O ato de Fair Play no duelo entre Fortaleza e Fluminense, do último domingo, marcou a rodada do Brasileirão do fim de semana. O jogador Moisés, da equipe cearense, parou um ataque promissor, enquanto seu time estava perdendo por 1 a 0, ao ver o zagueiro Nino sentir uma lesão muscular e desistir da jogada. O atacante do Fortaleza recebeu muitas vaias de torcedores ao parar o lance, mas recebeu o apoio dos colegas do Fluminense e também nas redes sociais.
A pressão no time cearense é grande: a equipe ocupa a lanterna do Brasileirão, sendo a única que ainda não venceu na competição, e já está a oito pontos de sair da zona do rebaixamento. O Fluminense publicou uma mensagem de reconhecimento em sua conta no Twitter no domingo mesmo pelo ato de Moisés e parabenizou o jogador rival pela atitude de jogo limpo em campo. "Todo o nosso respeito e admiração ao atleta Moisés, do Fortaleza, pelo ato de Fair Play no lance em que o nosso zagueiro Nino acabou sendo substituído. O futebol pode e deve ser assim. Parabéns pela atitude".
##RECOMENDA##Discussões sobre Fair Play - ou a falta dele - são recorrentes no futebol brasileiro, em especial sobre simulações de faltas. Casos parecidos ao de Moisés não são tão comuns no País. O episódio mais recente e debatido de fair play no Brasil ocorreu em 2017. No clássico entre São Paulo e Corinthians, a arbitragem puniu o atacante Jô com o cartão amarelo por uma suposta falta no goleiro Renan Ribeiro, mas o zagueiro Rodrigo Caio confessou que havia sido ele que pisou no seu companheiro.
O time tricolor foi derrotado pela equipe alvinegra por 2 a 0 pelo jogo de ida das semifinais do Paulistão e acabou eliminado do Estadual na partida de volta. A atitude de Rodrigo Caio foi cercada de elogios e também de críticas. Ídolos são-paulinos, Oscar e Ronaldão elogiaram bastante a conduta do jogador, que chegou a ser condenado por Maicon, companheiro de zaga.
O Fair Play (ou jogo limpo) não está na regra do futebol, mas funciona como um princípio a ser seguido em que se valoriza o espírito esportivo e o respeito ao adversário. Apesar disso, a Uefa já penalizou atletas que desrespeitaram essa prática. Trata-se de um comportamento de cavalheiros, de parar o jogo quando alguém está caído no gramado.
Em 2012, o atacante Luiz Adriano, ex-Palmeiras e então no Shakhtar Donetsk, foi punido pela entidade europeia por marcar um gol na partida contra o Nordsjaelland, da Dinamarca, pela Liga dos Campeões, em um momento em que o seu time estava devolvendo intencionalmente a bola para o adversário em um ato de Fair Play. O brasileiro se aproveitou da jogada e balançou a rede, o que gerou a ira do time dinamarquês. Depois do jogo, Luiz Adriano disse que não havia visto a paralisação da partida e, por isso, fez o gol. Ele foi criticado em nota pelo presidente do Shakhtar.
RECONHECIMENTO DA FIFA
O prêmio mais antigo da Fifa é, justamente, o de Fair Play. Desde 1987, a maior entidade do futebol congratula personagens do esportes por suas atitudes exemplares em campo e fora dele. Em 2001, o italiano Paolo Di Canio ganhou o prêmio Fifa Fair Play por parar um ataque do seu time enquanto um jogador adversário estava lesionado. Pelo Campeonato Inglês, o West Ham, de Di Canio, atacava pelo lado direito e o goleiro do Everton, Paul Gerrard, saiu para fazer a defesa, deixando o gol desguarnecido. Mas o goleiro sentiu uma lesão grave na perna e ficou caído no gramado. O jogo não foi paralisado e a bola foi cruzada na área, mas Di Canio tratou de segurá-la com as mãos e interromper a jogada para que o adversário fosse atendido pelos médicos. Ele foi aplaudido por jogadores e torcedores.
Há três anos, o prêmio Fifa Fair Play foi concedido ao Leeds, da Inglaterra, que marcou um gol no Aston Villa, se aproveitando de um jogador adversário caído no gramado, com dores. O lance gerou grande discussão em campo e entre as comissões técnicas. O episódio ganhou ainda mais repercussão porque o técnico do Leeds, Marcelo Bielsa, autorizou os seus atletas a deixarem o adversário marcar o gol de empate, logo na saída do meio-campo.
No Brasil, há um problema que diz respeito à simulação. Muitos jogadores reclamam atendimento médico para parar o jogo, esfriar o adversário e mudar o ímpeto do rival. Geralmente, eles são atendidos por "águas milagrosas" jogadas no local da dor. O atleta se levanta e volta a jogar, ganhando alguns minutos no relógio.