[@#galeria#@]
Encravadas nas periferias das grandes cidades, as bibliotecas populares resistem ao avanço da tecnologia e atuam onde as políticas educacionais e sociais não atendem às necessidades da população. Para além do incentivo a leitura e as artes, esses espaços funcionam, muitas vezes, como mediadores de conflitos familiares e, aos poucos, transformam a realidade de crianças, jovens e adultos.
##RECOMENDA##
As bibliotecas comunitárias têm como combustível o voluntariado e muitas se mantêm por meio de doações ou parcerias com órgãos públicos ou empresas privadas. Cada espaço reúne histórias de resistência e dedicação.
O LeiaJá foi conhecer alguns espaços que fomentam a leitura, dando um novo olhar às comunidades que os cercam. Conheça algumas bibliotecas comunitárias que atendem a população mais carente com cultura e educação, todas na Região Metropolitana do Recife:
Biblioteca Comunitária Caranguejo Tabaiares
Localizado na Comunidade Caranguejo Tabaiares, na casa de número 92, no bairro da Ilha do Retiro, Zona Oeste do Recife, o espaço surgiu da iniciativa de Cleonice da Silva e Reginaldo Pereira, líderes comunitários, e um grupo de moradores formado, em sua maioria, por jovens da localidade, no ano de 2015.
Com um vasto acervo, a biblioteca promove ações de incentivo à leitura, as artes cênicas e promove ensino de idiomas. Além disso, o projeto viabiliza o protagonismo juvenil na gestão de um espaço coletivo.
Para manter as atividades, oferecidas gratuitamente aos moradores da comunidade, a biblioteca iniciou, em 2016, um financiamento coletivo pela internet. Ao todo, o projeto pretende arrecadar, até dezembro de 2019, R$ 15 mil.
Biblioteca Multicultural Nascedouro
Ponto de resistência, a Biblioteca Multicultural Nascedouro (BMN), em Olinda,
funciona como espaço cultural e pedagógico desde 2000. A iniciativa é de responsabilidade do Movimento Cultural Boca do Lixo e tem como objetivo viabilizar a interação dos moradores das comunidades vizinhas ao espaço com os livros.
Com sede no Nascedouro de Peixinhos, antigo matadouro, é espaço para articulação de movimentos culturais e sociais no bairro de Peixinhos. Entre as atividade realizadas no local estão ‘Bibliobôca Mambembe’, evento itinerante de mediação e leitura e atividades culturais em diversos espaços públicos do bairro e outras localidades, ‘Quintas D’Leitura’, com roda de leitura com crianças, e o ‘Ouvir, ler e contar histórias’, que é executado em parceria com a Escola Municipal Recanto da Arte e do Saber e visa o resgate da contação de histórias da tradição oral.
A Biblioteca Multicultural Nascedouro funciona de segunda a sexta, das 8h30 às 17h, e está localizada na Avenida Jardim Brasília, s/n, em Peixinhos.
Livroteca Brincante do Pina
Após encontrar uma sacola de livros às margens da Bacia do Pina, Zona Sul do Recife, Kcal Gomes, conhecido também como ‘traficante de livros’, iniciou o projeto da Livroteca na Comunidade do Bode. Inicialmente, o espaço funcionava em uma palafita que, com o peso dos livros, chegou a desmoronar duas vezes. No entanto, as dificuldades iniciais não diminuíram a vontade de Kcal em passar adiante a paixão pela leitura e pelas artes.
O responsável pelo projeto relata que após alguns anos pagando aluguel, um prédio abandonado, há dez anos, chamou sua atenção e a ‘Brincante do Pina’ ganhou uma nova sede. “Este espaço ficou abandonado por dez anos. Era ponto de consumo de drogas, o lixão da comunidade e resolvemos ocupá-lo com a Livroteca. Através do coletivo, iniciamos a limpeza e revitalização do local, em 2013. É aqui que realizamos as nossas ações de leitura, arte circense, cinema, música e esportes. Aos poucos, transformamos o espaço”, contou em entrevista ao LeiaJá.
Kcal comenta que a relação com os moradores do Bode, inicialmente, foi marcada por desconfiança, devido à ‘fama’ do local. “No começo, muitos pais não queria deixar os filhos frequentarem a biblioteca. Muitos tinham receio, por conhecer a história do local. A relação entre o espaço e os moradores foi se estreitando com o tempo”, relembra.
