Tópicos | um ano de pandemia

Além de ser conhecido como uma das mais antigas expressões artísticas da humanidade - e, também, uma das mais diversas e universais - o teatro é ainda referenciado como “a arte da crise”. Sendo assim, as artes cênicas não poderiam passar batidas à uma pandemia que varreu o globo, ceifando vidas e colocando a existência humana em risco iminente. 

Embora acostumados a enfrentar desafios e peitar dificuldades, das mais diversas ordens, não foi com menor surpresa ou desconforto que os profissionais desse segmento cultural precisaram descobrir como sobreviver à maior crise sanitária de todos os tempos. Desde o início de 2020, o fechamento de espaços culturais, salas de teatros e cancelamento de eventos prejudicou a renda de milhares de trabalhadores. 

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Só no Rio de Janeiro e em São Paulo, cerca de 12 mil profissionais da área se viram sem trabalho em 2020. Segundo a  Associação dos Produtores de Teatro (APTR), nessas duas capitais foram canceladas cerca de 350 peças. Dessas, 70% não contava com qualquer tipo de patrocínio, dependendo exclusivamente da bilheteria.  

Assim como outras linguagens, para não ser engolido por mais uma crise, o teatro migrou para o meio digital. O desafio, no entanto, se mostrou imenso, uma vez que essa é a arte do ‘ao vivo’ e do contato presencial. Companhias de todo o país, e do mundo, levaram espetáculos já existentes para as redes sociais, em adaptações, e, até mesmo, criaram novos produtos que tomaram para palco os espaços mais inusitados, como aplicativos de vídeo chamada (Google Meet e Zoom)  e até o app de troca de mensagem WhatsApp, como é o caso da peça Se eu não vejo, que em 2021 estreou segunda temporada, em cartaz até o final do mês de março. 

Para o ex-ator, jornalista crítico e pesquisador da área de teatro, doutorando em artes cênicas na UNIRIO (RJ), Leidson Ferraz, essa não será a última crise que fazedores de teatro precisarão enfrentar, no entanto, os desafios apresentados levaram esses profissionais a movimentos antes inimagináveis. “Acho que a pandemia trouxe essa grande batalha que é abandonar esse contato direto com o espectador - tem espetáculos que tem a intenção fortíssima com a plateia -, e se transplantar para a tela. É muito difícil pra nós, até porque a gente não lida com essa parte tecnológica que é produzir um vídeo, produzir planos diferentes de captação de imagem, de som. Há um arsenal técnico que é muito difícil, não sabemos lidar com isso, a gente foi aprendendo, a gente teve que tatear para poder se reinventar”, disse em entrevista ao LeiaJá.

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A migração para outras plataformas, além de desafiadora, acabou fomentando o surgimento de novas expressões e linguagens. Na peça (In)Confessáveis, do Coletivo Impermanente, apresentada via Google Meet, por exemplo, o espectador é ‘recepcionado’ por um questionamento: “Isso é teatro?”. “Hoje a gente não sabe dizer se isso que tá sendo produzido é teatro, é um teatro vídeo, é um teatro digital, enfim … Hoje a gente não tem como classificar, mas é o que se pode fazer”, comenta Leidson. 

Para além do fazer criativo, também foi necessário lidar com as dificuldades financeiras. Além do já existente dificuldade em captar recursos e patrocínios, levar as montagens para as plataformas digitais impôs um novo custo às produções. “Os desafios são enormes, não só pelo tempo que se produz, mas (por) ter que ter contato com outros profissionais. Novos profissionais vieram fazer parte da equipe do teatro. Captadores de áudio e vídeo, editores que já trabalham com cinema, então eles tiveram que se agrupar aos grupos de teatro e isso custa caro”. 

Um dos auxílios para a classe veio do governo federal através da Lei Aldir Blanc, sancionada em caráter emergencial pelo presidente Jair Messias Bolsonaro em junho de 2020. Através dela,  será distribuído aos Estados, Municípios e ao Distrito Federal o valor total de R$ 3.600.000.000,00 (três bilhões e seiscentos milhões de reais) para que sejam aplicados em ações emergenciais em apoio aos trabalhadores da cultura. “A Lei Aldir Blanc é importantíssima, muitos produtos estão nascendo por causa dela. As pessoas estavam paradas”, observa o pesquisador. 

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O Coletivo Impermanente apresenta o espetáculo (in)confessáveis na plataforma Zoom. 

