Tópicos | Doce Amianto

Num encontro com o repórter, durante a Semana dos Realizadores, no Rio, Guto Parente confessou-se feliz com a acolhida a Doce Amianto. O filme que estreia nesta sexta-feira (13), integrou a seleção da Mostra Aurora em Tiradentes, em janeiro. Passa-se no meio do travestismo, contando a história de uma mulher - representada por um homem (o codiretor Uirá dos Reis) -, carente de afeto, que busca um parceiro que a aceite como é. Guto, do coletivo Alumbramento, de Fortaleza - os irmãos Pretti e os primos Parente -, tomou como um elogio o cumprimento de um colega cineasta, Eryk Rocha.

"Depois da sessão, o Eryk me abraçou me chamando de irmão e dizendo que eu havia soltado a franga." A 'viadagem', com todo respeito, é estética. Sempre quis fazer um filme com cores extravagantes e ângulos bizarros, jogando com as possibilidades de movimentação da câmera. Na Alumbramento, a gente gosta muito de experimentar, mas tem de ter uma base. E eu finalmente encontrei a história para dar vazão ao que pode parecer loucura, mas não é."

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Em Tiradentes, Doce Amianto já havia provocado desconforto. Ante reações positivas, até membros do júri rompiam o isolamento e perguntavam - "Mas você gostou mesmo? Jura?" É um filme que produz estranhamento. Entra no dia em que também estreia Um Estranho no Lago, de Alain Guiraudie. Não tem nada a ver, como em princípio também não tem com Tatuagem, de Hilton Lacerda. Mas são todos filmes que propõem (diferentes) representações do mundo gay e do travestismo.

Vamos logo aos fatos, para você não perder tempo - Doce Amianto tem uma cena de sexo hard. Os caras transaram de verdade. E embora noções como prostituição e espetáculo sejam associadas ao travestismo, Guto esclarece que a intenção foi sempre outra, mais intimista. "A gente nunca questionava se era um homem ou uma mulher. A questão do afeto tinha preferência sobre o gênero." Em seus filmes solos, Guto Parente tem manifestado um interesse particular pelos aspectos plásticos do cinema. A luz, o quadro, a cor são elementos que o fascinam e são exacerbados em Doce Amianto.

O filme inspira-se no poema que Uirá dos Reis escreveu para um amigo que se suicidou. Só que houve, digamos, um deslocamento na passagem para a tela. Blanche, que seria o amigo morto, vira a fada madrinha de Amianto, a protagonista. Blanche invade os sonhos de Blanche, quando não a assombra, e tudo como forma de consolação. Pois Amianto sofre com suas angústias e o isolamento. É uma personagem instável e Guto concorda - o próprio filme desestabiliza-se, implodindo em estéticas (e gêneros).

Já havia esse excesso em Dizem Que os Cães Veem Coisas, mas aqui ele é mais orgânico na definição da personagem (e de sua história). A questão que se coloca é simples - Doce Amianto tira o público da sua zona de conforto. Nem Amianto nem a estética do filme são moldadas na conformidade. Mas o desespero, por momentos, é genuíno.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Entre os dias 22 e 26 de outubro será realizado o Recifest – Festival de Cinema da Diversidade Sexual, primeiro evento local dedicado a filmes de temática LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). O festival, que acontecerá no Cinema São Luiz, vai ter sua programação completa anunciada na próxima terça-feira (15).

Para esta primeira edição, a curadoria formada pelo diretor Ricky Mastro e pelo produtor Alexandre Taquary selecionou títulos nacionais e estrangeiros. Haverá também competição de mostras, e os melhores filmes vão receber troféus confeccionados pela estilista Xuruca Pacheco. A programação do festival vai contar também com premiações e oficinas e debates sobre o assunto.

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Duas obras de ficção estão confirmadas para a abertura e encerramento do festival, com a presença dos realizadores. O filme paraibano Tudo o que Deus criou, de André Costa Pinto, trata da história de um jovem que precisa assumir uma família enquanto passa por um conflito de identidade. A outra obra é dos cearenses Guto Parente e Uirá dos Reis, intitulada Doce Amianto, que conta a história de uma travesti que sente-se abandonada por seu amor.

Realizado pela Associação Cultural Bondosa Terra, o Recifest conta com o patrocínio da Fundarpe/Governo de Pernambuco, através do edital de fomento do Funcultura Audiovisual, e tem como homenageados o ator e produtor Rutílio de Oliveira (1959-2012), idealizador do Recifest, e o coletivo Angu de Teatro, que completa dez anos e fará o cerimonial do evento.

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