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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender a criação de uma moeda comum entre os países do Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - no mesmo molde do euro, como forma de reduzir a dependência do dólar em trocas comerciais.

"Eu sonho com a construção de várias moedas entre outros países que façam comércio, que os BRICs tenham uma moeda. Como o euro", disse o petista em Hiroshima, após encerrar sua participação no G7.

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O euro, porém, é uma moeda única utilizada entre países europeus, enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, costuma defender uma moeda comum exclusiva para transações comerciais, em uma espécie de câmara de compensação para substituir o dólar.

"Não é possível depender do dólar para fazer comércio exterior [...]. Haveremos de discutir a moeda dos Brics em algum momento", declarou o presidente em entrevista coletiva em Hiroshima, no encerramento de sua viagem oficial ao Japão para participar do G7.

Lula voltou a defender um socorro à Argentina, parceiro comercial que é destino de exportações brasileiras e enfrenta uma grave crise econômica sob o governo do esquerdista Alberto Fernández.

No G7, Lula se reuniu com a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, e pediu alívio das pressões sobre as dívidas argentinas.

"Eu conversei com a diretora do FMI sobre a situação da Argentina e pedi que ela tivesse compreensão porque, depois da pandemia, a Argentina enfrentou uma seca. Vamos dar um tempo para a Argentina se recuperar", relatou Lula. "As nossas empresas precisam continuar vendendo para a Argentina", acrescentou.

A criação de uma moeda comum para diminuir a dependência do dólar também é negociada entre Brasil e Argentina. "Eu quero uma economia, para que cada um negocie com quem quiser", declarou o presidente.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reiterou nesta segunda-feira, 23, a empresários em Buenos Aires que não há qualquer projeto de adotar uma moeda única entre Brasil e Argentina, como chegou a circular nas redes sociais. Trata-se, na verdade, de estudar uma moeda comum entre os dois países para transações financeiras e comerciais, visando reduzir a dependência do dólar.

"Recebemos dos nossos presidentes uma incumbência de não adotar uma ideia que era do governo anterior, que não foi levada a cabo, da moeda única. O meu antecessor, Paulo Guedes, defendia muito uma moeda única entre Brasil e Argentina. Não é disso que estamos falando. Isso gerou uma enorme confusão, inclusive na imprensa brasileira e internacional", esclareceu o ministro mais uma vez.

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E acrescentou: "Não se trata da ideia do ministro Paulo Guedes de uma moeda única, se trata de avançarmos nos instrumentos previstos e que não funcionaram a contento, nem pagamento em moeda local e nem os CCRs dão hoje uma garantia de que podemos avançar no comércio da maneira como pretendem os presidentes."

Ao longo da exposição a empresários, Haddad disse ainda que o Brasil está em situação privilegiada para atrair investimentos produtivos, com condições únicas e dentro de uma via sustentável.

"Não há a menor necessidade de derrubar uma única árvore", destacou Haddad.

O presidente eleito do Banco de Desenvolvimento Asiático (ADB, na sigla em inglês), Takehiko Nakao, disse que uma moeda comum não é desejável para a Ásia, desenhando uma clara distinção em relação a zona do euro, para a qual alguns países asiáticos olham como um modelo de integração regional econômica. Em uma coletiva de imprensa na última sexta-feira (26), após ser eleito chefe do banco, com sede em Manila, o ex-vice-ministro das Finanças japonês disse que a Ásia "ainda não está em um estágio para pensar em uma união monetária".

Ele disse que é "muito cético" em relação à criação de uma moeda comum na região, mesmo no futuro, com um avanço da integração econômica, destacando que as diferenças econômicas, culturais e políticas da região são muito maiores do que as da Europa.

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"Mesmo na Europa, onde os países têm um sistema econômico e níveis de desenvolvimento econômico semelhantes, e têm um desejo comum de superar sua história de guerras, o projeto para criação de uma moeda comum enfrenta graves desafios", afirmou Nakao. "Nenhuma moeda comum é possível sem que os países tenham boa vontade para fazer transferências fiscais entre eles para lidar com problemas financeiros", completou. "É muito mais produtivo para os países asiáticos focar seus esforços no desenvolvimento do uso de suas próprias moedas" para o comércio regional e transações financeiras.

Tendo grande experiência com volatilidade de taxa de câmbio, o Japão têm sido um forte defensor da criação de uma moeda regional. Japão, China, Coreia do Sul, juntamente com a Associação de dez membros das Nações do Sudeste Asiático (Asean) - grupo conhecido como Asean +3 - têm estudado uma possível união monetária regional desde 2006.

A integração econômica está progredindo na Ásia sob o apoio da Asean, com conversas para a criação de uma zona de livre comércio iniciadas no ano passado. O Asean +3 também vem construindo uma rede para acordos de swap de câmbio, com o objetivo de complementar o papel do Fundo Monetário Internacional (FMI) durante crises econômicas. O grupo está desenvolvendo ainda um mercado de títulos regional para promover a emissão dos papéis denominados em moeda local.

Nakao se tornou o nono presidente do ADB, todos japoneses. Ele entra no lugar de Haruhiko Kuroda, que deixou o cargo para assumir a presidência do Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês). Ele ressaltou que o Japão não desencorajou a candidatura de outros países ao cargo, mas também não os incentivou. "Nós entramos na eleição com a intenção de vencer", disse. "É difícil para nós fazer uma oferta e instar outros países a se unir a competição ao mesmo tempo".

Com 35 anos de experiência no Ministério das Finanças, Nakao foi destacado para o Fundo Monetário Internacional entre 1994 e 1997, onde teve a responsabilidade pelos programas em Gana, Quirguistão e Jordânia. Seu primeiro grande evento na chefia do ADB será o encontro anual, em Nova Délhi, marcado para os dias 04 e 05 de maio. A reunião acontece em meio a sinais de discórdia entre as três maiores economias da região: Japão, China e Coreia.

Os ministros de finanças dos três países decidiram pular uma reunião trilateral que era regularmente realizada à margem do encontro, devido a tensões políticas. Há um atrito entre o Japão e China sobre a posse de ilhas desabitadas no Mar da China Oriental.

Nakao, no entanto, destacou que os dois países compartilham muitos interesses. Por exemplo, a China olha para o Japão para buscar ajuda para os seus problemas fiscais e financeiros, já que o país lida com bolhas imobiliárias e o envelhecimento da população - questões com as quais o Japão é muito familiarizado. "Não há dúvida de Japão pode contribuir para a economia da região, ajudando a China a lidar com os seus desafios", disse o novo presidente. As informações são da Dow Jones.

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