Na contramão dos registros de violência em muitas unidades prisionais masculinas de Pernambuco, o Presídio de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, ostenta resultados compatíveis com a ideia da ressocialização. Há mais de um ano e meio, o PIG não anota em seus históricos assassinatos, motins ou rebeliões. Uma tentativa de fuga, acontecida em março de 2016, foi o último caso que terminou em óbito. Se considerarmos que existe uma receita para a manutenção da ordem na unidade, tanto a direção quanto os próprios detentos apontam a vasta programação de atividades de qualificação e culturais como fator fomentador da “paz”.
Comparando os números de ocorrências, fica clara a diferença entre a unidade de Igarassu e outros presídios do Estado. Dados da Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) apontam, por exemplo, que o Complexo do Curado, no Recife, teve mais de 30 mortes entre 2015 e 2016. No mesmo período, a Penitenciária Professor Barreto Campelo, em Itamaracá, na Região Metropolitana, registrou 17 mortes violentas. Juntas, essas unidades ainda somam seis rebeliões ocorridas em 2015.
##RECOMENDA##A aparente calmaria do Presídio de Igarassu reflete nas condutas de alguns detentos. Prestes a completar dois anos de reclusão, um reeducando que preferiu não se identificar teve a oportunidade de cumprir a pena em regime semiaberto em outra unidade prisional. No entanto, ele preferiu continuar no PIG alegando que seria mais seguro. Aos 70 anos, o detento participa de atividades de capacitação e hoje já trabalha com marcenaria, habilidade aprendida na cadeia.
“O diretor daqui é uma pessoa humana que promove muitas atividades para todos nós. São cursos profissionalizantes, aulas de música, um monte de coisa boa! Eu mesmo trabalho pela manhã e estudo à noite, é uma maneira inteligente de ocupar a mente. Aqui é uma prisão de segurança máxima e não vemos confusão. Tem que respeitar os outros para ser respeitado na cadeia”, relata o reeducando.
Assim como em outros presídios de Pernambuco, a superlotação é um problema a ser enfrentado no PIG. A capacidade é de apenas 426 reeducandos, entretanto, a unidade soma 3.300 presos. O diretor do Presídio, no entanto, acredita que as atividades desenvolvidas entre os presidiários diminuem os impactos da lotação e se aproximam do processo de ressocialização. Segundo Charles Belarmino, do total de detentos, 1.300 homens participam das qualificações.
“Temos uma estrutura moderna – o Presídio foi inaugurado em 2012 - e apesar da superlotação, temos condições de trabalhar com diversas ações na unidade. Temos aulas de música, fotografia, artesanato, artes marciais, capoeira... As igrejas também ajudam muito, quando falamos em religião, além disso, contamos com o pavilhão LGBT. Existem vários fatores que explicam esse período sem mortes”, detalha o diretor Charles Belarmino.
Outro reeducando do PIG, cuja identidade não será revelada, afirma que a unidade de Igarassu é “o melhor lugar para tirar cadeia”. Dos seus 35 anos de idade, quase metade foi de envolvimento com o mundo do crime, culminando com passagens em vários presídios do Estado, a exemplo do Complexo do Curado. De acordo com o detento, ele por pouco não foi assassinado enquanto cumpriu pena em outras unidades, além de se envolver em inúmeras confusões. Em entrevista ao LeiaJá, ele alega que não pretende continuar no universo criminoso e espera suportar a ausência da liberdade nas dependências do PIG.
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Seres promete bons resultados em outros presídios
Secretário executivo da Seres, Cícero Rodrigues credita a boa desenvoltura do PIG nos últimos meses à gestão da unidade. Para Rodrigues, o trabalho de fomento às atividades de qualificação, esportes e culturais é o grande responsável pelos resultados. Ele alega que ações do tipo também são realizadas nos demais presídios, mas o PIG, de fato, tem se destacado, principalmente pelo período em que não registra casos de violência.
“Igarassu se tornou um exemplo para as unidades prisionais, mas nós temos outras que já estão realizando atividades voltadas à ressocialização em menor escala, até pelo fato de alguns lugares terem uma estrutura física diferenciada do PIG. Igarassu realmente despontou e está colocando em prática tudo o que foi pensado, mostrando para todos nós que os resultados são possíveis. A unidade acabou saindo na frente”, explica o secretário executivo.
De acordo com Rodrigues, ainda existem casos de reeducandos que pediram transferência para o Presídio de Igarassu, justamente pela boa imagem refletida da unidade. “Tem muito reeducando que pede para ser transferido para Igarassu, isso até diminuiu, porque as unidades estão fazendo trabalho também”, comentou o secretário. Ainda em entrevista ao LeiaJá, o gestor detalhou qual é o principal desafio a ser enfrentado pela Seres para garantir atividades de ressocialização em todo o Estado.
“O grande desafio sempre vai ser a superlotação carcerária. Isso sempre deveremos enfrentar. É evidente que com a lotação diminuem os espaços físicos, estruturas físicas. Por isso é necessário planejamento. Esse trabalho é feito para a sociedade, porque o homem ou a mulher presos um dia voltarão à liberdade”, destaca o secretário.