Tópicos | Mário de Andrade

Um homem de 39 anos foi preso em flagrante após proferir falas racistas e homofóbicas na tarde de terça-feira, 2, na Biblioteca Mário de Andrade, localizada na Avenida São Luís, na República, região central da capital paulista.

Guardas municipais foram acionados para atenderem a ocorrência e, no endereço indicado, verificaram que Wilho da Silva Brito estava ofendendo uma mulher, de 39 anos, e uma idosa, de 66.

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O caso foi registrado como injúria e preconceitos de raça ou de cor (praticar a discriminação) pelo 2º Distrito Policial (Bom Retiro), segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP).

Em nota, a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, também repudiou veementemente as falas e atitudes homofóbicas e racistas do frequentador. Conforme a Prefeitura, os funcionários da biblioteca também compareceram à unidade policial para prestar depoimento no mesmo boletim de ocorrência.

"A biblioteca é um espaço público marcado pelo respeito à liberdade de gênero, raça, orientação sexual, credo e de celebração da diversidade e de todos os direitos individuais", disse, em nota. Ainda de acordo com a Prefeitura, nos últimos meses, a Biblioteca Mário de Andrade, tal como diversos outros equipamentos culturais da cidade, "tem se empenhado em treinar a sua equipe para lidar com atitudes racistas, transfóbicas e misóginas em seus espaços, ao mesmo tempo em que vem desenvolvendo um trabalho de conscientização junto aos seus servidores".

Nas rede sociais, o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), comentou sobre a prisão de Brito. "Denunciem todo e qualquer ato de racismo. Racistas não podem ficar impunes", disse ele.

O ator Pascoal da Conceição, famoso por interpretar Mário de Andrade em diversas peças e na série “Um só coração”, da TV Globo, coordena uma atividade na Estação da Luz que ilustra a inspiração do autor modernista para compor suas poesias. Com o título de “Caminhos de Mário – Passeios da Luz”, o evento organizado pela Oficina Cultural Casa Mário de Andrade está marcado para o próximo dia 16, terça-feira, às 15h.

A Estação da Luz, hoje importante ponto de integração das linhas de trens, metrô e ônibus da cidade de São Paulo, serviu de ponto de partida para duas das viagens mais importantes do poeta, uma para o Amazonas, em 1927, e outra para o Nordeste, em 1929. “Mário defende a cultura acima de tudo. Para ele, a comida não torna uma pessoa melhor e mais feliz. E sim a cultura. Depois de consumir cultura, a pessoa vai comer diferente, refletir de outra forma a política e agir de outro modo”, disse Pascoal.

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A performance faz parte de um projeto chamado “Caminhos de Mário – A Barra Funda e a Cidade de São Paulo”, que consiste de oito aulas que aprofundam o conhecimento dos alunos sobre a vida e obra de Mário de Andrade. Serão abordados conceitos sobre dramaturgia, fotografia, literatura, música e desenho.

 

Caminhos do Mário - Passeio da Luz (com ator Pascoal da Conceição)

Estação da Luz

16/5 – terça-feira – 15h00

 

Curso Caminhos do Mário – A Barra Funda e a Cidade de São Paulo

Inscrições no site: http://bit.ly/2p0z4EE

2/5 a 20/6 – terças-feiras – 14h00 às 17h00

40 vagas

Apesar de ter uma carreira já consolidada, o cineasta Fernando Grostein virou mesmo notícia quando um jornalista publicou que ele seria gay há cerca de um ano. Irmão de Luciano Huck por parte de mãe, o também diretor usou suas redes sociais para assumir a homossexualidade e se mostrar indignado com o fato de ter sido notícia por se relacionar com outros homens.

Agora, o irmão do apresentador lançou seu canal no YouTube e fez um longo desabafo sobre como foi descobrir que era homossexual, gerando ainda mais comoção do público que o acompanha nas redes sociais, afinal, já faz sucesso desde quando lançou seu documentário Quebrando Tabu, que se tornou uma fanpage no Facebook acessada, principalmente, entre os jovens.

