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Um homem, de 38 anos, foi agredido e ameaçado após se declarar ateu no trabalho. Na ocasião, o profissional foi convidado por um Frei a participar de um momento de oração promovido pela empresa. Mesmo participando do momento religioso, ele revelou a descrença, fato que gerou perseguição na empresa.

O casos ocorreu no município de Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul. De acordo com o site Metrópoles, o pai do proprietário do local iniciou as agressões psicológicas e físicas contra o funcionário. Além disso, ainda segundo o veículo, a vítima chegou a ser ameaçada de morte por conta do ateísmo. 

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A vítima registrou boletim de ocorrência na última terça-feira (23). Mesmo assim, o funcionário, aconselhado pelo filho do agressor, deixou a cidade de Sidrolândia, que fica a 68km de Campo Grande.

Um blogueiro ateu foi assassinado com golpes de machado nesta terça-feira na região nordeste de Bangladesh, o terceiro caso similar no país desde 26 de fevereiro.

"Agressores encapuzados mataram, com machadadas, Ananta Bijoy Das na cidade de Sylhet esta manhã", afirmou o chefe de polícia da localidade, Faisal Mahmud.

Ananta Bijoy Das escrevia para o site Mukto-Mona (Pensamento Livre), para o qual também trabalhava o blogueiro americano de origem bengalesa Avijit Roy, assassinado em 27 de fevereiro em Dacca, informou à AFP Imran Sarker, presidente da Associação de Blogueiros de Bangladesh.

"Ele havia recebido ameaças extremistas por seus últimos textos. Estava na lista de alvos", disse Debasish Debu, um amigo de Das, à AFP.

Debu fez referência à existência de uma lista de blogueiros ameaçados por extremistas islamitas.

O diretor do Mukto-Mon, Farid Ahmed, confirmou que Das escrevia para o site.

O assassinato de Das aconteceu uma semana depois da Al-Qaeda para o subcontinente indiano (AQIS) reivindicar a morte do blogueiro americano Roy.

Roy era um fervoroso defensor da laicidade em um país no qual 90% dos 160 milhões de habitantes são muçulmanos. Um islamita está detido pelo assassinato.

Outro blogueiro, Washiqur Rahman, foi assassinado a facadas em 30 de março em Dacca. Dois estudantes de uma escola religiosa foram detidos pelo crime.

Um blogueiro americano de origem bengalesa foi assassinado, nesta quinta-feira (26), com golpes de machado em Daca, depois de receber, segundo a família, várias ameaças de islamitas. Avijit Roy, de nacionalidade americana, era ateu e fundador do blog Mukto-Mona (livre pensamento) e um fervoroso promotor do laicismo no país, onde 90% dos 160 milhões de habitantes são muçulmanos.

Sua esposa ficou ferida no ataque cometido em plena rua por dois agressores não identificados. "Ele faleceu quando era levado para o hospital. Sua esposa ficou gravemente ferida e perdeu um dedo", afirmou Sirajul Islam, chefe da polícia local.

O casal retornava em um riquixá de uma feira do livro quando os dois homens atacaram e arrastaram as vítimas para as calçadas, antes dos golpes de machado. Roy é o segundo blogueiro de Bangladesh morto em dois anos e este foi o quarto ataque contra um escritor desde 2004.

Organizações islamitas extremistas exigem a execução pública de blogueiros ateus e a aprovação de leis que proíbam qualquer crítica ao islã. O pai do blogueiro afirmou que ele havia recebido muitas ameaças por e-mail e nas redes sociais por seus textos. "Era um humanista laico que escreveu uma dezena de livros", afirmou Ajoy Roy à AFP. Entre os livros escritos por Avijit Roy estava "Biswasher Virus" (O Vírus da Fé).

Em 2013, o blogueiro ateu Ahmed Rajib Haider também foi assassinado em circunstâncias similares. Desde então, grupos islamitas acusaram outros blogueiros militantes de blasfêmia. Como reação, o governo laico da primeira-ministra Sheikh Hasina prendeu alguns blogueiros e bloqueou suas páginas, ao mesmo tempo que anunciou medidas para aumentar sua proteção.

Um grande júri da Carolina do Norte acusou de homicídio doloso Craig Hicks, autor de disparos que mataram três estudantes muçulmanos, incluindo um casal, informou a polícia nesta terça-feira (17). Hicks, de 46 anos, e que se dizia ateu militante, foi acusado pelo homicídio, na semana passada, de três muçulmanos moradores da cidade universitária de Chapel Hill.

Morreram no ataque Deah Shaddy Barakat, de 23 anos; sua esposa, Yusor Mohammad, de 21, e a irmã dela, Razan Mohammad Abu-Salha, de 19. Todos eram originários de Raleigh, capital do estado. A polícia informou que o ataque pode ter sido provocado por uma longa briga de vizinhos motivada pelo estacionamento, embora não se tenha descartado a possibilidade de que se trate de um crime de ódio.

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Uma página no Facebook, atribuída a Hicks, mostrava dezenas de mensagens antirreligiosas, inclusive uma no qual se autodenominava de "antiteísta", dizendo que ele tinha uma "profunda objeção contra a religião", além de desenhos denunciando o cristianismo, o Islã e a Igreja mórmon.

Hicks, que se entregou depois dos disparos nas adjacências da Universidade da Carolina do Norte, está detido, sem direito à fiança, na prisão do condado de Durham. Milhares de pessoas se concentraram no campus, na semana passada, para um dia de luto em memória das vítimas.

Nas segundas-feiras, a coluna Redor da Prosa traz crônicas, que não devem ser lidas por gente séria demais, sob hipótese alguma.

