Tópicos | 13 de agosto de 2014

A manhã era de chuva naquela quarta-feira, dia 13 de agosto de 2014, quando por volta das 10h30 a Força Aérea Brasileira (FAB) registrou a queda do jato Cessna 560-XL em Santos, no litoral de São Paulo. A aeronave transportava o então presidenciável e ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e mais seis pessoas para agendas de campanha na região. Nenhum deles sobreviveu à tragédia. Hoje, exatamente um ano depois, a causa do acidente ainda não foi identificada pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

Falhas humanas, técnicas, choques com drones e até sabotagens foram algumas das teorias levantadas por populares, familiares das vítimas e profissionais para justificar a queda do jatinho. Na última semana, ao ser procurada pelo Portal LeiaJá, a FAB divulgou uma nota informando que o processo de investigação das causas do acidente está em fase de finalização, no entanto, o órgão não estimou uma data para o anúncio do relatório final.  

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“A investigação do acidente com o jato Cessna 560-XL está na fase final de análise dos dados. De acordo com as normas internacionais, só podemos divulgar as conclusões consolidadas, uma vez que especulações podem prejudicar o andamento dos trabalhos e impedir a colaboração de fontes voluntárias”, explicou o chefe do Cenipa, Brigadeiro do Ar Dilton José Schuck. “Assim como em todos os acidentes aeronáuticos, o Cenipa não fixa um prazo para a conclusão do Relatório Final”, acrescentou. 

A equipe de investigação, composta por membros da FAB e do Cenipa, afirmou que em um ano realizou estudos de desempenho e dos sistemas da aeronave, além de ter verificado as habilitações e treinamento dos pilotos, meteorologia, regulamentos existentes na aviação brasileira e manutenção.

Em janeiro de 2015, foram divulgadas as primeiras informações sobre o caso. Na ocasião, foi apontado que o piloto Marcos Martins e copiloto Geraldo Magela “fizeram rota diferente do previsto na carta de aproximação por instrumentos para pouso na Base Aérea de Santos”, deixando assim evidente a possibilidade de que a queda teria sido provocada por falha humana, com a falta de treinamento dos profissionais. 

Segundo o relatório preliminar, tanto na descida inicial para a pista da Base Aérea de Santos quanto na arremetida (quando o avião sobe de volta no momento em que não consegue aterrissar na primeira vez), os radares captaram um percurso diferente do recomendado no mapa.

Além disso, no documento também foi descartada a hipótese de colisão com aves, drones ou aeronaves. Ficou constatado que o avião não estava voando invertido antes da queda e os motores estavam funcionando no momento do impacto com o solo. 

Na época, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) divulgou uma nota dizendo que os operadores tinham habilitação válida para operar os três modelos de aeronaves da família do Cesnna. “O piloto e o copiloto estavam com licença e habilitação C560 válidas no momento do acidente e, portanto, aptos e em situação regular para voar”, pontuou o órgão.  

Além do candidato à presidência Eduardo Campos e dos pilotos Marcos Martins e Geraldo Magela, os fotógrafos Alexandre Severo e Macelo Lyra, o jornalista Carlos Percol e o assessor Pedro Valadares também morreram no acidente em Santos.

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Familiares acreditam em falha no projeto do avião 

Em paralelo as investigações do Cenipa, as famílias dos tripulantes da aeronave - que tiveram possíveis erros apontados pelo relatório preliminar – iniciaram uma averiguação técnica do projeto das aeronaves do modelo Cessna 560 Citation EXCEL (XL, XLS, XLS +), da qual o jatinho que transportava Campos pertencia. 

Com as informações levantadas pelo ex-comandante e perito Carlos Camacho, a esposa do piloto Marcos Martins, Flávia Martins, elaborou uma carta, encaminhada recentemente a Anac e ao Cenipa, alegando que os aviões de pequeno porte apresentavam uma falha nos estabilizadores horizontais, ferramentas responsáveis para dar o sentido que o nariz da aeronave deve estar durante o voo. Segundo o parecer, na hora do acidente o automatismo projetado para o estabilizador horizontal falhou, colocando o avião para a posição de Nose Down (nariz para baixo) e levando-o ao chão.

“Nessa carta foram colocadas muitas informações técnicas pedindo aos órgãos de investigação aqui no Brasil que considerasse esse novo enfoque”, detalhou o representante das famílias dos pilotos no caso, o advogado Josmeyr Oliveira, ao Portal LeiaJá. Segundo ele, inclusive, a empresa fabricante do Cesnna que fica nos Estados Unidos já foi notificada sobre o assunto e a defesa está estudando uma forma para abrir um processo na corte americana para as investigações das falhas. 

“A notificação foi feita no final de julho e está no prazo ainda de reposta. São 30 dias. Temos o final de agosto”, revelou Oliveira. “A ideia é que seja estudada uma possibilidade de um processo nos EUA, e lá, diferentemente daqui (onde os órgãos públicos investigam de maneira e sigilosa], as investigações também são conduzidas pelos órgãos privados, além dos oficiais”, acrescentou, observando que todos os aspectos são levados em consideração para um possível julgamento nos tribunais no EUA. 

Apesar dos argumentos, a tese da falha técnica, no entanto, não foi corroborada publicamente pela família Campos. O advogado que os representa no caso, José Henrique Wanderley Filho, informou que o posicionamento da viúva e dos filhos do ex-governador de Pernambuco será o de aguardar o relatório final dos órgãos investigadores. Já o irmão do então presidenciável, o advogado Antônio Campos, defendeu a tese em uma entrevista publicada no seu blog pessoal. No texto ele cita outros dois casos de aeronaves da mesma família com acidentes semelhantes. Um que ocorreu em 2 de dezembro de 2002, na Suíça (prefixo HB-VAA); e outro, em junho deste ano, em aeronave que voava de Manaus para Orlando (prefixo PP-MDB).

“Estou convencido que a causa determinante do acidente de Eduardo foi um erro de projeto do avião Cessna. O parecer do ex-comandante e perito Carlos Camacho é muito claro e inteligível”, reforçou. “Os dois aviões que tiveram problemas estavam em altitude elevada, o que fez a diferença entre viver e morrer”, pontuou Campos.

Além das investigações dos órgãos ligados a aviação brasileira, outros dois inquéritos um civil e um policial sobre o caso também aguardam a conclusão na 5ª Vara Federal de Santos.

 

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