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No vídeo, Fernando pergunta: "Você já se sentiu um E.T?". Em seguida, ele narra todos os momentos em que se sentiu deslocado ao lado da família, principalmente quando seu pai, o publisher da Playboy, Mário de Andrade, falava sobre as capas de revista com mulheres nuas à mesa do jantar.

Ao contar que na adolescência tinha dificuldades em se relacionar com os amigos na escola, pois não possuía os mesmos gostos e tampouco tinha interesse por meninas, desabafou. "Eu me sentia cada vez mais um ET. Alguém que não pertencia a esse mundo". O irmão de Huck ainda revelou como foi se relacionar com um homem pela primeira vez, o medo que sentiu após isso e como foi revelar para a família que gostava de homens.

Grostein confessou que sentiu falta de um apoio familiar nesses momentos. "Na minha época fez falta alguém dizer para mim assim 'Olha, tá tudo certo em ser gay, olha, não tem problema nenhum, olha, ser gay não é sinônimo de dar errado'. E eu de repente comecei a ver que é muito legal, entendeu, ser gay e falar disso numa boa. Eu aprendi uma coisa me desentendendo com algumas pessoas queridas por conta desse assunto: que, às vezes, as pessoas que têm preconceito, elas apenas estão com medo, elas apenas estão com uma certa ignorância. E são pessoas queridas, que a gente gosta muito, e que às vezes a gente tem que ter paciência e tolerância para falar Olha, tá tudo bem em ser gay".

Para finalizar, o diretor diz que se sentiu em paz quando recebeu o apoio de pessoas queridas. "É muito bom você estar em paz. Vale a pena você assumir. E (saber) que pode acreditar e confiar. É difícil no começo, mas passa. E depois você se aproxima da sua família, dos seus amigos, a tua vida fica melhor. Você encontra a sua felicidade". E aconselhou. "Seja um E.T. e está tudo certo e um mundo com vários sabores com diversidade é muito mais divertido".

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Mário de Andrade foi poeta, romancista, professor de música, crítico de arte, cronista, jornalista, pesquisador e, foi também, o primeiro Secretário de Cultura do Brasil. O escritor iniciou sua carreira como diretor do departamento de Cultura da cidade de São Paulo, que na época equivalia à Secretaria. Esta história é contada no livro Me esqueci completamente de mim, sou um departamento de cultura, organizado por carlos Augusto Calil e Flávio Rodrigo Penteado.  

No exercício do cargo público, Andrade teve de lidar com burocracia, redigir despachos, regulamentos, analisar e justificar orçamentos e planejar políticas públicas. Ele se dedicou integralmente ao departamento, e com tamanha intensidade, que chegou a prejudicar sua carreira de escritor e crítico. Ao produzir poesias ou ensaios, acaba por escrever relatórios como no seviço público. Esta literatura prática nunca foi publicada sistematicamente.

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No livro, estão reunidos fac-símiles e um conjunto de documentos que evidenciam esta época da vida do poeta. Também há entrevistas com Fábio Pardo e o próprio Mário de Andrade, além de cartas do escritor a Oneyda Alvarenga, Murilo Miranda, Câmara Cascudo e Prudente de Moraes, entre outros. A obra está disponível em todas as livrarias do Brasil.

Depois de praticamente 70 anos de sua morte, em fevereiro de 1945, ainda temos de admitir que não conhecemos ou temos acesso à íntegra da obra do intelectual mais múltiplo que o Brasil já teve. Poeta, escritor, musicólogo, gestor cultural, o autodenominado "lobo sem alcateia" Mário de Andrade fez questão de espraiar seu talento caleidoscópico por todos os setores da vida cultural brasileira.

O mais recente acréscimo é o lançamento, nesta quinta-feira (27), a partir das 18h30, na Livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, do pequeno e precioso volume Sejamos Todos Musicais, reunindo, pela primeira vez em livro, as 22 crônicas escritas entre agosto de 1938 e junho de 1940 para a Revista do Brasil, período em que morou no Rio.