Eu somente assistia ao bate-boca, coisa repetida, um conhecido médico e um pastor discutindo a existência de Deus. Éramos convidados do programa de rádio de Geraldo Freire, teoricamente escolhidos para o tema “perspectivas 2011”. Não demorou para o mote inicial ser esquecido, e pensei em ficar como coadjuvante do papo. Isso até que, com olhar cúmplice, de quem tinha certeza da parceria, o médico solta:

– Quem não é ateu é ignorante!

A lógica era simples, muito, simplória mesmo: “se alguém tem conhecimento de ciências, estuda a história da Bíblia e das religiões, não acredita em Deus, não segue igreja alguma”. E completou, ainda me reservando aquele sorriso camarada, que nosso “povo precisa é ler”.

– Imaginem, Geraldo e ouvintes, um mundo sem Deus no coração, como seria? – perguntou o religioso, levantando a bola para o Doutor, que se empolgou:

– Ora, mundo bem melhor, sem tanta guerra, sem o povo se matando em nome de um Deus único e verdadeiro, com pessoas mais cultas, mais sofisticadas.

Foi quando me confessei cristão, sujeito que deixou de posar de ateu faz bocado de tempo. O que antes era cumplicidade, tornou-se um balançar de cabeça decepcionado. Para o médico, antes, este jornalista que publica a coluna Redor da Prosa era “um jovem muito inteligente”, que ele acompanhava desde os tempos do programa de debates na TV, quando eu demonstrava “muita cultura e jogo de cintura”. Tais gentilezas, ditas nos bastidores, foram substituídas pela resposta condescendente e menos grosseira que ele achou:

– Cristiano, você é sabido e tenho certeza que lê, mas ainda é muito jovem, moço demais.

Alguém já argumentou que não existe maior fé que a do ateu. Será apenas uma frase de efeito? Nosso respeitado médico afirmara antes que suas convicções foram construídas sobre muitas leituras, incontáveis. Não era por falta de conhecimento, portanto, que ele desconsiderava as civilizações politeístas e as comunidades descrentes, gente que, mesmo permitindo várias divindades ou negando todas, não deixou de se matar. Nem era por desinformada teimosia que ele também esquecia quantos dos intelectuais mais respeitados da história foram, são e continuarão sendo crentes em algum deus (mesmo depois dos cabelos brancos).

São diversos os caminhos que levam alguém como eu a acreditar em Deus. Escola, família, Bíblia, Hollywood... E, contrariamente ao que pensava meu interlocutor naquela manhã, foram os livros que me reconciliaram com o Cristianismo. Não só as obras teóricas, mas também a literatura, a ficção.

Conviver com os livros me levou a assumir a tese de Ricoeur: é somente através das narrativas que nós compreendemos o que nos cerca, elas nos permitem ter visões totalizadoras do mundo. As nossas memórias são histórias que montamos, são os pedaços (vividos ou imaginados) que selecionamos, organizamos e vestimos de credibilidade. As ideias que juntamos sobre o universo não são diferentes. Sejam científicas, metafísicas ou religiosas, as narrativas refiguram o que está em nosso redor, são decisivas para aquilo que entendemos como realidade.

Ou, nas sintéticas frases que Contardo Calligaris repetiu em nosso recente encontro no Festival Recifense de Literatura, a realidade nada mais é do que a ficção em que decidimos acreditar, e as memórias são as narrativas que estamos sempre inventando e reinventando para explicar quem somos.

Podemos crer em Deus, ou que milhões de fenômenos cósmicos ocorreram ao acaso para que a vida humana fosse possível; temos o direito de acreditar que existe liberdade, e que ela reside no insubordinado coração humano, ou que a democracia é chave indispensável para conquista de um mundo livre; é escolha nossa dedicar à família a razão de todas as coisas, ou depositar nossa fé no mercado. Seja lá como for, sempre criamos narrativas, fábulas sem as quais seria inviável levantarmos nossos castelos. E, dependendo de quem vê, tais castelos são de areia ou da argamassa mais sólida.

O médico estava resolvido a simplificar a questão para chamar todos os crentes em Deus de ignorantes, assim como minha Fé exige que eu faça escolhas, tome por minhas Verdades alguns tijolos entre tantos outros disponíveis.

As pessoas se matam não só por causa deste Deus que está comigo, tampouco pela laicidade do Doutor que odeia religiões. Elas sempre se violentaram, por terra, por causa da cor da pele, do gênero, da sexualidade, do idioma, do time de futebol. Final das contas, não sabemos é lidar com as diferenças.

Em A conquista da América, Todorov afirma que “quando dizemos que Colombo tem fé, o objeto é menos importante que a ação: sua fé é cristã, mas tem-se a impressão de que, se fosse muçulmana, ou judaica, ele teria agido do mesmo modo”. A força da crença (e não o tipo) é que movia suas aventuras. E sua ignorância sobre o índio não decorria de seus princípios, mas porque nunca saiu de si mesmo.

Descobrindo um continente, ou debatendo em programa de rádio, somos movidos pelas crenças (mesmo que seja a fé na ausência de fé), e fazemos uso de narrativas para explicar nossas visões do mundo. A ignorância não reside no fato de ser ou não ateu. Empedernida, ela resta é nesta indisposição de sairmos de nós mesmos, de nos colocarmos no lugar do outro e, assim, descobrirmos como somos semelhantes em nossas divergências.

Ou não. Porque isso é uma crônica, apenas. Uma narrativa, onde decidi começar a semana mais sério do que de costume, e bem mais generoso do que tenho sido.

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