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No próximo dia 3 de dezembro, quando as notas da flauta transversal de Bárbara Alves ecoarem pela Praça Matriz de Porto Salvo, um ciclo estará se encerrando. Foi na vila do município de Vigia, a 90 quilômetros de Belém, que, 20 anos atrás, ela iniciou sua musicalização na sede da Sociedade Musical Portosalvense 25 de Dezembro.

Bárbara apresenta o concerto “Mamaiacu, Os Cantos de Porto Salvo”, premiado no edital de Incentivo à Arte e à Cultura da Fundação Cultural do Pará. “Volto para as minhas raízes musicais e trago comigo a banda que me deu a dádiva da minha formação musical”, ressalta a instrumentista, que retoma a carreira interrompida de cantora solo após retornar aos poucos como backing vocal da banda Nicobates e Os Amadores.

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Bárbara formou-se bacharel em flauta transversal pelo Instituto Estadual Carlos Gomes, onde estudou graças ao projeto de interiorização em parceria com a SOM25. Ela também tocou em várias orquestras, bandas sinfônicas e projetos musicais da noite de Belém e vem aprendendo a lidar com a maternidade.

A banda SOM25, sigla da Sociedade Musical, tem 97 anos de existência. Porto Salvo era antes uma aldeia indígena catequizada pelos jesuítas por meio da música. Gerações de instrumentistas e compositores passaram por ela.

Lugar de rios e manguezais, Porto Salvo também é um berçário de peixes. Daí seu nome original indígena, Mamaiacu, que quer dizer “nascedouro de baiacus”, espécie de água salgada para desova. A língua indígena empresta o nome ao projeto e à canção tema, composta por Nicobates, Bárbara e Augusto Hijo, com base na trajetória da cantora e na história do lugar.

Mamaiacu é, de fato, um projeto rico de referências e histórias que se cruzam. Juntamente com Bárbara e um power trio formado por André Andrade (guitarra), Maurício Panzera (contrabaixo) e Osvaldo Rosa (bateria), mais oito jovens instrumentistas da SOM25 subirão ao palco em metade do repertório, que inclui canções de compositores paraenses, alguns com uma inusitada relação com Porto Salvo.

É o caso de Thais Badu, autora das canções “Batuque” e “Fugaz”, gravadas no início da carreira dessa cantora por Nicobates, que além de parceiro de Bárbara é compositor e produtor do evento. Thais é neta de moradores originais de Porto Salvo, mas ninguém no projeto sabia disso antes de pedir a permissão para usar as músicas dela.

“Quando estávamos fazendo a seleção do repertório, lembrei dessas canções que gravei com a Thais há uns sete anos e ela pouco usou. E a surpresa foi quando ela disse que seus avós eram de lá e ela costumava passar férias na Vila de Porto Salvo na infância”, conta Nicobates.

Os instrumentistas da SOM25 são Welliton Pereira e Antonio Monteiro (trompetes), João Pedro Souza (trombone), Raissa Monteiro (sax tenor), Caiki da Costa (sax alto), Alanna Rodrigues (flauta), Shofya Pinheiro e Samylle Santos (clarinetes).

“Esse projeto chegou para dar uma nova visibilidade para a SOM25 e dar um incentivo extra para os meninos e meninas, pois eles estavam precisando”, conta Antonio Monteiro, um dos poucos instrumentistas da época de Bárbara nessa formação, e o responsável pela direção da banda no projeto.

A apresentação será filmada e estará em breve disponível na internet. “Mas queremos apresentar esse show maravilhoso muitas vezes ainda em outros lugares, levando Porto Salvo para o mundo”, ambiciona a cantora, flautista e compositora. Além do patrocínio do Governo do Estado, o projeto tem apoio cultural da Prefeitura de Vigia e do prefeito Job Júnior. A direção geral é de Bárbara e Nicobates e os arranjos são de Otávio Silva e Homero Augusto.

Serviço

Mamaiacu – Os Cantos de Porto Salvo.

Concerto da cantora e flautista Bárbara Alves.

Participação especial da Banda SOM25.

Local: Praça Matriz de Porto Salvo – A 90 quilômetros de Belém.

Hora: a partir das 18 horas.

Aberto ao Público.

Informações: (91) 98168 7474.

@projetomamaiacu.

Da assessoria do evento.

 

 

 

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O carimbó é um ritmo típico paraense que faz parte da vida e história de milhares de pessoas no Estado e no país. Além de ser tombado como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, o carimbó muda a vida de quem o escolhe como carreira. É o caso de Fernanda Anjos, que faz parte de sete grupos de carimbó, sendo cinco como flautista e três como dançarina.

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Fernanda começou a sua trajetória na música aos seis anos de idade, quando se interessou pela flauta doce. Após isso, ela passou a aprender mais sobre o instrumento e fez parte de projetos sociais na Aldeia Amazônica, onde ficou sabendo sobre a seleção para o programa Vale Música. A partir daí, em 2004, ela começou os estudos de musicalização e se apaixonou pela flauta transversal, seu instrumento até hoje.

Para a musicista, o carimbó já abriu diversas oportunidades de viagens, apresentações e premiações dentro e fora do país. “O carimbó já me levou para diversos festivais nacionais e internacionais de folclore. Com o grupo Frutos do Pará eu tive o privilégio de conhecer o maior festival nacional de folclore do Brasil, que é em Olímpia, São Paulo. Também fomos pra festivais como Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, Festival Internacional de Nova Petrópolis, Festival Internacional de Quinta do Sol no Paraná e muitos outros. Já com o Iaçá Luterana eu pude representar o Brasil na Europa, participando do projeto da Kinder Cultura Caravana da UNESCO e UNICEF. Foi uma turnê de três meses passando pela Alemanha, Suíça e França”, informa.

O ritmo paraense é geralmente conduzido e cantado por homens. Fernanda afirma que para ela é uma conquista conseguir abrir espaço para a estética feminina dentro dos grupos musicais por onde passou. “Quando eu comecei a tocar, a presença feminina nos grupos musicais parafolclóricos era bem pequena. Então, a mulher naquela época não tinha um espaço visual estético dentro do musical, ela sempre usava as mesmas roupas que os homens, sem essa diferenciação. Ao longo do tempo eu consegui impor a minha presença feminina estética em todos os grupos por onde eu passei e particularmente eu coloco isso como uma conquista, um marco na minha vida enquanto musicista”, relata.

Apesar dos vários desafios que envolvem o fazer música na Amazônia, Fernanda conta que foi um baque passar do estudo erudito para grupos folclóricos, em que o saber é muito mais na prática. “Foi desafiador, já que na cultura popular os músicos tinham um conhecimento mais empírico. Eu já não usava partitura nas apresentações com os grupos folclóricos como eu usava na orquestra e nas bandas sinfônicas com o maestro. Na cultura popular, os músicos escutam as músicas e depois vão reproduzindo, pegando de ouvido, já é um outro formato. Com o tempo eu fui aprendendo e tendo domínio. Hoje em dia eu toco e danço com vários grupos em Belém”, observa.

Fernanda Anjos ama a cultura popular regional desde bem pequena e tem planos para projetos futuros que incentivem outras pessoas, jovens, crianças ou adultos, a imergir nos ritmos paraenses. “Eu ainda pretendo realizar um recital de flauta transversal com repertório todo da cultura popular.”

Por Ana Lúisa Rodrigues (sob orientação e acompanhamento de Antonio Carlos Pimentel).

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