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A Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) avalia que não haverá problema de abastecimento de trigo à indústria do Brasil em decorrência da crise entre Rússia e Ucrânia. "Não haverá consequência do ponto de vista do fornecimento de trigo ao Brasil. Temos fornecedores na Argentina, Paraguai, Uruguai, Estados Unidos, e a produção nacional vem aumentando. Até o momento, não há ameaça de falta do produto no mercado brasileiro", disse o presidente executivo da entidade e ex-embaixador, Rubens Barbosa, ao Estadão/Broadcast Agro.

Os países do Leste Europeu estão entre os maiores produtores mundiais de trigo. A Rússia é líder mundial na exportação de trigo, enquanto a Ucrânia é a quarta maior exportadora global do cereal.

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O Brasil, por sua vez, importa cerca de 60% do volume processado pela indústria anualmente. Contudo, o volume adquirido da Rússia é "pequeno" e 85% do cereal internalizado é argentino. O País não compra trigo da Ucrânia. "Nos últimos dois anos, a Rússia exportou muito pouco ao Brasil. É uma quantidade marginal", disse Barbosa.

No ano passado, de 6,2 milhões de toneladas de trigo importadas, apenas 28 mil toneladas vieram da Rússia. A maior parte, 5,4 milhões de toneladas, foram de cereal argentino, de acordo com dados do Agrostat, sistema de estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro.

Efeito nos preços

Em contrapartida, há um efeito imediato sobre a indústria com o encarecimento do trigo no mercado externo, o que se reflete nos preços do cereal argentino e na paridade de importação, elevando também a cotação do trigo nacional.

Nesta semana, as cotações do trigo negociados na Bolsa de Chicago (CBOT) acumulam alta de 16,3% por causa do receio de que estes países possam deixar de exportar seu trigo em meio a um conflito disseminado.

"A consequência concreta para os moinhos brasileiros é que terão preços maiores para adquirir o cereal daqui para frente até a entrada da safra do Hemisfério Norte", disse Barbosa.

Outro efeito poderá ser observado no custo de produção da commodity, dado o cenário de aumento dos fertilizantes e risco de desabastecimento em virtude do conflito no Leste Europeu.

Outro risco decorrente do conflito é o de outros países consumidores do cereal recorrerem ao fornecimento da Argentina em cenário de interrupção das exportações russas e ucranianas.

"Isso pode virar um problema porque a Argentina já vendeu mais de 13 milhões de toneladas das 20 milhões de toneladas que colheu. O volume que está faltando para exportar já deve estar vendido para tradings, que comercializarão para quem pagar mais pelo cereal", disse o presidente executivo da Abitrigo.

Este risco, contudo, pondera Barbosa, ainda não é dado como efetivo no quadro atual. "Se houver demanda maior pelo trigo argentino pode ser um risco. No momento, o mercado demanda muita cautela. Precisamos esperar para ver a evolução da situação e como ficará o mercado global de trigo e a oferta argentina", afirmou, mencionando que o Brasil pode recorrer a outros fornecedores, como Estados Unidos, Paraguai e Uruguai.

Segundo Barbosa, até o momento nenhum moinho associado à entidade relatou problemas com fornecimento de cereal, mesmo argentino, em decorrência da crise entre Rússia e Ucrânia.

O aumento da participação de militares nos altos cargos do governo federal indica mais uma fraqueza política do presidente Jair Bolsonaro do que uma tentativa de articular um golpe no País, avaliou o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) durante "live" organizada pela Abitrigo, nesta quinta-feira (23).

FHC comparou a situação de Bolsonaro com a do ex-presidente chileno Salvador Allende. "Quando ele chamou os militares para o governo, não foi para dar um golpe. Foi porque era o que restava", disse o ex-presidente.

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Para FHC, a condução que Bolsonaro faz da crise preocupa, já que, na avaliação do tucano, o presidente não consegue mostrar tranquilidade e sinalizar um rumo para sair da crise. "O presidente fala mais do que pensa, sempre. E eu não aprecio algo que está acontecendo no Brasil, rixas crescentes entre as instituições, a disputa entre o presidente da Câmara e o presidente da República", afirmou.

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