Resistir hoje para dar conta do amanhã

Ao longo do primeiro ano da pandemia do novo coronavírus, os fazedores das artes cênicas fizeram, com coragem, o que já estão habituados a fazer desde sempre: resistir. Os desafios acumulados e superados ao longo dos últimos meses serviram, não só como combustível para a continuidade do seu fazer artístico como, também, vislumbre de um futuro mais próximo do que distante.

“O teatro não vai morrer nunca porque nós passamos por inúmeras crises desde que o teatro existe. Inclusive, digo que teatro é a arte da crise porque a gente de fato tem que buscar alternativas para sobreviver em todos os sentidos, não só financeiros mas esteticamente também. Eu acredito que quando ela passar (a crise) - e ela vai passar, acredito que a gente vai voltar um pouco ao que era; nunca mais vai ser a mesma coisa, mas acho que o teatro vai resistir em várias plataformas agora. A gente vai ter o teatro presencial, mas também vai poder se aproveitar desse contato via tela, de computador, de televisão, do celular, e uma coisa muito positiva que eu acho que isso nos proporciona é o contato com plateias diferentes. Essa possibilidade de atingir milhares de pessoas pela internet não deve ser desperdiçada. Se há algo positivo nesse período, é essa nova possibilidade”, finaliza Leidson.  

Nas próximas matérias, você vai ver como a literatura e as artes plásticas se comportaram diante a pandemia do novo coronavírus. 

Há um ano, a Terra se viu tomada por uma crise sanitária de proporções inimagináveis até então. A pandemia do novo coronavírus varreu o mundo, levando vidas - mais de 2.500.000 até o momento -, quebrando a economia e os sistemas de saúde em diversos países, e mudando para sempre o modo de habitar o planeta.

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No Brasil, o alarmante número de mais de 250 mil mortos pela Covid-19 precisou dividir as atenções dos brasileiros com outros problemas, também gritantes. A descoordenação do Governo Federal na condução da crise de saúde e a vacinação tardia e insuficiente, além do desemprego e da volta da fome à mesa de milhares de pessoas são temas que tiram o sono do país há pouco mais de 365 dias. 

O cenário pandêmico imprimiu ao mundo uma nova maneira de viver. Com severas restrições de contato físico e convivência social, foi preciso adaptar-se ao uso de acessórios como a máscara de proteção individual, o consumo de álcool em larga escala e o uso massivo da tecnologia para tentar minimizar distâncias. Como não podia deixar de ser, as novidades recaíram, também, nas searas da arte e da cultura. 

Segundo a pesquisa Percepção dos Impactos da Covid-19 nos Setores Culturais e Criativos do Brasil, os setores da cultura e da economia criativa foram os mais afetados pela crise sanitária. Entre as organizações ligadas aos dois setores, ouvidas pelo estudo, mais de 40% disseram ter registrado perda de receita entre 50% e 100%. Sendo assim, desde o início da pandemia, tanto o consumo de produtos culturais quanto a forma de fazê-los têm passado por adaptações e tais mudanças, provavelmente, ditarão os rumos de artistas e do público daqui pra frente.

Para marcar o primeiro ano da pandemia do novo coronavírus, o LeiaJá faz um pequeno panorama das implicações da crise sanitária no mundo da arte e da cultura. Da televisão, passando pelos palcos do teatro, museus, telas de cinema e produção musical, muito precisou ser adaptado para que nem artistas, nem a audiência ficassem órfãos de trabalho - no caso dos primeiros - e de arte em um momento tão crítico. 

Cinema e festivais

Com o agravamento da pandemia, ainda no início de 2020, sets de filmagem ao redor de todo o mundo foram esvaziados. Com o endurecimento dos protocolos de segurança preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), várias produções cinematográficas foram suspensas e estreias adiadas ou canceladas. As salas de cinema também precisaram ser fechadas, o que causou uma perda econômica bastante significativa à indústria.

Segundo o Hollywood Reporter, em 2020 a indústria cinematográfica norte-americana teve um faturamento 80% menor ao do ano anterior, fazendo 2,3 bilhões de dólares em detrimento dos 42,5 bilhões levantados em 2019. No Brasil, as bilheterias de 2020 chegaram perto dos R$ 646 milhões, um número 75% menor do apurado um ano antes da pandemia. 

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O momento se tornou interessante, no entanto e dentro de várias limitações, para o cinema independente. Com equipes menores, bem como custos reduzidos, alguns realizadores continuaram produzindo, inclusive, tendo a própria crise sanitária e seus desdobramentos como tema, e as plataformas de streaming foram o caminho de escoamento dessa produção. 

