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O britânico Roger Penrose, o alemão Reinhard Genzel e a americana Andrea Ghez foram anunciados nesta terça-feira (6) como os vencedores do Prêmio Nobel de Física de 2020 por suas pesquisas sobre os buracos negros".

Metade do prêmio foi atribuída a Penrose, de 89 anos, por demonstrar "que a formação de um buraco negro é uma previsão sólida da teoria da relatividade geral", enquanto a outra metade será dividida entre Genzel, de 68, e Ghez, de 55, pela descoberta de um "objeto compacto e extremamente pesado no centro de nossa galáxia", explicou o júri do Nobel.

Andrea Ghez é a quarta mulher a vencer o Nobel de Física, a categoria com o maior predomínio masculino entre as seis que integram o prêmio.

Os buracos negros supermassivos são um enigma da astrofísica, sobretudo, pela maneira como se tornam tão grandes. Sua formação é objeto de muitas pesquisas. Os cientistas acreditam que devoram, a uma velocidade sem precedentes, todos os gases emitidos pelas galáxias muito densas que os cercam.

Como são invisíveis, os buracos negros podem ser observados somente por contraste, com a análise dos fenômenos que geram a seu redor. Uma primeira imagem revolucionária foi revelada ao mundo em abril de 2019.

A astrofísica e a física quântica, que se concentra no estudo do infinitamente pequeno, eram consideradas favoritas para o Nobel de 2020.

Ao explicar, na década de 1970, que os buracos negros se dissolviam como uma aspirina em um copo de água, o astrofísico britânico Stephen Hawking revolucionou a compreensão de como o Universo funciona.

"O legado científico mais importante de Hawking é sua ideia de que os buracos negros se dissolvem lentamente como a aspirina em um copo de água", explica Lisa Harvey-Smith, da Universidade de Nova Gales do Sul.

Esta teoria "transformou a teoria do buraco negro, foi um verdadeiro choque", disse à AFP Patrick Sutton, chefe da equipe de física gravitacional da Universidade de Cardiff.

Com base na relatividade geral publicada em 1915 por Albert Einstein, que permite explicar o funcionamento dos buracos negros, nada poderia escapar desses monstros.

O físico e cosmólogo britânico Stephen Hawking teorizou em 1975 que os buracos negros poderiam emitir radiações, um fenômeno chamado "radiações de Hawking".

Uma descoberta que Martin Rees da Universidade de Cambridge descreve como "momento eureka" de Stephen Hawking.

"Na verdade, os pequenos buracos negros não são negros! Hawking mostrou que eles emitem radiação intensa", explica à AFP Aurélien Barrau, do Laboratório de Física Subatômica e Cosmologia do CNRS na França.

- 'Intuições extraordinárias'-

Para o pesquisador, Stephen Hawking "foi um visionário de muitas maneiras e teve intuições extraordinárias".

Na opinião de alguns cientistas, essa teoria teria valido a Stephen Hawking o Prêmio Nobel se ela pudesse ter sido observada. O que é impossível hoje: "não tivemos a oportunidade de estudar um buraco negro de perto", explica Patrick Sutton.

Fala-se de buracos negros desde o século XVIII, mas nenhum telescópio ainda conseguiu encontrá-lo.

Um buraco negro é um objeto celeste que tem uma massa extremamente grande em um volume muito pequeno. Existem dois tipos: buracos negros estelares, que se formam no final do ciclo de vida de uma estrela, e buracos negros supermaciços no centro das galáxias, que pesam entre um milhão e bilhões de vezes o Sol.

"Sua teoria permitiu mostrar que os buracos negros são objetos realmente muito complexos. Para descrevê-los corretamente, devemos usar simultaneamente todas as teorias fundamentais da física", diz Aurélien Barrau.

Esta descoberta sugere uma ponte entre as duas grandes teorias do século XX: a teoria da relatividade geral, descrevendo as forças em ação no Universo, com a mecânica quântica, que descreve o mundo das partículas e infinitamente pequena.

"Graças à mecânica quântica, Hawking percebeu que os buracos negros, esses objetos que são feitos de gravidade, podem realmente emitir partículas", explica Patrick Sutton. "Este foi o primeiro caso em que um processo físico ligou a teoria clássica da gravidade à mecânica quântica", acrescenta.

Na cerimônia de abertura dos Jogos paraolímpicos de 2012 em Londres, diante de 80 mil espectadores entusiastas, Stephen Hawking disse: "Olhem para as estrelas e não para os seus pés. Tentem entender o que você vê e pergunte-se o que faz com que o Universo exista, seja curioso".

"Sua fama não deve ofuscar suas contribuições" para a física, insiste Martin Rees: "Ele, sem dúvida, fez mais do que qualquer um depois de Einstein para ampliar o saber sobre a gravidade".

Dois cientistas chilenos recriaram, através de simulações de computador, o crescimento de alguns dos primeiros buracos negros do universo, desde bilhões de anos atrás até hoje.

Com isso, conseguiram esclarecer como os primeiros buracos negros supermaciços - "aqueles que se desenvolveram durante o primeiro bilhão de anos do cosmo" - puderam crescer tão rápido, afirmou Joaquín Prieto, pesquisador do departamento de Astronomia da Universidade do Chile, em um comunicado divulgado nesta quarta-feira.

"O transporte de massa no centro das galáxias permitia o crescimento dos buracos negros, que se convertiam em buracos negros supermaciços que hoje são observados como quasares" (objetos astronômicos muito luminosos e distantes), acrescentou.

Prieto e seu colega Andrés Escala, professor na mesma universidade, concluíram que o gás que existe no espaço pode se mover a partir da borda das galáxias até o seu centro devido aos efeitos da gravidade, e principalmente às turbulências que o dominam, tudo isso produzido pelo crescimento dos buracos negros.

Os pesquisadores chegaram a estes resultados depois de realizar três simulações de computador durante dois meses utilizando 240 processadores do supercomputador Leftraru, o mais poderoso no Chile atualmente. "O processo de análise durou cerca de cinco meses, somando um total de aproximadamente sete meses de trabalho", detalhou Prieto.

Os especialistas planejam continuar realizando simulações a fim de incluir outros processos astrofísicos para tratar de entender o que pode ter ocorrido durante a formação das primeiras galáxias para dar origem aos buracos negros supermaciços que são observados hoje. O trabalho foi publicado na Monthly Notice of Royal Astronomical Society, uma das revistas de referência mundial de astronomia e astrofísica.

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