Tópicos | Quero ser jogador

Agora que você já sabe como entrar no mundo do futebol, é hora de ler um pouco sobre quem já conseguiu. Conversamos com Rodolpho (Náutico), Renatinho (Santa Cruz) e Everton Felipe (Sport) sobre a caminhada deles. Basta dizer que o goleiro chegou no Timbu há 15 anos e os três passaram pelo futsal, mesmo que nem sempre do mesmo clube. Renatinho e Everton saíram do interior de Pernambuco atrás de um sonho comum a muita gente e dividem suas experiências e, principalmente, as dificuldades.

Longe de casa

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Até onde o seu sonho vai? Se não consegue se enxergar longe dos amigos e da família, o futebol não é para você. Poucos conseguem as primeiras oportunidades em suas cidades de origem e, em alguns casos, a carreira inteira pode se concretizar distante de casa. Para Renatinho, a decisão de sair veio graças ao pai, que trabalha em parceria com o Santa Cruz na busca por jovens talentos. Mas a mudança foi uma das maiores dificuldades para o meia, que precisou viajar 415 km de Serra Talhada ao Recife para morar no alojamento do clube.

"A saudade da família é grande. Primeira vez que saia de casa e sempre fui muito apegado aos meus pais, chorava toda noite. Acho que o que me segurou foi minha vontade de vencer e mostrar às pessoas que não acreditavam que eu ia conseguir", contou.

Limoeiro, cidade onde Everton Felipe cresceu, fica mais perto do Recife, no Agreste Pernambucano, mas não significa que as coisas foram mais fáceis para Everton Felipe. A jóia da base rubro-negra também precisou vencer a distância de casa para conseguir alcançar o futebol profissional. Ser jogador do Sport é o que fez todas as dificuldades valerem a pena.

"Você precisa acreditar, sempre. As coisas vão ficar difíceis e você precisa pensar positivo, ter fé. Mesmo que falem ser impossível, você precisa insistir o tempo todo, até conseguir", desabafou.

Suor, vontade e muita resistência

Sempre que as coisas apertam, a vontade de jogar tudo para o alto começa a se apresentar, isso vale para qualquer profissão. No futebol, essa vontade pode aparecer constantemente. É o que conta o goleiro Rodolpho, do Náutico.

"Às vezes, você tem a chance de subir para o time profissional ainda novo e isso traz muita alegria, mas a chegada de um novo treinador pode mudar tudo e voltar para a base é muito difícil. Você precisa ter muita resistência para não se entregar quando acontece essa transição. A família cobra bastante e a vontade de vencer tem que ser maior", ressalta.

Para Everton Felipe, o golpe foi duro. O meia do Sport chegou a ser convocado para a Seleção Brasileira, sub-20, o que, mais do que uma simples felicidade, é algo que pode mudar a carreira de um jogador. E, por conta de um problema com o passaporte para entrar nos Estados Unidos, o jovem acabou cortado. Dá para imaginar como isso doeu. 

"Foi uma situação boa para mim, nova, fui convocado cinco vezes. O que aconteceu no aeroporto é algo que infelizmente faz parte. A gente não pode ficar pensando nisso, tem que deixar passar e seguir focado naquilo que dá certo", declarou.

Vídeo: entrevista com Renatinho, jogador do Santa Cruz

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Dez dicas de quem já conhece o caminho: 

- Não tenha dúvidas, a certeza te leva mais longe: "Você não pode hesitar, se você quer ser jogador vai ter muita dificuldade pelo caminho e quem sabe o que quer, aguenta" (Rodolpho)

- Se dedique aos treinos: "A disciplina é essencial. Chegar na hora, mostrar que está comprometido, isso faz diferença. Chama a atenção de quem está avaliando" (Levi Gomes)

- Sem arrogância: "O maior erro do atleta da base é achar que já está pronto, antes da hora. É o tipo de atitude que tira o compromisso com os treinos e jogos. Pode acabar com a carreira antes da hora (Rodrigo Dias)

- Persista: "Às vezes você consegue chegar e precisa voltar para a base e isso é complicado. É preciso continuar se dedicando, principalmente quando fica mais difícil" (Rodolpho)

