Para a insatisfação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que na semana passada reagiu com vigor a uma projeção de crescimento de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, começa a ganhar corpo no mercado um grupo de analistas que preveem expansão da economia abaixo de 2%. As expectativas vão de 1% a 1,9%. O Ministério da Fazenda insiste em afirmar que a economia crescerá 4% em 2012 e que a atividade deslanchará no segundo semestre. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tem recorrido às projeções da Pesquisa Focus, com as quais diz estar de acordo, para mostrar que a economia chegará ao quarto trimestre crescendo 4% em termos anualizados.
Por trás das projeções entre 1% e 1,9% está a descrença dos economistas em relação a uma eventual melhora do cenário econômico mundial. Além disso, o baixo crescimento do PIB brasileiro no primeiro trimestre do ano e a redução da produção industrial em abril contribuíram para o rebaixamento das projeções. Mesmo os analistas que ainda trabalham com expectativa de um crescimento de PIB igual ou superior a 2% neste ano já embutem nas contas um forte viés de baixa da projeção à medida que veem pouco impacto dos esforços de ajuda às economias europeias.
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Em entrevista à Agência Estado, o ex-secretário de Política Econômica e sócio da MB Consultores José Roberto Mendonça de Barros disse que sua expectativa de crescimento neste ano está entre 1,5% e 2%. Mas como ele diz acreditar que a crise na Europa tende a piorar, não será uma surpresa se o PIB avançar apenas 1%.
Alvo da reação do ministro Mantega, que classificou a projeção de "piada", a equipe do Banco de Investimentos Credit Suisse revisou sua estimativa de PIB para 1,5% em relação à projeção anterior, de 2%. "Essa revisão se deve à redução da produção industrial em abril, à nossa expectativa de nova contração da atividade industrial em maio e às nossas projeções para os demais setores", afirmou, em relatório, a equipe de economistas do Credit Suisse.
No BBM Investimentos a expectativa é de que o PIB apresente expansão de 1,70% em 2012, inferior ao crescimento de 2,70% em 2011. Segundo o economista da instituição Hui Lok Sin, além da desaceleração natural da economia, há questões técnicas que justificariam um avanço mais baixo do PIB neste ano.
"Existe um 'problema' estatístico que é o fato de o PIB ter crescido muito pouco ao longo de 2011. Como o PIB voltou a apresentar fraco desempenho no primeiro trimestre de 2012, a situação se agravou", avaliou. Na avaliação de Lok Sin, como os primeiros dados do segundo trimestre não sugerem uma retomada forte da atividade, um aumento mais expressivo do PIB em 2012 ficou "meio comprometido".
"A crise lá fora, certamente, é preponderante para o baixo crescimento, em especial da indústria. Mas também temos os efeitos das medidas restritivas de política econômica que foram tomadas no início de 2011", disse Lok Sin.
Na Tendências Consultoria, o baixo crescimento de 0,20% do PIB no primeiro trimestre foi um dos motivos para a alteração na previsão do crescimento de 2012, agora em 1,90%. Antes da divulgação do PIB trimestral, a instituição trabalhava com uma expansão de 2,50%. Para que a nova estimativa se confirme, o economista Rafael Bacciotti calcula que o PIB precisará crescer, na margem, 0,50%, 1,4% e 1,2%, respectivamente, no segundo, terceiro e quarto trimestres deste ano.
Apesar dos recentes indicadores mostrarem desaquecimento da economia, por enquanto Bacciotti não espera mudar a previsão para o PIB de 2012, mas a possibilidade não está descartada. "Há sinais incipientes. Não dá para negar que o número (projeção de 1,90%) implica uma trajetória bem forte nos próximos trimestres. Com a atividade e os investimentos fracos, é uma projeção forte", afirmou Bacciotti.
Na SulAmérica Investimentos, o economista-chefe, Newton Camargo Rosa, também trabalha com previsão de 1,9% de expansão econômica neste ano. Para ele, o governo tem como estratégia incentivar o consumo, acreditando que aumento da demanda vai despertar maior apetite dos investidores. Mas não há, segundo Rosa, perspectivas de aumento dos investimentos, até por conta das projeções de baixo crescimento da economia.
Flávio Serrano, economista sênior do Espírito Santo Investment Bank (Besi Brasil), diz manter ainda em suas planilhas previsão de 2,2%, mas afirma que o viés é de baixa. "Estamos perto de 2%, mas o viés é de baixa", disse o economista.