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Com introdução, estabelecimento do texto e notas de Francini Venâncio de Oliveira e introdução de Flávia Camargo Toni, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, ele preenche um vazio entre a intensa atuação pública de Mário como diretor do Departamento de Cultura de São Paulo e seu período final já de volta a São Paulo, quando praticou um engajamento político mais escancarado, enxergando praticamente um modelo no realismo socialista soviético e em Shostakovich seu ídolo preferencial. Ele continua em sua cruzada permanente contra os virtuoses (seus lemas eram "o princípio mesmo da grande virtuosidade é um vício, uma imoralidade" e "a alta virtuosidade se desencaminha e principia a ter a sua finalidade em si mesma"). Mas esses quase três anos no Rio lhe dão novas certezas. Contrapõe ao doentio culto ao solista e ao virtuose a opção pelo coletivo. Daí a comovente crônica, por exemplo, sobre um coral de crianças na Escola Nacional de Música: "O simples fato de acostumar essas crianças, ainda facilmente moldáveis ao exercício coletivo da música, é um grande golpe na falsa virtuosidade que ainda domina entre nós".

Nascidas logo depois de sua abrupta demissão do Departamento de Cultura paulistano, as crônicas exprimem a dor do exílio a que se impôs. Em várias, o tom é de paizão ainda acariciando suas crias a distância. Na quarta, de novembro de 1938, lambe as feridas ainda abertas. "O correio me traz semanalmente os programas dos concertos fonográficos que realiza, em São Paulo, a Discoteca Pública do Departamento de Cultura... Não há um dó de peito. São sempre obras importantes, na sua maioria difíceis de serem executadas entre nós."

Queixa-se, como Gilberto Mendes há poucos anos, de que a música não está na moldura da formação cultural (na expressão de outro agudo intelectual, Edward Said). Em Outro Dia Era Um Compositor, observa: "O que assusta, o que é sintomático da nossa cultura literária, mesmo da mais elevada, é o desconhecimento completo da música em que vivem os nossos escritores (...) lhe desconhecem a existência (...) falta-lhes a polidez que só a música dá".

Dá e provoca muitas risadas no hilário O Mundo da Musicologia e da Ciência, em que, após comentar pesquisas médicas sobre a surdez de Beethoven, confessa: "Uma bela manhã, senti nos ouvidos um ruído singular, um ronquido longínquo, e não sei que anjo danado da vaidade me segredou que eu estava destinado a sofrer a mesma doença de Beethoven". O doutor foi enfático: era cera no ouvido. "Saí do consultório com ouvidos ótimos e, palavra de honra, bastante desligado de Beethoven, julgando-o já com menos adoração e maior clarividência. Não durou um mês e eu já comentava em voz alta e mesmo com certa maldade, defeitos e cacoetes do sublime surdo."

Mas também se sentia, de certo modo, gratificado por ver a consistência de seu pioneiríssimo - e até hoje fundamental - trabalho de organização da vida musical paulistana (com a instituição dos corpos estáveis do Teatro Municipal, por exemplo, hoje sob discutível fogo cruzado).

Rio de Janeiro

Dedica uma crônica deliciosa à comparação entre a vida musical carioca e a paulistana, em que a primeira é uma ópera e a segunda uma sinfonia: "O Rio de Janeiro é uma ópera, basta de ópera. Ninguém quer ópera? Guarde-se a ópera. Talvez então a orquestra do Rio nos possa dar mais concertos. E não teremos então quatro ou cinco concertos sinfônicos por ano, quando em São Paulo só o Departamento de Cultura terá 14 em 1938, a Cultura Artística terá os dela, e agora a Sociedade Filarmônica, recentemente fundada, pretende dar (e já está realizando o seu programa) sete ou oito em cada temporada de ano".

Conclui orgulhoso, ciente do dever cumprido: "O individualismo arrasa a nossa castidade racial. O individualismo deseduca o nosso povo, no entanto, bem mais nacional que o paulista. Mas em São Paulo a música caminha no sentido de formar uma consciência coletiva".

Detalhe: não deixe de ler a primeira crônica, que dá título ao livro, na qual Mário conta da descoberta de Confúcio e dos pensadores chineses e distingue o "músico" treinado para ser virtuose dos "musicais", protótipos dessa consciência coletiva do fazer musical pela qual tanto batalhou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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