Atualmente, além de Kcal, a manutenção da biblioteca e realização das atividades para jovens e crianças, que são maioria na ‘Brincante do Pina’, são promovidas por voluntários de diversas partes do mundo.
Biblioteca Popular do Coque
Com dez anos de existência e nova sede, a Biblioteca Popular do Coque, no bairro da Ilha de Joana Bezerra, área central do Recife, funciona de segunda a sexta e possui um acervo de mais de dois mil livros de literatura infantil, juvenil e adulta. O local é mantido, desde 2007, pela resistência e dedicação de Rafael Andrade e Maria Betânea.
No início, mãe e filho não tinham a dimensão do quanto a biblioteca iria crescer, conquistar os moradores do Coque e as dificuldades que enfrentariam para manter a iniciativa. “No início foi muito difícil, porque a comunidade não tinha esse hábito da leitura, nunca teve uma biblioteca aqui. Antes, as crianças que frequentavam o espaço não tinham tanto cuidado com o livro, com o espaço. Aos poucos, a gente foi mostrando isso para a comunidade, a partir do momento que começamos a chamá-la para ocupar esse espaço”, relembra Rafael.
Em 2017, a Biblioteca Popular do Coque enfrentou dificuldades financeiras para prosseguir com o projeto. Para angariar fundos, Rafael e Betânea lançaram uma ‘vaquinha’ online. Durante oito meses, mãe e filho tentaram arrecadar R$ 50 mil para não precisar entregar a casa onde funcionava a biblioteca. Ao final do financiamento coletivo, eles só conseguiram o equivalente a R$ 750. Assim, não tiveram outra alternativa, a não ser devolver a casa para a proprietária.
“Passamos um bom tempo tentando achar uma casa próxima da sede antiga, porque era uma cobrança dos moradores da área. Teve um momento, que cogitamos em deixar a comunidade. Um dia, eu estava deixando o local e uma mãe me abordou para dizer que havia uma espaço para alugar e aqui estamos”, relata.
Consolidada no bairro e assumindo a função de incentivadora educacional, a biblioteca ainda necessita de ajuda. Mais do que doações de livros, os responsáveis pedem a presença de pessoas para contação de histórias, oficinas, minicursos e na organização do espaço. Os interessados em promover alguma ação na Biblioteca Popular do Coque podem se dirigir à sede que está localizada na Rua Centenário do Sul, 58, Ilha de Joana Bezerra.
Biblioteca Comunitária Josué de Castro
Incentivando o hábito da leitura desde 2015, o Coletivo Beco Cultural iniciou suas ações na cidade de Olinda a partir do projeto ‘Geladoteca’, que consiste em transformar geladeira em bibliotecas distribuídas por bairros do município Patrimônio Cultural da Humanidade. Porém, a ausência de parcerias inviabilizou a continuidade do projeto. “Muitas pessoas viam a ‘geladoteca’ como um depósito de livros. Além disso, com o tempo, o custo de manutenção pesaram e, diante da falta de parcerias, decidimos dar uma pausa no projeto”, explica Igor Belchior, um dos idealizadores da iniciativa.
Para dar continuidade a disseminação da educação e cultura, o Coletivo, atualmente, ocupa, desde 2017, o Centro Social Urbano (CSU), localizado no bairro de Ouro Preto. No local, nasceu a Biblioteca Comunitária Josué de Castro, inaugurada com um sarau literário que, aos poucos, estreita a relação com os moradores da localidade. “Como qualquer novidade, esse espaço está construindo uma relação com os moradores do bairro. Para isso, a gente faz o chamamento diretamente com os nossos vizinhos e mostramos quais atividades executamos aqui”, explica Igor.
Diante do tamanho do CSU, os integrantes do ‘Beco Cultural’ começaram a oferecer atividades esportivas, como o judô, realização de festas, que são responsáveis por captar recursos para o sustento do projeto, e cineclube. Questionado sobre o diálogo com o poder público, o presidente do Coletivo expõe que ainda é pouco, mas, em breve, alguns representantes da iniciativa vão se reunir com a Prefeitura de Olinda.
Em entrevista ao LeiaJá, os responsáveis pelas Bibliotecas Popular do Coque e Josué de Castro falaram sobre as ações, dificuldades e histórias desses espaços. Confira: