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Monitorar tubarões através de satélite. Acompanhar, em tempo real, a movimentação do predador marinho e buscar respostas sobre os ataques. A partir desta quinta-feira (24), a costa da Região Metropolitana do Recife receberá uma intervenção de um grupo de especialistas norte-americanos, com o intuito de avaliar a migração dos animais e tentar estabelecer uma relação com o alto número de incidentes nas praias pernambucanas. 

Até 14 de agosto, a expedição da Ocearch, organização não governamental atuante em nível global, estará pelos mares do Recife, primeira parada da ação, que também passará pelas regiões costeiras de Fernando de Noronha, Natal e Aracaju. Na prática, os 22 tripulantes do navio-laboratório atrairão para a plataforma da embarcação, em alto mar, o número estimado de 20 tubarões-tigre, espécie majoritariamente mais presentes nas águas brasileiras.

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De acordo com o líder da exploração da Ocearch, Chris Fischer, através de uma estrutura específica no navio para captura dos animais, os tubarões são trazidos à superfície para serem “etiquetados”, com uma aparelhagem capaz de transmitir sinais via satélite para todo o mundo. Individualmente, os animais são recolhidos e postos de volta ao mar em pouco tempo. 

“Por dia, 250 mil tubarões são mortos no mundo, o que ultrapassa um milhão de animais mortos ao ano. Isso apenas por causa de uma iguaria mais consumida na Ásia (sopa de barbatana de tubarão). Nós precisamos dos tubarões, eles mantêm o balanço e, se não preservamos, nossos filhos não terão nem peixes para se alimentarem”, advertiu Chris Fischer, ao lembrar que a população pode monitorar os animais através do Rastreador Global de Tubarões da Ocearch e suas redes sociais (Facebook e Twitter).

Um dos principais pesquisadores da área no Estado, Fábio Hazin, professor da Universidade Rural Federal de Pernambuco (URFPE), afirmou que a nova técnica acrescentará em muito o trabalho já feito por biólogos pernambucanos. “A diferença é enorme. Sabemos que os tubarões vêm do Sul para o Norte, mas poderemos compreender melhor a movimentação, o ciclo migratório e o ciclo de vida destes animais para conseguir respostas que buscamos em nossas pesquisas”, explicou Hazin. Como a Ocearch é uma ONG, o investimento é quase todo conquistado através de parcerias. Neste caso, o principal fornecedor é a Caterpillar Brasil.

Segundo o professor, amostras genéticas serão colhidas dos animais, já que, entre outras razões, as pesquisas apontam um crescimento de até dois vezes no tamanho destes tubarões-tigre. “Isso descarta a tese, muito dita por aí, de que os tubarões atacam por fome. Se eles estão crescendo, é porque têm se alimentado”, disse o pesquisador. Hazin deixou claro que as atividades do barco Sinuelo, que também faz um processo semelhante de monitoramento, mas sem a mesma sofisticação da Ocearch e apenas na região mais próxima às praias. 

“São para objetivos diferentes, mas os nossos aparelhos de monitoramento instalados nos animais permanecem no corpo dos animais cerca de seis meses e depois emerge à superfície, emitindo os sinais”, informou Fábio Hazin. De acordo com a Ocearch, os “chips” instalados pela tripulação tem a duração média de cinco anos. Segundo Chris Fischer, nenhum tipo de sedativo é dado aos animais; a técnica para acalmar os animais é na colocação de uma toalha preta nos olhos dos tubarões, o que resulta inclusive numa sonolência dos bichos. 

“Redes matam tudo”, diz especialista

Há exatamente um ano, a última vítima de ataque de tubarão na costa pernambucana, Bruna Gobbi, de 18 anos, entrava nas estatísticas como a 59ª caso de incidentes do tipo, desde 1992, no Estado. Nesta terça (22), o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) afirmou que foi aprovado o teste com telas de proteção na praia de Boa Viagem. 

A medida, porém, não agrada o especialista Chris Fischer, líder da expedição de monitoramento dos tubarões da Ocearch. “O problema das redes é que elas matam tudo. Baleias, tartarugas, peixes. Não podemos agir a partir do medo do desconhecido. Por isso visualizamos outras alternativas que não prejudiquem os animais”, observou. A reportagem tentou entrar em contato com Rosângela Lessa, atual presidente do Cemit, mas não teve resposta. 

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