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Contrariando a possível falta de perspectivas, uma banda de hardcore criada na periferia do Recife, na comunidade do Alto José do Pinho, em 1988, encontrou espaço no cenário da música local, conquistando os mais diversos públicos e consolidando o seu som até tornar-se uma das mais importantes bandas do rock pernambucano, 30 anos depois. O Devotos abriu 2018 celebrando três décadas de trabalho e até o fim do ano continuará desenvolvendo atividades para comemorar, incluindo o lançamento de um disco de inéditas. Este trabalho chegará com a missão de 'zerar o cronômetro' e trazer novas possibilidades para que a banda possa se reinventar e assim dar conta de outros longos anos de hardcore.

Cannibal, Neílton e Celo eram três adolescentes do Alto Zé do Pinho quando se juntaram, no fim da década de 1980, para fazer música rápida e alta na cena punk do Recife. Entre baculejos da polícia e shows que só saberiam que estavam escalados ao se deparar com cartazes que os anunciavam pelos muros da cidade, o então chamado Devotos do Ódio foi percorrendo seu caminho. Nos primeiros nove anos, a banda ficou restrita à cena punk, como relembra o baixista e vocalista Cannibal, mas em 1994 uma noite no antigo Circo Maluco Beleza derrubaria a primeira (falsa) previsão pára a banda.

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A festa, promovida pelo produtor Paulo André (do Abril pro Rock), Rock’n Roll Circus, tinha em seu headline Mundo Livre S.A e Chico Science e Nação Zumbi, além de uma plateia bem diferente daquelas para as quais o Devotos costumava tocar. Entrando meio que “de penetra” no evento, apesar do receio do produtor e do desconhecimento do público, os rapazes transformaram uma participação de três músicas em um minishow com mais de cinco, que teve de ser encerrado para que as bandas escaladas pudessem tocar. Chico Science, ao ouvir o hardcore do grupo “começou a dançar” e, naquele momento, um novo caminho se abriu para o Devotos: “Acho que se a gente não tivesse agradado naquela noite a gente não teria se integrado”, diz Neílton, guitarrista do grupo.

A integração a que ele se refere é o movimento Manguebit, que já chegou com força no início da década de 1990, encabeçado por Chico Science e, pouco mais tarde, tornou-se um dos mais importantes movimentos musicais do século 20, no Brasil. O Devotos vinha de outra cena e fazia um som bem diferente do que se ouvia no Mangue, mas havia algo que os ligava ao novo movimento: “A gente falava exatamente o que Chico falava também, esse foi o elo. A mesma informação que Chico pregava nas músicas dele eram as informações que a gente tinha nas nossas, e ele percebeu isso”, relembra Neílton. A partir daí, a banda punk da periferia passou a se apresentar em eventos mais estruturados, ganhando visibilidade e angariando fãs dos mais diferentes estilos, lugares e classes sociais.

Os anos seguintes foram de consolidação de um trabalho expressivo e forte que derrubou as demais (falsas) previsões para o grupo. O Devotos se desfez do ‘Ódio’ e, com o novo nome, ganhou respeito e credibilidade no meio musical nacional e internacional. Sem deixar sua comunidade e, sobretudo, zelando por ela, a banda conseguiu também valorizá-la e abrir as portas para “as pessoas subirem o Alto Zé do Pinho pra saber o que tava acontecendo lá”, como diz Cannibal. “O que a gente tinha antes era uma mídia sensacionalista que ia para o subúrbio cobrir os crimes e o tráfico, enquanto tinha os movimentos culturais rolando na comunidade e ninguém falava nada. Essa coisa da mídia começar a abraçar e passar a mostrar o que tinha de positivo na comunidade, acho que essa foi uma mudança forte que a gente conseguiu com a nossa música”, completa o vocalista.