Os festivais também tomaram parte no meio digital para não deixarem de existir. A exemplo do Cine PE, que em sua 24ª edição, em 2020, adotou o ‘Novo’ como nome do evento que foi exibido pela internet e, também, pela televisão. Outros grandes festivais como o É Tudo Verdade, Mix Brasil, Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e Varilux, fizeram o mesmo. Neste mês de março de 2021, o Animage, Festival Internacional de Animação de Pernambuco, segue esse caminho e promove 10 dias de programação totalmente online.  

Vale a pena ver de novo - e de novo

Nas televisões, as necessidades de suspender produções e modificar programações foram as mesmas. As emissoras brasileiras Globo e Record, por exemplo, colocaram elencos e equipes técnicas de novelas para casa, no início de 2020, e lançaram mão das reprises de folhetins e outras atrações. 

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O jornalismo acabou ganhando maior espaço, também. A exemplo do que aconteceu na TV Globo, que mexeu na sua grade matinal para exibir o Combate ao Coronavírus, que trazia uma cobertura ampla acerca da pandemia no país e no mundo. Outros programas da emissora remodelaram seus formatos e passaram a ser exibidos pelas redes sociais, como o Mais Você, de Ana Maria Braga e o Conversa com Bial, apresentado por Pedro Bial.

No final de 2020, com o afrouxamento de alguns protocolos de segurança, os estúdios da Globo voltaram a funcionar, porém com modificações. Equipes reduzidas e até mesmo o uso de barreiras físicas de alílicos entre atores passaram a ser adotadas no processo de produção. Novelistas também foram orientados a evitar cenas com beijos e abraços, a fim de minimizar o contato físico entre os artistas. Porém, alguns atores acabaram testando positivo para a Covid após a retomada, como Rafael Cardoso, Vladimir Brichta, Jéssica Ellen e Rodrigo Simas, e o ritmo de gravações voltou a diminuir. Ainda assim, as produções de Amor de Mãe e Salve-se quem puder conseguiram ser finalizadas em 2020. 

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Nesse meio tempo, as plataformas de streaming acabaram abrigando parte de uma audiência quase órfã. Vários serviços abriram seus sinais, no primeiro momento da crise sanitária, como forma de aliviar o isolamento social, e viram seus números crescerem de forma exponencial. No Brasil, a plataforma Telecine Play registrou um crescimento de 400% no número de cadastros, durante a quarentena. 

Pesquisa feita pela Convivas, uma plataforma de monitoramento de streaming, apurou que a audiência desses serviços de audiovisual cresceu 20% desde o início da pandemia de coronavírus. Em outro estudo, pesquisadores concluíram que, em comparação ao primeiro trimestre de 2019, os três primeiros meses de 2020 apresentaram aumento de 79% em horas vistas de vídeos sob demanda. Uma mudança que tende a ficar entre a audiência, independente do desenrolar da pandemia. 

Nas próximas matérias, você vai ver como a indústria da música e o teatro se adaptaram aos tempos pandêmicos.  

Trabalhando na linha de frente da pandemia desde o início dela, os jornalistas precisam lidar com notícias fortes e duras a fim de levar informação segura e confiável para a população. Trabalhar com fatos tão marcantes, demanda bastante profissionalismo e até mesmo, ‘sangue frio’, porém, às vezes pode ser difícil segurar a emoção. Foi o que aconteceu com Renata Vasconcellos, apresentadora do Jornal Nacional, na última sexta (26). Após anunciar uma matéria que lembrou o primeiro ano do coronavírus no Brasil, a jornalista ficou visivelmente emocionada e tocou o público. 

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A reportagem repassou alguns eventos ocorridos durante o último ano, o primeiro em que a pandemia do novo coronavírus se estabeleceu no país. Ao final da matéria, as imagens mostraram profissionais da saúde recebendo os imunizantes contra a Covid, o que teria sido, talvez, o primeiro respiro de esperança para toda a população durante a crise sanitária. Ao voltar ao ar, a âncora do JN estava com os olhos marejados.

A emoção de Renata não passou despercebida do público. Os espectadores do telejornal também se comoveram e comentaram muito a reação da âncora. “Renata Vasconcellos representando no JN... não tem como não se comover com o que estamos passando há mais de um não”; “A Renata Vasconcellos se emocionando no Jornal Nacional, chorei junto”; “Não tem como a gente não se emocionar, todos fomos afetados e mais ainda quem teve alguém ente querido vitimado pela Covid-19”. 

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