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Há 50 anos, uma cena se repete às margens do Rio Capibaribe, no bairro da Torre: um pequeno barco faz a travessia de passageiros para o outro lado do Rio, no bairro da Jaqueira. Para atravessar o rio, basta pagar R$ 1,00 por pessoa e aproveitar a vista. Paralelas aos rios, as Avenidas Rui Barbosa e Beira Rio são cenários de constantes engarrafamentos, em que carros e ônibus se amontoam em filas e disparam suas buzinas repetidamente.
##RECOMENDA##Atualmente, o responsável pela travessia é Marcos Parangabá, filho de Zomilton Tomé, 65 anos, dos quais há 50 ele dedicou para fazer a travessia de pedestres no rio. Seu Mita, como é conhecido, herdou o ofício e o barco Sayonara do avô, que passou para o pai, Manuel da Bala, e há pouco tempo ele passou para um dos filhos. “Minha vida é isso aqui, nunca trabalhei, nem sei o que é carteira de trabalho, sempre vivi de levar as pessoas desse para aquele lado”, disse.
Ao longo de cinco décadas, Seu Mita observou as mudanças que o Capibaribe sofreu. “A gente tomava banho nesse rio, eu conseguia pegar camarão porque não existia mangue, era areia. Hoje nem boto os pés nessa água”, revela. Animais como boto, peixes e camarão eram constantes no rio. “Também já vi capivara, e jacaré, que tem aparecido muito, mas eles têm medo de ser humano, quando vê a gente, corre logo para a água”, completa. Segundo ele, a pesca ainda acontece, mas a abundância de peixes não é a mesma de algumas décadas atrás. “Volta e meia a gente consegue pegar peixe, grande, mas com muita espinha”.
Ao falar sobre a sujeira do rio, se entristece. “Meu sonho é ver esse rio limpo”, diz, emocionado. Reclama da quantidade de lixo, e culpa os recifenses e as autoridades pelo estado que o Capibaribe se encontra. “Eu tenho um barco com motor, e quando saio para fazer trajetos maiores no rio, volta e meia tenho que parar para tirar o lixo que começa a interferir no motor”, explica, e fala que há muitas garrafas e plástico no rio.
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Ao ser questionado sobre as obras do projeto de Navegabilidade do Rio Capibaribe, Seu Mita expõe seu apoio. “È bom que façam isso, vai ficar bom”, disse. Segundo ele, as dragas têm passado pelo local com certa frequência. “Eles passam a draga aqui para tirar lixo e outras coisas acumuladas e abrir mais espaço no rio”, comentou. No momento da realização da reportagem, a equipe do LeiaJá avistou uma das dragas em funcionamento logo após a Ponte da Torre, e pequenos barcos passavam pelo local, fazendo o transporte dos trabalhadores da obra.
Muita gente já utiliza o barco como alternativa de transporte para se deslocar de um bairro para o outro, por motivação pessoal, e outras, por opção de linhas de ônibus, que é mais abundante do lado das Graças, na Avenida Rui Barbosa. É o caso da professora de inglês, Adriana Milano, que mora na Jaqueira e malha em uma academia na Torre. “Eu e meu marido fazemos a travessia cerca de quatro vezes na semana, há um ano e meio, desde que nos casamos”, conta.
O professor universitário Antônio Carlos também faz a travessia diariamente levar a filha, Laís, ao Colégio, no bairro das Graças. “Já tem 11 anos que a gente faz esta travessia, desde que Laís começou a estudar”, disse. O professor reforçou seu apoio à iniciativa do projeto de Navegabilidade. “Acho importante que a população tenha opções, e se existe esta travessia há tanto tempo e funciona, por que não investir neste tipo de transporte?”, questiona.
Andamento das obras e utilização do Capibaribe como alternativa de transporte:
Questionada sobre o status do projeto de Navegabilidade do Capibaribe, a Secretaria das Cidades (Secid), responsável pela execução do projeto, informou que 10 km do trecho oeste da rota no rio foram dragados e que, neste momento, estão sendo construídas as estações do Recife, Derby e Torre. Ainda segundo a secretaria, até o fim deste ano os recifenses já poderão utilizar o rio como alternativa de transporte.
Questionada sobre a existência de uma pessoa que já realiza a travessia num dos trechos do rio, a Secid disse que cabe ao órgão somente a implantação do sistema no rio.