Menos de um mês depois de o volante Tinga sofrer com ofensas racistas em Huancayo, em jogo do Cruzeiro contra o Real Garcilaso, válido pela Copa Libertadores, o também volante Arouca foi alvo de racismo na noite desta quinta-feira, após a goleada do Santos sobre o Mogi Mirim, por 5 a 2, em rodada do Paulistão.
O jogador foi chamado de "macaco" por torcedores presentes no Estádio Romildão, em Mogi Mirim, enquanto dava entrevista na saída do gramado. As manifestações racistas foram flagradas pelos repórteres presentes no local.
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"Isso é bom nem ouvir, né, nem dar ouvidos a esses pessoas, se é que dá para chamar isso de pessoas. Situação hoje em dia é difícil comentar, isso não acontece só no meio do futebol. Espero que alguém possa tomar uma providência muito severa, porque isso é lamentável", disse Arouca à rádio ESPN, logo após ser ofendido.
Horas depois do jogo, o atleta soltou nota oficial rebatendo as ofensas. "É lamentável e inaceitável que ainda haja espaço para esse tipo de coisa hoje em dia. Isso só mostra que o ser humano ainda tem muito a evoluir e a crescer, que não estamos nem perto de um mundo que viva a harmonia entre as pessoas e todas as suas diferenças", criticou.
"Tenho muito orgulho das minhas origens africanas, que foi o que o sujeito tentou usar para me ofender, dizendo que eu deveria procurar alguma seleção de lá para jogar. Dando a entender que um negro igual a mim não serve para defender a seleção brasileira. Como se algumas das páginas mais bonitas da história da nossa seleção não tivessem sido escritas por jogadores como Leônidas, Romário e pelo Rei Pelé, também negros", destacou.
Arouca atacou também a violência nos estádios e cobrou punição aos envolvidos. "O futebol é um espelho da nossa realidade, e isso não se resume apenas a xingamentos racistas. Continuam matando e morrendo por torcerem por um time diferente do outro. Espero, sinceramente, que casos como esse sejam severamente punidos, pois, enquanto isso não acontecer, nada vai mudar. A impunidade e a conivência das autoridades com as pessoas que fazem esse tipo de coisa são tão graves quanto os próprios atos em si. Somente discursos e promessas não resolvem a falta de educação e de humanidade de alguns", declarou.
Ainda na noite de quinta, o técnico Oswaldo de Oliveira protestou contra a situação durante a coletiva. "A minha resposta para isso é o silêncio. Não farei mais nada". Assim como o volante, o treinador cobrou uma ação maior das entidades que organizam o futebol brasileiro.
"Não vou me prender ao problema do Arouca, mas à questão da súmula. Nem tudo que se passa no jogo só pode dar relevância se estiver na súmula. Isso tem que ser coibido, como a violência, brigas e uma série de outras coisas. Tem gente que gosta de aparecer negativamente, acho isso baixo, e isso tem que ser severamente punido, como tantos outros eventos que temos acompanhado recentemente. A euforia da Copa do Mundo tem nos contagiado para o evento, mas deveríamos ser mais severos", disse o técnico.
O árbitro Vinicius Gonçalves Dias Araújo, que apitou o jogo com placar de 5 a 2 para a equipe da baixada santista, não relatou nada na súmula da partida.
Poucas horas antes das ofensas dirigidas a Arouca, um outro caso de racismo atingiu o árbitro Márcio Chagas da Silva, no Rio Grande do Sul. O juiz foi vítima de insultos enquanto apitava a partida entre Esportivo e Veranópolis, quarta-feira à noite, no Estádio Montanha dos Vinhedos, em Bento Gonçalves.
Ele foi chamado de macaco por torcedores e teve seu carro depredado no estacionamento que fica dentro de área restrita no estádio do clube. Em fotos, mostrou que havia bananas sobre o veículo.