- Seja competitivo: "É fundamental. Te muita gente brigando por espaço e o jogador ter sempre vontade de vencer e ser o melhor é o que garante sua vaga. Tem que querer estar sempre ganhando, tudo" (Rodrigo Dias)

- Vida social com moderação: "Você tem que se afastar de algumas amizades que irão te chamar para beber e farrear. Lá no interior isso acontece mais facilmente, então é melhor tomar uma distância para garantir o foco onde ele deve estar" (Renatinho)

- Mantenha os problemas fora do campo: "Entre as características que procuramos em atletas está a frieza, não se deixar levar por nada. É aquele profissional que não sente, que mantém o equilíbrio emocional" (Rodrigo Dias)

- Dê sempre o melhor de si: "É difícil, tanto no começo da carreira, quanto já no profissional. Todo dia você precisa entrar e lutar pelo seu espaço" (Rodolpho)

- Cuidado com as tentações: "Noite, balada, mulheres e coisas erradas podem acabar com a carreira se você não tiver cuidado" (Everton Felipe)

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O que fazer depois de ser aprovado na 'peneira' de um clube? O jovem atleta que busca seguir com a carreira rumo ao profissional precisa ter a ciência de que erros não são permitidos. Deslizes podem acontecer, mas, se for considerada grave, uma falha pode acabar precocemente com a carreira de quem sonha em jogar futebol. Hora de saber o que fazer, mas, principalmente, o que não fazer quando estiver dentro do clube.

Os primeiros passos

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Feliz, provavelmente está o atleta que foi aprovado em uma peneira ou avaliação para integrar uma equipe de base de um grande clube. Porém, é preciso lembrar de tudo que o motivou a chegar até ali. Afinal, entrar nas categorias de base não é o fim da maratona rumo ao profissional, é apenas o começo. Podem se passar anos, em alguns casos até dez anos até que o jogador seja convocado para jogar no time principal.

"A gente recebe, por ano, cerca de 2,5 mil pessoas querendo uma vaga. Dessas, poucos se aproveitam: às vezes mais, outras vezes menos, mas a média é de 10 atletas por ano. A partir dali, ele precisa ir mostrando seu valor para avançar cada categoria até o sub-20, que é a última etapa antes de integrar o elenco profissional", conta Bleno Porfírio da Cruz Júnior, diretor do departamento de base/Futsal do Santa Cruz.

Nem todos fazem o caminho inteiro dentro do clube. No caso do meia Renatinho, a chegada no Santa veio aos 17 anos, mas demorou para convencer de que não era só mais um 'baixinho esperto'. "Sempre tem a desconfiança, dos treinadores, dos colegas. Eu mostrei diferente, que eles estavam errados. Quando me olhavam baixo, eu pensava alto. É você quem vai decidir o que você quer e qual obstáculo dá, ou não, para vencer. Vença seus pensamentos e você vai longe", diz o atleta.

O caminho é a superação

Distância da família, várias festas e atividades com amigos que serão canceladas, adaptação a uma nova rotina, às vezes em uma nova cidade, são dificuldades que todo atleta enfrenta. O sonho de se tornar profissional é o que mantém a chama acesa nas horas difíceis e é a vontade de vencer e a entrega que irão garantir a continuidade do desenvolvimento.

"O atleta precisa ter ciência de que precisará abdicar de algumas coisas. Ele está ali para ser profissional, e parte disso envolve o sacrifício. É preciso ter a cabeça no lugar e o foco sempre no sucesso, é isso que vai ajudá-lo na hora de encarar os treinos e também competições, que é onde o jogador mostra todo seu potencial e confirma que é um talento", afirma o coordenador técnico da base do Sport, Rodrigo Dias.

A evolução do atleta é o que faz com que ele passe por cada categoria até o momento em que passa do sub-20 ao elenco profissional. Para atingir este auge, é preciso mostrar que a maturidade chegou, o que não é fácil. "O jogador vai crescendo a cada dia, cada jogo. É nesses momentos que você sabe quem é jogador que só treina bem e quem tem capacidade de subir. Quando ele vai evoluindo, se destacando, a maturidade, confiança e experiência vão aparecendo. Isso nos mostra que ele cresceu bem e a gente pode apresentá-lo ao treinador do time principal", ressalta o auxiliar técnico do Náutico, Levi Gomes.

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Um erro pode ser o último

São muitas as tentações que podem tirar o foco, principalmente de alguém jovem, que no sub-20 já tem um salário, mesmo que pequeno, e está chegando perto da idade de ser promovido. Achar que está pronto, antes da hora, não é o ideal. Pode tirar a disciplina em um momento onde ela é mais exigida. "Achar que porque melhorou um pouco a condição financeira e que não tem mais o que evoluir é um erro grave. A competição é dura e quem dá espaço à concorrência, perde tudo que conquistou. É preciso estar ciente de que você sempre tem como aprender. Se o atleta pensa que não, age com soberba, encerra a carreira precocemente", destaca Rodrigo Dias.

A motivação é o que move o jogador profissional. E se o atleta da base espera chegar um dia no time principal, tem que saber utilizar dessa ferramenta. "É preciso ter disciplina. Se dedicar não somente nos jogos, mas no treinamento, no cotidiano. É assim que você conquista seu espaço. O comportamento, a disciplina e a postura têm que mostrar que você não vai se deixar abater pelas dificuldades. Se cada vez que as coisas dificultam, o jogador se abate, ele nunca irá conseguir chegar lá", diz Levi.

Exemplos de superação não faltam. Jogadores como Renatinho (Santa Cruz) e Everton Felipe (Sport) enfrentaram a mudança de cidade, a distância para os amigos e várias outras situações que podem derrubar o jogador emocionalmente. Essa é a hora em que estar ciente do que deseja pode ser o diferencial para alcançar o resultado final.

É hora de entrar!

A subida ao profissional vem, normalmente, no sub-20. É a categoria de acesso, na qual o atleta já venceu todas as etapas e o jogador mais precisa 'mostrar serviço', pois todos estão de olhos bem atentos nele. Afinal, nunca se sabe quando o clube irá precisar dos prata da casa para reforçar o elenco principal.

"Se depender do atleta, ele sobe logo que chega ao clube, mas é um processo. A gente avalia com calma, nós da comissão e o treinador iremos ver nas competições se o jogador está em condições de subir. Se a gente tiver a convicção de que ele já tem o suficiente para disputar no profissional, a gente conversa com o treinador do time principal, oferecendo a opção. Sem falar de que fazemos muitos treinos colocando o sub-20 junto ao profissional, isso ajuda a observar se o atleta já está em um nível próximo", conta Rodrigo.

É nessa hora que todo o esforço, desde o futsal com 7 anos de idade, mais os vários anos dedicados aos treinos e competições que o jogador enfrenta, é recompensado. O primeiro contrato profissional, não raramente surge em outras idades. Mas é usual que apareça aos 21 anos de idade. O sonho de se tornar um profissional da bola se concretiza na assinatura e a partir daquele momento a realidade em que o atleta passa a viver é outra.

As dicas de quem já lutou, passou por tudo isso, e está jogando profissionalmente você confere na terceira e última matéria do especial 'Quero ser jogador': quem já venceu, dá as dicas.

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Fica fácil entender que se tornar um jogador profissional de futebol é muito difícil na hora em que se tenta entrar em um clube. O caminho mais fácil costuma ser pelo futsal. E, mesmo assim, não existem garantias de que praticar a modalidade dos primeiros anos de vida até a hora em que se tenta uma vaga culminará em um espaço no time profissional. A série 'Quero ser jogador' mostra como as pessoas que selecionam talentos para os clubes pensam e o que esperam de cada jovem promessa.

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Everton Felipe precisou abandonar a família e a cidade natal para chegar ao time titular do Sport (Chico Peixoto/LeiaJáImagens)

Não é para qualquer um

O futebol não pode ser ensinado, é algo que se aprimora. É assim que pensam os profissionais da área. Antes mesmo de avaliar critérios técnicos, os olheiros e treinadores observam detalhes inerentes ao jovem atleta. A estrutura física, a coordenação motora, as reações rápidas e até o sangue são indicadores de que a criança tem potencial. É o que conta o Coordenador Técnico da base do Sport Club do Recife, Rodrigo Dias.

"São quatro pontos básicos: físico, técnico, entendimento de jogo e o psicológico-emocional. Existem atletas que nascem fisicamente privilegiados. São pessoas que têm as chamadas fibras rápidas. Com treinamento você melhora até certo ponto, mas quem tem essa predominância leva vantagem sobre os demais. Além de tudo isso, o atleta precisa ser corajoso, emocionalmente forte, ou de nada adianta. É preciso um jovem extremamente competitivo, já que só os que perseveram conseguem. Se tornar profissional é uma maratona. Às vezes o atleta precisa passar dez anos no clube, longe da família, até chegar no profissional", afirma.

O auxiliar técnico do Náutico, Levi Gomes, concorda com a opinião de Rodrigo. De acordo com Levi, que já foi treinador das categorias de base do Timbu, o clube só investe e desenvolve o atleta que já tem algum potencial e características que favorecem o desenvolvimento: "Trabalhamos com pessoas de várias características, algumas que buscamos mais que outras. Muitos chegam aqui com bom passe e chutes, precisamos de outros fundamentos também".

O futsal é a porta

É assim nos grandes clubes do Recife. O futsal costuma ser um grande celeiro de atletas para o futebol de campo. No Sport, por exemplo, a criança começa aos 7 anos de idade e aos 13 passa por um período de transição aos gramados para integrar o sub-13, primeira categoria do futebol profissional. Isso, claro, se o atleta não optar por permanecer nas quadras.

"A base funciona com sub-13, sub-15, sub-17 e sub-20. A gente faz uma integração com o futsal, crianças que vêm de escolinhas do Recife e campos de várzea. É um trabalho que o próprio treinador faz. Ele encontra valores e faz um mapeamento. Acredito que a porta de entrada do futsal é a escolinha do clube. Claro que recebemos em captação, peneiras e observações em competições, mas a maioria sai das quadras para o sub-13", conta Rodrigo.

No Santa Cruz, o funcionamento é bem semelhante. Segundo o diretor do departamento de base/Futsal, Bleno Porfírio da Cruz Júnior, a seleção é feita já nos primeiros níveis de quadra e o aproveitamento para a base do futebol de campo é alta. "Cerca de 90% das nossas equipes de juniores são compostas por atletas que começaram no futsal. Nosso treinador faz esse trabalho de avaliar quem tem potencial para sair. Além do trabalho que nossos olheiros fazem. A criança começa bem cedo e pode fazer o caminho completo, como foram alguns casos recentes no Santa, o Nininho, por exemplo, começou ainda criança", explica.

Levi Gomes conta que o Náutico não faz peneiras, mas avalia jogadores que se apresentam no CT do Náutico (Léo Lemos/Náutico)

Outros caminhos

Nem todo mundo começa nas quadras. Existem aqueles jogadores que já entram nos clubes pelo futebol de campo. Às vezes, até direto para o sub-20, que é o último passo antes de subir ao profissional. As rotas alternativas estão nas peneiras realizadas pelos times e ainda o testes, que normalmente são resultado de indicações de ex-jogadores, parceiros dos clubes e olheiros. O Santa Cruz, por exemplo, realiza peneiras duas vezes por semana, além de receber jovens para testes que a comissão técnica avalia em treinos. Isso sem falar dos olheiros espalhados pela Região Metropolitana do Recife e outros espalhados pelo Nordeste.

O Náutico não utiliza esse caminho, mas deveria, já que o fluxo de candidatos é grande e constante. "Recebemos muita gente. Às vezes você tem dez jogadores para avaliar em uma semana apenas", diz Levi.

No Sport, fora as peneiras e avaliações, existe o esquema de captação de atletas. nele, o clube, ao disputar torneios, avalia jogadores que se destacam. A ideia é pegar jovens com potencial já em desenvolvimento e formá-los no clube. "É uma porta de entrada, a comissão técnica viaja para peneiras fora do Estado. Além disso, os torneios nos quais a gente compete. O Coronel (Genivaldo Cerqueira, coordenador da base do Sport) vai junto e observa. Caso o clube se interesse, traz. Foi assim com o Renê, Neto Moura e Joelinton", ressaltou Rodrigo Dias.

Tudo isso é apenas para que o jovem saia do status de 'peladeiro' de plantão, para jogador das divisões de base de um grande clube. O que fazer, e principalmente, o que não fazer para a carreira seguir rumo ao profissional, você pode ler na próxima matéria do especial: 'Quero ser jogador: tô na base, e agora?'

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