Em três décadas de som alto, rápido e pesado, o Devotos conquistou seu lugar e hoje é referência e inspiração para “a pirralhada que está começando”, como diz o baterista Celo. E, apesar de terem alcançado amadurecimento e estabilidade na carreira musical, este trio ainda zera o relógio a cada novo trabalho, criando novas possibilidades e novo gás para continuar na ativa: “Eu acredito que uma banda sobreviva de perspectivas para poder ter continuidade. Devotos tem milhões de planos ainda.”, entrega Celo. É como diz o primeiro disco da banda, ‘Agora tá valendo’.

Comemorações

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"Punkrock, hardcore, sabe onde é que faz? Lá no Alto Zé do Pinho!". Os versos são da Devotos, banda pernambucana que se diferencia não só pelo peso de seu som, mas por ter conquistado uma carreira sólida - de 28 anos - com a mesma formação de origem e sem sair de sua comunidade, cantada na música que abre esta matéria e em tantas outras de seu repertório. A Devotos mostra a força do seu som em um show, nesta sexta (15), no Estelita. A Plugins também sobe ao palco para completar a noite. 

Apesar de ter sido incluída no rol de bandas 'mangue' de Pernambuco, a Devotos surgiu bem antes do Manguebeat, quando em 1988, Cannibal (vocalista e baixista), Celo (baterista) e Neílton (guitarrista), se juntaram no Alto José do Pinho - comunidade periférica do Recife onde moravam e moram ainda, ou mantém suas raízes - pela vontade de se comunicar através da música. "O Devotos foi uma banda feita para falar sobre seu cotidiano e até hoje é assim. A gente não faz por obrigação", diz o vocalista Cannibal. Influenciados pelo movimento punk de São Paulo, eles fundaram um grupo musical que, anos mais tarde, viria a ser referência na cena underground pernambucana e, sobretudo, na sua própria comunidade.

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Oriundos de um lugar inundado de cultura popular - o Alto é casa de agremiações de maracatu de baque virado, caboclinho e afoxés, entre outros - os caras souberam se colocar neste meio e extrair dele elementos que somaram na sua música e imagem. Para o jornalista Wilfred Gadêlha, especialista nas cenas do metal e punk pernambucanos, este é um dos trunfos da Devotos: "Eles conseguiram uma interação com outras cenas que não só a do punk, souberam interagir muito inteligentemente com o Mangue e foi aí que eles cresceram, conseguindo agregar mais público por conta desse ecletismo".

Outro diferencial da banda é não ter deixado seu Estado de origem para tentar a carreira nos grandes eixos, como é comum de se ver no meio musical local. A Devotos preferiu ficar em casa e fazer disso uma verdadeira bandeira. Eles construíram um caminho de parceria com sua comunidade e o trabalho social fluiu naturalmente. A Rádio comunitária Alto Falante - idealizada por eles e outros músicos da localidade - deu voz à comunidade e às bandas que não param de nascer na periferia. Este movimento mudou a imagem do Alto e acabou por levar pessoas de diferentes lugares e classes até lá. "O devotos consegue provar q você consegue ser da periferia e nao ser taxado de marginal, pra molecada que cresce lá isso é essencial. Eles são um exemplo para a comunidade", afirma Wilfred.

Se não abandonaram as raízes, os Devotos por outro lado expandiram seu horizonte, e o de diversas bandas que se espelharam neles nestas quase três décadas de um som rápido, pesado e contundente. Já foram várias as turnês pelo Brasil e por diversos outros países, onde a banda tem público cativo.


Novo disco

Após um hiato de quatro anos sem lançar discos, a Devotos se prepara para a chegada de um novo trabalho com previsão de lançamento para setembro de 2016. Ainda em estúdio, o CD está sendo composto à medida que as gravações avançam: "É um disco meio caldo de cana", brinca o baterista Celo. O álbum é de inéditas e será lançado nos formatos de CD e vinil, no Brasil e na Europa. No show desta sexta(15), a banda antecipa o que vem por aí e manda duas músicas do novo disco para saciar a curiosidade dos fãs. Assista ao vídeo da entrevista com trio que forma a Devotos. 

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Confira este e outros eventos na Agenda LeiaJá.

Serviço

Devotos

Sexta (15) | 22h

Estelita  (Av. Saturnino de Brito, 385 - Cabanga)

R$ 15

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