais, reconciliaram-se em 2014, mas, segundo ele, esse caso "acabou comigo".

O desenhista e escritor Albert Uderzo, co-criador de Asterix, irá apresentar uma queixa contra sua filha e seu genro por "violência psicológica", anunciou seu advogado à imprensa. "Decidimos fazer com que Sylvie Uderzo e seu marido compreendam que não vamos deixar que façam o que quiseram", disse Pierre Cornut Gentille. Sylvie Uderzo denunciou em 2011 uma pessoa desconhecida por abuso de fraqueza de seu pai.

O conflito familiar entre Uderzo e sua filha começou em 2007, e o que está em jogo é um império financeiro de dezenas de milhões de euros. Tudo começou quando, Sylvie Uderzo e seu marido Bernard de Choisy foram despedidos da Editora Albert René, responsável por publicar as histórias de Asterix, fundada em 1977 após a morte do outro autor René Goscinny.

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Sylvie Uderzo, que se opunha à venda da editora ao grupo Hachette (efetivada em 2008), apresentou uma queixa por "abuso de fraqueza", acusando alguns membros da comitiva de seu pai, agora com 86 anos de idade, de tirar proveito de sua condição e influenciar a gestão do seu trabalho e sua fortuna.

O pai de Asterix sempre negou estar em um estado de fraqueza. "É um tipo de assédio. Isso é doloroso (...) Nunca esperava algo do tipo", confidenciou recentemente à AFP. A disputa é acirrada já que Asterix está sentado sobre uma pilha de ouro. O famoso gaulês é o quadrinho francês mais vendido (mais de 352 milhões de álbuns) e mais traduzido (111 línguas e dialetos) em todo o mundo.

O último álbum, o primeiro sem Uderzo, foi lançado em 24 de outubro em 15 países e 23 idiomas, incluindo catalão, galês, escocês e irlandês. Uderzo, que aposentou os seus pincéis, passou a responsabilidade da criação a Jean-Yves Ferri (roteiro) e Didier Conrad (desenho) para sua 35ª aventura, Asterix entre os Pictos.

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