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A 11ª edição da Análise Econômico-Financeira dos Clubes Brasileiros de Futebol, feita pelo Banco Itaú, mostrou que o cenário do principal esporte do País poderá mudar em um futuro próximo. Com os dados obtidos em 2019, o domínio começará a ser daqueles que entenderam que o equilíbrio financeiro e a gestão eficiente são partes necessárias para o desempenho esportivo, superando o grupo que ainda vive no século passado, repetindo velhas e mal sucedidas práticas.

Athletico-PR, Bahia, Fortaleza, Ceará e Goiás demonstraram forças para rivalizar com adversários vencedores no passado, mas que buscam apenas atitudes pontuais para conseguirem resultados imediatos, somam gastos excessivos e inúmeras dívidas que jamais são pagas, como o Vasco, Botafogo, Fluminense, Cruzeiro, seguidos de perto por Corinthians, São Paulo, Internacional, Atlético Mineiro e Santos.

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O trio que logo compreendeu que a organização e o equilíbrio financeiro são a chave para um futuro vencedor é formado por Flamengo Grêmio e Palmeiras. Apesar das formas diferentes de administração, os três vão atrás da sustentabilidade do clube.

Outra forma que ameaça os clubes que vivem no século passado, segundo o documento, é o clube-empresa implantado no Red Bull Bragantino, campeão da Série B do Brasileiro no ano passado, e candidato a substituir algum grande que perca a majestade.

Segundo a análise do Itaú, ganhador de quatro dos últimos cinco títulos brasileiros, o futebol paulista vê apenas o Palmeiras com uma boa administração. O alviverde perdeu eficiência em relação a 2018, teve redução de receitas e geração de caixa, aumento de dívidas, manutenção dos elevados investimentos. Tanto é que a decisão do clube foi de reduzir custos e ajustá-los a uma realidade mais austera em 2020. "Mesmo com desafios, tudo certo com o Palmeiras", apontou o estudo. "Ainda assim trata-se de uma estrutura forte, sustentada por um bom leque de receitas e com possibilidades reais de redução de custos e despesas."

O arquirrival Corinthians vive momento totalmente distinto. "Desastre à vista." Este foi o título do relatório para exemplificar o momento vivido pelo time de Parque São Jorge. "O ano de 2019 foi desastroso para o Corinthians sob o ponto de vista financeiro. E não foi um acaso nem o primeiro da série. O problema está nos custos e despesas, que seguem crescendo em ritmo alucinante. E isto força o clube a buscar solução na venda de atletas. E este é um roteiro típico daqueles filmes de catástrofe: tudo está bem quando tudo está bem. Daí, no ano em que não há vendas relevantes de atletas, pronto, a situação desanda."

O São Paulo "vive há dez mil anos". "Em 2019, o São Paulo resolveu não apenas repetir os erros comuns a tantos clubes, como aumentou a carga. Foi um clube que aumentou substancialmente suas dívidas, ficou longe de resultados esportivos relevantes, cometeu tantos velhos erros das gestões do futebol, e ainda foi incapaz de alavancar as receitas recorrentes. O futebol gasta, o marketing olha e o financeiro corre para tentar pagar as contas. Era assim na época da bola de capotão. Hoje não dá mais."

Já o Santos manteve a aposta de conseguir equilibrar o ano com a venda de jogadores. "O Santos precisa entender que há limites de gastos e investimentos, e que a venda de atletas não pode ser o pilar. E então vem o desafio de fazer mais receitas recorrentes, seja em patrocínio, seja em relacionamento direito com os torcedores."

No Rio, a desigualdade entre os clubes deverá ser maior ainda em 2020, com o Flamengo não tendo "nem sinal no retrovisor" de algum adversário, enquanto o Fluminense tem uma "tempestade à vista", o Botafogo com um futuro "dramático" e o Vasco com chances cada vez menores de sair de sua eterna crise.

Com base nos balanços financeiros publicados pelos clubes brasileiros em abril deste ano, alguns profissionais do Itaú BBA fizeram uma análise detalhada da relação entre dívidas e gastos de 27 clubes brasileiros, entre eles Náutico, Santa Cruz e Sport. O estudo constatou diferentes cenários para o trio de ferro da capital pernambucana. Enquanto os alvirrubros são colocados em um cenário preocupante com gastos crescentes e receitas em queda, rubro-negros receberam destaque pela gestão que diminuiu o passivo do clube no ano passado.

