Tópicos | idade escolar

A volta às aulas pode representar um perigo a mais para cerca de 9,3 milhões de brasileiros (4,4% da população total) que são idosos ou adultos (com 18 anos ou mais) com problemas crônicos de saúde e que pertencem a grupos de risco de Covid-19. Isso porque eles vivem na mesma casa que crianças e adolescentes em idade escolar (entre 3 e 17 anos). A quantidade de pessoas que pode passar a se expor ao novo coronavírus foi calculada por análise da Fiocruz feita com base na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2013), que foi realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Laboratório de Informação em Saúde (LIS) da Fiocruz.

São Paulo é o estado com maior número absoluto de pessoas nessa situação, cerca de 2,1 milhões de adultos e idosos em grupos de risco com crianças em casa, seguido por Minas Gerais (1 milhão), Rio de Janeiro (600 mil) e Bahia (570 mil). O Rio Grande do Norte é o que possui a maior percentagem da população nesses grupos: 6,1% do total.

##RECOMENDA##

Pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz) analisaram dados da PNS 2013 sobre dois grupos populacionais que se encontram nos chamados grupos de risco da Covid-19: os adultos com idade entre 18 e 59 anos que têm diabetes, doença do coração ou doença do pulmão, e os idosos (com 60 ou mais anos). Em seguida, cruzou os dados para verificar quantos desses dois grupos residem em domicílio com pelo menos um menor entre 3 e 17 anos – ou seja, em idade escolar. 

O resultado do estudo trouxe números preocupantes. Quase 3,9 milhões (1,8% da população do país) de adultos com idade entre 18 e 59 anos que têm diabetes, doença do coração ou doença do pulmão residem em domicílio com pelo menos um menor em idade escolar (entre 3 e 17 anos). Já a população idosa (60 anos e mais) que convive em seu domicílio com pelo menos um menor em idade escolar chega a quase 5,4 milhões de pessoas (2,6% da população). 

De acordo com o estudo, o retorno da atividade escolar, que vem sendo anunciado de forma gradativa por vários estados e municípios, coloca os estudantes em potenciais situações de contágio. Mesmo que escolas, colégios e universidades adotem as medidas de segurança (e elas sejam cumpridas à risca), o transporte público e a falta de controle sobre o comportamento de adolescentes e crianças que andam sozinhos fora de casa representam potenciais situações de contaminação por Covid-19 para esses estudantes. O problema é que, se forem contaminados, esses jovens poderão levar o vírus Sars-CoV-2 para dentro de casa e infectar parentes de todas as idades que tenham doenças crônicas e outras condições de vulnerabilidade à Covid-19, representando uma brecha perigosa no isolamento social que essas pessoas mantinham até agora.

Divulgado através da nota técnica 'Populações em risco e a volta as aulas: Fim do isolamento social', da plataforma MonitoraCovid-19, o estudo alerta para o fato de que “a discussão sobre a retomada do ano letivo no país não segue um momento em que é clara a diminuição dos casos e óbitos e ainda apresenta um agravante, que é a desmobilização de recursos de saúde e o desmonte de alguns hospitais de campanha”. 

Epidemiologista do Icict/Fiocruz, Diego Xavier, que participou do estudo, destaca que, até agora, a maioria desses milhões de brasileiros em grupos de risco e que têm algum estudante dentro de casa vinha se mantendo em isolamento social. “Mas a volta às aulas pode representar uma perigosa brecha nesse isolamento. Nós estimamos, no estudo, que se apenas 10% dessa população de adultos com fatores de risco e idosos que vivem com crianças em idade escolar vierem a precisar de cuidados intensivos, isso representará cerca de 900 mil pessoas na fila das UTIs. Além disso, se aplicarmos a taxa de letalidade brasileira nesse cenário, estaremos falando de algo como 35 mil novos óbitos, somente entre esses grupos de risco”, analisa Xavier. 

Christovam Barcellos, sanitarista e vice-diretor do Icict/Fiocruz, acha que seria recomendável que estados e municípios oferecessem aos pais informações necessárias para os cuidados que devem passar a adotar dentro de suas casas. “Se isso não for feito, muitos pais se sentirão inseguros frente à decisão de retomar os estudos presenciais dos seus filhos. Com a expansão da população exposta à infecção pelo vírus, deveriam também ser ampliadas as atividades de vigilância epidemiológica desses grupos vulneráveis por meio de testagens e acompanhamento clínico permanente”, afirma.

Da assessoria da Fiocruz

O número de crianças migrantes e refugiadas em idade escolar no mundo cresceu 26% desde o ano 2000, segundo um relatório divulgado hoje (19) pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) que avalia o impacto da movimentação de pessoas nos sistemas educacionais. O Relatório de Monitoramento Global da Educação 2019 (GEM 2019) tem como tema “Migração, Deslocamento e Educação: Construir Pontes, não Muros” e foi divulgado nesta segunda na Alemanha.

De acordo com o relatório, o direito dessas crianças a uma educação de qualidade, apesar de ser reconhecido em discursos e em acordos, é desafiado diariamente nas salas de aula e negado por alguns governos ao redor do mundo. Desde a assinatura da Declaração de Nova York para refugiados e migrantes, em 2016, refugiados em todo o mundo já perderam, somados, 1,5 bilhão de dias de aula em todo o mundo.

##RECOMENDA##

Por meio de um comunicado a imprensa, o diretor-geral da Unesco, Audrey Azoulay, disse que o direito a uma educação de qualidade não serve somente ao interesse das próprias crianças, mas também das comunidades em que vivem. “Aprendizado não é um luxo. Todos perdem quando a educação de migrantes e refugiados é ignorada. A educação é a chave para a inclusão e a coesão. É a melhor maneira de tornar as comunidades mais fortes e resilientes”.

Segundo a Unesco, metade das pessoas deslocadas à força no mundo tem menos de 18 anos. Muitas delas são excluídas dos sistemas educacionais dos países para onde se deslocam. Aqueles que buscam asilo em países como Austrália, Hungria, Indonésia, Malásia e México, por exemplo, têm acesso limitado ou nenhum acesso à educação.

Evasão

O relatório mostra que a proporção de estudantes imigrantes em países de alta renda aumentou de 15% para 18% entre 2005 e 2017. A estimativa é que representem 22% dos estudantes até 2030. Entretanto, o fato de crianças e jovens imigrantes irem à escola não garante que estejam tendo boas chances de sucesso. Em 2017, o dobro de jovens nascidos no exterior deixou a escola cedo em comparação com os nativos na União Europeia.

“Os países não podem pensar que o trabalho está feito, uma vez que os imigrantes estão na escola. Eles estão sendo excluídos de muitas outras maneiras”, diz o diretor do Relatório GEM 2019, Manos Antoninis.

O Relatório GEM 2019 é o terceiro de uma série de 15 relatórios anuais que serão lançados até 2030 para avaliar avanços do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 4, que trata de assegurar educação inclusiva, equitativa e de qualidade e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos até 2030. No Brasil, o GEM 2019 será apresentado nesta terça-feira (20) no Memorial da América Latina, em São Paulo (SP), às 13h30.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando