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A articulação do Congresso para blindar os parlamentares após a prisão do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ) colocou a Câmara em rota de colisão com o Supremo Tribunal Federal (STF). Na noite desta quarta-feira (24), a Câmara confirmou a admissibilidade da proposta, com 304 votos a favor, 154 contra e duas abstenções. Foi uma etapa prévia à votação dos termos do texto, que ainda precisa ser aprovado em dois turnos com, no mínimo, 308 votos em cada etapa, antes de ser enviado ao Senado. Ao Estadão, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), disse que cabe ao Parlamento definir "um roteiro claro e preciso para o atual vácuo legal" sobre o tema.

Nos bastidores do Supremo, a proposta de emenda à Constituição - que reduz o poder dos magistrados de definir como e onde os parlamentares ficam presos em casos de flagrantes - é considerada "um absurdo", que pode levar à impunidade.

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O texto da "PEC da Blindagem" foi construído por determinação de Lira. De acordo com a proposta, só será permitida a aplicação de medidas cautelares contra deputados e senadores, como o uso de tornozeleira eletrônica, após decisão da maioria do plenário do Supremo. Até a análise de materiais apreendidos em operações policiais no Congresso, ou nas residências de parlamentares, demandará o crivo do plenário da Corte. Deputados se queixam de mandados de busca e apreensão expedidos por juízes de primeira instância.

Na avaliação de integrantes do Supremo, os parlamentares estão usando o caso de Silveira para tentar garantir total impunidade e se livrar da Justiça. O deputado está preso há oito dias, após xingar ministros do STF e fazer apologia do Ato Institucional n.º 5 (AI-5), o mais duro da ditadura militar. A prisão foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes e confirmada depois por unanimidade pelo plenário do tribunal e pela própria Câmara.

O Estadão apurou que Moraes conversou com Lira por telefone sobre a "PEC da Blindagem". Um dos principais pontos criticados por ministros do STF é o de que a proposta só permite a prisão em flagrante por certos tipos de crimes inafiançáveis expressos na Constituição, como tortura, racismo, tráfico de drogas, hediondos e grupos armados. Segundo um magistrado, se essa proposta já estivesse aprovada, Daniel Silveira poderia repetir tudo o que fez e até agredir fisicamente os integrantes do STF, mas não poderia ser preso.

Mensagens

A "PEC da Blindagem" dominou as conversas reservadas entre ministros ao longo desta quarta-feira. Por causa do distanciamento social imposto pela pandemia, o bate-papo com café, no intervalo das sessões plenárias, foi substituído por mensagens por aplicativo, videoconferências e chamadas telefônicas. A percepção geral, de diferentes alas do tribunal, é a de que a proposta é ruim.

O deputado Fabio Trad (PSD-MS) disse que a sociedade está desconfiada dos propósitos dos parlamentares. Ele pediu que a Câmara forme uma comissão especial para discutir a PEC. "Por que a pressa? Não há sentido para essa celeridade inconsequente. Será que tem algum parlamentar com receio de ser preso nos próximos dias e por isso o desespero e a angústia de querer ver aprovada a PEC, para se blindar?"

Integrantes da Corte dão como certo que a medida logo deve ser alvo de ação na Justiça, cabendo ao próprio Supremo analisar a sua tramitação e legalidade. Dessa forma, os ministros evitaram se manifestar publicamente para criticar a proposta da Câmara.

Aliados de Lira, por outro lado, alegaram que não querem transformar a articulação da PEC em um episódio de confronto com o Supremo. Para eles, a ofensiva dos deputados de estabelecer limites e fixar parâmetros para as prisões faz parte do sistema de freios e contrapesos, o mesmo que garantiu a intervenção do Supremo ao determinar a detenção de Silveira.

"A inviolabilidade do mandato parlamentar não é absoluta, como bem demarcou o Supremo e, com 364 votos, a Câmara, quando um deputado se contrapôs à democracia. Mas a inviolabilidade não foi revogada e sua autoria é dos mesmos que inscreveram as atribuições da Suprema Corte em nossa mesma Constituição", disse Lira ao Estadão.

"Não sou a favor nem contra qualquer solução legislativa específica sobre a proteção do mandato, que não protege o parlamentar, mas a democracia. Sou a favor, sim, de que o Congresso faça sua autocrítica e defina um roteiro claro e preciso para o atual vácuo legal para lidar com situações desse tipo", observou o presidente da Câmara.

Lira afirmou que a proteção ao mandato não pode ser absoluta. "Mas também não pode ser nenhuma. Qual deve ser? O Legislativo, democraticamente, é quem deve definir." Interlocutores do presidente da Câmara admitem reservadamente que um dos temores é o de que o que aconteceu com Silveira se repita com outros parlamentares.

Depoimento

A ofensiva do Legislativo contra o Judiciário vem à tona em um momento em que o STF tenta evitar novos conflitos com outro poder. Após a prisão de Silveira, o STF adiou o julgamento sobre o depoimento do presidente Jair Bolsonaro no inquérito que apura se houve interferência indevida na Polícia Federal.

Na expectativa do retorno aos trabalhos legislativos e da votação sobre a admissibilidade da denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) por corrupção passiva, o deputado federal Silvio Costa (PTdoB) afirmou, nesta terça-feira-feira (25), que quer ver os parlamentares que admitiram o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), acusando-a de corrupção, votarem contra o pedido da Procuradoria Geral da República (PGR). Citando os ministros pernambucanos, como o das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), que na época proferiu o voto 342, Costa pontuou querer ver o argumento dos  que chamou de “golpistas”  para apoiar o peemedebista. 

“Eles votaram pelo impeachment de Dilma aconsando-a de corrupção. Esse ministro Bruno Araújo mesmo, que disse que votaria pelo futuro e pelo Brasil, quero ver ele votar agora a favor de Temer. Ele não sempre pregou a ética? Quero ver agora. os quatro ministros de Pernambuco dizerem sim ao presidente Temer”, cravou, ao conversar com a imprensa antes de participar da abertura do IV Congresso Pernambucano de Municípios, no Centro de Convenções, em Olinda. 

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Silvio Costa também afirmou que a estratégia da oposição mudará para a votação prevista para o dia 2 de agosto. “Tivemos que reavaliar a estratégia exatamente como instrumento de pressão em cima daqueles que defendem a Temer. Falei com uns 100 deputados e percebi, naqueles que defendem Temer, que existe um certo receio [da reação da população]. Vai ser um divisor de águas [para a disputa eleitoral de 2018]”, observou. “Já estou entendo que infelizmente, infelizmente, não vamos conseguir os 342 votos, mas vamos partir para a tese do constrangimento”, acrescentou. 

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin decidiu que vai enviar direto para a Câmara dos Deputados a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer. O teor da decisão ainda não foi divulgado. A formalidade deve ser cumprida pela presidente do STF, Cármen Lúcia. Não há prazo para o envio.

Mesmo com o envio da denúncia, o STF não poderá analisar a questão antes de uma decisão prévia da Câmara dos Deputados. De acordo com a Constituição, a denúncia apresentada contra um presidente da República somente poderá ser analisada após a aprovação por pelo menos 342 deputados, o equivalente a dois terços do número de membros da Câmara.

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Antes da decisão de Fachin, havia a expectativa de que o ministro abrisse prazo de 15 dias para que os advogados de Temer, conforme foi solicitado pela PGR, pudessem se manifestar antes da remessa à Câmara. No entanto, ao analisar o caso, Fachin entendeu que a primeira etapa para manifestação das partes não deve ser feita no STF porque a tramitação da denúncia depende de autorização prévia dos deputados.

Se a acusação for admitida pelos parlamentares, o processo voltará ao Supremo para ser julgado. No caso de recebimento da denúncia na Corte, o presidente se tornará réu e será afastado do cargo por 180 dias. Se for rejeitada pelos deputados, a denúncia da PGR será arquivada e não poderá ser analisada pelo Supremo.

A regra está no Artigo 86 da Constituição Federal. “Admitida a acusação contra o presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade”.

Denúncia

Na segunda-feira (26), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou o presidente Michel Temer ao STF pelo crime de corrupção passiva. A acusação está baseada nas investigações iniciadas a partir do acordo de delação premiada dos executivos da JBS. Ontem, em pronunciamento, o presidente rebateu a denúncia que qualificou como "peças de ficção". Temer e seus advogados desqualificaram as provas apresentadas pelo procurador e o próprio acordo de colaboração premiada firmado entre o Ministério Público e os empresários da JBS.

O deputado Alceu Moreira (PMDB-RS) afirmou nesta quarta-feira, 7, que vai protocolar seu parecer pela admissibilidade da PEC da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara já no início da tarde, horas depois de ser confirmado como relator da matéria no colegiado.

"Sou The Flash", disse o peemedebista, em referência ao super-herói da série de TV americana que possui poder de se mover em velocidade ultra rápida.

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Embora o governo só tenha apresentado oficialmente a PEC nessa terça-feira, 6, Moreira disse ter recebido um "texto provisório" na última segunda-feira, 5, e que desde então passou a trabalhar com seus assessores técnicos para fechar o relatório e apresenta-lo hoje na comissão.

Ele contou que, antes de a proposta ser apresentada pelo Palácio Planalto, foi procurado pelo líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), e pelo presidente da CCJ, Osmar Serraglio (PMDB-PR), para saber se gostaria de ser o relator.

Moreira disse que seu parecer será pela admissibilidade da PEC, pois a proposta não fere nenhuma cláusula pétrea da Constituição Federal, na medida em que não mexerá em direitos adquiridos. Ele reconheceu que há uma polêmica sobre as regras de transição, mas argumentou que "expectativa de direito" não significa direito adquirido. Ele se disse a favor do mérito da matéria e ressaltou que qualquer discussão de "atenuantes" só poderá ser feita na comissão especial.

O parlamentar previu ainda que vai ler seu parecer na CCJ somente na próxima semana. Ele reconheceu que deputados de partidos da oposição que são contra a proposta deverão polemizar na comissão, o que pode atrasar a votação. Moreira afirmou, contudo, que "provavelmente", o texto será aprovado na comissão antes do início do recesso parlamentar de fim de ano, que começa no dia 23 de dezembro. "É o que se deseja", disse.

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