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São Francisco apresentou nesta terça-feira (31) uma ação contra o presidente Donald Trump por sua decisão de barrar recursos federais para as "cidades santuário", assim chamadas por serem receptivas a imigrantes.

"O decreto do presidente não é apenas inconstitucional, é antiamericano", criticou o advogado que representa a cidade californiana, Dennis Herrera, ao anunciar a ação movida em um tribunal federal.

"Temos de enfrentar e nos opor a esse decreto. Somos uma nação de imigrantes e um país de leis. Temos de ser os 'guardiães da nossa democracia', como instou o presidente (Barack) Obama em seu discurso de despedida", acrescentou.

A inédita ação desafia a ordem executiva emitida por Trump na semana passada, ordenando a contenção dos recursos federais para cidades americanas que protegem imigrantes em situação ilegal.

As "cidades santuário" se negam a cooperar com as forças federais na aplicação das leis de imigração. Em todo o país, são cerca de 300.

Segundo Herrera, com pelo menos 30 mil moradores em situação ilegal, São Francisco recebe mais de US$ 1,2 bilhão ao ano em verba do governo federal. A maioria é destinada à Saúde e a outros programas sociais federais. "Essa ação não é um passo que damos de forma leviana", afirmou.

"É necessário para defender as pessoas dessa cidade, desse estado e desse país da extrapolação selvagem de um presidente, cujas palavras e ações até agora demonstraram muito pouco respeito por nossa Constituição, ou pelo estado de direito", avaliou.

Em Miami, líderes comunitários e representantes de organizações de direitos humanos foram às ruas nesta terça desafiar a decisão do prefeito local, o republicano Carlos Giménez, de obedecer ao decreto de Trump e deixar de proteger os imigrantes.

No centro da cidade, pelo menos 200 manifestantes exigiram de Giménez que devolva ao condado de Miami-Dade o status de "santuário". Também protestaram contra a decisão de Trump de limitar o ingresso de refugiados muçulmanos no país.

Membros de uma coalizão de sindicatos e de organizações de defesa de imigrantes, hispânicos, muçulmanos e judeus levavam cartazes com frases como "Giménez você é uma desgraça" e "Nenhum ser humano é ilegal".

O advogado Khurrum Wahid, que copreside a ONG de defesa dos muçulmanos Emerge USA, disse à AFP que cerca de dez organizações entrarão na Justiça contra a decisão anunciada pelo prefeito na última quinta-feira (26). Entre os demandantes, estão instituições de envergadura nacional, como a gigante ACLU e a Southern Poverty Law Center, que monitora a emergência de grupos de ódio no país.

A maioria das grandes "cidades santuário" - como Los Angeles e Nova York - desafiou Trump, enquanto Miami acatou rapidamente a ordem executiva presidencial.

Segundo o Migration Policy Institute, a Flórida conta com algo em torno de 650 mil imigrantes em situação clandestina. É o quarto estado com maior número de pessoas nessa situação, atrás de Califórnia (mais de 3 milhões), Texas (1,5 milhão) e Nova York (870 mil).

Nova York e outras grandes "cidades santuário" para imigrantes, como Chicago e Los Angeles, rebelaram-se e prometem combater o plano de deportação promovido pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.

Diante dos planos do republicano de deportar imigrantes em situação ilegal depois que chegar à Casa Branca, em 20 de janeiro de 2017, prefeitos, governadores e chefes de Polícia de várias cidades levantaram a voz para garantir que protegerão essas pessoas.

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O prefeito de Nova York, o democrata Bill de Blasio, reuniu-se com Trump nesta quarta (16) e lhe garantiu que fará "todo o possível" para defender aqueles que se encontram em situação clandestina.

"Reiterei a ele que essa cidade e outras cidades do país farão todo o possível para proteger nossos residentes e para nos assegurarmos de que as famílias não sejam destroçadas", contou De Blasio aos jornalistas, depois do encontro na Trump Tower.

NYC, aberta a todos

A promessa de Trump de deportar entre dois e três milhões de imigrantes nessa condição "vai contra tudo o que era genial em Nova York", comentou o prefeito De Blasio na conversa com a imprensa. "Nova York é a cidade dos imigrantes. O lugar que teve sucesso porque esteve aberta a todos, o lugar construído geração após geração de imigrantes", completou.

Há alguns dias, De Blasio afirmou que, se for necessário, a cidade eliminará no fim do ano a base de dados com nomes de milhares imigrantes nessa situação, que receberam um cartão de identificação municipal. Esse documento - temem as autoridades nova-iorquinas - poderia ser usado pelo governo Trump para identificar e deportar imigrantes.

Esta semana, o estado de Nova York implementou uma "hotline" para a denúncia de crimes racistas contra muçulmanos, imigrantes e negros, que se encontram em escalada desde a vitória do magnata nova-iorquino.

Em carta aberta, após a derrota da democrata Hillary Clinton, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, convidou: "se alguém sentir que se encontra sob ataque, quero que saiba que o estado de Nova York - o estado que tem a Estátua da Liberdade em seu porto - é seu refúgio".

Resistência nacional

Declarações de "rebelião" similares foram dadas pelos prefeitos de Boston, Providence, Chicago, Jersey City, Seattle, Filadélfia, Los Angeles, São Francisco e Washington D.C., "cidades santuário" que não perseguem os imigrantes por terem violado a lei migratória federal e que até mesmo chegam a lhes conceder documentos - como carteira de motorista, ou cartão de identificação municipal.

"Isso é animador e não é surpreendente. E continuará crescendo. (Os prefeitos e chefes de Polícia) não têm medo. Vão para a batalha e acreditam em que podem ganhá-la política e legalmente", disse à AFP o especialista Jonathan Blazer, do American Immigration Council, uma ONG de defesa dos imigrantes.

Blazer alega que as forças da lei apoiam essa política, porque permite a esses imigrantes denunciar crimes, ou serem testemunhas e falar com a Polícia sem medo de serem presos. Por isso, deverá ser difícil que Trump corte recursos para essas cidades, como prometeu na campanha.

Trump e sua equipe "verão quem podem amedrontar pela ameaça (de cortar verbas)", avaliou o especialista.

Durante sua campanha, Trump prometeu cortar os fundos federais das "cidades santuário". De acordo com o Centro de Estudos de Imigração (CIS, na sigla em inglês), elas seriam cerca de 300.

Depois de eleito, Donald Trump disse que a deportação começará por entre dois a três milhões de imigrantes "ilegais" identificados como "criminosos", "traficantes de drogas" e "integrantes de gangues". Depois, verá o que será feito com os demais, totalizando cerca de 11 milhões.

Defensores dos imigrantes se alarmam, porque dizem não haver evidências de que existam "dois, ou três milhões" de imigrantes "criminosos" no país. Acredita-se que muitos inocentes, ou pessoas que tenham cometido crimes leves, ou de trânsito, possam ter sido incluídos nesse bolo.

Prefeitos como De Blasio e Rahm Emanuel, de Chicago, insistem em que não vão recuar. "Chicago sempre será uma cidade santuário", frisou Emanuel, esta semana.

"Não vamos sacrificar nenhuma das nossas pessoas", garantiu o prefeito de Providence (Rhode Island), Jorge Elorza, filho de imigrantes guatemaltecos, citado pelo jornal The Boston Globe.

Muriel Bowser, prefeita do Distrito de Columbia, capital do país, afirmou que D.C. continuará sendo "uma cidade santuário", porque "sabemos que nossos bairros são mais seguros e fortes quando ninguém tem medo de ligar para nosso governo para pedir ajuda, quando nossa Polícia pode se dedicar a proteger e servir".

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