Segundo os profissionais responsáveis pela análise, ela foi desenvolvida apenas com base nas informações públicas, sem que se tenha tido contato com clubes, por isso, em alguns casos, as informações levantadas ainda são deficitárias. Após a divulgação, ainda é feita uma projeção futura para os clubes em caso de ausência de mudanças administrativas.

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Náutico:

Para os alvirrubros, o balanço apresentado é de crescimento na receita para um total de R$ 18,4 milhões em 2015, R$2,4 milhões a mais em relação ao ano anterior, mas em equiparação com a receita, os gastos do clube também aumentaram e ultrapassaram o saldo positivo fazendo que o Náutico fechasse pelo segundo ano com déficit financeiro. O balanço, inclusive, mostra que os elevados gastos no Timbu se mantém desde a participação do time na Série A nos anos de 2012 e 2013. Quando o clube teve suas maiores receitas, o balanço mostrou também gastos que se aproximavam do que era disposto em caixa. Ainda é apresentada uma análise da folha de pagamento que está acima dos valores estabelecidos pelo Profut, que prevê a destinação de no máximo 80% da renda bruta do clube para o futebol. Atrasos salariais e pagamentos relativos ao passado são apontados como maiores fatores para o crescimento de dívidas e impostos.

Ao final é feita uma análise sobre a situação alvirrubra:

“Na Corda Bamba

O Náutico parece não se conhecer. Clube de alcance regional, tem acesso limitado a Receitas, mas ainda assim apresenta Custos e Despesas acima das receitas há dois anos. Isso só dificulta o clube de manter as contas em dia.

Se nada for feito para reverter o quadro, uma possível adesão ao Profut vai drenar o caixa do clube e pode colocá-lo em risco num futuro próximo. Mas sem isso fica impossível se equilibrar”.

Santa Cruz:

Em relação ao tricolor, a receita do clube foi de R$15,1 milhões e teve uma queda em relação aos anos de 2014 e 2013, quando teve R$18 milhões e R$19 milhões, respectivamente. Mesmo com aumento nos ganhos dos direitos de TV, o clube teve quedas consideráveis relativas à bilheteria e publicidade. A baixa receita refletiu nos gastos do clube, que para subir para a Série A aumentou os Custos e Despesas e fechou, pelo segundo ano consecutivo, com uma geração de caixa negativa. O saldo negativo é creditado a dívidas bancárias, que foram o principal ponto utilizado para ajustar as contas do clube em 2015. Porém, em demais dívidas, foi apontada uma queda nos números. Os corais, que também aderiram ao Profut, diferentemente do Náutico, apresentam uma folha que ainda se mantém dentro dos padrões estabelecidos.  

Ao final também é feita uma análise sobre o Santa Cruz:

“Procurando se encontrar

O Santa Cruz em 2015 deve ser analisado sob duas óticas: I) Esportivamente foi muito bem, especialmente considerando a capacidade de investivento, pois dos clubes analisados é um dos menores orçamentos; II) Financeiramente foi bastante complexo, pois a geração de caixa foi negativa, teve pressão de giro relevante, muitas saídas de caixa e ainda teve que se apoiar em bancos para fechar suas contas.

Vai contar com o crescimento de receitas de quem chega a Série A para organizar a casa. Ou não, caso utilize o dinheiro apenas para reforçar o elenco e tentar permanecer na divisão de elite, o que não é recomendado se pensarmos estratégias de longo prazo.

Mais um clube que tem a vida difícil de quem tem poder financeiro limitado.”

Sport:

O Leão apresentou em 2015 sua maior receita em relação a 2011, 2012, 2013 e 2014, chegando a casa dos R$88 milhões. Além disso, o clube conseguiu uma baixa de 84% para 66% em relação a folha de pagamento, mas houve aumento de outras despesas que segundo o Itaú não foram detalhadas no balanço divulgado pelo clube, que fizeram que, mesmo com o aumento das receitas, houvesse também um aumento dos custos e despesas. Ainda se mantendo dentro do que recebeu, o saldo positivo foi mínimo. 

A análise feita para o sobre o rubro-negro é a seguinte: 

“Olhando para o Futuro

O Sport apresenta uma gestão organizada, controlada, que mantém as finanças equilibradas.

2015 foi um bom ano nesse sentido, onde vimos a equipe reestruturar suas dívidas tributárias, ao mesmo tempo que se utilizou de adiantamentos para reforçar seu caixa e entrar em 2016 pronto para manter uma equipe competitiva, mas dentro de suas possibilidades.

É importante que o clube mantenha os pés no chão e suba de patamar de forma consciente”.

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